A guerra diplomática sobre as exportações de grãos da Ucrânia; leia análise


Efeito cumulativo do conflito e o bloqueio de portos ucranianos, bem como as sanções ocidentais às exportações russas, levaram à disparada dos preços em lugares distantes da zona de guerra

Por Ishaan Tharoor

THE WASHINGTON POST - Pense nisso como a guerra além da guerra. A invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro e as contínuas ofensivas militares para capturar mais território de seu vizinho causaram muita destruição por si só - dezenas de milhares de civis estão mortos, outros milhões estão deslocados e houve bilhões de dólares em danos às cidades e infraestruturas críticas da Ucrânia.

Mas a crise também teve efeitos dramáticos em todo o mundo. O efeito cumulativo dos ataques russos à Ucrânia e o bloqueio de seus portos no Mar Negro, bem como as sanções ocidentais às exportações russas, levaram à disparada dos preços em lugares distantes da zona de conflito.

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Nos países mais pobres da Ásia e da África, o custo de produtos básicos como trigo e óleo de cozinha disparou e criou novas tensões para as sociedades que menos podem comprá-los. Somente no Chifre da África, até 20 milhões de pessoas podem passar fome este ano em meio à escassez de alimentos e uma seca prolongada.

Grãos de trigo em um armazém em Bashtanka, região de Mikolaiv, enquanto os ataques da Rússia à Ucrânia continuam R Foto: EUTERS/Edgar Su

Agora, governos estrangeiros estão lutando por opções para liberar a imensa oferta de produtos agrícolas da Ucrânia, principalmente trigo. Autoridades ucranianas dizem que cerca de 20 milhões de toneladas de grãos estão presos no país, com a Rússia bloqueando portos e bombardeando instalações ucranianas que armazenam grãos.

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Por meio de vários canais diplomáticos, autoridades ucranianas estão explorando a possibilidade de transferir o carregamento de grãos por trem para portos distantes no Mar Báltico, bem como para a vizinha Romênia. Mas permanecem problemas logísticos significativos, incluindo se esses portos têm capacidade para acomodar efetivamente os encargos crescentes. As construções da época da Guerra Fria também pode apresentar um obstáculo.

“Ucrânia, Rússia, Lituânia e outros ex-membros da União Soviética usam o padrão russo de bitola ferroviária”, explicou o Wall Street Journal. “Polônia, Romênia e a maior parte do restante da Europa usam uma bitola mais estreita. Para transportar grãos através dessas fronteiras, ou o trem de pouso dos vagões deve ser trocado ou a carga transferida para novos trens”.

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Na segunda-feira, reportagens na mídia estatal russa apontaram para um plano russo-turco para aliviar o bloqueio do principal porto de Odessa, no Mar Negro. Navios turcos ajudariam a tirar minas das águas ao largo da costa da cidade e garantir a passagem segura para navios de carga ucranianos que transportam grãos pelo Bósforo e para portos no Mediterrâneo.

Invasão de Odessa

Autoridades ucranianas, no entanto, expressaram sérias reservas sobre o plano debatido. “Ao comentar com antecedência sobre o acordo, a Rússia está tentando transferir a responsabilidade para a Ucrânia” por interromper o fornecimento, disse Taras Kachka, vice-ministro da Economia da Ucrânia, à Bloomberg News. “Mas o fato é que a crise alimentar foi criada artificialmente pela Rússia e apenas pela Rússia.”

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No Twitter, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, alertou que o Kremlin está usando essa abertura para forçar uma invasão de Odessa. Nas últimas semanas, políticos e diplomatas dos países bálticos e da Polônia – países mais cautelosos com os projetos da Rússia – também advertiram contra entrar em diálogo com o presidente russo, Vladimir Putin, sobre o relaxamento do bloqueio.

Autoridades russas têm procurado colocar o foco em suas próprias exportações frustradas de alimentos e fertilizantes, graças às amplas sanções ocidentais impostas à economia do país desde a invasão da Ucrânia. Autoridades dos EUA e da Ucrânia acusam Moscou de usar seu bloqueio como forma de chantagem para obter alívio das sanções.

Autoridades dos EUA também citaram evidências aparentes de navios russos transportando grãos ucranianos “roubados” de portos sob seu controle, incluindo da Península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014, e destruindo intencionalmente produtos alimentícios na Ucrânia, exacerbando a insegurança alimentar global”, disse uma autoridade dos EUA ao site Politico.

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Mas os governos de outros lugares são mais receptivos à posição russa. Na sexta-feira, o presidente senegalês, Macky Sall, que também é presidente da União Africana, se encontrou com Putin na cidade de Sochi, no Mar Negro. Lá, Sall lamentou como os países africanos, “embora estejam longe do teatro, são vítimas dessa crise”.

Campo de trigo nos campos de Boquiñeni, na Espanha; guerra na Ucrânia pode agravar problemas de segurança alimentar  Foto: Javier Belver/EFE

Entre 2018 e 2020, a África importou cerca de 44% de seu trigo da Rússia e da Ucrânia. Desde as recentes interrupções, os preços do trigo subiram cerca de 45%, segundo o Banco Africano de Desenvolvimento.

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Com Putin ao seu lado, Sall pediu alívio tanto para a Ucrânia quanto para o país que escolheu atacá-la. “É de imperativa necessidade que (os governos do Ocidente) ajudem a facilitar a exportação de grãos ucranianos, mas também que a Rússia possa exportar fertilizantes, produtos alimentícios, mas principalmente cereais.”

A maioria das nações africanas na Assembleia-Geral da ONU votou para condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia. Mas em tempos de crise econômica crescente, importa menos para os países distantes do conflito como eles recebem seus alimentos e quem os está enviando.

“Os africanos não se importam de onde obtêm sua comida, e se alguém vai adotar um discurso moralista sobre isso, eles estão enganados”, disse Hassan Khannenje, diretor do HORN International Institute for Strategic Studies, com sede no Quênia, referindo-se a relatos de carregamentos de grãos ucranianos roubados pelos russos. “A necessidade de comida é tão grave que não é algo que eles precisam debater”, disse ele.

THE WASHINGTON POST - Pense nisso como a guerra além da guerra. A invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro e as contínuas ofensivas militares para capturar mais território de seu vizinho causaram muita destruição por si só - dezenas de milhares de civis estão mortos, outros milhões estão deslocados e houve bilhões de dólares em danos às cidades e infraestruturas críticas da Ucrânia.

Mas a crise também teve efeitos dramáticos em todo o mundo. O efeito cumulativo dos ataques russos à Ucrânia e o bloqueio de seus portos no Mar Negro, bem como as sanções ocidentais às exportações russas, levaram à disparada dos preços em lugares distantes da zona de conflito.

Nos países mais pobres da Ásia e da África, o custo de produtos básicos como trigo e óleo de cozinha disparou e criou novas tensões para as sociedades que menos podem comprá-los. Somente no Chifre da África, até 20 milhões de pessoas podem passar fome este ano em meio à escassez de alimentos e uma seca prolongada.

Grãos de trigo em um armazém em Bashtanka, região de Mikolaiv, enquanto os ataques da Rússia à Ucrânia continuam R Foto: EUTERS/Edgar Su

Agora, governos estrangeiros estão lutando por opções para liberar a imensa oferta de produtos agrícolas da Ucrânia, principalmente trigo. Autoridades ucranianas dizem que cerca de 20 milhões de toneladas de grãos estão presos no país, com a Rússia bloqueando portos e bombardeando instalações ucranianas que armazenam grãos.

Por meio de vários canais diplomáticos, autoridades ucranianas estão explorando a possibilidade de transferir o carregamento de grãos por trem para portos distantes no Mar Báltico, bem como para a vizinha Romênia. Mas permanecem problemas logísticos significativos, incluindo se esses portos têm capacidade para acomodar efetivamente os encargos crescentes. As construções da época da Guerra Fria também pode apresentar um obstáculo.

“Ucrânia, Rússia, Lituânia e outros ex-membros da União Soviética usam o padrão russo de bitola ferroviária”, explicou o Wall Street Journal. “Polônia, Romênia e a maior parte do restante da Europa usam uma bitola mais estreita. Para transportar grãos através dessas fronteiras, ou o trem de pouso dos vagões deve ser trocado ou a carga transferida para novos trens”.

Na segunda-feira, reportagens na mídia estatal russa apontaram para um plano russo-turco para aliviar o bloqueio do principal porto de Odessa, no Mar Negro. Navios turcos ajudariam a tirar minas das águas ao largo da costa da cidade e garantir a passagem segura para navios de carga ucranianos que transportam grãos pelo Bósforo e para portos no Mediterrâneo.

Invasão de Odessa

Autoridades ucranianas, no entanto, expressaram sérias reservas sobre o plano debatido. “Ao comentar com antecedência sobre o acordo, a Rússia está tentando transferir a responsabilidade para a Ucrânia” por interromper o fornecimento, disse Taras Kachka, vice-ministro da Economia da Ucrânia, à Bloomberg News. “Mas o fato é que a crise alimentar foi criada artificialmente pela Rússia e apenas pela Rússia.”

No Twitter, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, alertou que o Kremlin está usando essa abertura para forçar uma invasão de Odessa. Nas últimas semanas, políticos e diplomatas dos países bálticos e da Polônia – países mais cautelosos com os projetos da Rússia – também advertiram contra entrar em diálogo com o presidente russo, Vladimir Putin, sobre o relaxamento do bloqueio.

Autoridades russas têm procurado colocar o foco em suas próprias exportações frustradas de alimentos e fertilizantes, graças às amplas sanções ocidentais impostas à economia do país desde a invasão da Ucrânia. Autoridades dos EUA e da Ucrânia acusam Moscou de usar seu bloqueio como forma de chantagem para obter alívio das sanções.

Autoridades dos EUA também citaram evidências aparentes de navios russos transportando grãos ucranianos “roubados” de portos sob seu controle, incluindo da Península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014, e destruindo intencionalmente produtos alimentícios na Ucrânia, exacerbando a insegurança alimentar global”, disse uma autoridade dos EUA ao site Politico.

Mas os governos de outros lugares são mais receptivos à posição russa. Na sexta-feira, o presidente senegalês, Macky Sall, que também é presidente da União Africana, se encontrou com Putin na cidade de Sochi, no Mar Negro. Lá, Sall lamentou como os países africanos, “embora estejam longe do teatro, são vítimas dessa crise”.

Campo de trigo nos campos de Boquiñeni, na Espanha; guerra na Ucrânia pode agravar problemas de segurança alimentar  Foto: Javier Belver/EFE

Entre 2018 e 2020, a África importou cerca de 44% de seu trigo da Rússia e da Ucrânia. Desde as recentes interrupções, os preços do trigo subiram cerca de 45%, segundo o Banco Africano de Desenvolvimento.

Com Putin ao seu lado, Sall pediu alívio tanto para a Ucrânia quanto para o país que escolheu atacá-la. “É de imperativa necessidade que (os governos do Ocidente) ajudem a facilitar a exportação de grãos ucranianos, mas também que a Rússia possa exportar fertilizantes, produtos alimentícios, mas principalmente cereais.”

A maioria das nações africanas na Assembleia-Geral da ONU votou para condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia. Mas em tempos de crise econômica crescente, importa menos para os países distantes do conflito como eles recebem seus alimentos e quem os está enviando.

“Os africanos não se importam de onde obtêm sua comida, e se alguém vai adotar um discurso moralista sobre isso, eles estão enganados”, disse Hassan Khannenje, diretor do HORN International Institute for Strategic Studies, com sede no Quênia, referindo-se a relatos de carregamentos de grãos ucranianos roubados pelos russos. “A necessidade de comida é tão grave que não é algo que eles precisam debater”, disse ele.

THE WASHINGTON POST - Pense nisso como a guerra além da guerra. A invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro e as contínuas ofensivas militares para capturar mais território de seu vizinho causaram muita destruição por si só - dezenas de milhares de civis estão mortos, outros milhões estão deslocados e houve bilhões de dólares em danos às cidades e infraestruturas críticas da Ucrânia.

Mas a crise também teve efeitos dramáticos em todo o mundo. O efeito cumulativo dos ataques russos à Ucrânia e o bloqueio de seus portos no Mar Negro, bem como as sanções ocidentais às exportações russas, levaram à disparada dos preços em lugares distantes da zona de conflito.

Nos países mais pobres da Ásia e da África, o custo de produtos básicos como trigo e óleo de cozinha disparou e criou novas tensões para as sociedades que menos podem comprá-los. Somente no Chifre da África, até 20 milhões de pessoas podem passar fome este ano em meio à escassez de alimentos e uma seca prolongada.

Grãos de trigo em um armazém em Bashtanka, região de Mikolaiv, enquanto os ataques da Rússia à Ucrânia continuam R Foto: EUTERS/Edgar Su

Agora, governos estrangeiros estão lutando por opções para liberar a imensa oferta de produtos agrícolas da Ucrânia, principalmente trigo. Autoridades ucranianas dizem que cerca de 20 milhões de toneladas de grãos estão presos no país, com a Rússia bloqueando portos e bombardeando instalações ucranianas que armazenam grãos.

Por meio de vários canais diplomáticos, autoridades ucranianas estão explorando a possibilidade de transferir o carregamento de grãos por trem para portos distantes no Mar Báltico, bem como para a vizinha Romênia. Mas permanecem problemas logísticos significativos, incluindo se esses portos têm capacidade para acomodar efetivamente os encargos crescentes. As construções da época da Guerra Fria também pode apresentar um obstáculo.

“Ucrânia, Rússia, Lituânia e outros ex-membros da União Soviética usam o padrão russo de bitola ferroviária”, explicou o Wall Street Journal. “Polônia, Romênia e a maior parte do restante da Europa usam uma bitola mais estreita. Para transportar grãos através dessas fronteiras, ou o trem de pouso dos vagões deve ser trocado ou a carga transferida para novos trens”.

Na segunda-feira, reportagens na mídia estatal russa apontaram para um plano russo-turco para aliviar o bloqueio do principal porto de Odessa, no Mar Negro. Navios turcos ajudariam a tirar minas das águas ao largo da costa da cidade e garantir a passagem segura para navios de carga ucranianos que transportam grãos pelo Bósforo e para portos no Mediterrâneo.

Invasão de Odessa

Autoridades ucranianas, no entanto, expressaram sérias reservas sobre o plano debatido. “Ao comentar com antecedência sobre o acordo, a Rússia está tentando transferir a responsabilidade para a Ucrânia” por interromper o fornecimento, disse Taras Kachka, vice-ministro da Economia da Ucrânia, à Bloomberg News. “Mas o fato é que a crise alimentar foi criada artificialmente pela Rússia e apenas pela Rússia.”

No Twitter, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, alertou que o Kremlin está usando essa abertura para forçar uma invasão de Odessa. Nas últimas semanas, políticos e diplomatas dos países bálticos e da Polônia – países mais cautelosos com os projetos da Rússia – também advertiram contra entrar em diálogo com o presidente russo, Vladimir Putin, sobre o relaxamento do bloqueio.

Autoridades russas têm procurado colocar o foco em suas próprias exportações frustradas de alimentos e fertilizantes, graças às amplas sanções ocidentais impostas à economia do país desde a invasão da Ucrânia. Autoridades dos EUA e da Ucrânia acusam Moscou de usar seu bloqueio como forma de chantagem para obter alívio das sanções.

Autoridades dos EUA também citaram evidências aparentes de navios russos transportando grãos ucranianos “roubados” de portos sob seu controle, incluindo da Península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014, e destruindo intencionalmente produtos alimentícios na Ucrânia, exacerbando a insegurança alimentar global”, disse uma autoridade dos EUA ao site Politico.

Mas os governos de outros lugares são mais receptivos à posição russa. Na sexta-feira, o presidente senegalês, Macky Sall, que também é presidente da União Africana, se encontrou com Putin na cidade de Sochi, no Mar Negro. Lá, Sall lamentou como os países africanos, “embora estejam longe do teatro, são vítimas dessa crise”.

Campo de trigo nos campos de Boquiñeni, na Espanha; guerra na Ucrânia pode agravar problemas de segurança alimentar  Foto: Javier Belver/EFE

Entre 2018 e 2020, a África importou cerca de 44% de seu trigo da Rússia e da Ucrânia. Desde as recentes interrupções, os preços do trigo subiram cerca de 45%, segundo o Banco Africano de Desenvolvimento.

Com Putin ao seu lado, Sall pediu alívio tanto para a Ucrânia quanto para o país que escolheu atacá-la. “É de imperativa necessidade que (os governos do Ocidente) ajudem a facilitar a exportação de grãos ucranianos, mas também que a Rússia possa exportar fertilizantes, produtos alimentícios, mas principalmente cereais.”

A maioria das nações africanas na Assembleia-Geral da ONU votou para condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia. Mas em tempos de crise econômica crescente, importa menos para os países distantes do conflito como eles recebem seus alimentos e quem os está enviando.

“Os africanos não se importam de onde obtêm sua comida, e se alguém vai adotar um discurso moralista sobre isso, eles estão enganados”, disse Hassan Khannenje, diretor do HORN International Institute for Strategic Studies, com sede no Quênia, referindo-se a relatos de carregamentos de grãos ucranianos roubados pelos russos. “A necessidade de comida é tão grave que não é algo que eles precisam debater”, disse ele.

THE WASHINGTON POST - Pense nisso como a guerra além da guerra. A invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro e as contínuas ofensivas militares para capturar mais território de seu vizinho causaram muita destruição por si só - dezenas de milhares de civis estão mortos, outros milhões estão deslocados e houve bilhões de dólares em danos às cidades e infraestruturas críticas da Ucrânia.

Mas a crise também teve efeitos dramáticos em todo o mundo. O efeito cumulativo dos ataques russos à Ucrânia e o bloqueio de seus portos no Mar Negro, bem como as sanções ocidentais às exportações russas, levaram à disparada dos preços em lugares distantes da zona de conflito.

Nos países mais pobres da Ásia e da África, o custo de produtos básicos como trigo e óleo de cozinha disparou e criou novas tensões para as sociedades que menos podem comprá-los. Somente no Chifre da África, até 20 milhões de pessoas podem passar fome este ano em meio à escassez de alimentos e uma seca prolongada.

Grãos de trigo em um armazém em Bashtanka, região de Mikolaiv, enquanto os ataques da Rússia à Ucrânia continuam R Foto: EUTERS/Edgar Su

Agora, governos estrangeiros estão lutando por opções para liberar a imensa oferta de produtos agrícolas da Ucrânia, principalmente trigo. Autoridades ucranianas dizem que cerca de 20 milhões de toneladas de grãos estão presos no país, com a Rússia bloqueando portos e bombardeando instalações ucranianas que armazenam grãos.

Por meio de vários canais diplomáticos, autoridades ucranianas estão explorando a possibilidade de transferir o carregamento de grãos por trem para portos distantes no Mar Báltico, bem como para a vizinha Romênia. Mas permanecem problemas logísticos significativos, incluindo se esses portos têm capacidade para acomodar efetivamente os encargos crescentes. As construções da época da Guerra Fria também pode apresentar um obstáculo.

“Ucrânia, Rússia, Lituânia e outros ex-membros da União Soviética usam o padrão russo de bitola ferroviária”, explicou o Wall Street Journal. “Polônia, Romênia e a maior parte do restante da Europa usam uma bitola mais estreita. Para transportar grãos através dessas fronteiras, ou o trem de pouso dos vagões deve ser trocado ou a carga transferida para novos trens”.

Na segunda-feira, reportagens na mídia estatal russa apontaram para um plano russo-turco para aliviar o bloqueio do principal porto de Odessa, no Mar Negro. Navios turcos ajudariam a tirar minas das águas ao largo da costa da cidade e garantir a passagem segura para navios de carga ucranianos que transportam grãos pelo Bósforo e para portos no Mediterrâneo.

Invasão de Odessa

Autoridades ucranianas, no entanto, expressaram sérias reservas sobre o plano debatido. “Ao comentar com antecedência sobre o acordo, a Rússia está tentando transferir a responsabilidade para a Ucrânia” por interromper o fornecimento, disse Taras Kachka, vice-ministro da Economia da Ucrânia, à Bloomberg News. “Mas o fato é que a crise alimentar foi criada artificialmente pela Rússia e apenas pela Rússia.”

No Twitter, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, alertou que o Kremlin está usando essa abertura para forçar uma invasão de Odessa. Nas últimas semanas, políticos e diplomatas dos países bálticos e da Polônia – países mais cautelosos com os projetos da Rússia – também advertiram contra entrar em diálogo com o presidente russo, Vladimir Putin, sobre o relaxamento do bloqueio.

Autoridades russas têm procurado colocar o foco em suas próprias exportações frustradas de alimentos e fertilizantes, graças às amplas sanções ocidentais impostas à economia do país desde a invasão da Ucrânia. Autoridades dos EUA e da Ucrânia acusam Moscou de usar seu bloqueio como forma de chantagem para obter alívio das sanções.

Autoridades dos EUA também citaram evidências aparentes de navios russos transportando grãos ucranianos “roubados” de portos sob seu controle, incluindo da Península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014, e destruindo intencionalmente produtos alimentícios na Ucrânia, exacerbando a insegurança alimentar global”, disse uma autoridade dos EUA ao site Politico.

Mas os governos de outros lugares são mais receptivos à posição russa. Na sexta-feira, o presidente senegalês, Macky Sall, que também é presidente da União Africana, se encontrou com Putin na cidade de Sochi, no Mar Negro. Lá, Sall lamentou como os países africanos, “embora estejam longe do teatro, são vítimas dessa crise”.

Campo de trigo nos campos de Boquiñeni, na Espanha; guerra na Ucrânia pode agravar problemas de segurança alimentar  Foto: Javier Belver/EFE

Entre 2018 e 2020, a África importou cerca de 44% de seu trigo da Rússia e da Ucrânia. Desde as recentes interrupções, os preços do trigo subiram cerca de 45%, segundo o Banco Africano de Desenvolvimento.

Com Putin ao seu lado, Sall pediu alívio tanto para a Ucrânia quanto para o país que escolheu atacá-la. “É de imperativa necessidade que (os governos do Ocidente) ajudem a facilitar a exportação de grãos ucranianos, mas também que a Rússia possa exportar fertilizantes, produtos alimentícios, mas principalmente cereais.”

A maioria das nações africanas na Assembleia-Geral da ONU votou para condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia. Mas em tempos de crise econômica crescente, importa menos para os países distantes do conflito como eles recebem seus alimentos e quem os está enviando.

“Os africanos não se importam de onde obtêm sua comida, e se alguém vai adotar um discurso moralista sobre isso, eles estão enganados”, disse Hassan Khannenje, diretor do HORN International Institute for Strategic Studies, com sede no Quênia, referindo-se a relatos de carregamentos de grãos ucranianos roubados pelos russos. “A necessidade de comida é tão grave que não é algo que eles precisam debater”, disse ele.

THE WASHINGTON POST - Pense nisso como a guerra além da guerra. A invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro e as contínuas ofensivas militares para capturar mais território de seu vizinho causaram muita destruição por si só - dezenas de milhares de civis estão mortos, outros milhões estão deslocados e houve bilhões de dólares em danos às cidades e infraestruturas críticas da Ucrânia.

Mas a crise também teve efeitos dramáticos em todo o mundo. O efeito cumulativo dos ataques russos à Ucrânia e o bloqueio de seus portos no Mar Negro, bem como as sanções ocidentais às exportações russas, levaram à disparada dos preços em lugares distantes da zona de conflito.

Nos países mais pobres da Ásia e da África, o custo de produtos básicos como trigo e óleo de cozinha disparou e criou novas tensões para as sociedades que menos podem comprá-los. Somente no Chifre da África, até 20 milhões de pessoas podem passar fome este ano em meio à escassez de alimentos e uma seca prolongada.

Grãos de trigo em um armazém em Bashtanka, região de Mikolaiv, enquanto os ataques da Rússia à Ucrânia continuam R Foto: EUTERS/Edgar Su

Agora, governos estrangeiros estão lutando por opções para liberar a imensa oferta de produtos agrícolas da Ucrânia, principalmente trigo. Autoridades ucranianas dizem que cerca de 20 milhões de toneladas de grãos estão presos no país, com a Rússia bloqueando portos e bombardeando instalações ucranianas que armazenam grãos.

Por meio de vários canais diplomáticos, autoridades ucranianas estão explorando a possibilidade de transferir o carregamento de grãos por trem para portos distantes no Mar Báltico, bem como para a vizinha Romênia. Mas permanecem problemas logísticos significativos, incluindo se esses portos têm capacidade para acomodar efetivamente os encargos crescentes. As construções da época da Guerra Fria também pode apresentar um obstáculo.

“Ucrânia, Rússia, Lituânia e outros ex-membros da União Soviética usam o padrão russo de bitola ferroviária”, explicou o Wall Street Journal. “Polônia, Romênia e a maior parte do restante da Europa usam uma bitola mais estreita. Para transportar grãos através dessas fronteiras, ou o trem de pouso dos vagões deve ser trocado ou a carga transferida para novos trens”.

Na segunda-feira, reportagens na mídia estatal russa apontaram para um plano russo-turco para aliviar o bloqueio do principal porto de Odessa, no Mar Negro. Navios turcos ajudariam a tirar minas das águas ao largo da costa da cidade e garantir a passagem segura para navios de carga ucranianos que transportam grãos pelo Bósforo e para portos no Mediterrâneo.

Invasão de Odessa

Autoridades ucranianas, no entanto, expressaram sérias reservas sobre o plano debatido. “Ao comentar com antecedência sobre o acordo, a Rússia está tentando transferir a responsabilidade para a Ucrânia” por interromper o fornecimento, disse Taras Kachka, vice-ministro da Economia da Ucrânia, à Bloomberg News. “Mas o fato é que a crise alimentar foi criada artificialmente pela Rússia e apenas pela Rússia.”

No Twitter, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, alertou que o Kremlin está usando essa abertura para forçar uma invasão de Odessa. Nas últimas semanas, políticos e diplomatas dos países bálticos e da Polônia – países mais cautelosos com os projetos da Rússia – também advertiram contra entrar em diálogo com o presidente russo, Vladimir Putin, sobre o relaxamento do bloqueio.

Autoridades russas têm procurado colocar o foco em suas próprias exportações frustradas de alimentos e fertilizantes, graças às amplas sanções ocidentais impostas à economia do país desde a invasão da Ucrânia. Autoridades dos EUA e da Ucrânia acusam Moscou de usar seu bloqueio como forma de chantagem para obter alívio das sanções.

Autoridades dos EUA também citaram evidências aparentes de navios russos transportando grãos ucranianos “roubados” de portos sob seu controle, incluindo da Península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014, e destruindo intencionalmente produtos alimentícios na Ucrânia, exacerbando a insegurança alimentar global”, disse uma autoridade dos EUA ao site Politico.

Mas os governos de outros lugares são mais receptivos à posição russa. Na sexta-feira, o presidente senegalês, Macky Sall, que também é presidente da União Africana, se encontrou com Putin na cidade de Sochi, no Mar Negro. Lá, Sall lamentou como os países africanos, “embora estejam longe do teatro, são vítimas dessa crise”.

Campo de trigo nos campos de Boquiñeni, na Espanha; guerra na Ucrânia pode agravar problemas de segurança alimentar  Foto: Javier Belver/EFE

Entre 2018 e 2020, a África importou cerca de 44% de seu trigo da Rússia e da Ucrânia. Desde as recentes interrupções, os preços do trigo subiram cerca de 45%, segundo o Banco Africano de Desenvolvimento.

Com Putin ao seu lado, Sall pediu alívio tanto para a Ucrânia quanto para o país que escolheu atacá-la. “É de imperativa necessidade que (os governos do Ocidente) ajudem a facilitar a exportação de grãos ucranianos, mas também que a Rússia possa exportar fertilizantes, produtos alimentícios, mas principalmente cereais.”

A maioria das nações africanas na Assembleia-Geral da ONU votou para condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia. Mas em tempos de crise econômica crescente, importa menos para os países distantes do conflito como eles recebem seus alimentos e quem os está enviando.

“Os africanos não se importam de onde obtêm sua comida, e se alguém vai adotar um discurso moralista sobre isso, eles estão enganados”, disse Hassan Khannenje, diretor do HORN International Institute for Strategic Studies, com sede no Quênia, referindo-se a relatos de carregamentos de grãos ucranianos roubados pelos russos. “A necessidade de comida é tão grave que não é algo que eles precisam debater”, disse ele.

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