O drama na siderúrgica Azovstal, em Mariupol, teve mais um capitulo neste 68º dia da guerra na Ucrânia. Um dia depois de um breve cessar-fogo que permitiu a retirada de cerca de 100 pessoas por corredores humanitários, a Rússia voltou a bombardear o local que ainda abriga civis e militares. Uma nova retirada estava prevista para esta segunda-feira.
Se for completada, a retirada dos civis de Mariupol representaria um raro progresso na redução do custo humano da guerra, que causou sofrimento particular nesta cidade. Tentativas anteriores de abrir corredores seguros no local falharam, com autoridades ucranianas acusando repetidamente as forças russas de atirar e bombardear ao longo das rotas acordadas.
A estranha invasão da Ucrânia pelo Exército russo, com seus episódios dramáticos como a da usina em Mariupol, é apenas o último lembrete dos problemas generalizados e de longa data dos “recursos humanos” que frustram as aspirações de Vladimir Putin ao status de superpotência.
As táticas militares russas e o desempenho de campo podem melhorar, mas as maiores restrições demográficas às ambições de Putin são implacáveis. Nos próximos anos, essas restrições reduzirão brutalmente as opções do Kremlin.
Com vasto território e abundantes reservas minerais, a Rússia desde os dias dos czares aposta em transformar riquezas naturais em poder geopolítico. A estratégia de se tornar uma “superpotência energética” sempre foi dúbia, ainda mais hoje. Putin está lutando contra a história do desenvolvimento econômico moderno.
E ainda que não se saiba muito claramente sobre seus propósitos, cada vez mais há pistas de descontentamento interno, incluindo de parte de uma elite que se beneficiou dessas riquezas. As linhas que dividem as facções da elite econômica russa estão se tornando mais acentuadas, e alguns dos magnatas começaram, timidamente, a falar.
Bilionários que fizeram sua fortuna fora das indústrias de energia e minerais também começaram a demonstrar descontentamento. Foi o caso de Oleg Y. Tinkov, fundador de um dos maiores bancos russos, o Tinkoff, que criticou a guerra na Ucrânia em um post no Instagram.
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As diferenças em Mariupol, antes e depois da ocupação russa, imagens aéreas da usina Azovstal, o complexo é a última fortaleza de resistência de seus defensores
No dia seguinte, o governo Putin entrou em contato com seus executivos e ameaçou nacionalizar o banco se não cortassem os laços com ele. Ele contou em uma entrevista ao jornal americano The New York Times, de um local não revelado, como tem sido sua vida desde a postagem crítica no Instagram.
No campo diplomático, com um sinal de apoio da Alemanha, a União Europeia está perto de um acordo para eliminar progressivamente as importações de petróleo russo em resposta à guerra. Mas as objeções da Hungria e da Eslováquia estão impedindo um acordo de sanções, segundo dois diplomatas e um funcionário do bloco europeu informaram ao The Washington Post.
As negociações ganharam força na semana passada depois que um grande reduto, a Alemanha, abrandou sua oposição e sinalizou apoio a uma proibição em fases. No fim de semana, autoridades e diplomatas em Bruxelas discutiram a ideia de uma eliminação gradual até o final de 2022, mas a Hungria e a Eslováquia recuaram, disseram as fontes.
Já isolado, Moscou atraiu críticas de um país que até agora vinha se mantendo neutro. Autoridades israelenses reagiram com fúria nesta segunda-feira depois que o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, acusou o presidente judeu da Ucrânia, Volodmir Zelenski, de apoiar o nazismo e afirmou que “Hitler também tinha sangue judeu”.
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Yair Lapid, disse que o embaixador da Rússia em Israel seria formalmente convocado para explicar os comentários, que Lapid chamou de “imperdoáveis e ultrajantes”.
Para o colunista do Times Paul Krugman, ameaças extremas, mas vagas contra o Ocidente e chiliques autodestrutivos indicam que alguém em Moscou está preocupado com a possibilidade de o tempo não estar trabalhando a favor da Rússia.
Segundo ele, a economia russa pode ser muito maior que a ucraniana, mas é pequena em relação à americana — e minúscula em comparação às economias ocidentais combinadas. E com essa base econômica limitada, a Rússia não parece ter capacidade para repor perdas no campo de batalha.