A Alemanha pode se libertar do gás russo? Leia o artigo de Paul Krugman


Quase todo o consumo de gás natural da Alemanha é importado por meio de gasodutos, e cerca de 55% dele vêm da Rússia

Por Paul Krugman

NEW YORK TIMES / WASHINGTON - A Alemanha é uma das maiores nações comerciais do mundo. Em 2019, importou US$ 1,2 trilhão em mercadorias de todo o planeta. Apenas cerca de 2% desse total vieram da Rússia. Na verdade, a Federação Russa, com cerca de 144 milhões de habitantes, era só um pouco mais importante no comércio alemão do que a Irlanda, com cerca de 5 milhões de pessoas. Normalmente, então, você não esperaria que uma ruptura das relações econômicas com a Rússia tivesse um grande efeito na economia alemã.

Infelizmente, a Rússia é um importante fornecedor de um bem que a Alemanha terá dificuldade para substituir: o gás natural. Quase todo o consumo de gás natural da Alemanha é importado por meio de gasodutos, e cerca de 55% dele vêm da Rússia.

Nunca deveriam ter deixado essa situação acontecer. Sucessivos governos dos Estados Unidos, desde Ronald Reagan, alertaram a Alemanha para não se tornar tão dependente de um regime despótico.

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Chanceler alemão, Olaf Scholz, e a prefeita de Berlim, Franziska Giffey, em reunião na capital alemã  Foto: Michael Sohn / POOL / AFP

(Presenciei algumas dessas discussões durante meu breve período no governo, em 1982-83.) Mas aqui estamos. E enquanto as nações democráticas impuseram uma ampla gama de sanções econômicas ao regime de Putin, as restrições às vendas de gás russo permanecem visivelmente fora da lista.

Duração da guerra altera os cálculos

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No entanto, as atrocidades russas –e, para ser honesto, a surpreendente incompetência dos militares russos, já que a esperada “blitzkrieg” entra em seu vigésimo dia de aparente impasse– vêm mudando rapidamente o cálculo político da resposta do Ocidente.

Três semanas atrás, parecia inconcebível que os políticos alemães se dispusessem a impor qualquer aflição significativa a seus eleitores em resposta à agressão de Vladimir Putin. Agora, há sérias discussões sobre se e até que ponto a Alemanha pode se libertar do gás russo.

Uma pequena redução no consumo de gás não deve ser difícil de alcançar. Exatamente porque o gás tem sido barato, parte dele está sendo queimado atualmente de maneiras de baixa prioridade, facilmente desencorajadas com preços moderadamente mais altos e/ou uma regulamentação branda. Grandes reduções, no entanto, são outra questão.

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Coloque desta forma: um novo estudo importante de um grupo de economistas alemães (são nove autores, então vou me referir a ele como Bachmann et al.) estima que eliminar as importações de gás da Rússia exigiria um corte no consumo de gás de aproximadamente 30%, de cerca de 900 terawatts-hora (TWh) para cerca de 600 TWh.

Por que não 55%, a parcela russa do gás alemão? Porque a Alemanha provavelmente pode obter um pouco mais de gás de outras fontes e limitar o uso de gás para geração de eletricidade, contando mais com o carvão e a energia nuclear. (Sim, o carvão deve ser eliminado gradualmente para nos salvar da catástrofe climática –mas não no meio de uma guerra. É o princípio de santo Agostinho: “Faça-me casto, mas ainda não”.)

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As dificuldades de cortar o consumo

Mesmo uma queda de 30% no consumo, entretanto, será difícil de alcançar em curto prazo. Cortar o consumo de 900 para 800 TWh pode não ser tão caro; a redução de, digamos, 700 para 600 TWh seria muito mais dolorosa.

Os economistas alemães se concentram em um conceito econômico chave chamado elasticidade de substituição –a grosso modo, o quanto a demanda por gás natural diminui a cada 1% de aumento em seu preço. Se essa elasticidade for baixa, o valor que os alemães estariam dispostos a pagar por um pouco mais de gás quando o consumo já tiver sido substancialmente reduzido é grande, o que implica que o custo econômico de novas reduções também é grande.

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Infelizmente, estimativas empíricas sugerem que a elasticidade de substituição do gás natural é pequena, pelo menos em curto prazo. Não é zero: devido aos altos preços do gás, as famílias baixam os termostatos, os consumidores param de comprar bens cuja produção exige a queima de muito gás natural e assim por diante. Ainda assim, o melhor palpite é que estamos falando de uma elasticidade de aproximadamente 0,18, o que por sua vez significa (se estou fazendo a conta certa) que o preço do gás natural teria que subir cerca de 600% para reduzir a demanda em 30%.

Isso parece muito, e Bachmann et al. usaram deliberadamente uma elasticidade estimada ainda mais pessimista, de 0,1.

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O presidente da Ucrânia discursou ao Parlamento alemão, pedindo que o país derrube o 'novo muro' que a Rússia ergue na Europa, o chefe de Estado foi aplaudido.

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Queda de 2% no PIB alemão

No entanto, mesmo com essas suposições pessimistas, eles concluem que a Alemanha poderia de fato dispensar o gás natural russo, precisamente porque o país hoje gasta tão pouco em importações russas. Os custos seriam graves: a renda real alemã poderia cair cerca de 2%, o equivalente a uma recessão moderada. Mas não seria o fim do mundo.

Uma ação tão drástica teria sido inconcebível um mês atrás. Mas Putin parece estar no processo de realizar uma coisa notável: lembrar às democracias do mundo o que elas representam. Ele já arruinou a reputação da Rússia como superpotência militar; agora também está no processo de reduzir qualquer poder econômico que ela tivesse.

NEW YORK TIMES / WASHINGTON - A Alemanha é uma das maiores nações comerciais do mundo. Em 2019, importou US$ 1,2 trilhão em mercadorias de todo o planeta. Apenas cerca de 2% desse total vieram da Rússia. Na verdade, a Federação Russa, com cerca de 144 milhões de habitantes, era só um pouco mais importante no comércio alemão do que a Irlanda, com cerca de 5 milhões de pessoas. Normalmente, então, você não esperaria que uma ruptura das relações econômicas com a Rússia tivesse um grande efeito na economia alemã.

Infelizmente, a Rússia é um importante fornecedor de um bem que a Alemanha terá dificuldade para substituir: o gás natural. Quase todo o consumo de gás natural da Alemanha é importado por meio de gasodutos, e cerca de 55% dele vêm da Rússia.

Nunca deveriam ter deixado essa situação acontecer. Sucessivos governos dos Estados Unidos, desde Ronald Reagan, alertaram a Alemanha para não se tornar tão dependente de um regime despótico.

Chanceler alemão, Olaf Scholz, e a prefeita de Berlim, Franziska Giffey, em reunião na capital alemã  Foto: Michael Sohn / POOL / AFP

(Presenciei algumas dessas discussões durante meu breve período no governo, em 1982-83.) Mas aqui estamos. E enquanto as nações democráticas impuseram uma ampla gama de sanções econômicas ao regime de Putin, as restrições às vendas de gás russo permanecem visivelmente fora da lista.

Duração da guerra altera os cálculos

No entanto, as atrocidades russas –e, para ser honesto, a surpreendente incompetência dos militares russos, já que a esperada “blitzkrieg” entra em seu vigésimo dia de aparente impasse– vêm mudando rapidamente o cálculo político da resposta do Ocidente.

Três semanas atrás, parecia inconcebível que os políticos alemães se dispusessem a impor qualquer aflição significativa a seus eleitores em resposta à agressão de Vladimir Putin. Agora, há sérias discussões sobre se e até que ponto a Alemanha pode se libertar do gás russo.

Uma pequena redução no consumo de gás não deve ser difícil de alcançar. Exatamente porque o gás tem sido barato, parte dele está sendo queimado atualmente de maneiras de baixa prioridade, facilmente desencorajadas com preços moderadamente mais altos e/ou uma regulamentação branda. Grandes reduções, no entanto, são outra questão.

Coloque desta forma: um novo estudo importante de um grupo de economistas alemães (são nove autores, então vou me referir a ele como Bachmann et al.) estima que eliminar as importações de gás da Rússia exigiria um corte no consumo de gás de aproximadamente 30%, de cerca de 900 terawatts-hora (TWh) para cerca de 600 TWh.

Por que não 55%, a parcela russa do gás alemão? Porque a Alemanha provavelmente pode obter um pouco mais de gás de outras fontes e limitar o uso de gás para geração de eletricidade, contando mais com o carvão e a energia nuclear. (Sim, o carvão deve ser eliminado gradualmente para nos salvar da catástrofe climática –mas não no meio de uma guerra. É o princípio de santo Agostinho: “Faça-me casto, mas ainda não”.)

As dificuldades de cortar o consumo

Mesmo uma queda de 30% no consumo, entretanto, será difícil de alcançar em curto prazo. Cortar o consumo de 900 para 800 TWh pode não ser tão caro; a redução de, digamos, 700 para 600 TWh seria muito mais dolorosa.

Os economistas alemães se concentram em um conceito econômico chave chamado elasticidade de substituição –a grosso modo, o quanto a demanda por gás natural diminui a cada 1% de aumento em seu preço. Se essa elasticidade for baixa, o valor que os alemães estariam dispostos a pagar por um pouco mais de gás quando o consumo já tiver sido substancialmente reduzido é grande, o que implica que o custo econômico de novas reduções também é grande.

Infelizmente, estimativas empíricas sugerem que a elasticidade de substituição do gás natural é pequena, pelo menos em curto prazo. Não é zero: devido aos altos preços do gás, as famílias baixam os termostatos, os consumidores param de comprar bens cuja produção exige a queima de muito gás natural e assim por diante. Ainda assim, o melhor palpite é que estamos falando de uma elasticidade de aproximadamente 0,18, o que por sua vez significa (se estou fazendo a conta certa) que o preço do gás natural teria que subir cerca de 600% para reduzir a demanda em 30%.

Isso parece muito, e Bachmann et al. usaram deliberadamente uma elasticidade estimada ainda mais pessimista, de 0,1.

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Queda de 2% no PIB alemão

No entanto, mesmo com essas suposições pessimistas, eles concluem que a Alemanha poderia de fato dispensar o gás natural russo, precisamente porque o país hoje gasta tão pouco em importações russas. Os custos seriam graves: a renda real alemã poderia cair cerca de 2%, o equivalente a uma recessão moderada. Mas não seria o fim do mundo.

Uma ação tão drástica teria sido inconcebível um mês atrás. Mas Putin parece estar no processo de realizar uma coisa notável: lembrar às democracias do mundo o que elas representam. Ele já arruinou a reputação da Rússia como superpotência militar; agora também está no processo de reduzir qualquer poder econômico que ela tivesse.

NEW YORK TIMES / WASHINGTON - A Alemanha é uma das maiores nações comerciais do mundo. Em 2019, importou US$ 1,2 trilhão em mercadorias de todo o planeta. Apenas cerca de 2% desse total vieram da Rússia. Na verdade, a Federação Russa, com cerca de 144 milhões de habitantes, era só um pouco mais importante no comércio alemão do que a Irlanda, com cerca de 5 milhões de pessoas. Normalmente, então, você não esperaria que uma ruptura das relações econômicas com a Rússia tivesse um grande efeito na economia alemã.

Infelizmente, a Rússia é um importante fornecedor de um bem que a Alemanha terá dificuldade para substituir: o gás natural. Quase todo o consumo de gás natural da Alemanha é importado por meio de gasodutos, e cerca de 55% dele vêm da Rússia.

Nunca deveriam ter deixado essa situação acontecer. Sucessivos governos dos Estados Unidos, desde Ronald Reagan, alertaram a Alemanha para não se tornar tão dependente de um regime despótico.

Chanceler alemão, Olaf Scholz, e a prefeita de Berlim, Franziska Giffey, em reunião na capital alemã  Foto: Michael Sohn / POOL / AFP

(Presenciei algumas dessas discussões durante meu breve período no governo, em 1982-83.) Mas aqui estamos. E enquanto as nações democráticas impuseram uma ampla gama de sanções econômicas ao regime de Putin, as restrições às vendas de gás russo permanecem visivelmente fora da lista.

Duração da guerra altera os cálculos

No entanto, as atrocidades russas –e, para ser honesto, a surpreendente incompetência dos militares russos, já que a esperada “blitzkrieg” entra em seu vigésimo dia de aparente impasse– vêm mudando rapidamente o cálculo político da resposta do Ocidente.

Três semanas atrás, parecia inconcebível que os políticos alemães se dispusessem a impor qualquer aflição significativa a seus eleitores em resposta à agressão de Vladimir Putin. Agora, há sérias discussões sobre se e até que ponto a Alemanha pode se libertar do gás russo.

Uma pequena redução no consumo de gás não deve ser difícil de alcançar. Exatamente porque o gás tem sido barato, parte dele está sendo queimado atualmente de maneiras de baixa prioridade, facilmente desencorajadas com preços moderadamente mais altos e/ou uma regulamentação branda. Grandes reduções, no entanto, são outra questão.

Coloque desta forma: um novo estudo importante de um grupo de economistas alemães (são nove autores, então vou me referir a ele como Bachmann et al.) estima que eliminar as importações de gás da Rússia exigiria um corte no consumo de gás de aproximadamente 30%, de cerca de 900 terawatts-hora (TWh) para cerca de 600 TWh.

Por que não 55%, a parcela russa do gás alemão? Porque a Alemanha provavelmente pode obter um pouco mais de gás de outras fontes e limitar o uso de gás para geração de eletricidade, contando mais com o carvão e a energia nuclear. (Sim, o carvão deve ser eliminado gradualmente para nos salvar da catástrofe climática –mas não no meio de uma guerra. É o princípio de santo Agostinho: “Faça-me casto, mas ainda não”.)

As dificuldades de cortar o consumo

Mesmo uma queda de 30% no consumo, entretanto, será difícil de alcançar em curto prazo. Cortar o consumo de 900 para 800 TWh pode não ser tão caro; a redução de, digamos, 700 para 600 TWh seria muito mais dolorosa.

Os economistas alemães se concentram em um conceito econômico chave chamado elasticidade de substituição –a grosso modo, o quanto a demanda por gás natural diminui a cada 1% de aumento em seu preço. Se essa elasticidade for baixa, o valor que os alemães estariam dispostos a pagar por um pouco mais de gás quando o consumo já tiver sido substancialmente reduzido é grande, o que implica que o custo econômico de novas reduções também é grande.

Infelizmente, estimativas empíricas sugerem que a elasticidade de substituição do gás natural é pequena, pelo menos em curto prazo. Não é zero: devido aos altos preços do gás, as famílias baixam os termostatos, os consumidores param de comprar bens cuja produção exige a queima de muito gás natural e assim por diante. Ainda assim, o melhor palpite é que estamos falando de uma elasticidade de aproximadamente 0,18, o que por sua vez significa (se estou fazendo a conta certa) que o preço do gás natural teria que subir cerca de 600% para reduzir a demanda em 30%.

Isso parece muito, e Bachmann et al. usaram deliberadamente uma elasticidade estimada ainda mais pessimista, de 0,1.

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O presidente da Ucrânia discursou ao Parlamento alemão, pedindo que o país derrube o 'novo muro' que a Rússia ergue na Europa, o chefe de Estado foi aplaudido.

Queda de 2% no PIB alemão

No entanto, mesmo com essas suposições pessimistas, eles concluem que a Alemanha poderia de fato dispensar o gás natural russo, precisamente porque o país hoje gasta tão pouco em importações russas. Os custos seriam graves: a renda real alemã poderia cair cerca de 2%, o equivalente a uma recessão moderada. Mas não seria o fim do mundo.

Uma ação tão drástica teria sido inconcebível um mês atrás. Mas Putin parece estar no processo de realizar uma coisa notável: lembrar às democracias do mundo o que elas representam. Ele já arruinou a reputação da Rússia como superpotência militar; agora também está no processo de reduzir qualquer poder econômico que ela tivesse.

NEW YORK TIMES / WASHINGTON - A Alemanha é uma das maiores nações comerciais do mundo. Em 2019, importou US$ 1,2 trilhão em mercadorias de todo o planeta. Apenas cerca de 2% desse total vieram da Rússia. Na verdade, a Federação Russa, com cerca de 144 milhões de habitantes, era só um pouco mais importante no comércio alemão do que a Irlanda, com cerca de 5 milhões de pessoas. Normalmente, então, você não esperaria que uma ruptura das relações econômicas com a Rússia tivesse um grande efeito na economia alemã.

Infelizmente, a Rússia é um importante fornecedor de um bem que a Alemanha terá dificuldade para substituir: o gás natural. Quase todo o consumo de gás natural da Alemanha é importado por meio de gasodutos, e cerca de 55% dele vêm da Rússia.

Nunca deveriam ter deixado essa situação acontecer. Sucessivos governos dos Estados Unidos, desde Ronald Reagan, alertaram a Alemanha para não se tornar tão dependente de um regime despótico.

Chanceler alemão, Olaf Scholz, e a prefeita de Berlim, Franziska Giffey, em reunião na capital alemã  Foto: Michael Sohn / POOL / AFP

(Presenciei algumas dessas discussões durante meu breve período no governo, em 1982-83.) Mas aqui estamos. E enquanto as nações democráticas impuseram uma ampla gama de sanções econômicas ao regime de Putin, as restrições às vendas de gás russo permanecem visivelmente fora da lista.

Duração da guerra altera os cálculos

No entanto, as atrocidades russas –e, para ser honesto, a surpreendente incompetência dos militares russos, já que a esperada “blitzkrieg” entra em seu vigésimo dia de aparente impasse– vêm mudando rapidamente o cálculo político da resposta do Ocidente.

Três semanas atrás, parecia inconcebível que os políticos alemães se dispusessem a impor qualquer aflição significativa a seus eleitores em resposta à agressão de Vladimir Putin. Agora, há sérias discussões sobre se e até que ponto a Alemanha pode se libertar do gás russo.

Uma pequena redução no consumo de gás não deve ser difícil de alcançar. Exatamente porque o gás tem sido barato, parte dele está sendo queimado atualmente de maneiras de baixa prioridade, facilmente desencorajadas com preços moderadamente mais altos e/ou uma regulamentação branda. Grandes reduções, no entanto, são outra questão.

Coloque desta forma: um novo estudo importante de um grupo de economistas alemães (são nove autores, então vou me referir a ele como Bachmann et al.) estima que eliminar as importações de gás da Rússia exigiria um corte no consumo de gás de aproximadamente 30%, de cerca de 900 terawatts-hora (TWh) para cerca de 600 TWh.

Por que não 55%, a parcela russa do gás alemão? Porque a Alemanha provavelmente pode obter um pouco mais de gás de outras fontes e limitar o uso de gás para geração de eletricidade, contando mais com o carvão e a energia nuclear. (Sim, o carvão deve ser eliminado gradualmente para nos salvar da catástrofe climática –mas não no meio de uma guerra. É o princípio de santo Agostinho: “Faça-me casto, mas ainda não”.)

As dificuldades de cortar o consumo

Mesmo uma queda de 30% no consumo, entretanto, será difícil de alcançar em curto prazo. Cortar o consumo de 900 para 800 TWh pode não ser tão caro; a redução de, digamos, 700 para 600 TWh seria muito mais dolorosa.

Os economistas alemães se concentram em um conceito econômico chave chamado elasticidade de substituição –a grosso modo, o quanto a demanda por gás natural diminui a cada 1% de aumento em seu preço. Se essa elasticidade for baixa, o valor que os alemães estariam dispostos a pagar por um pouco mais de gás quando o consumo já tiver sido substancialmente reduzido é grande, o que implica que o custo econômico de novas reduções também é grande.

Infelizmente, estimativas empíricas sugerem que a elasticidade de substituição do gás natural é pequena, pelo menos em curto prazo. Não é zero: devido aos altos preços do gás, as famílias baixam os termostatos, os consumidores param de comprar bens cuja produção exige a queima de muito gás natural e assim por diante. Ainda assim, o melhor palpite é que estamos falando de uma elasticidade de aproximadamente 0,18, o que por sua vez significa (se estou fazendo a conta certa) que o preço do gás natural teria que subir cerca de 600% para reduzir a demanda em 30%.

Isso parece muito, e Bachmann et al. usaram deliberadamente uma elasticidade estimada ainda mais pessimista, de 0,1.

Seu navegador não suporta esse video.

O presidente da Ucrânia discursou ao Parlamento alemão, pedindo que o país derrube o 'novo muro' que a Rússia ergue na Europa, o chefe de Estado foi aplaudido.

Queda de 2% no PIB alemão

No entanto, mesmo com essas suposições pessimistas, eles concluem que a Alemanha poderia de fato dispensar o gás natural russo, precisamente porque o país hoje gasta tão pouco em importações russas. Os custos seriam graves: a renda real alemã poderia cair cerca de 2%, o equivalente a uma recessão moderada. Mas não seria o fim do mundo.

Uma ação tão drástica teria sido inconcebível um mês atrás. Mas Putin parece estar no processo de realizar uma coisa notável: lembrar às democracias do mundo o que elas representam. Ele já arruinou a reputação da Rússia como superpotência militar; agora também está no processo de reduzir qualquer poder econômico que ela tivesse.

NEW YORK TIMES / WASHINGTON - A Alemanha é uma das maiores nações comerciais do mundo. Em 2019, importou US$ 1,2 trilhão em mercadorias de todo o planeta. Apenas cerca de 2% desse total vieram da Rússia. Na verdade, a Federação Russa, com cerca de 144 milhões de habitantes, era só um pouco mais importante no comércio alemão do que a Irlanda, com cerca de 5 milhões de pessoas. Normalmente, então, você não esperaria que uma ruptura das relações econômicas com a Rússia tivesse um grande efeito na economia alemã.

Infelizmente, a Rússia é um importante fornecedor de um bem que a Alemanha terá dificuldade para substituir: o gás natural. Quase todo o consumo de gás natural da Alemanha é importado por meio de gasodutos, e cerca de 55% dele vêm da Rússia.

Nunca deveriam ter deixado essa situação acontecer. Sucessivos governos dos Estados Unidos, desde Ronald Reagan, alertaram a Alemanha para não se tornar tão dependente de um regime despótico.

Chanceler alemão, Olaf Scholz, e a prefeita de Berlim, Franziska Giffey, em reunião na capital alemã  Foto: Michael Sohn / POOL / AFP

(Presenciei algumas dessas discussões durante meu breve período no governo, em 1982-83.) Mas aqui estamos. E enquanto as nações democráticas impuseram uma ampla gama de sanções econômicas ao regime de Putin, as restrições às vendas de gás russo permanecem visivelmente fora da lista.

Duração da guerra altera os cálculos

No entanto, as atrocidades russas –e, para ser honesto, a surpreendente incompetência dos militares russos, já que a esperada “blitzkrieg” entra em seu vigésimo dia de aparente impasse– vêm mudando rapidamente o cálculo político da resposta do Ocidente.

Três semanas atrás, parecia inconcebível que os políticos alemães se dispusessem a impor qualquer aflição significativa a seus eleitores em resposta à agressão de Vladimir Putin. Agora, há sérias discussões sobre se e até que ponto a Alemanha pode se libertar do gás russo.

Uma pequena redução no consumo de gás não deve ser difícil de alcançar. Exatamente porque o gás tem sido barato, parte dele está sendo queimado atualmente de maneiras de baixa prioridade, facilmente desencorajadas com preços moderadamente mais altos e/ou uma regulamentação branda. Grandes reduções, no entanto, são outra questão.

Coloque desta forma: um novo estudo importante de um grupo de economistas alemães (são nove autores, então vou me referir a ele como Bachmann et al.) estima que eliminar as importações de gás da Rússia exigiria um corte no consumo de gás de aproximadamente 30%, de cerca de 900 terawatts-hora (TWh) para cerca de 600 TWh.

Por que não 55%, a parcela russa do gás alemão? Porque a Alemanha provavelmente pode obter um pouco mais de gás de outras fontes e limitar o uso de gás para geração de eletricidade, contando mais com o carvão e a energia nuclear. (Sim, o carvão deve ser eliminado gradualmente para nos salvar da catástrofe climática –mas não no meio de uma guerra. É o princípio de santo Agostinho: “Faça-me casto, mas ainda não”.)

As dificuldades de cortar o consumo

Mesmo uma queda de 30% no consumo, entretanto, será difícil de alcançar em curto prazo. Cortar o consumo de 900 para 800 TWh pode não ser tão caro; a redução de, digamos, 700 para 600 TWh seria muito mais dolorosa.

Os economistas alemães se concentram em um conceito econômico chave chamado elasticidade de substituição –a grosso modo, o quanto a demanda por gás natural diminui a cada 1% de aumento em seu preço. Se essa elasticidade for baixa, o valor que os alemães estariam dispostos a pagar por um pouco mais de gás quando o consumo já tiver sido substancialmente reduzido é grande, o que implica que o custo econômico de novas reduções também é grande.

Infelizmente, estimativas empíricas sugerem que a elasticidade de substituição do gás natural é pequena, pelo menos em curto prazo. Não é zero: devido aos altos preços do gás, as famílias baixam os termostatos, os consumidores param de comprar bens cuja produção exige a queima de muito gás natural e assim por diante. Ainda assim, o melhor palpite é que estamos falando de uma elasticidade de aproximadamente 0,18, o que por sua vez significa (se estou fazendo a conta certa) que o preço do gás natural teria que subir cerca de 600% para reduzir a demanda em 30%.

Isso parece muito, e Bachmann et al. usaram deliberadamente uma elasticidade estimada ainda mais pessimista, de 0,1.

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Queda de 2% no PIB alemão

No entanto, mesmo com essas suposições pessimistas, eles concluem que a Alemanha poderia de fato dispensar o gás natural russo, precisamente porque o país hoje gasta tão pouco em importações russas. Os custos seriam graves: a renda real alemã poderia cair cerca de 2%, o equivalente a uma recessão moderada. Mas não seria o fim do mundo.

Uma ação tão drástica teria sido inconcebível um mês atrás. Mas Putin parece estar no processo de realizar uma coisa notável: lembrar às democracias do mundo o que elas representam. Ele já arruinou a reputação da Rússia como superpotência militar; agora também está no processo de reduzir qualquer poder econômico que ela tivesse.

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