A colheita da safra de amendoim deste ano está chegando ao fim e a produtividade é boa, com estimativa de crescimento. A notícia seria ótima, se também não fosse preocupante para o setor. O estoque de passagem (sobra da safra passada) deverá derrubar o preço da saca de 25 quilos. Por isso, os produtores da região de Ribeirão Preto e de Jaú (SP) aguardam ansiosamente a definição do mercado. "Foi um ano em que estourou a produção, foi acima da média", diz o produtor de Dumont (SP) Antonio Luiz Leonel. "Se sair exportação, pode melhorar para frente, senão teremos amendoim para um ano e meio", emenda Manoel da Silva Carneiro, também de Dumont."A perspectiva para a safra é de superar em 5% a 10% a safra passada, que foi de 305 mil toneladas", informa o vice-presidente da área de amendoim da Associação Brasileira da Indústria de Chocolate, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), Renato Fechino. E avisa: "Os preços aos produtores serão mais baixos este ano em razão da sobra de amendoim da safra passada." Fechino ainda destaca que existe um pouco de mercadoria da safra anterior nas indústrias.
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"O mercado está horrível, com preço baixo", lamenta Manoel Carneiro, que está no ramo desde 1980, ao lado dos irmãos Adelino e Laurentino. Mas o patriarca da família Carneiro, Joaquim, português, hoje com 86 anos, começou a produzir amendoim em Dumont há cerca de 50 anos, após cultivar café, algodão, soja e milho - hoje o clã ainda planta cana em 2.200 hectares de áreas próprias ou arrendadas. A previsão é a de que a colheita de amendoim chegue a 200 mil sacas em mil hectares - 200 sacas/hectare, em áreas próprias e arrendadas em Dumont e Ribeirão Preto. Segundo Manoel, comercializar a safra a R$ 25/saca já é satisfatório. A família Carneiro é grande produtora de amendoim e há seis anos tem a empresa Cerealista Produtora de Sementes Reunidas, com estrutura para beneficiamento e armazenamento da colheita, empregando até 40 pessoas durante a safra. Isso possibilitou agregar valores, destinando o produto não só para alimentação (doces) como também para óleo (e essas empresas de óleo ainda aproveitam o bagaço para fazer farelo para alimentação animal). As cascas são destinadas para forragens em granjas.Outra vantagem da família Carneiro é ter secadores a gás. Assim, não precisam depositar a colheita em cooperativas ou indústrias. "O amendoim pode ficar estocado entre 12 e 14 meses, desde que muito bem armazenado e com controle de pragas", diz Manoel. A Reunidas comercializa o produto com empresas dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná. "Somos produtores de amendoim que debulham o produto", diz Manoel. Segundo ele, no Brasil também está começando a venda de amendoim sem pele. SEMENTESO mercado de amendoim tem duas boas épocas de negócios. Uma ocorre entre maio e julho, para doces, em função principalmente da tradicional festa junina. A outra entre agosto e setembro, que é a venda de sementes, pois o plantio começa em outubro. "Semente é o filé", afirma Manoel. "É o que mais remunera." Foi pensando nisso que no ano passado a família Carneiro entrou nesse segmento. Em 2008, a venda da semente da variedade runner (a única comercializada pela empresa) rendeu entre R$ 2,60 e R$ 2,70 o quilo. A empresa vendeu cerca de 80 toneladas de sementes e espera saltar para 200 toneladas na safra deste ano. "Estamos especulando, mas ninguém fala nada, só em crise", lamenta outro grande produtor, José Antonio Betiol, de Dumont, que planta amendoim, com sua família, em Boa Esperança do Sul, Bocaina e Jaú. Ele produz em 250 hectares arrendados e, por causa da chuva, não sabe se conseguirá repetir a produção de 2008: 200 sacas/hectare - ainda produz 100 hectares de cana. Ele estima que gastou R$ 3.500/hectares no plantio e, "para equilibrar" as contas, como diz, também considera o ideal vender a safra por R$ 25/saca. Como não tem secador próprio, deposita toda a produção numa indústria e em duas cooperativas. Ele também emprega cerca de 40 pessoas.
ENCONTRAS ÁREA ESTÁ MAIS DIFÍCIL
O produtor de amendoim tem um desafio atualmente: saber aonde fará o plantio, pelo fato de muitos produtores de cana não terem renovado o canavial por causa da crise no setor sucroalcooleiro - justamente nas áreas de renovação de cana é que se planta o amendoim. O agrônomo da Coplana, Marcelo Pacífico, diz que até setembro há um período de insegurança. "O produtor não sabe qual área utilizará, mas a situação acaba se acomodando e o que ocorre é que, às vezes, vai para locais e até cidades diferentes, o que dificulta a logística.'' Em alguns casos, devido à produtividade de determinado canavial, os fornecedores de cana e usineiros optam por mantê-la por mais um ano, mas aí destinam outras áreas à reforma.O vice-presidente da área de amendoim da Abicab, Renato Fechino, diz que não há falta de área plantio este ano e que os produtores têm área garantida até 2010. O produtor de amendoim Antonio Luiz Leonel fez a última renovação em parte de seu canavial em 2008. Outra área será trabalhada em 2010. Leonel ainda não sabe se a crise econômica mundial irá influenciar. ''Só vou ver o custo quando fizer a renovação'', diz ele, não se preocupando com isso antes do tempo.