Há 20 anos, os atentados terroristas promovidos pela Al-Qaeda contra os Estados Unidos em 11 de setembro mudaram o mundo. Para muitos, o evento marcou a virada do século 20 para o século 21, e determinou os rumos dos mais diversos temas da agenda internacional nas décadas seguintes.
Em 11 de setembro de 2001, fundamentalistas islâmicos ligados à organização terrorista Al-Qaeda sequestraram quatro aviões comerciais nos Estados Unidos, desviando a rota dos voos para realizar os ataques. O mais famoso deles teve como alvo o World Trade Center, símbolo do mercado financeiro mundial, que foi atingido por duas aeronaves, matando cerca de 3 mil pessoas. Além das Torres Gêmeas, os terroristas suicidas também colidiram com o Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos EUA, na Virgínia. A última aeronave caiu na Pensilvânia, antes de acertar seu alvo.
A resposta americana ao atentado ditou os rumos da geopolítica mundial a partir de então. As determinantes de política externa e de segurança e defesa estabelecidas durante o governo de George W. Bush mergulhou os EUA e seus principais aliados na Guerra ao Terror, iniciada com o conflito no Afeganistão. Também foi no governo Bush que os americanos definiram as nações que formariam um 'eixo do mal' - entre elas, Irã, Iraque e Coreia do Norte -, que seriam uma ameaça à paz mundial.
Internamente, os atentados também mudaram o cotidiano dos americanos. Regras mais rígidas de fiscalização foram impostas nos aeroportos do país. O conceito de vigilância constante ganhou força e novas tecnologias foram desenvolvidas para rastrear e identificar possíveis ameaças.
Veja algumas das principais repercussões do atentado de 11 de setembro:
Guantánamo, o pior legado do pós-11 de setembro
Criada por George W. Bush trancafiar terroristas, a prisão da base naval da Baía de Guantánamo permanece como uma herança incômoda da "Guerra ao Terror". Vinte anos depois os ataques de 11 de setembro, a prisão permanece aberta com presos sem acusação formal e julgamentos intermináveis à margem da lei americana.
É raro achar presos que foram acusados formalmente por um crime. Mais difícil ainda que um julgamento chegue ao fim. Cerca de 780 pessoas passaram pelo presídio. A maioria foi transferida para outros países ainda nos governos Bush e Obama. Trump autorizou a saída de apenas um detento. Trinta e nove permanecem detidas.
Guerra ao Terror não impediu avanço do jihadismo
Os ambiciosos esforços dos Estados Unidos feitos em nome do contraterrorismo desde 11 de setembro - que custaram US$ 8 trilhões (o equivalente a R$ 41,87 trilhões em valores atuais) - incluíram a tentativa de mudança de regimes no Oriente Médio e a tentativa de conquistar a simpatia dos muçulmanos em todo o mundo - um tiro que saiu pela culatra. A ocupação prolongada no Afeganistão, por exemplo, acabou com os vestígios de simpatia dos primeiros anos após a invasão do país pelos EUA e a queda do Taleban. No Iraque, o efeito foi o contrário ao esperado: a invasão americana produziu insurgência e alimentou o surgimento do Estado Islâmico.
Novos grupos militantes islâmicos surgindo em cada canto de algum país onde houve uma ação americana ou aliada, que teve como saldo a morte de pelo menos 7.052 soldados americanos e 387.000 civis.
Hipervigilância: herança da Guerra ao Terror
O desenvolvimento e o uso de tecnologias de vigilância acelerados no pós-11 de Setembro transformaram a sociedade. Após duas décadas da Guerra ao Terror, o exercício da segurança direcionado aos conflitos internacionais passou a incorporar as atividades das pessoas comuns, com as democracias ainda debatendo o limite entre privacidade e proteção à segurança nacional.
Especialistas e levantamentos da área estabelecem a Lei Patriótica (Patriot Act), criada e promulgada apenas 45 dias após o 11 de setembro de 2001, como um grande símbolo da expansão massiva da vigilância governamental nos EUA e, por consequência, mundo afora. Ao mesmo tempo, as discussões à época sobre a tecnologia da guerra e os grandes sistemas de armas não eram suficientes para combater a ameaça do inimigo invisível.
Xenofobia pós-11 de setembro alimentou populismo de ultradireita
Os ataques terroristas promovidos pela Al-Qaeda também criaram o ambiente perfeito para o desenvolvimento de movimentos xenófobos de ultradireita nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo que a ascensão do jihadismo levou à população em geral os temores alimentados por grupos extremistas ao longo de décadas, a preocupação das autoridades em destinar esforços no combate aos inimigos no estrangeiro tirou o foco de grupos externos - que ainda se beneficiaram com o surgimento das redes sociais para difundir suas teorias.
As ameaças internas, que aumentaram nos últimos anos, preocupando inclusive o FBI, ganharam maior atenção internacional durante os distúrbios no Capitólio, no dia 6 de janeiro, quando manifestantes que alegavam fraude nas eleições presidenciais invadiram o Congresso para impedir a certificação da vitória de Joe Biden.
Mudança de foco para a China
A retirada das tropas americanas do Afeganistão, justamente nos 20 anos do aniversário do 11 de setembro, mostra a mudança do cenário geopolítico no período. Enquanto a atuação de grupos jihadistas no Oriente Médio representava uma ameaça sensível aos interesses americanos em 2001, a ascensão da China como superpotência está na raiz da política externa americana em 2021.
A estratégia foi sinalizada ainda na gestão Barack Obama, sob o nome de pivô para a Ásia, e hoje é marcada principalmente pela necessidade americana de encontrar soluções energéticas para conter a mudança climática e de fazer frente aos avanços tecnológicos chineses, principalmente no 5G.
Geração pós-11 de setembro contesta Guerra ao Terror
Apesar da promessa feita por George W. Bush de "nunca esquecer" o que se passou em 11 de setembro, para toda uma geração que só conheceu as imagens do atentado terrorista de 20 anos atrás na escola e tem uma relação mais distante com o acontecimento, a resposta americana é vista com olhar crítico.
Jovens da Geração Z (nascidos a partir de 1997) criticam a verba gasta com a Guerra ao Terror e com os resultados apresentados por ela, inclusive no quesito de aumentar a sensação de segurança no país. Além disso, os jovens enfrentam de forma mais próxima outros desafios mais comuns ao seu tempo, como os ataques a tiros e a pandemia da covid-19.
História sem fim
Os 20 anos de Guerra ao Terror começaram com o ataque às Torres Gêmeas e ao Pentágono, em 11 de setembro de 2001, e levaram ao que muitos americanos chamaram de "guerras eternas", no Afeganistão e no Iraque.O Estadão contou essa história em formato de HQ, a partir do ponto de vista de uma repórter fictícia que presenciou os atentados, a tragédia daquele dia, e as catastróficas medidas americanas para se vingar.
O terrorismo depois de Bin Laden
Logo após os atentados de 11 de setembro, o Ocidente, em especial, o governo americano, se viu diante de um novo rosto a ser combatido: Osama Bin Laden. Ao longo desses vinte anos, a Al-Qaeda perdeu força, Bin Laden foi morto, o Estado Islâmico ascendeu de forma brutal e também teve seu líder morto, mas a disseminação de ideologias jihadistas e recrutamento continua forte, principalmente com o uso das redes sociais.
Os grupos terroristas continuam se espalhando, principalmente em países da África e da Ásia, e derrotá-los não é simples. Se algo mudou de 2001 para 2021, pensando na intervenção americana no Afeganistão que abrigava a Al-Qaeda, é que o Taleban retomou o poder no Afeganistão após a retirada das tropas americanas, mas o abrigo a grupos jihadistas se tornou mais difícil.