11 de setembro: como o atentado promovido pela Al-Qaeda mudou o mundo


Ataques ao World Trade Center e ao Pentágono foram decisivos para determinar a geopolítica e as agendas internacionais no início do século, com uma série de repercussões nas décadas seguintes

Por Redação
Atualização:

Há 20 anos, os atentados terroristas promovidos pela Al-Qaeda contra os Estados Unidos em 11 de setembro mudaram o mundo. Para muitos, o evento marcou a virada do século 20 para o século 21, e determinou os rumos dos mais diversos temas da agenda internacional nas décadas seguintes.

Em 11 de setembro de 2001, fundamentalistas islâmicos ligados à organização terrorista Al-Qaeda sequestraram quatro aviões comerciais nos Estados Unidos, desviando a rota dos voos para realizar os ataques. O mais famoso deles teve como alvo o World Trade Center, símbolo do mercado financeiro mundial, que foi atingido por duas aeronaves, matando cerca de 3 mil pessoas. Além das Torres Gêmeas, os terroristas suicidas também colidiram com o Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos EUA, na Virgínia. A última aeronave caiu na Pensilvânia, antes de acertar seu alvo.

A resposta americana ao atentado ditou os rumos da geopolítica mundial a partir de então. As determinantes de política externa e de segurança e defesa estabelecidas durante o governo de George W. Bush mergulhou os EUA e seus principais aliados na Guerra ao Terror, iniciada com o conflito no Afeganistão. Também foi no governo Bush que os americanos definiram as nações que formariam um 'eixo do mal' - entre elas, Irã, Iraque e Coreia do Norte -, que seriam uma ameaça à paz mundial.

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Os atentados de 11 de setembro completam 20 anos em 2021 Foto: Richard Drew / AP

Internamente, os atentados também mudaram o cotidiano dos americanos. Regras mais rígidas de fiscalização foram impostas nos aeroportos do país. O conceito de vigilância constante ganhou força e novas tecnologias foram desenvolvidas para rastrear e identificar possíveis ameaças.

Veja algumas das principais repercussões do atentado de 11 de setembro:

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Guantánamo, o pior legado do pós-11 de setembro

Criada por George W. Bush trancafiar terroristas, a prisão da base naval da Baía de Guantánamo permanece como uma herança incômoda da "Guerra ao Terror". Vinte anos depois os ataques de 11 de setembro, a prisão permanece aberta com presos sem acusação formal e julgamentos intermináveis à margem da lei americana.

Prisão americana na Baía de Guantánamo é uma das heranças da Guerra ao Terror. Foto: Shane T. McCoy/United States Navy
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É raro achar presos que foram acusados formalmente por um crime. Mais difícil ainda que um julgamento chegue ao fim. Cerca de 780 pessoas passaram pelo presídio. A maioria foi transferida para outros países ainda nos governos Bush e Obama. Trump autorizou a saída de apenas um detento. Trinta e nove permanecem detidas.

Guerra ao Terror não impediu avanço do jihadismo

Os ambiciosos esforços dos Estados Unidos feitos em nome do contraterrorismo desde 11 de setembro - que custaram US$ 8 trilhões (o equivalente a R$ 41,87 trilhões em valores atuais) - incluíram a tentativa de mudança de regimes no Oriente Médio e a tentativa de conquistar a simpatia dos muçulmanos em todo o mundo - um tiro que saiu pela culatra. A ocupação prolongada no Afeganistão, por exemplo, acabou com os vestígios de simpatia dos primeiros anos após a invasão do país pelos EUA e a queda do Taleban. No Iraque, o efeito foi o contrário ao esperado: a invasão americana produziu insurgência e alimentou o surgimento do Estado Islâmico.

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Nas regiões que controlou, o EI realizouvárias decapitações, execuções em massa, sequestros e violações Foto: Reuters

Novos grupos militantes islâmicos surgindo em cada canto de algum país onde houve uma ação americana ou aliada, que teve como saldo a morte de pelo menos 7.052 soldados americanos e 387.000 civis.

Hipervigilância: herança da Guerra ao Terror

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O desenvolvimento e o uso de tecnologias de vigilância acelerados no pós-11 de Setembro transformaram a sociedade. Após duas décadas da Guerra ao Terror, o exercício da segurança direcionado aos conflitos internacionais passou a incorporar as atividades das pessoas comuns, com as democracias ainda debatendo o limite entre privacidade e proteção à segurança nacional.

Manifestantes carregam modelo de drone não tripulado para protestar contra hipervigilância durante protesto em Washington, em outubro de 2013. Foto: REUTERS/Jonathan Ernst

Especialistas e levantamentos da área estabelecem a Lei Patriótica (Patriot Act), criada e promulgada apenas 45 dias após o 11 de setembro de 2001, como um grande símbolo da expansão massiva da vigilância governamental nos EUA e, por consequência, mundo afora. Ao mesmo tempo, as discussões à época sobre a tecnologia da guerra e os grandes sistemas de armas não eram suficientes para combater a ameaça do inimigo invisível.

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Xenofobia pós-11 de setembro alimentou populismo de ultradireita

Os ataques terroristas promovidos pela Al-Qaeda também criaram o ambiente perfeito para o desenvolvimento de movimentos xenófobos de ultradireita nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo que a ascensão do jihadismo levou à população em geral os temores alimentados por grupos extremistas ao longo de décadas, a preocupação das autoridades em destinar esforços no combate aos inimigos no estrangeiro tirou o foco de grupos externos - que ainda se beneficiaram com o surgimento das redes sociais para difundir suas teorias.

Manifestantes pró-Trump invadem o Capitólio, em Washington, para defender presidente contra 'fraude eleitoral'. Foto: Evelyn Hockstein for The Washington Post

As ameaças internas, que aumentaram nos últimos anos, preocupando inclusive o FBI, ganharam maior atenção internacional durante os distúrbios no Capitólio, no dia 6 de janeiro, quando manifestantes que alegavam fraude nas eleições presidenciais invadiram o Congresso para impedir a certificação da vitória de Joe Biden.

Mudança de foco para a China

A retirada das tropas americanas do Afeganistão, justamente nos 20 anos do aniversário do 11 de setembro, mostra a mudança do cenário geopolítico no período. Enquanto a atuação de grupos jihadistas no Oriente Médio representava uma ameaça sensível aos interesses americanos em 2001, a ascensão da China como superpotência está na raiz da política externa americana em 2021.

O presidente chinês, Xi Jinping, aperta a mão do então vice-presidente dos EUA, Joe Biden, durante encontro em Pequim, em dezembro de 2013. Foto: REUTERS/Lintao Zhang/Pool//File Photo

A estratégia foi sinalizada ainda na gestão Barack Obama, sob o nome de pivô para a Ásia, e hoje é marcada principalmente pela necessidade americana de encontrar soluções energéticas para conter a mudança climática e de fazer frente aos avanços tecnológicos chineses, principalmente no 5G.

Geração pós-11 de setembro contesta Guerra ao Terror

Apesar da promessa feita por George W. Bush de "nunca esquecer" o que se passou em 11 de setembro, para toda uma geração que só conheceu as imagens do atentado terrorista de 20 anos atrás na escola e tem uma relação mais distante com o acontecimento, a resposta americana é vista com olhar crítico.

Com mais medo a ataques internos, geração pós-11/9 contesta Guerra ao Terror. Foto: Arte/ Bruno Ponceano/ Estadão

Jovens da Geração Z (nascidos a partir de 1997) criticam a verba gasta com a Guerra ao Terror e com os resultados apresentados por ela, inclusive no quesito de aumentar a sensação de segurança no país. Além disso, os jovens enfrentam de forma mais próxima outros desafios mais comuns ao seu tempo, como os ataques a tiros e a pandemia da covid-19.

História sem fim

Os 20 anos de Guerra ao Terror começaram com o ataque às Torres Gêmeas e ao Pentágono, em 11 de setembro de 2001, e levaram ao que muitos americanos chamaram de "guerras eternas", no Afeganistão e no Iraque.O Estadão contou essa história em formato de HQ, a partir do ponto de vista de uma repórter fictícia que presenciou os atentados, a tragédia daquele dia, e as catastróficas medidas americanas para se vingar.

O terrorismo depois de Bin Laden

Logo após os atentados de 11 de setembro, o Ocidente, em especial, o governo americano, se viu diante de um novo rosto a ser combatido: Osama Bin Laden. Ao longo desses vinte anos, a Al-Qaeda perdeu força, Bin Laden foi morto, o Estado Islâmico ascendeu de forma brutal e também teve seu líder morto, mas a disseminação de ideologias jihadistas e recrutamento continua forte, principalmente com o uso das redes sociais.

Osama bin Laden (E) ao lado de seu conselheiro Ayman al-Zawahri, em imagem de novembro de 2001 Foto: REUTERS/Hamid Mir/Editor/Ausaf Newspaper for Daily Dawn

Os grupos terroristas continuam se espalhando, principalmente em países da África e da Ásia, e derrotá-los não é simples. Se algo mudou de 2001 para 2021, pensando na intervenção americana no Afeganistão que abrigava a Al-Qaeda, é que o Taleban retomou o poder no Afeganistão após a retirada das tropas americanas, mas o abrigo a grupos jihadistas se tornou mais difícil.

Há 20 anos, os atentados terroristas promovidos pela Al-Qaeda contra os Estados Unidos em 11 de setembro mudaram o mundo. Para muitos, o evento marcou a virada do século 20 para o século 21, e determinou os rumos dos mais diversos temas da agenda internacional nas décadas seguintes.

Em 11 de setembro de 2001, fundamentalistas islâmicos ligados à organização terrorista Al-Qaeda sequestraram quatro aviões comerciais nos Estados Unidos, desviando a rota dos voos para realizar os ataques. O mais famoso deles teve como alvo o World Trade Center, símbolo do mercado financeiro mundial, que foi atingido por duas aeronaves, matando cerca de 3 mil pessoas. Além das Torres Gêmeas, os terroristas suicidas também colidiram com o Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos EUA, na Virgínia. A última aeronave caiu na Pensilvânia, antes de acertar seu alvo.

A resposta americana ao atentado ditou os rumos da geopolítica mundial a partir de então. As determinantes de política externa e de segurança e defesa estabelecidas durante o governo de George W. Bush mergulhou os EUA e seus principais aliados na Guerra ao Terror, iniciada com o conflito no Afeganistão. Também foi no governo Bush que os americanos definiram as nações que formariam um 'eixo do mal' - entre elas, Irã, Iraque e Coreia do Norte -, que seriam uma ameaça à paz mundial.

Os atentados de 11 de setembro completam 20 anos em 2021 Foto: Richard Drew / AP

Internamente, os atentados também mudaram o cotidiano dos americanos. Regras mais rígidas de fiscalização foram impostas nos aeroportos do país. O conceito de vigilância constante ganhou força e novas tecnologias foram desenvolvidas para rastrear e identificar possíveis ameaças.

Veja algumas das principais repercussões do atentado de 11 de setembro:

Guantánamo, o pior legado do pós-11 de setembro

Criada por George W. Bush trancafiar terroristas, a prisão da base naval da Baía de Guantánamo permanece como uma herança incômoda da "Guerra ao Terror". Vinte anos depois os ataques de 11 de setembro, a prisão permanece aberta com presos sem acusação formal e julgamentos intermináveis à margem da lei americana.

Prisão americana na Baía de Guantánamo é uma das heranças da Guerra ao Terror. Foto: Shane T. McCoy/United States Navy

É raro achar presos que foram acusados formalmente por um crime. Mais difícil ainda que um julgamento chegue ao fim. Cerca de 780 pessoas passaram pelo presídio. A maioria foi transferida para outros países ainda nos governos Bush e Obama. Trump autorizou a saída de apenas um detento. Trinta e nove permanecem detidas.

Guerra ao Terror não impediu avanço do jihadismo

Os ambiciosos esforços dos Estados Unidos feitos em nome do contraterrorismo desde 11 de setembro - que custaram US$ 8 trilhões (o equivalente a R$ 41,87 trilhões em valores atuais) - incluíram a tentativa de mudança de regimes no Oriente Médio e a tentativa de conquistar a simpatia dos muçulmanos em todo o mundo - um tiro que saiu pela culatra. A ocupação prolongada no Afeganistão, por exemplo, acabou com os vestígios de simpatia dos primeiros anos após a invasão do país pelos EUA e a queda do Taleban. No Iraque, o efeito foi o contrário ao esperado: a invasão americana produziu insurgência e alimentou o surgimento do Estado Islâmico.

Nas regiões que controlou, o EI realizouvárias decapitações, execuções em massa, sequestros e violações Foto: Reuters

Novos grupos militantes islâmicos surgindo em cada canto de algum país onde houve uma ação americana ou aliada, que teve como saldo a morte de pelo menos 7.052 soldados americanos e 387.000 civis.

Hipervigilância: herança da Guerra ao Terror

O desenvolvimento e o uso de tecnologias de vigilância acelerados no pós-11 de Setembro transformaram a sociedade. Após duas décadas da Guerra ao Terror, o exercício da segurança direcionado aos conflitos internacionais passou a incorporar as atividades das pessoas comuns, com as democracias ainda debatendo o limite entre privacidade e proteção à segurança nacional.

Manifestantes carregam modelo de drone não tripulado para protestar contra hipervigilância durante protesto em Washington, em outubro de 2013. Foto: REUTERS/Jonathan Ernst

Especialistas e levantamentos da área estabelecem a Lei Patriótica (Patriot Act), criada e promulgada apenas 45 dias após o 11 de setembro de 2001, como um grande símbolo da expansão massiva da vigilância governamental nos EUA e, por consequência, mundo afora. Ao mesmo tempo, as discussões à época sobre a tecnologia da guerra e os grandes sistemas de armas não eram suficientes para combater a ameaça do inimigo invisível.

Xenofobia pós-11 de setembro alimentou populismo de ultradireita

Os ataques terroristas promovidos pela Al-Qaeda também criaram o ambiente perfeito para o desenvolvimento de movimentos xenófobos de ultradireita nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo que a ascensão do jihadismo levou à população em geral os temores alimentados por grupos extremistas ao longo de décadas, a preocupação das autoridades em destinar esforços no combate aos inimigos no estrangeiro tirou o foco de grupos externos - que ainda se beneficiaram com o surgimento das redes sociais para difundir suas teorias.

Manifestantes pró-Trump invadem o Capitólio, em Washington, para defender presidente contra 'fraude eleitoral'. Foto: Evelyn Hockstein for The Washington Post

As ameaças internas, que aumentaram nos últimos anos, preocupando inclusive o FBI, ganharam maior atenção internacional durante os distúrbios no Capitólio, no dia 6 de janeiro, quando manifestantes que alegavam fraude nas eleições presidenciais invadiram o Congresso para impedir a certificação da vitória de Joe Biden.

Mudança de foco para a China

A retirada das tropas americanas do Afeganistão, justamente nos 20 anos do aniversário do 11 de setembro, mostra a mudança do cenário geopolítico no período. Enquanto a atuação de grupos jihadistas no Oriente Médio representava uma ameaça sensível aos interesses americanos em 2001, a ascensão da China como superpotência está na raiz da política externa americana em 2021.

O presidente chinês, Xi Jinping, aperta a mão do então vice-presidente dos EUA, Joe Biden, durante encontro em Pequim, em dezembro de 2013. Foto: REUTERS/Lintao Zhang/Pool//File Photo

A estratégia foi sinalizada ainda na gestão Barack Obama, sob o nome de pivô para a Ásia, e hoje é marcada principalmente pela necessidade americana de encontrar soluções energéticas para conter a mudança climática e de fazer frente aos avanços tecnológicos chineses, principalmente no 5G.

Geração pós-11 de setembro contesta Guerra ao Terror

Apesar da promessa feita por George W. Bush de "nunca esquecer" o que se passou em 11 de setembro, para toda uma geração que só conheceu as imagens do atentado terrorista de 20 anos atrás na escola e tem uma relação mais distante com o acontecimento, a resposta americana é vista com olhar crítico.

Com mais medo a ataques internos, geração pós-11/9 contesta Guerra ao Terror. Foto: Arte/ Bruno Ponceano/ Estadão

Jovens da Geração Z (nascidos a partir de 1997) criticam a verba gasta com a Guerra ao Terror e com os resultados apresentados por ela, inclusive no quesito de aumentar a sensação de segurança no país. Além disso, os jovens enfrentam de forma mais próxima outros desafios mais comuns ao seu tempo, como os ataques a tiros e a pandemia da covid-19.

História sem fim

Os 20 anos de Guerra ao Terror começaram com o ataque às Torres Gêmeas e ao Pentágono, em 11 de setembro de 2001, e levaram ao que muitos americanos chamaram de "guerras eternas", no Afeganistão e no Iraque.O Estadão contou essa história em formato de HQ, a partir do ponto de vista de uma repórter fictícia que presenciou os atentados, a tragédia daquele dia, e as catastróficas medidas americanas para se vingar.

O terrorismo depois de Bin Laden

Logo após os atentados de 11 de setembro, o Ocidente, em especial, o governo americano, se viu diante de um novo rosto a ser combatido: Osama Bin Laden. Ao longo desses vinte anos, a Al-Qaeda perdeu força, Bin Laden foi morto, o Estado Islâmico ascendeu de forma brutal e também teve seu líder morto, mas a disseminação de ideologias jihadistas e recrutamento continua forte, principalmente com o uso das redes sociais.

Osama bin Laden (E) ao lado de seu conselheiro Ayman al-Zawahri, em imagem de novembro de 2001 Foto: REUTERS/Hamid Mir/Editor/Ausaf Newspaper for Daily Dawn

Os grupos terroristas continuam se espalhando, principalmente em países da África e da Ásia, e derrotá-los não é simples. Se algo mudou de 2001 para 2021, pensando na intervenção americana no Afeganistão que abrigava a Al-Qaeda, é que o Taleban retomou o poder no Afeganistão após a retirada das tropas americanas, mas o abrigo a grupos jihadistas se tornou mais difícil.

Há 20 anos, os atentados terroristas promovidos pela Al-Qaeda contra os Estados Unidos em 11 de setembro mudaram o mundo. Para muitos, o evento marcou a virada do século 20 para o século 21, e determinou os rumos dos mais diversos temas da agenda internacional nas décadas seguintes.

Em 11 de setembro de 2001, fundamentalistas islâmicos ligados à organização terrorista Al-Qaeda sequestraram quatro aviões comerciais nos Estados Unidos, desviando a rota dos voos para realizar os ataques. O mais famoso deles teve como alvo o World Trade Center, símbolo do mercado financeiro mundial, que foi atingido por duas aeronaves, matando cerca de 3 mil pessoas. Além das Torres Gêmeas, os terroristas suicidas também colidiram com o Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos EUA, na Virgínia. A última aeronave caiu na Pensilvânia, antes de acertar seu alvo.

A resposta americana ao atentado ditou os rumos da geopolítica mundial a partir de então. As determinantes de política externa e de segurança e defesa estabelecidas durante o governo de George W. Bush mergulhou os EUA e seus principais aliados na Guerra ao Terror, iniciada com o conflito no Afeganistão. Também foi no governo Bush que os americanos definiram as nações que formariam um 'eixo do mal' - entre elas, Irã, Iraque e Coreia do Norte -, que seriam uma ameaça à paz mundial.

Os atentados de 11 de setembro completam 20 anos em 2021 Foto: Richard Drew / AP

Internamente, os atentados também mudaram o cotidiano dos americanos. Regras mais rígidas de fiscalização foram impostas nos aeroportos do país. O conceito de vigilância constante ganhou força e novas tecnologias foram desenvolvidas para rastrear e identificar possíveis ameaças.

Veja algumas das principais repercussões do atentado de 11 de setembro:

Guantánamo, o pior legado do pós-11 de setembro

Criada por George W. Bush trancafiar terroristas, a prisão da base naval da Baía de Guantánamo permanece como uma herança incômoda da "Guerra ao Terror". Vinte anos depois os ataques de 11 de setembro, a prisão permanece aberta com presos sem acusação formal e julgamentos intermináveis à margem da lei americana.

Prisão americana na Baía de Guantánamo é uma das heranças da Guerra ao Terror. Foto: Shane T. McCoy/United States Navy

É raro achar presos que foram acusados formalmente por um crime. Mais difícil ainda que um julgamento chegue ao fim. Cerca de 780 pessoas passaram pelo presídio. A maioria foi transferida para outros países ainda nos governos Bush e Obama. Trump autorizou a saída de apenas um detento. Trinta e nove permanecem detidas.

Guerra ao Terror não impediu avanço do jihadismo

Os ambiciosos esforços dos Estados Unidos feitos em nome do contraterrorismo desde 11 de setembro - que custaram US$ 8 trilhões (o equivalente a R$ 41,87 trilhões em valores atuais) - incluíram a tentativa de mudança de regimes no Oriente Médio e a tentativa de conquistar a simpatia dos muçulmanos em todo o mundo - um tiro que saiu pela culatra. A ocupação prolongada no Afeganistão, por exemplo, acabou com os vestígios de simpatia dos primeiros anos após a invasão do país pelos EUA e a queda do Taleban. No Iraque, o efeito foi o contrário ao esperado: a invasão americana produziu insurgência e alimentou o surgimento do Estado Islâmico.

Nas regiões que controlou, o EI realizouvárias decapitações, execuções em massa, sequestros e violações Foto: Reuters

Novos grupos militantes islâmicos surgindo em cada canto de algum país onde houve uma ação americana ou aliada, que teve como saldo a morte de pelo menos 7.052 soldados americanos e 387.000 civis.

Hipervigilância: herança da Guerra ao Terror

O desenvolvimento e o uso de tecnologias de vigilância acelerados no pós-11 de Setembro transformaram a sociedade. Após duas décadas da Guerra ao Terror, o exercício da segurança direcionado aos conflitos internacionais passou a incorporar as atividades das pessoas comuns, com as democracias ainda debatendo o limite entre privacidade e proteção à segurança nacional.

Manifestantes carregam modelo de drone não tripulado para protestar contra hipervigilância durante protesto em Washington, em outubro de 2013. Foto: REUTERS/Jonathan Ernst

Especialistas e levantamentos da área estabelecem a Lei Patriótica (Patriot Act), criada e promulgada apenas 45 dias após o 11 de setembro de 2001, como um grande símbolo da expansão massiva da vigilância governamental nos EUA e, por consequência, mundo afora. Ao mesmo tempo, as discussões à época sobre a tecnologia da guerra e os grandes sistemas de armas não eram suficientes para combater a ameaça do inimigo invisível.

Xenofobia pós-11 de setembro alimentou populismo de ultradireita

Os ataques terroristas promovidos pela Al-Qaeda também criaram o ambiente perfeito para o desenvolvimento de movimentos xenófobos de ultradireita nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo que a ascensão do jihadismo levou à população em geral os temores alimentados por grupos extremistas ao longo de décadas, a preocupação das autoridades em destinar esforços no combate aos inimigos no estrangeiro tirou o foco de grupos externos - que ainda se beneficiaram com o surgimento das redes sociais para difundir suas teorias.

Manifestantes pró-Trump invadem o Capitólio, em Washington, para defender presidente contra 'fraude eleitoral'. Foto: Evelyn Hockstein for The Washington Post

As ameaças internas, que aumentaram nos últimos anos, preocupando inclusive o FBI, ganharam maior atenção internacional durante os distúrbios no Capitólio, no dia 6 de janeiro, quando manifestantes que alegavam fraude nas eleições presidenciais invadiram o Congresso para impedir a certificação da vitória de Joe Biden.

Mudança de foco para a China

A retirada das tropas americanas do Afeganistão, justamente nos 20 anos do aniversário do 11 de setembro, mostra a mudança do cenário geopolítico no período. Enquanto a atuação de grupos jihadistas no Oriente Médio representava uma ameaça sensível aos interesses americanos em 2001, a ascensão da China como superpotência está na raiz da política externa americana em 2021.

O presidente chinês, Xi Jinping, aperta a mão do então vice-presidente dos EUA, Joe Biden, durante encontro em Pequim, em dezembro de 2013. Foto: REUTERS/Lintao Zhang/Pool//File Photo

A estratégia foi sinalizada ainda na gestão Barack Obama, sob o nome de pivô para a Ásia, e hoje é marcada principalmente pela necessidade americana de encontrar soluções energéticas para conter a mudança climática e de fazer frente aos avanços tecnológicos chineses, principalmente no 5G.

Geração pós-11 de setembro contesta Guerra ao Terror

Apesar da promessa feita por George W. Bush de "nunca esquecer" o que se passou em 11 de setembro, para toda uma geração que só conheceu as imagens do atentado terrorista de 20 anos atrás na escola e tem uma relação mais distante com o acontecimento, a resposta americana é vista com olhar crítico.

Com mais medo a ataques internos, geração pós-11/9 contesta Guerra ao Terror. Foto: Arte/ Bruno Ponceano/ Estadão

Jovens da Geração Z (nascidos a partir de 1997) criticam a verba gasta com a Guerra ao Terror e com os resultados apresentados por ela, inclusive no quesito de aumentar a sensação de segurança no país. Além disso, os jovens enfrentam de forma mais próxima outros desafios mais comuns ao seu tempo, como os ataques a tiros e a pandemia da covid-19.

História sem fim

Os 20 anos de Guerra ao Terror começaram com o ataque às Torres Gêmeas e ao Pentágono, em 11 de setembro de 2001, e levaram ao que muitos americanos chamaram de "guerras eternas", no Afeganistão e no Iraque.O Estadão contou essa história em formato de HQ, a partir do ponto de vista de uma repórter fictícia que presenciou os atentados, a tragédia daquele dia, e as catastróficas medidas americanas para se vingar.

O terrorismo depois de Bin Laden

Logo após os atentados de 11 de setembro, o Ocidente, em especial, o governo americano, se viu diante de um novo rosto a ser combatido: Osama Bin Laden. Ao longo desses vinte anos, a Al-Qaeda perdeu força, Bin Laden foi morto, o Estado Islâmico ascendeu de forma brutal e também teve seu líder morto, mas a disseminação de ideologias jihadistas e recrutamento continua forte, principalmente com o uso das redes sociais.

Osama bin Laden (E) ao lado de seu conselheiro Ayman al-Zawahri, em imagem de novembro de 2001 Foto: REUTERS/Hamid Mir/Editor/Ausaf Newspaper for Daily Dawn

Os grupos terroristas continuam se espalhando, principalmente em países da África e da Ásia, e derrotá-los não é simples. Se algo mudou de 2001 para 2021, pensando na intervenção americana no Afeganistão que abrigava a Al-Qaeda, é que o Taleban retomou o poder no Afeganistão após a retirada das tropas americanas, mas o abrigo a grupos jihadistas se tornou mais difícil.

Há 20 anos, os atentados terroristas promovidos pela Al-Qaeda contra os Estados Unidos em 11 de setembro mudaram o mundo. Para muitos, o evento marcou a virada do século 20 para o século 21, e determinou os rumos dos mais diversos temas da agenda internacional nas décadas seguintes.

Em 11 de setembro de 2001, fundamentalistas islâmicos ligados à organização terrorista Al-Qaeda sequestraram quatro aviões comerciais nos Estados Unidos, desviando a rota dos voos para realizar os ataques. O mais famoso deles teve como alvo o World Trade Center, símbolo do mercado financeiro mundial, que foi atingido por duas aeronaves, matando cerca de 3 mil pessoas. Além das Torres Gêmeas, os terroristas suicidas também colidiram com o Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos EUA, na Virgínia. A última aeronave caiu na Pensilvânia, antes de acertar seu alvo.

A resposta americana ao atentado ditou os rumos da geopolítica mundial a partir de então. As determinantes de política externa e de segurança e defesa estabelecidas durante o governo de George W. Bush mergulhou os EUA e seus principais aliados na Guerra ao Terror, iniciada com o conflito no Afeganistão. Também foi no governo Bush que os americanos definiram as nações que formariam um 'eixo do mal' - entre elas, Irã, Iraque e Coreia do Norte -, que seriam uma ameaça à paz mundial.

Os atentados de 11 de setembro completam 20 anos em 2021 Foto: Richard Drew / AP

Internamente, os atentados também mudaram o cotidiano dos americanos. Regras mais rígidas de fiscalização foram impostas nos aeroportos do país. O conceito de vigilância constante ganhou força e novas tecnologias foram desenvolvidas para rastrear e identificar possíveis ameaças.

Veja algumas das principais repercussões do atentado de 11 de setembro:

Guantánamo, o pior legado do pós-11 de setembro

Criada por George W. Bush trancafiar terroristas, a prisão da base naval da Baía de Guantánamo permanece como uma herança incômoda da "Guerra ao Terror". Vinte anos depois os ataques de 11 de setembro, a prisão permanece aberta com presos sem acusação formal e julgamentos intermináveis à margem da lei americana.

Prisão americana na Baía de Guantánamo é uma das heranças da Guerra ao Terror. Foto: Shane T. McCoy/United States Navy

É raro achar presos que foram acusados formalmente por um crime. Mais difícil ainda que um julgamento chegue ao fim. Cerca de 780 pessoas passaram pelo presídio. A maioria foi transferida para outros países ainda nos governos Bush e Obama. Trump autorizou a saída de apenas um detento. Trinta e nove permanecem detidas.

Guerra ao Terror não impediu avanço do jihadismo

Os ambiciosos esforços dos Estados Unidos feitos em nome do contraterrorismo desde 11 de setembro - que custaram US$ 8 trilhões (o equivalente a R$ 41,87 trilhões em valores atuais) - incluíram a tentativa de mudança de regimes no Oriente Médio e a tentativa de conquistar a simpatia dos muçulmanos em todo o mundo - um tiro que saiu pela culatra. A ocupação prolongada no Afeganistão, por exemplo, acabou com os vestígios de simpatia dos primeiros anos após a invasão do país pelos EUA e a queda do Taleban. No Iraque, o efeito foi o contrário ao esperado: a invasão americana produziu insurgência e alimentou o surgimento do Estado Islâmico.

Nas regiões que controlou, o EI realizouvárias decapitações, execuções em massa, sequestros e violações Foto: Reuters

Novos grupos militantes islâmicos surgindo em cada canto de algum país onde houve uma ação americana ou aliada, que teve como saldo a morte de pelo menos 7.052 soldados americanos e 387.000 civis.

Hipervigilância: herança da Guerra ao Terror

O desenvolvimento e o uso de tecnologias de vigilância acelerados no pós-11 de Setembro transformaram a sociedade. Após duas décadas da Guerra ao Terror, o exercício da segurança direcionado aos conflitos internacionais passou a incorporar as atividades das pessoas comuns, com as democracias ainda debatendo o limite entre privacidade e proteção à segurança nacional.

Manifestantes carregam modelo de drone não tripulado para protestar contra hipervigilância durante protesto em Washington, em outubro de 2013. Foto: REUTERS/Jonathan Ernst

Especialistas e levantamentos da área estabelecem a Lei Patriótica (Patriot Act), criada e promulgada apenas 45 dias após o 11 de setembro de 2001, como um grande símbolo da expansão massiva da vigilância governamental nos EUA e, por consequência, mundo afora. Ao mesmo tempo, as discussões à época sobre a tecnologia da guerra e os grandes sistemas de armas não eram suficientes para combater a ameaça do inimigo invisível.

Xenofobia pós-11 de setembro alimentou populismo de ultradireita

Os ataques terroristas promovidos pela Al-Qaeda também criaram o ambiente perfeito para o desenvolvimento de movimentos xenófobos de ultradireita nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo que a ascensão do jihadismo levou à população em geral os temores alimentados por grupos extremistas ao longo de décadas, a preocupação das autoridades em destinar esforços no combate aos inimigos no estrangeiro tirou o foco de grupos externos - que ainda se beneficiaram com o surgimento das redes sociais para difundir suas teorias.

Manifestantes pró-Trump invadem o Capitólio, em Washington, para defender presidente contra 'fraude eleitoral'. Foto: Evelyn Hockstein for The Washington Post

As ameaças internas, que aumentaram nos últimos anos, preocupando inclusive o FBI, ganharam maior atenção internacional durante os distúrbios no Capitólio, no dia 6 de janeiro, quando manifestantes que alegavam fraude nas eleições presidenciais invadiram o Congresso para impedir a certificação da vitória de Joe Biden.

Mudança de foco para a China

A retirada das tropas americanas do Afeganistão, justamente nos 20 anos do aniversário do 11 de setembro, mostra a mudança do cenário geopolítico no período. Enquanto a atuação de grupos jihadistas no Oriente Médio representava uma ameaça sensível aos interesses americanos em 2001, a ascensão da China como superpotência está na raiz da política externa americana em 2021.

O presidente chinês, Xi Jinping, aperta a mão do então vice-presidente dos EUA, Joe Biden, durante encontro em Pequim, em dezembro de 2013. Foto: REUTERS/Lintao Zhang/Pool//File Photo

A estratégia foi sinalizada ainda na gestão Barack Obama, sob o nome de pivô para a Ásia, e hoje é marcada principalmente pela necessidade americana de encontrar soluções energéticas para conter a mudança climática e de fazer frente aos avanços tecnológicos chineses, principalmente no 5G.

Geração pós-11 de setembro contesta Guerra ao Terror

Apesar da promessa feita por George W. Bush de "nunca esquecer" o que se passou em 11 de setembro, para toda uma geração que só conheceu as imagens do atentado terrorista de 20 anos atrás na escola e tem uma relação mais distante com o acontecimento, a resposta americana é vista com olhar crítico.

Com mais medo a ataques internos, geração pós-11/9 contesta Guerra ao Terror. Foto: Arte/ Bruno Ponceano/ Estadão

Jovens da Geração Z (nascidos a partir de 1997) criticam a verba gasta com a Guerra ao Terror e com os resultados apresentados por ela, inclusive no quesito de aumentar a sensação de segurança no país. Além disso, os jovens enfrentam de forma mais próxima outros desafios mais comuns ao seu tempo, como os ataques a tiros e a pandemia da covid-19.

História sem fim

Os 20 anos de Guerra ao Terror começaram com o ataque às Torres Gêmeas e ao Pentágono, em 11 de setembro de 2001, e levaram ao que muitos americanos chamaram de "guerras eternas", no Afeganistão e no Iraque.O Estadão contou essa história em formato de HQ, a partir do ponto de vista de uma repórter fictícia que presenciou os atentados, a tragédia daquele dia, e as catastróficas medidas americanas para se vingar.

O terrorismo depois de Bin Laden

Logo após os atentados de 11 de setembro, o Ocidente, em especial, o governo americano, se viu diante de um novo rosto a ser combatido: Osama Bin Laden. Ao longo desses vinte anos, a Al-Qaeda perdeu força, Bin Laden foi morto, o Estado Islâmico ascendeu de forma brutal e também teve seu líder morto, mas a disseminação de ideologias jihadistas e recrutamento continua forte, principalmente com o uso das redes sociais.

Osama bin Laden (E) ao lado de seu conselheiro Ayman al-Zawahri, em imagem de novembro de 2001 Foto: REUTERS/Hamid Mir/Editor/Ausaf Newspaper for Daily Dawn

Os grupos terroristas continuam se espalhando, principalmente em países da África e da Ásia, e derrotá-los não é simples. Se algo mudou de 2001 para 2021, pensando na intervenção americana no Afeganistão que abrigava a Al-Qaeda, é que o Taleban retomou o poder no Afeganistão após a retirada das tropas americanas, mas o abrigo a grupos jihadistas se tornou mais difícil.

Há 20 anos, os atentados terroristas promovidos pela Al-Qaeda contra os Estados Unidos em 11 de setembro mudaram o mundo. Para muitos, o evento marcou a virada do século 20 para o século 21, e determinou os rumos dos mais diversos temas da agenda internacional nas décadas seguintes.

Em 11 de setembro de 2001, fundamentalistas islâmicos ligados à organização terrorista Al-Qaeda sequestraram quatro aviões comerciais nos Estados Unidos, desviando a rota dos voos para realizar os ataques. O mais famoso deles teve como alvo o World Trade Center, símbolo do mercado financeiro mundial, que foi atingido por duas aeronaves, matando cerca de 3 mil pessoas. Além das Torres Gêmeas, os terroristas suicidas também colidiram com o Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos EUA, na Virgínia. A última aeronave caiu na Pensilvânia, antes de acertar seu alvo.

A resposta americana ao atentado ditou os rumos da geopolítica mundial a partir de então. As determinantes de política externa e de segurança e defesa estabelecidas durante o governo de George W. Bush mergulhou os EUA e seus principais aliados na Guerra ao Terror, iniciada com o conflito no Afeganistão. Também foi no governo Bush que os americanos definiram as nações que formariam um 'eixo do mal' - entre elas, Irã, Iraque e Coreia do Norte -, que seriam uma ameaça à paz mundial.

Os atentados de 11 de setembro completam 20 anos em 2021 Foto: Richard Drew / AP

Internamente, os atentados também mudaram o cotidiano dos americanos. Regras mais rígidas de fiscalização foram impostas nos aeroportos do país. O conceito de vigilância constante ganhou força e novas tecnologias foram desenvolvidas para rastrear e identificar possíveis ameaças.

Veja algumas das principais repercussões do atentado de 11 de setembro:

Guantánamo, o pior legado do pós-11 de setembro

Criada por George W. Bush trancafiar terroristas, a prisão da base naval da Baía de Guantánamo permanece como uma herança incômoda da "Guerra ao Terror". Vinte anos depois os ataques de 11 de setembro, a prisão permanece aberta com presos sem acusação formal e julgamentos intermináveis à margem da lei americana.

Prisão americana na Baía de Guantánamo é uma das heranças da Guerra ao Terror. Foto: Shane T. McCoy/United States Navy

É raro achar presos que foram acusados formalmente por um crime. Mais difícil ainda que um julgamento chegue ao fim. Cerca de 780 pessoas passaram pelo presídio. A maioria foi transferida para outros países ainda nos governos Bush e Obama. Trump autorizou a saída de apenas um detento. Trinta e nove permanecem detidas.

Guerra ao Terror não impediu avanço do jihadismo

Os ambiciosos esforços dos Estados Unidos feitos em nome do contraterrorismo desde 11 de setembro - que custaram US$ 8 trilhões (o equivalente a R$ 41,87 trilhões em valores atuais) - incluíram a tentativa de mudança de regimes no Oriente Médio e a tentativa de conquistar a simpatia dos muçulmanos em todo o mundo - um tiro que saiu pela culatra. A ocupação prolongada no Afeganistão, por exemplo, acabou com os vestígios de simpatia dos primeiros anos após a invasão do país pelos EUA e a queda do Taleban. No Iraque, o efeito foi o contrário ao esperado: a invasão americana produziu insurgência e alimentou o surgimento do Estado Islâmico.

Nas regiões que controlou, o EI realizouvárias decapitações, execuções em massa, sequestros e violações Foto: Reuters

Novos grupos militantes islâmicos surgindo em cada canto de algum país onde houve uma ação americana ou aliada, que teve como saldo a morte de pelo menos 7.052 soldados americanos e 387.000 civis.

Hipervigilância: herança da Guerra ao Terror

O desenvolvimento e o uso de tecnologias de vigilância acelerados no pós-11 de Setembro transformaram a sociedade. Após duas décadas da Guerra ao Terror, o exercício da segurança direcionado aos conflitos internacionais passou a incorporar as atividades das pessoas comuns, com as democracias ainda debatendo o limite entre privacidade e proteção à segurança nacional.

Manifestantes carregam modelo de drone não tripulado para protestar contra hipervigilância durante protesto em Washington, em outubro de 2013. Foto: REUTERS/Jonathan Ernst

Especialistas e levantamentos da área estabelecem a Lei Patriótica (Patriot Act), criada e promulgada apenas 45 dias após o 11 de setembro de 2001, como um grande símbolo da expansão massiva da vigilância governamental nos EUA e, por consequência, mundo afora. Ao mesmo tempo, as discussões à época sobre a tecnologia da guerra e os grandes sistemas de armas não eram suficientes para combater a ameaça do inimigo invisível.

Xenofobia pós-11 de setembro alimentou populismo de ultradireita

Os ataques terroristas promovidos pela Al-Qaeda também criaram o ambiente perfeito para o desenvolvimento de movimentos xenófobos de ultradireita nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo que a ascensão do jihadismo levou à população em geral os temores alimentados por grupos extremistas ao longo de décadas, a preocupação das autoridades em destinar esforços no combate aos inimigos no estrangeiro tirou o foco de grupos externos - que ainda se beneficiaram com o surgimento das redes sociais para difundir suas teorias.

Manifestantes pró-Trump invadem o Capitólio, em Washington, para defender presidente contra 'fraude eleitoral'. Foto: Evelyn Hockstein for The Washington Post

As ameaças internas, que aumentaram nos últimos anos, preocupando inclusive o FBI, ganharam maior atenção internacional durante os distúrbios no Capitólio, no dia 6 de janeiro, quando manifestantes que alegavam fraude nas eleições presidenciais invadiram o Congresso para impedir a certificação da vitória de Joe Biden.

Mudança de foco para a China

A retirada das tropas americanas do Afeganistão, justamente nos 20 anos do aniversário do 11 de setembro, mostra a mudança do cenário geopolítico no período. Enquanto a atuação de grupos jihadistas no Oriente Médio representava uma ameaça sensível aos interesses americanos em 2001, a ascensão da China como superpotência está na raiz da política externa americana em 2021.

O presidente chinês, Xi Jinping, aperta a mão do então vice-presidente dos EUA, Joe Biden, durante encontro em Pequim, em dezembro de 2013. Foto: REUTERS/Lintao Zhang/Pool//File Photo

A estratégia foi sinalizada ainda na gestão Barack Obama, sob o nome de pivô para a Ásia, e hoje é marcada principalmente pela necessidade americana de encontrar soluções energéticas para conter a mudança climática e de fazer frente aos avanços tecnológicos chineses, principalmente no 5G.

Geração pós-11 de setembro contesta Guerra ao Terror

Apesar da promessa feita por George W. Bush de "nunca esquecer" o que se passou em 11 de setembro, para toda uma geração que só conheceu as imagens do atentado terrorista de 20 anos atrás na escola e tem uma relação mais distante com o acontecimento, a resposta americana é vista com olhar crítico.

Com mais medo a ataques internos, geração pós-11/9 contesta Guerra ao Terror. Foto: Arte/ Bruno Ponceano/ Estadão

Jovens da Geração Z (nascidos a partir de 1997) criticam a verba gasta com a Guerra ao Terror e com os resultados apresentados por ela, inclusive no quesito de aumentar a sensação de segurança no país. Além disso, os jovens enfrentam de forma mais próxima outros desafios mais comuns ao seu tempo, como os ataques a tiros e a pandemia da covid-19.

História sem fim

Os 20 anos de Guerra ao Terror começaram com o ataque às Torres Gêmeas e ao Pentágono, em 11 de setembro de 2001, e levaram ao que muitos americanos chamaram de "guerras eternas", no Afeganistão e no Iraque.O Estadão contou essa história em formato de HQ, a partir do ponto de vista de uma repórter fictícia que presenciou os atentados, a tragédia daquele dia, e as catastróficas medidas americanas para se vingar.

O terrorismo depois de Bin Laden

Logo após os atentados de 11 de setembro, o Ocidente, em especial, o governo americano, se viu diante de um novo rosto a ser combatido: Osama Bin Laden. Ao longo desses vinte anos, a Al-Qaeda perdeu força, Bin Laden foi morto, o Estado Islâmico ascendeu de forma brutal e também teve seu líder morto, mas a disseminação de ideologias jihadistas e recrutamento continua forte, principalmente com o uso das redes sociais.

Osama bin Laden (E) ao lado de seu conselheiro Ayman al-Zawahri, em imagem de novembro de 2001 Foto: REUTERS/Hamid Mir/Editor/Ausaf Newspaper for Daily Dawn

Os grupos terroristas continuam se espalhando, principalmente em países da África e da Ásia, e derrotá-los não é simples. Se algo mudou de 2001 para 2021, pensando na intervenção americana no Afeganistão que abrigava a Al-Qaeda, é que o Taleban retomou o poder no Afeganistão após a retirada das tropas americanas, mas o abrigo a grupos jihadistas se tornou mais difícil.

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