50 anos depois, triângulo de Nixon pende contra os EUA; leia o artigo


Visita histórica de Nixon a Pequim aproximou chineses e americanos na oposição à União Soviética; agora, Rússia e China se unem contra Washington

Por Cláudia Trevisan
Atualização:

Richard Nixon deve estar surpreso, onde quer que ele esteja. Há 50 anos, em um gelado 21 de fevereiro de 1972, ele aterrissou em Pequim para aproximar seu país de uma China pobre e isolada. Em comum, ele e Mao Tsé-tung nutriam o desejo de reduzir a influência daUnião das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que se arvorava a liderança do mundo comunista e com a qual Pequim havia rompido na década anterior.

Meio século mais tarde, a Rússia, herdeira do império soviético, mudou de lugar neste “triângulo estratégico” e hoje se alia à China na oposição aos Estados Unidos e à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Antes desse rearranjo geopolítico, EUA e China protagonizaram quatro décadas de engajamento, que teve sua origem nos oito dias em que Nixon e a primeira-dama Patty Nixon passaram no país asiático em 1972. A epopeia eletrizou os americanos grudados em suas telas de TV, a começar pela descida do casal do avião presidencial. Patty usava um sobretudo vermelho, a cor imemorial dos chineses, que se tornou ainda mais popular depois da Revolução Comunista de 1949. A primeira pessoa com quem Nixon trocou um aperto de mão foi Zhou Enlai, o mais popular primeiro-ministro da China, cuja mão estendida havia sido ignorada em 1954 pelo então secretário de Estado americano, John Foster Dulles, na Conferência de Genebra que discutiu questões pendentes das guerras da Coreia e da Indochina.

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Os presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir, durante conferência de cúpula, em imagem divulgada pela Xinhua News Agency. Foto: Yin Bogu/Xinhua via AP

Quando Nixon chegou a Pequim, a China estava mergulhada na Revolução Cultural, o movimento que demonizou o Ocidente, aumentou o isolamento do país e permitiu que Mao Tsé-tung enviasse seus opositores no Partido Comunista para a morte ou o exílio doméstico. Entre eles, Deng Xiaoping, que aproveitaria a porta aberta pela visita de Nixon para iniciar, em 1978, as reformas que catapultaram a China à posição de segunda maior economia do mundo, para as quais a relação com os EUA era essencial.

Da visita à vitória

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A ida a Pequim e Xangai do presidente americano conservador, filiado ao Partido Republicano, mudou o curso da história e foi uma das peças do quebra-cabeças que levaria à vitória dos EUA sobre a URSS na Guerra Fria.

Apesar da aproximação em 1972, as relações diplomáticas entre americanos e chineses só seriam restabelecidas em janeiro de 1979, decisão que foi marcada por outra visita histórica, desta vez de Deng Xiaoping aos Estados Unidos.

O líder chinês foi recebido pelo presidente democrata Jimmy Carter, visitou fábricas da Coca-Cola, Boeing e Ford, esteve em uma estação espacial da NASA e usou um chapéu de cowboy em um rodeio no Texas. Também fez questão de se encontrar com Nixon, que havia renunciado em 1974 em meio ao escândalo Watergate. A contragosto, Carter convidou o antecessor para a recepção a Deng na Casa Branca.

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Em dezembro do mesmo 1979, a União Soviética invadiu o Afeganistão, um dos países que fazem fronteira com a China, o que foi visto por Pequim como uma ameaça. O movimento de Moscou reforçou os laços entre Washington e Pequim, que passaram a colaborar em uma operação secreta para apoiar grupos insurgentes afegãos no Paquistão. A China também permitiu que os EUA instalassem em seu território estações para monitorar atividades soviéticas na Ásia Central.

As relações entre Moscou e Pequim só foram normalizadas em 1989, depois que os soviéticos retiraram suas tropas do Afeganistão. Com a dissolução da URSS, em 1991, China e Rússia passaram a ver motivos para se aproximar, com o intuito de balancear o mundo unipolar que emergiu do fim da Guerra Fria, com os EUA em posição hegemônica. Mas a “quase-aliança” celebrada por Xi Jinping e Vladimir Putin no início de fevereiro representa uma inflexão e reflete a deterioração no relacionamento de China e Rússia com os Estados Unidos.

A visita de Nixon em 1972 começou a ser planejada em segredo no ano anterior pelo então chefe do Conselho Nacional de Segurança, Henry Kissinger. Mas o desejo de Nixon de se aproximar da China estava claro antes de ele chegar à Casa Branca. “Olhando a longo prazo, nós simplesmente não podemos nos dar ao luxo de deixar a China para sempre fora da família de nações, ali para alimentar suas fantasias, acalentar seus ódios e ameaçar seus vizinhos. Não há lugar em nosso pequeno planeta para um bilhão de pessoas potencialmente capazes viverem em isolamento raivoso”, escreveu o republicano em artigo publicado na Foreign Affairs em 1967.

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No mesmo texto, ele ressaltava que o mundo só seria seguro se a China mudasse. Segundo Nixon, o país asiático precisava abandonar aventuras externas e focar na solução de seus problemas domésticos. Deng fez exatamente isso e a China mudou. Resta saber o que Nixon acharia do resultado.

*Diretora executiva do Conselho Empresarial Brasil-China e ex-correspondente do Estadão em Washington e Pequim

Richard Nixon deve estar surpreso, onde quer que ele esteja. Há 50 anos, em um gelado 21 de fevereiro de 1972, ele aterrissou em Pequim para aproximar seu país de uma China pobre e isolada. Em comum, ele e Mao Tsé-tung nutriam o desejo de reduzir a influência daUnião das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que se arvorava a liderança do mundo comunista e com a qual Pequim havia rompido na década anterior.

Meio século mais tarde, a Rússia, herdeira do império soviético, mudou de lugar neste “triângulo estratégico” e hoje se alia à China na oposição aos Estados Unidos e à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Antes desse rearranjo geopolítico, EUA e China protagonizaram quatro décadas de engajamento, que teve sua origem nos oito dias em que Nixon e a primeira-dama Patty Nixon passaram no país asiático em 1972. A epopeia eletrizou os americanos grudados em suas telas de TV, a começar pela descida do casal do avião presidencial. Patty usava um sobretudo vermelho, a cor imemorial dos chineses, que se tornou ainda mais popular depois da Revolução Comunista de 1949. A primeira pessoa com quem Nixon trocou um aperto de mão foi Zhou Enlai, o mais popular primeiro-ministro da China, cuja mão estendida havia sido ignorada em 1954 pelo então secretário de Estado americano, John Foster Dulles, na Conferência de Genebra que discutiu questões pendentes das guerras da Coreia e da Indochina.

Os presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir, durante conferência de cúpula, em imagem divulgada pela Xinhua News Agency. Foto: Yin Bogu/Xinhua via AP

Quando Nixon chegou a Pequim, a China estava mergulhada na Revolução Cultural, o movimento que demonizou o Ocidente, aumentou o isolamento do país e permitiu que Mao Tsé-tung enviasse seus opositores no Partido Comunista para a morte ou o exílio doméstico. Entre eles, Deng Xiaoping, que aproveitaria a porta aberta pela visita de Nixon para iniciar, em 1978, as reformas que catapultaram a China à posição de segunda maior economia do mundo, para as quais a relação com os EUA era essencial.

Da visita à vitória

A ida a Pequim e Xangai do presidente americano conservador, filiado ao Partido Republicano, mudou o curso da história e foi uma das peças do quebra-cabeças que levaria à vitória dos EUA sobre a URSS na Guerra Fria.

Apesar da aproximação em 1972, as relações diplomáticas entre americanos e chineses só seriam restabelecidas em janeiro de 1979, decisão que foi marcada por outra visita histórica, desta vez de Deng Xiaoping aos Estados Unidos.

O líder chinês foi recebido pelo presidente democrata Jimmy Carter, visitou fábricas da Coca-Cola, Boeing e Ford, esteve em uma estação espacial da NASA e usou um chapéu de cowboy em um rodeio no Texas. Também fez questão de se encontrar com Nixon, que havia renunciado em 1974 em meio ao escândalo Watergate. A contragosto, Carter convidou o antecessor para a recepção a Deng na Casa Branca.

Em dezembro do mesmo 1979, a União Soviética invadiu o Afeganistão, um dos países que fazem fronteira com a China, o que foi visto por Pequim como uma ameaça. O movimento de Moscou reforçou os laços entre Washington e Pequim, que passaram a colaborar em uma operação secreta para apoiar grupos insurgentes afegãos no Paquistão. A China também permitiu que os EUA instalassem em seu território estações para monitorar atividades soviéticas na Ásia Central.

As relações entre Moscou e Pequim só foram normalizadas em 1989, depois que os soviéticos retiraram suas tropas do Afeganistão. Com a dissolução da URSS, em 1991, China e Rússia passaram a ver motivos para se aproximar, com o intuito de balancear o mundo unipolar que emergiu do fim da Guerra Fria, com os EUA em posição hegemônica. Mas a “quase-aliança” celebrada por Xi Jinping e Vladimir Putin no início de fevereiro representa uma inflexão e reflete a deterioração no relacionamento de China e Rússia com os Estados Unidos.

A visita de Nixon em 1972 começou a ser planejada em segredo no ano anterior pelo então chefe do Conselho Nacional de Segurança, Henry Kissinger. Mas o desejo de Nixon de se aproximar da China estava claro antes de ele chegar à Casa Branca. “Olhando a longo prazo, nós simplesmente não podemos nos dar ao luxo de deixar a China para sempre fora da família de nações, ali para alimentar suas fantasias, acalentar seus ódios e ameaçar seus vizinhos. Não há lugar em nosso pequeno planeta para um bilhão de pessoas potencialmente capazes viverem em isolamento raivoso”, escreveu o republicano em artigo publicado na Foreign Affairs em 1967.

No mesmo texto, ele ressaltava que o mundo só seria seguro se a China mudasse. Segundo Nixon, o país asiático precisava abandonar aventuras externas e focar na solução de seus problemas domésticos. Deng fez exatamente isso e a China mudou. Resta saber o que Nixon acharia do resultado.

*Diretora executiva do Conselho Empresarial Brasil-China e ex-correspondente do Estadão em Washington e Pequim

Richard Nixon deve estar surpreso, onde quer que ele esteja. Há 50 anos, em um gelado 21 de fevereiro de 1972, ele aterrissou em Pequim para aproximar seu país de uma China pobre e isolada. Em comum, ele e Mao Tsé-tung nutriam o desejo de reduzir a influência daUnião das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que se arvorava a liderança do mundo comunista e com a qual Pequim havia rompido na década anterior.

Meio século mais tarde, a Rússia, herdeira do império soviético, mudou de lugar neste “triângulo estratégico” e hoje se alia à China na oposição aos Estados Unidos e à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Antes desse rearranjo geopolítico, EUA e China protagonizaram quatro décadas de engajamento, que teve sua origem nos oito dias em que Nixon e a primeira-dama Patty Nixon passaram no país asiático em 1972. A epopeia eletrizou os americanos grudados em suas telas de TV, a começar pela descida do casal do avião presidencial. Patty usava um sobretudo vermelho, a cor imemorial dos chineses, que se tornou ainda mais popular depois da Revolução Comunista de 1949. A primeira pessoa com quem Nixon trocou um aperto de mão foi Zhou Enlai, o mais popular primeiro-ministro da China, cuja mão estendida havia sido ignorada em 1954 pelo então secretário de Estado americano, John Foster Dulles, na Conferência de Genebra que discutiu questões pendentes das guerras da Coreia e da Indochina.

Os presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir, durante conferência de cúpula, em imagem divulgada pela Xinhua News Agency. Foto: Yin Bogu/Xinhua via AP

Quando Nixon chegou a Pequim, a China estava mergulhada na Revolução Cultural, o movimento que demonizou o Ocidente, aumentou o isolamento do país e permitiu que Mao Tsé-tung enviasse seus opositores no Partido Comunista para a morte ou o exílio doméstico. Entre eles, Deng Xiaoping, que aproveitaria a porta aberta pela visita de Nixon para iniciar, em 1978, as reformas que catapultaram a China à posição de segunda maior economia do mundo, para as quais a relação com os EUA era essencial.

Da visita à vitória

A ida a Pequim e Xangai do presidente americano conservador, filiado ao Partido Republicano, mudou o curso da história e foi uma das peças do quebra-cabeças que levaria à vitória dos EUA sobre a URSS na Guerra Fria.

Apesar da aproximação em 1972, as relações diplomáticas entre americanos e chineses só seriam restabelecidas em janeiro de 1979, decisão que foi marcada por outra visita histórica, desta vez de Deng Xiaoping aos Estados Unidos.

O líder chinês foi recebido pelo presidente democrata Jimmy Carter, visitou fábricas da Coca-Cola, Boeing e Ford, esteve em uma estação espacial da NASA e usou um chapéu de cowboy em um rodeio no Texas. Também fez questão de se encontrar com Nixon, que havia renunciado em 1974 em meio ao escândalo Watergate. A contragosto, Carter convidou o antecessor para a recepção a Deng na Casa Branca.

Em dezembro do mesmo 1979, a União Soviética invadiu o Afeganistão, um dos países que fazem fronteira com a China, o que foi visto por Pequim como uma ameaça. O movimento de Moscou reforçou os laços entre Washington e Pequim, que passaram a colaborar em uma operação secreta para apoiar grupos insurgentes afegãos no Paquistão. A China também permitiu que os EUA instalassem em seu território estações para monitorar atividades soviéticas na Ásia Central.

As relações entre Moscou e Pequim só foram normalizadas em 1989, depois que os soviéticos retiraram suas tropas do Afeganistão. Com a dissolução da URSS, em 1991, China e Rússia passaram a ver motivos para se aproximar, com o intuito de balancear o mundo unipolar que emergiu do fim da Guerra Fria, com os EUA em posição hegemônica. Mas a “quase-aliança” celebrada por Xi Jinping e Vladimir Putin no início de fevereiro representa uma inflexão e reflete a deterioração no relacionamento de China e Rússia com os Estados Unidos.

A visita de Nixon em 1972 começou a ser planejada em segredo no ano anterior pelo então chefe do Conselho Nacional de Segurança, Henry Kissinger. Mas o desejo de Nixon de se aproximar da China estava claro antes de ele chegar à Casa Branca. “Olhando a longo prazo, nós simplesmente não podemos nos dar ao luxo de deixar a China para sempre fora da família de nações, ali para alimentar suas fantasias, acalentar seus ódios e ameaçar seus vizinhos. Não há lugar em nosso pequeno planeta para um bilhão de pessoas potencialmente capazes viverem em isolamento raivoso”, escreveu o republicano em artigo publicado na Foreign Affairs em 1967.

No mesmo texto, ele ressaltava que o mundo só seria seguro se a China mudasse. Segundo Nixon, o país asiático precisava abandonar aventuras externas e focar na solução de seus problemas domésticos. Deng fez exatamente isso e a China mudou. Resta saber o que Nixon acharia do resultado.

*Diretora executiva do Conselho Empresarial Brasil-China e ex-correspondente do Estadão em Washington e Pequim

Richard Nixon deve estar surpreso, onde quer que ele esteja. Há 50 anos, em um gelado 21 de fevereiro de 1972, ele aterrissou em Pequim para aproximar seu país de uma China pobre e isolada. Em comum, ele e Mao Tsé-tung nutriam o desejo de reduzir a influência daUnião das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que se arvorava a liderança do mundo comunista e com a qual Pequim havia rompido na década anterior.

Meio século mais tarde, a Rússia, herdeira do império soviético, mudou de lugar neste “triângulo estratégico” e hoje se alia à China na oposição aos Estados Unidos e à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Antes desse rearranjo geopolítico, EUA e China protagonizaram quatro décadas de engajamento, que teve sua origem nos oito dias em que Nixon e a primeira-dama Patty Nixon passaram no país asiático em 1972. A epopeia eletrizou os americanos grudados em suas telas de TV, a começar pela descida do casal do avião presidencial. Patty usava um sobretudo vermelho, a cor imemorial dos chineses, que se tornou ainda mais popular depois da Revolução Comunista de 1949. A primeira pessoa com quem Nixon trocou um aperto de mão foi Zhou Enlai, o mais popular primeiro-ministro da China, cuja mão estendida havia sido ignorada em 1954 pelo então secretário de Estado americano, John Foster Dulles, na Conferência de Genebra que discutiu questões pendentes das guerras da Coreia e da Indochina.

Os presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir, durante conferência de cúpula, em imagem divulgada pela Xinhua News Agency. Foto: Yin Bogu/Xinhua via AP

Quando Nixon chegou a Pequim, a China estava mergulhada na Revolução Cultural, o movimento que demonizou o Ocidente, aumentou o isolamento do país e permitiu que Mao Tsé-tung enviasse seus opositores no Partido Comunista para a morte ou o exílio doméstico. Entre eles, Deng Xiaoping, que aproveitaria a porta aberta pela visita de Nixon para iniciar, em 1978, as reformas que catapultaram a China à posição de segunda maior economia do mundo, para as quais a relação com os EUA era essencial.

Da visita à vitória

A ida a Pequim e Xangai do presidente americano conservador, filiado ao Partido Republicano, mudou o curso da história e foi uma das peças do quebra-cabeças que levaria à vitória dos EUA sobre a URSS na Guerra Fria.

Apesar da aproximação em 1972, as relações diplomáticas entre americanos e chineses só seriam restabelecidas em janeiro de 1979, decisão que foi marcada por outra visita histórica, desta vez de Deng Xiaoping aos Estados Unidos.

O líder chinês foi recebido pelo presidente democrata Jimmy Carter, visitou fábricas da Coca-Cola, Boeing e Ford, esteve em uma estação espacial da NASA e usou um chapéu de cowboy em um rodeio no Texas. Também fez questão de se encontrar com Nixon, que havia renunciado em 1974 em meio ao escândalo Watergate. A contragosto, Carter convidou o antecessor para a recepção a Deng na Casa Branca.

Em dezembro do mesmo 1979, a União Soviética invadiu o Afeganistão, um dos países que fazem fronteira com a China, o que foi visto por Pequim como uma ameaça. O movimento de Moscou reforçou os laços entre Washington e Pequim, que passaram a colaborar em uma operação secreta para apoiar grupos insurgentes afegãos no Paquistão. A China também permitiu que os EUA instalassem em seu território estações para monitorar atividades soviéticas na Ásia Central.

As relações entre Moscou e Pequim só foram normalizadas em 1989, depois que os soviéticos retiraram suas tropas do Afeganistão. Com a dissolução da URSS, em 1991, China e Rússia passaram a ver motivos para se aproximar, com o intuito de balancear o mundo unipolar que emergiu do fim da Guerra Fria, com os EUA em posição hegemônica. Mas a “quase-aliança” celebrada por Xi Jinping e Vladimir Putin no início de fevereiro representa uma inflexão e reflete a deterioração no relacionamento de China e Rússia com os Estados Unidos.

A visita de Nixon em 1972 começou a ser planejada em segredo no ano anterior pelo então chefe do Conselho Nacional de Segurança, Henry Kissinger. Mas o desejo de Nixon de se aproximar da China estava claro antes de ele chegar à Casa Branca. “Olhando a longo prazo, nós simplesmente não podemos nos dar ao luxo de deixar a China para sempre fora da família de nações, ali para alimentar suas fantasias, acalentar seus ódios e ameaçar seus vizinhos. Não há lugar em nosso pequeno planeta para um bilhão de pessoas potencialmente capazes viverem em isolamento raivoso”, escreveu o republicano em artigo publicado na Foreign Affairs em 1967.

No mesmo texto, ele ressaltava que o mundo só seria seguro se a China mudasse. Segundo Nixon, o país asiático precisava abandonar aventuras externas e focar na solução de seus problemas domésticos. Deng fez exatamente isso e a China mudou. Resta saber o que Nixon acharia do resultado.

*Diretora executiva do Conselho Empresarial Brasil-China e ex-correspondente do Estadão em Washington e Pequim

Richard Nixon deve estar surpreso, onde quer que ele esteja. Há 50 anos, em um gelado 21 de fevereiro de 1972, ele aterrissou em Pequim para aproximar seu país de uma China pobre e isolada. Em comum, ele e Mao Tsé-tung nutriam o desejo de reduzir a influência daUnião das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que se arvorava a liderança do mundo comunista e com a qual Pequim havia rompido na década anterior.

Meio século mais tarde, a Rússia, herdeira do império soviético, mudou de lugar neste “triângulo estratégico” e hoje se alia à China na oposição aos Estados Unidos e à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Antes desse rearranjo geopolítico, EUA e China protagonizaram quatro décadas de engajamento, que teve sua origem nos oito dias em que Nixon e a primeira-dama Patty Nixon passaram no país asiático em 1972. A epopeia eletrizou os americanos grudados em suas telas de TV, a começar pela descida do casal do avião presidencial. Patty usava um sobretudo vermelho, a cor imemorial dos chineses, que se tornou ainda mais popular depois da Revolução Comunista de 1949. A primeira pessoa com quem Nixon trocou um aperto de mão foi Zhou Enlai, o mais popular primeiro-ministro da China, cuja mão estendida havia sido ignorada em 1954 pelo então secretário de Estado americano, John Foster Dulles, na Conferência de Genebra que discutiu questões pendentes das guerras da Coreia e da Indochina.

Os presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir, durante conferência de cúpula, em imagem divulgada pela Xinhua News Agency. Foto: Yin Bogu/Xinhua via AP

Quando Nixon chegou a Pequim, a China estava mergulhada na Revolução Cultural, o movimento que demonizou o Ocidente, aumentou o isolamento do país e permitiu que Mao Tsé-tung enviasse seus opositores no Partido Comunista para a morte ou o exílio doméstico. Entre eles, Deng Xiaoping, que aproveitaria a porta aberta pela visita de Nixon para iniciar, em 1978, as reformas que catapultaram a China à posição de segunda maior economia do mundo, para as quais a relação com os EUA era essencial.

Da visita à vitória

A ida a Pequim e Xangai do presidente americano conservador, filiado ao Partido Republicano, mudou o curso da história e foi uma das peças do quebra-cabeças que levaria à vitória dos EUA sobre a URSS na Guerra Fria.

Apesar da aproximação em 1972, as relações diplomáticas entre americanos e chineses só seriam restabelecidas em janeiro de 1979, decisão que foi marcada por outra visita histórica, desta vez de Deng Xiaoping aos Estados Unidos.

O líder chinês foi recebido pelo presidente democrata Jimmy Carter, visitou fábricas da Coca-Cola, Boeing e Ford, esteve em uma estação espacial da NASA e usou um chapéu de cowboy em um rodeio no Texas. Também fez questão de se encontrar com Nixon, que havia renunciado em 1974 em meio ao escândalo Watergate. A contragosto, Carter convidou o antecessor para a recepção a Deng na Casa Branca.

Em dezembro do mesmo 1979, a União Soviética invadiu o Afeganistão, um dos países que fazem fronteira com a China, o que foi visto por Pequim como uma ameaça. O movimento de Moscou reforçou os laços entre Washington e Pequim, que passaram a colaborar em uma operação secreta para apoiar grupos insurgentes afegãos no Paquistão. A China também permitiu que os EUA instalassem em seu território estações para monitorar atividades soviéticas na Ásia Central.

As relações entre Moscou e Pequim só foram normalizadas em 1989, depois que os soviéticos retiraram suas tropas do Afeganistão. Com a dissolução da URSS, em 1991, China e Rússia passaram a ver motivos para se aproximar, com o intuito de balancear o mundo unipolar que emergiu do fim da Guerra Fria, com os EUA em posição hegemônica. Mas a “quase-aliança” celebrada por Xi Jinping e Vladimir Putin no início de fevereiro representa uma inflexão e reflete a deterioração no relacionamento de China e Rússia com os Estados Unidos.

A visita de Nixon em 1972 começou a ser planejada em segredo no ano anterior pelo então chefe do Conselho Nacional de Segurança, Henry Kissinger. Mas o desejo de Nixon de se aproximar da China estava claro antes de ele chegar à Casa Branca. “Olhando a longo prazo, nós simplesmente não podemos nos dar ao luxo de deixar a China para sempre fora da família de nações, ali para alimentar suas fantasias, acalentar seus ódios e ameaçar seus vizinhos. Não há lugar em nosso pequeno planeta para um bilhão de pessoas potencialmente capazes viverem em isolamento raivoso”, escreveu o republicano em artigo publicado na Foreign Affairs em 1967.

No mesmo texto, ele ressaltava que o mundo só seria seguro se a China mudasse. Segundo Nixon, o país asiático precisava abandonar aventuras externas e focar na solução de seus problemas domésticos. Deng fez exatamente isso e a China mudou. Resta saber o que Nixon acharia do resultado.

*Diretora executiva do Conselho Empresarial Brasil-China e ex-correspondente do Estadão em Washington e Pequim

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