Ele parecia bem disposto. Foi o primeiro a descer para o lobby do hotel King David, em Jerusalém, onde a comitiva brasileira está hospedada. Reclamou um pouco do frio que pegou muita gente desprevenida no início da primavera em Israel. Distribuiu sorrisos, cumprimentou alguns jornalistas, mas disse que não daria declarações. “Trouxemos o porta-voz”, sorria.
O general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), estava bem-humorado, mesmo depois de uma viagem cansativa. Entre todos da comitiva do presidente Jair Bolsonaro, parecia ser quem estava à vontade. Firme, ele surgiu mais uma vez, caminhou até a porta giratória do hotel e checou como estava o tempo.
Experiente, Heleno comandou a missão de paz da ONU no Haiti. Dizem que seria ministro da Defesa, mas preferiu o GSI, que está mais próximo do Palácio do Planalto. Ontem, o calejado general se sentia confiante e resolveu passear pelo hotel pela terceira vez, quando foi envolvido pelos jornalistas. “O senhor poderia responder alguma coisa sobre segurança?” – assunto familiar que vira atalho para temas mais desconfortáveis.
O general responde a primeira pergunta, escapa da segunda, mas escorrega na terceira. “O senhor não acha que há um desequilíbrio quando a viagem se concentra em Israel e ignora os palestinos?” Heleno é rápido. “Não. Bolsonaro visitou o Chile e não houve nenhum problema com a Argentina.”
Um dos jornalistas insistiu. “Mas general, quando o presidente Lula esteve aqui...” – no que foi prontamente interrompido por Heleno. A menção ao ex-presidente parece ter deixado o bom general irritado.
Com a classe de um oficial estrelado, ele rompeu o cerco e fincou pé na direção da porta. Antes de sair, porém, se virou para os repórteres e reclamou uma última vez. “Não vamos comparar, não. Pelo amor de Deus, tchau. Não misturem coisas completamente heterogêneas”, falou o mesmo ministro.