Autoridades palestinas e grupos moderados de Israel criticaram neste domingo, 7, a promessa do primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, de anexar partes da Cisjordânia. Na reta final da campanha eleitoral, o premiê tem radicalizado o discurso em busca do voto de colonos que vivem em assentamentos e da extrema direita religiosa, mas isso despertou preocupações sobre o futuro da cooperação existente na região em temas de segurança e diplomacia.
No sábado, em entrevista a uma TV de Israel, Netanyahu disse que anexaria partes da Cisjordânia se fosse reeleito. Ele havia sido questionado sobre a possibilidade de estender a soberania israelense sobre os assentamentos, assim como foi feito em Jerusalém Oriental e nas Colinas do Golan, territórios ocupados em 1967. “Você está me perguntando se passaremos para a próxima fase? Sim. E não faço distinção entre grandes assentamentos e aqueles mais isolados”, disse.
No domingo, 7, autoridades palestinas reagiram. Riad Malki, chanceler da Autoridade Palestina (AP), disse que Netanyahu terá de lidar com um “problema real” se cumprir sua promessa. Segundo Malki, as ameaças têm como objetivo mobilizar a base de Bibi na reta final da disputa acirrada contra Benny Gantz, ex-chefe das Forças Armadas.
“Mas, se Netanyahu declarar a soberania israelense sobre a Cisjordânia, então terá de lidar com a presença de 4,5 milhões de palestinos. O que fazer com eles?”, questionou Malki. “Israel não pode expulsar os palestinos. Nós vamos ficar lá.”
Saeb Erekat, um dos mais conhecidos negociadores palestinos, culpou a comunidade internacional e o governo dos EUA. “Israel continuará a violar descaradamente a lei internacional enquanto a comunidade internacional continuar a recompensar Israel impunemente, particularmente com o apoio de Donald Trump e o endosso da violação dos direitos humanos do povo da Palestina”, disse Erekat, em comunicado.
Gantz, o único capaz de destronar Netanyahu na eleição de terça-feira, 9, ridicularizou o momento da promessa. “Netanyahu poderia ter feito isso em algum momento nos últimos 13 anos, mas não fez. Eu me pergunto por quê”, disse o general, que no domingo, 7, se vestiu de motoqueiro e fez campanha em Tel-Aviv. “Anunciar uma decisão estratégica histórica numa campanha eleitoral é irresponsável.”
Questionado sobre sua posição, Gantz disse que se opunha a qualquer decisão “unilateral”. “Faremos todo o possível para alcançar um acordo de paz regional e global”, explicou.
Falando sobre as declarações de Netanyahu, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, expressou no domingo, 7, preocupação com o que chamou de “decisões ilegítimas” dos EUA na região. “Para nós, a solução só virá do diálogo entre os países, porque ações unilaterais nunca levarão a nada de bom.” O Departamento de Estado dos EUA não comentou as promessas do premiê.
Nas últimas eleições, em 2015, Bibi usou uma estratégia semelhante. Na ocasião, ele publicou um vídeo dizendo que os árabes estariam “indo votar em massa” contra o seu partido, o Likud. Deu certo. Muitos conservadores religiosos correram para as urnas para apoiá-lo. Agora, empatado com Gantz nas pesquisas, Bibi precisa do voto dos mesmos eleitores.
O problema é que dentro de Israel muitos questionam a extensão da soberania na Cisjordânia. Um estudo assinado por um grupo que se descreve como “independente e apartidário” advertiu que a anexação de partes do território palestino seria um desastre para Israel.
“Acabaria com a cooperação em temas de segurança e causaria o desmantelamento da AP, levando o Exército a ocupar toda a Cisjordânia e a impor uma administração militar, possivelmente culminando na anexação total do território e de seus 2,6 milhões de habitantes”, diz o estudo, assinado por generais da reserva, ex-agentes do Mossad, do Shin Bet (segurança interna) e da polícia israelense. “O prejuízo aos interesses de Israel nas esferas de segurança, diplomacia e economia seriam sem precedentes.”
O Exército israelense anunciou que os pontos de acesso a partir da Faixa de Gaza e da Cisjordânia ocupada ficarão fechados durante o dia em razão das eleições. A medida é tomada em dias festivos para evitar possíveis ataques.
Segundo as últimas pesquisas, a eleição segue polarizada entre Netanyahu e Gantz. Os dois têm cerca de 25% dos votos e poderiam obter cerca de 30 deputados cada um, de um total de 120 no Parlamento. O próximo governo, no entanto, será determinado por uma coalizão com a outra metade dos votos, que estão pulverizados em pequenos partidos.
Quando somados os votos por grupos políticos, a chamada “direita religiosa”, de Bibi, obteria cerca de 65 cadeiras. A centro-esquerda, de Gantz, faria 55 deputados. No entanto, uma cláusula de barreira de 3,25% dos votos deve eliminar várias legendas nanicas, complicando os cálculos. É por isso que Netanyahu tem feito um apelo à extrema direita.
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