A dificuldade das mulheres que estão dando a luz em meio à guerra da Ucrânia


O fardo mental da invasão russa tem causado um grande impacto na população civil. Enquanto o conflito se arrasta, as mulheres grávidas estão enfrentando as consequências mais difíceis

Por Maria Varenikova

THE NEW YORK TIMES, MIKOLAIV - As bebês gêmeas de Amina Tsoi são meninas saudáveis. Elas brigam, como qualquer irmão, e ambas têm um apetite curioso por queijo, “como ratinhas”, diz a mãe. Mas elas são pequenas em comparação com outras crianças de um ano de idade, um legado de seu nascimento prematuro durante as primeiras semanas da invasão russa na Ucrânia.

Durante sete meses, Tsoi teve uma gravidez feliz e saudável, praticamente sem complicações. Então, em uma manhã de fevereiro do ano passado, explosões ecoaram pela cidade onde ela morava, perto de Mikolaiv, no sul da Ucrânia, que sofria com crescentes ataques de mísseis e combates terrestres.

“Minha sogra entrou em nosso quarto e disse: ‘A guerra começou’”, disse Tsoi. " E eu comecei a entrar em pânico.”

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Amina Tsoi (à dir.) prepara seus gêmeos para dormir com a ajuda da sogra, Elena Tsoi, em Odesa, sul da Ucrânia, em imagem de outubro de 2022. Fardo mental da guerra provoca grande impacto nas mulheres grávidas Foto: Finbarr O’Reilly/The New York Times

Mulheres grávias são as mais afetadas pela guerra

Tsoi, na época com 20 anos, escapou de todos os bombardeios e estava aparentemente ilesa. Mas nos dias seguintes, ela perdeu a visão de um dos olhos e ganhou 14 kg de peso porque estava retendo água.

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Depois de fazer uma cesariana de emergência, durante a qual perdeu sangue em quantidade suficiente para precisar de duas transfusões, suas filhas, nascidas com seis semanas de prematuridade, sobreviveram em incubadoras.

A invasão da Ucrânia pela Rússia acabou com a vida de dezenas de milhares de soldados e civis e feriu muitos outros milhares. O fardo mental da guerra também tem provocado um grande impacto. Para as mulheres grávidas, o estresse pode ser particularmente perigoso, com médicos e funcionários de hospitais alertando sobre um aumento significativo nos problemas de saúde materna, como partos prematuros.

Os bebês nascidos antes de completarem o período de gestação têm maior probabilidade de desenvolver complicações respiratórias, neurológicas e digestivas. Aqueles que nascem particularmente prematuros podem ter problemas graves de saúde física e mental. Gêmeos ou outros nascimentos múltiplos são suscetíveis a nascerem de forma precoce, mesmo em tempos normais.

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Após mais de um ano de guerra, as estatísticas oficiais sobre a saúde materna na Ucrânia são escassas. Os números sobre partos prematuros, por exemplo, podem ser enganosos porque muitas mulheres grávidas, especialmente aquelas com problemas de saúde, foram evacuadas para outros países após o início da invasão russa.

Porém, em várias entrevistas, especialmente em áreas próximas aos combates, os médicos relataram taxas elevadas de parto prematuro, aumento de casos de pressão alta durante a gravidez e uma taxa mais alta de cesarianas, atribuindo as complicações à tensão extraordinária de ter um filho em um momento de perigo e deslocamento.

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“Podemos ver que o curso da gravidez se tornou mais difícil”, disse a médica Liudmyla Solodzhuk, de 58 anos, diretora de um hospital em Mikolaiv, uma cidade próxima à linha de frente. “Normalmente, o nascimento de um novo ser humano é uma felicidade, mas agora é uma ansiedade”, acrescentou.

O esforço para proteger as mulheres grávidas das tensões da guerra se tornou uma prioridade médica, observou Solodzhuk, com as equipes médicas tentando novas maneiras de distrair as pacientes dos sons brutais da guerra do lado de fora. “Temos dito que os bombardeios são fogos de artifício”, disse ela, “em homenagem ao nascimento de seus filhos”.

O hospital de Solodzhuk em Mikolaiv informou que o número de cesarianas e partos prematuros aumentou em 5%. As estatísticas do governo mostram aumentos menores de nascimentos prematuros na região de Mikolaiv e em outras partes do sul e do leste da Ucrânia, onde os combates são mais intensos, mas esses números são prejudicados pelo grande número de residentes que fugiram.

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A dupla de músicos Tvorchi, que participou do Festival Eurovisão da Canção em Liverpool, Inglaterra, no mês passado, deu mais visibilidade à questão quando, em um evento de recepção especial no antes da competição, os artistas usaram ternos com os nomes e pesos dos bebês nascidos prematuramente.

Começamos a nos esconder no porão todos os dias, principalmente com medo de que os russos nos encontrassem

Inna Harbuz

Para as mulheres grávidas que permaneceram no país após a invasão russa, todas as esperanças de que os combates terminassem rapidamente acabaram frustradas.

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Inna Harbuz, que naquele momento tinha 30 anos, estava grávida de meninos gêmeos e morava em Mikolaiv quando os mísseis russos começaram a atingir a cidade. Sua família decidiu que seria mais seguro mudar-se para outro lugar, mas um avanço russo antecipado acabou ocupando o vilarejo vizinho para onde eles haviam ido. Na medida do possível, a família tentou ficar fora de vista.

“Começamos a nos esconder no porão todos os dias, principalmente com medo de que os russos nos encontrassem”, disse a Harbuz, acrescentando que o medo de ser descoberta pelas tropas invasoras era pior do que os foguetes disparados em Mikolaiv.

Em 28 de outubro, Harbuz sofreu uma hemorragia interna devido a um descolamento prematuro da placenta. Naquele momento, as tropas russas haviam sido expulsas do vilarejo, e sua família a levou às pressas para um hospital em Mikolaiv, onde ela foi submetida a uma cesariana de emergência. Seus filhos gêmeos, nascidos prematuramente, foram colocados em aparelhos de suporte respiratório.

Cerca de sete meses depois, os dois meninos estão bem. Mas a família decidiu permanecer no vilarejo em vez de retornar a Mikolaiv, que ainda é alvo de bombardeios regulares.

Trauma e angústia no conflito armado

Depois que as gêmeas da Tsoi nasceram, elas tiveram problemas de saúde, e ela disse que precisava verificar regularmente seus batimentos cardíacos, visão e peso. Aos 9 meses de idade, elas ainda não conseguiam ficar de pé e a família estava ficando preocupada, mas “as duas estão correndo agora”, disse ela recentemente.

Tsoi culpa a guerra por ter transformado sua gravidez em uma angústia tão grande. Mesmo durante sua cesariana, o conflito era inevitável. “Comecei a chorar na mesa de cirurgia”, disse ela. “Foi muito assustador porque eu podia ouvir muitas explosões e tiros lá fora.”

Ela voltou a se reunir com suas filhas somente no oitavo dia após o parto. Naquela época, elas ainda estavam sendo alimentadas por tubos e os combates estavam piorando. Em um determinado momento, a equipe do hospital e os pacientes foram forçados a confinar-se no porão por segurança.

A experiência traumática foi quase insuportável para Tsoi. “Durante um mês, tive um surto horrível”, disse ela. “Gritei com meu marido para que nos levasse para fora do país, caso contrário não aguentaria, simplesmente não sobreviveria.”

O marido de Tsoi levou a família até a fronteira com a Moldávia, mas teve de retornar à Ucrânia, pois os homens em idade para servir ao exército não têm permissão para sair.

Alguns meses depois, Tsoi e suas filhas voltaram para a Ucrânia e alugaram uma casa perto de Odesa para ficar mais perto do marido. As meninas são saudáveis, mas estão atrasadas em relação às metas normais de crescimento e desenvolvimento para sua idade.

Para Tsoi, a guerra transformou sua gravidez de uma experiência alegre em uma que ela preferiria esquecer.

“Ainda não consigo acreditar que sobrevivi a isso”, disse ela.

THE NEW YORK TIMES, MIKOLAIV - As bebês gêmeas de Amina Tsoi são meninas saudáveis. Elas brigam, como qualquer irmão, e ambas têm um apetite curioso por queijo, “como ratinhas”, diz a mãe. Mas elas são pequenas em comparação com outras crianças de um ano de idade, um legado de seu nascimento prematuro durante as primeiras semanas da invasão russa na Ucrânia.

Durante sete meses, Tsoi teve uma gravidez feliz e saudável, praticamente sem complicações. Então, em uma manhã de fevereiro do ano passado, explosões ecoaram pela cidade onde ela morava, perto de Mikolaiv, no sul da Ucrânia, que sofria com crescentes ataques de mísseis e combates terrestres.

“Minha sogra entrou em nosso quarto e disse: ‘A guerra começou’”, disse Tsoi. " E eu comecei a entrar em pânico.”

Amina Tsoi (à dir.) prepara seus gêmeos para dormir com a ajuda da sogra, Elena Tsoi, em Odesa, sul da Ucrânia, em imagem de outubro de 2022. Fardo mental da guerra provoca grande impacto nas mulheres grávidas Foto: Finbarr O’Reilly/The New York Times

Mulheres grávias são as mais afetadas pela guerra

Tsoi, na época com 20 anos, escapou de todos os bombardeios e estava aparentemente ilesa. Mas nos dias seguintes, ela perdeu a visão de um dos olhos e ganhou 14 kg de peso porque estava retendo água.

Depois de fazer uma cesariana de emergência, durante a qual perdeu sangue em quantidade suficiente para precisar de duas transfusões, suas filhas, nascidas com seis semanas de prematuridade, sobreviveram em incubadoras.

A invasão da Ucrânia pela Rússia acabou com a vida de dezenas de milhares de soldados e civis e feriu muitos outros milhares. O fardo mental da guerra também tem provocado um grande impacto. Para as mulheres grávidas, o estresse pode ser particularmente perigoso, com médicos e funcionários de hospitais alertando sobre um aumento significativo nos problemas de saúde materna, como partos prematuros.

Os bebês nascidos antes de completarem o período de gestação têm maior probabilidade de desenvolver complicações respiratórias, neurológicas e digestivas. Aqueles que nascem particularmente prematuros podem ter problemas graves de saúde física e mental. Gêmeos ou outros nascimentos múltiplos são suscetíveis a nascerem de forma precoce, mesmo em tempos normais.

Após mais de um ano de guerra, as estatísticas oficiais sobre a saúde materna na Ucrânia são escassas. Os números sobre partos prematuros, por exemplo, podem ser enganosos porque muitas mulheres grávidas, especialmente aquelas com problemas de saúde, foram evacuadas para outros países após o início da invasão russa.

Porém, em várias entrevistas, especialmente em áreas próximas aos combates, os médicos relataram taxas elevadas de parto prematuro, aumento de casos de pressão alta durante a gravidez e uma taxa mais alta de cesarianas, atribuindo as complicações à tensão extraordinária de ter um filho em um momento de perigo e deslocamento.

“Podemos ver que o curso da gravidez se tornou mais difícil”, disse a médica Liudmyla Solodzhuk, de 58 anos, diretora de um hospital em Mikolaiv, uma cidade próxima à linha de frente. “Normalmente, o nascimento de um novo ser humano é uma felicidade, mas agora é uma ansiedade”, acrescentou.

O esforço para proteger as mulheres grávidas das tensões da guerra se tornou uma prioridade médica, observou Solodzhuk, com as equipes médicas tentando novas maneiras de distrair as pacientes dos sons brutais da guerra do lado de fora. “Temos dito que os bombardeios são fogos de artifício”, disse ela, “em homenagem ao nascimento de seus filhos”.

O hospital de Solodzhuk em Mikolaiv informou que o número de cesarianas e partos prematuros aumentou em 5%. As estatísticas do governo mostram aumentos menores de nascimentos prematuros na região de Mikolaiv e em outras partes do sul e do leste da Ucrânia, onde os combates são mais intensos, mas esses números são prejudicados pelo grande número de residentes que fugiram.

A dupla de músicos Tvorchi, que participou do Festival Eurovisão da Canção em Liverpool, Inglaterra, no mês passado, deu mais visibilidade à questão quando, em um evento de recepção especial no antes da competição, os artistas usaram ternos com os nomes e pesos dos bebês nascidos prematuramente.

Começamos a nos esconder no porão todos os dias, principalmente com medo de que os russos nos encontrassem

Inna Harbuz

Para as mulheres grávidas que permaneceram no país após a invasão russa, todas as esperanças de que os combates terminassem rapidamente acabaram frustradas.

Inna Harbuz, que naquele momento tinha 30 anos, estava grávida de meninos gêmeos e morava em Mikolaiv quando os mísseis russos começaram a atingir a cidade. Sua família decidiu que seria mais seguro mudar-se para outro lugar, mas um avanço russo antecipado acabou ocupando o vilarejo vizinho para onde eles haviam ido. Na medida do possível, a família tentou ficar fora de vista.

“Começamos a nos esconder no porão todos os dias, principalmente com medo de que os russos nos encontrassem”, disse a Harbuz, acrescentando que o medo de ser descoberta pelas tropas invasoras era pior do que os foguetes disparados em Mikolaiv.

Em 28 de outubro, Harbuz sofreu uma hemorragia interna devido a um descolamento prematuro da placenta. Naquele momento, as tropas russas haviam sido expulsas do vilarejo, e sua família a levou às pressas para um hospital em Mikolaiv, onde ela foi submetida a uma cesariana de emergência. Seus filhos gêmeos, nascidos prematuramente, foram colocados em aparelhos de suporte respiratório.

Cerca de sete meses depois, os dois meninos estão bem. Mas a família decidiu permanecer no vilarejo em vez de retornar a Mikolaiv, que ainda é alvo de bombardeios regulares.

Trauma e angústia no conflito armado

Depois que as gêmeas da Tsoi nasceram, elas tiveram problemas de saúde, e ela disse que precisava verificar regularmente seus batimentos cardíacos, visão e peso. Aos 9 meses de idade, elas ainda não conseguiam ficar de pé e a família estava ficando preocupada, mas “as duas estão correndo agora”, disse ela recentemente.

Tsoi culpa a guerra por ter transformado sua gravidez em uma angústia tão grande. Mesmo durante sua cesariana, o conflito era inevitável. “Comecei a chorar na mesa de cirurgia”, disse ela. “Foi muito assustador porque eu podia ouvir muitas explosões e tiros lá fora.”

Ela voltou a se reunir com suas filhas somente no oitavo dia após o parto. Naquela época, elas ainda estavam sendo alimentadas por tubos e os combates estavam piorando. Em um determinado momento, a equipe do hospital e os pacientes foram forçados a confinar-se no porão por segurança.

A experiência traumática foi quase insuportável para Tsoi. “Durante um mês, tive um surto horrível”, disse ela. “Gritei com meu marido para que nos levasse para fora do país, caso contrário não aguentaria, simplesmente não sobreviveria.”

O marido de Tsoi levou a família até a fronteira com a Moldávia, mas teve de retornar à Ucrânia, pois os homens em idade para servir ao exército não têm permissão para sair.

Alguns meses depois, Tsoi e suas filhas voltaram para a Ucrânia e alugaram uma casa perto de Odesa para ficar mais perto do marido. As meninas são saudáveis, mas estão atrasadas em relação às metas normais de crescimento e desenvolvimento para sua idade.

Para Tsoi, a guerra transformou sua gravidez de uma experiência alegre em uma que ela preferiria esquecer.

“Ainda não consigo acreditar que sobrevivi a isso”, disse ela.

THE NEW YORK TIMES, MIKOLAIV - As bebês gêmeas de Amina Tsoi são meninas saudáveis. Elas brigam, como qualquer irmão, e ambas têm um apetite curioso por queijo, “como ratinhas”, diz a mãe. Mas elas são pequenas em comparação com outras crianças de um ano de idade, um legado de seu nascimento prematuro durante as primeiras semanas da invasão russa na Ucrânia.

Durante sete meses, Tsoi teve uma gravidez feliz e saudável, praticamente sem complicações. Então, em uma manhã de fevereiro do ano passado, explosões ecoaram pela cidade onde ela morava, perto de Mikolaiv, no sul da Ucrânia, que sofria com crescentes ataques de mísseis e combates terrestres.

“Minha sogra entrou em nosso quarto e disse: ‘A guerra começou’”, disse Tsoi. " E eu comecei a entrar em pânico.”

Amina Tsoi (à dir.) prepara seus gêmeos para dormir com a ajuda da sogra, Elena Tsoi, em Odesa, sul da Ucrânia, em imagem de outubro de 2022. Fardo mental da guerra provoca grande impacto nas mulheres grávidas Foto: Finbarr O’Reilly/The New York Times

Mulheres grávias são as mais afetadas pela guerra

Tsoi, na época com 20 anos, escapou de todos os bombardeios e estava aparentemente ilesa. Mas nos dias seguintes, ela perdeu a visão de um dos olhos e ganhou 14 kg de peso porque estava retendo água.

Depois de fazer uma cesariana de emergência, durante a qual perdeu sangue em quantidade suficiente para precisar de duas transfusões, suas filhas, nascidas com seis semanas de prematuridade, sobreviveram em incubadoras.

A invasão da Ucrânia pela Rússia acabou com a vida de dezenas de milhares de soldados e civis e feriu muitos outros milhares. O fardo mental da guerra também tem provocado um grande impacto. Para as mulheres grávidas, o estresse pode ser particularmente perigoso, com médicos e funcionários de hospitais alertando sobre um aumento significativo nos problemas de saúde materna, como partos prematuros.

Os bebês nascidos antes de completarem o período de gestação têm maior probabilidade de desenvolver complicações respiratórias, neurológicas e digestivas. Aqueles que nascem particularmente prematuros podem ter problemas graves de saúde física e mental. Gêmeos ou outros nascimentos múltiplos são suscetíveis a nascerem de forma precoce, mesmo em tempos normais.

Após mais de um ano de guerra, as estatísticas oficiais sobre a saúde materna na Ucrânia são escassas. Os números sobre partos prematuros, por exemplo, podem ser enganosos porque muitas mulheres grávidas, especialmente aquelas com problemas de saúde, foram evacuadas para outros países após o início da invasão russa.

Porém, em várias entrevistas, especialmente em áreas próximas aos combates, os médicos relataram taxas elevadas de parto prematuro, aumento de casos de pressão alta durante a gravidez e uma taxa mais alta de cesarianas, atribuindo as complicações à tensão extraordinária de ter um filho em um momento de perigo e deslocamento.

“Podemos ver que o curso da gravidez se tornou mais difícil”, disse a médica Liudmyla Solodzhuk, de 58 anos, diretora de um hospital em Mikolaiv, uma cidade próxima à linha de frente. “Normalmente, o nascimento de um novo ser humano é uma felicidade, mas agora é uma ansiedade”, acrescentou.

O esforço para proteger as mulheres grávidas das tensões da guerra se tornou uma prioridade médica, observou Solodzhuk, com as equipes médicas tentando novas maneiras de distrair as pacientes dos sons brutais da guerra do lado de fora. “Temos dito que os bombardeios são fogos de artifício”, disse ela, “em homenagem ao nascimento de seus filhos”.

O hospital de Solodzhuk em Mikolaiv informou que o número de cesarianas e partos prematuros aumentou em 5%. As estatísticas do governo mostram aumentos menores de nascimentos prematuros na região de Mikolaiv e em outras partes do sul e do leste da Ucrânia, onde os combates são mais intensos, mas esses números são prejudicados pelo grande número de residentes que fugiram.

A dupla de músicos Tvorchi, que participou do Festival Eurovisão da Canção em Liverpool, Inglaterra, no mês passado, deu mais visibilidade à questão quando, em um evento de recepção especial no antes da competição, os artistas usaram ternos com os nomes e pesos dos bebês nascidos prematuramente.

Começamos a nos esconder no porão todos os dias, principalmente com medo de que os russos nos encontrassem

Inna Harbuz

Para as mulheres grávidas que permaneceram no país após a invasão russa, todas as esperanças de que os combates terminassem rapidamente acabaram frustradas.

Inna Harbuz, que naquele momento tinha 30 anos, estava grávida de meninos gêmeos e morava em Mikolaiv quando os mísseis russos começaram a atingir a cidade. Sua família decidiu que seria mais seguro mudar-se para outro lugar, mas um avanço russo antecipado acabou ocupando o vilarejo vizinho para onde eles haviam ido. Na medida do possível, a família tentou ficar fora de vista.

“Começamos a nos esconder no porão todos os dias, principalmente com medo de que os russos nos encontrassem”, disse a Harbuz, acrescentando que o medo de ser descoberta pelas tropas invasoras era pior do que os foguetes disparados em Mikolaiv.

Em 28 de outubro, Harbuz sofreu uma hemorragia interna devido a um descolamento prematuro da placenta. Naquele momento, as tropas russas haviam sido expulsas do vilarejo, e sua família a levou às pressas para um hospital em Mikolaiv, onde ela foi submetida a uma cesariana de emergência. Seus filhos gêmeos, nascidos prematuramente, foram colocados em aparelhos de suporte respiratório.

Cerca de sete meses depois, os dois meninos estão bem. Mas a família decidiu permanecer no vilarejo em vez de retornar a Mikolaiv, que ainda é alvo de bombardeios regulares.

Trauma e angústia no conflito armado

Depois que as gêmeas da Tsoi nasceram, elas tiveram problemas de saúde, e ela disse que precisava verificar regularmente seus batimentos cardíacos, visão e peso. Aos 9 meses de idade, elas ainda não conseguiam ficar de pé e a família estava ficando preocupada, mas “as duas estão correndo agora”, disse ela recentemente.

Tsoi culpa a guerra por ter transformado sua gravidez em uma angústia tão grande. Mesmo durante sua cesariana, o conflito era inevitável. “Comecei a chorar na mesa de cirurgia”, disse ela. “Foi muito assustador porque eu podia ouvir muitas explosões e tiros lá fora.”

Ela voltou a se reunir com suas filhas somente no oitavo dia após o parto. Naquela época, elas ainda estavam sendo alimentadas por tubos e os combates estavam piorando. Em um determinado momento, a equipe do hospital e os pacientes foram forçados a confinar-se no porão por segurança.

A experiência traumática foi quase insuportável para Tsoi. “Durante um mês, tive um surto horrível”, disse ela. “Gritei com meu marido para que nos levasse para fora do país, caso contrário não aguentaria, simplesmente não sobreviveria.”

O marido de Tsoi levou a família até a fronteira com a Moldávia, mas teve de retornar à Ucrânia, pois os homens em idade para servir ao exército não têm permissão para sair.

Alguns meses depois, Tsoi e suas filhas voltaram para a Ucrânia e alugaram uma casa perto de Odesa para ficar mais perto do marido. As meninas são saudáveis, mas estão atrasadas em relação às metas normais de crescimento e desenvolvimento para sua idade.

Para Tsoi, a guerra transformou sua gravidez de uma experiência alegre em uma que ela preferiria esquecer.

“Ainda não consigo acreditar que sobrevivi a isso”, disse ela.

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