A importância das eleições americanas


Em meio a tensões dentro dos partidos, votação definirá futuro tanto de republicanos quanto de democratas

Por THE ECONOMIST
Atualização:

Na campanha para estas eleições de meio de mandato nos Estados Unidos, políticos chamaram-se uns aos outros de bandidos, idiotas, traidores. Recentemente, um apoiador do presidente Donald Trump mandou bombas para 14 opositores, políticos e celebridades e, no pior atentado antissemita da história dos EUA, um supremacista branco assassinou 11 judeus em uma sinagoga. 

Trump, claro, não é o único político a surfar na onda divisionista, mas é o mais poderoso e um dos mais bem-sucedidos nisso. Antes de ele ser eleito, mais da metade dos democratas disseram em pesquisas que tinham medo dos republicanos, e quase metade dos republicanos disseram o mesmo sobre os democratas. 

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Foto: Nicholas Kamm / AFP
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Após um congressista republicano ser baleado por um atirador desequilibrado no último verão (Hemisfério Norte), líderes democratas disseram estar “ultrajados” com a sugestão de que sua retórica tivesse incentivado o episódio. Mas usaram o caso do envio de bombas a políticos e celebridades críticos de Trump e o ataque à sinagoga para iniciar um debate sobre a responsabilidade do presidente no terrorismo doméstico. 

A democracia americana é sólida – e foi criada para ser. Entretanto, uma a uma suas instituições vêm sendo infectadas pela polarização tóxica. O Congresso contraiu o vírus nos anos 90, quando Newt Gingrich era presidente da Câmara. A mídia também é vítima do ceticismo político.

Apenas 11% dos apoiadores mais fiéis de Trump acreditam na grande imprensa, enquanto 91% deles acreditam no presidente, segundo pesquisa da CBS News realizada no último verão. Entre os democratas, os porcentuais tendem a ser o inverso.

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Agora, também a Suprema Corte está sendo vista como partidária. Para democratas, Brett Kavanaugh, recém-confirmado, é alguém capaz de mentir quando acusado de abuso sexual, mas incapaz de pôr a lei acima de seu partido.

Já republicanos veem a confirmação como uma vitória contra uma monstruosa conspiração democrata para derrubar um homem decente. Um Executivo desonesto, conivente com uma legislatura bajuladora fortalecida por um Judiciário partidarizado: se a situação chegar a isso, os Estados Unidos terão graves problemas. 

O que pode ser feito? Assim como a política americana não se deteriorou da noite para o dia, a caminhada rumo a sua redenção exige muitos pequenos passos, que começariam a ser dados nestas eleições. O primeiro deles é devolver o controle da Câmara dos Deputados para os democrata. 

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Esse passo é importante para pôr Trump sob vigilância do Congresso. O presidente despreza normas que, em graus variados, mantiveram sob controle seus antecessores – pela recusa a liberar devoluções de impostos, a permitir a mistura de negócios públicos e privados ou a perseguir funcionários que trabalham, digamos, no Departamento de Justiça e deveriam ser independentes. 

O Congresso deveria investigar tal comportamento, mas os republicanos da Câmara dos Deputados têm repetidamente se esquivado de fazer isso, fugindo de sua responsabilidade constitucional. 

Por exemplo: confrontados com a conclusão dos serviços de inteligência de que a Rússia interveio na eleição presidencial, eles intimaram judicialmente funcionários envolvidos nas investigações, fazendo crescer a carga de trabalho. Sua abdicação à responsabilidade pode indicar que a continuidade de uma maioria republicana na Câmara colocaria eventualmente em risco a soberania da lei.

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Antes mesmo do resultado da eleição, analistas acreditavam que, no longo prazo, o controle da Câmara dos Deputados pelos democratas beneficiaria ambos os partidos. Uma derrota encorajaria alguns republicanos a começar a articular uma alternativa conservadora ao trumpismo. A manutenção do status quo, em contrapartida, pavimentaria a tomada do partido por Trump.

Os democratas devem levar em conta o perigo que uma derrota significa. Eles já estão em meio a uma disputa entre o centro e a ala radical do partido. A tensão pode empurrá-los cada vez mais rápido para a esquerda. E, se mais uma vez tiverem maioria de votos, mas terminarem com minoria de cadeiras, a ala radical do partido pode se ver tentada a uma política de romper com as normas, por exemplo, aumentando o tamanho da Suprema Corte ou buscando o impeachment de juízes. O controle da Câmara dos Deputados pode encorajar os moderados do partido.

Um governo dividido não leva, necessariamente, à paralisação do Estado. Mesmo agora, o presidente Donald Trump e congressistas democratas concordam em alguns pontos, como fortalecer a infraestrutura do país, confrontar a China na questão tarifária e combater a epidemia de drogas que afeta o país. 

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Eles que briguem por qualquer outra coisa, mas deixem de lado seu mútuo desprezo e se empenhem em políticas que renderiam créditos para os dois lados. Um único exemplo poderia mostrar que compromissos podem representar dignidade e valor. 

Os Estados Unidos não resolverão seus problemas políticos com uma única eleição. No mínimo, o avanço democrata exigirá uma renovação do Partido Republicano e um presidente diferente, com outra orientação moral. No entanto, o resultado desta eleição, com certeza, indicará o caminho. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ  © 2018 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

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Um homem abriu fogo neste sábado, durante cerimônia do shabat na sinagoga Árvore da Vida, na cidade americana de Pittsburgh, deixando onze mortos e seis feridos antes de ser detido.

Na campanha para estas eleições de meio de mandato nos Estados Unidos, políticos chamaram-se uns aos outros de bandidos, idiotas, traidores. Recentemente, um apoiador do presidente Donald Trump mandou bombas para 14 opositores, políticos e celebridades e, no pior atentado antissemita da história dos EUA, um supremacista branco assassinou 11 judeus em uma sinagoga. 

Trump, claro, não é o único político a surfar na onda divisionista, mas é o mais poderoso e um dos mais bem-sucedidos nisso. Antes de ele ser eleito, mais da metade dos democratas disseram em pesquisas que tinham medo dos republicanos, e quase metade dos republicanos disseram o mesmo sobre os democratas. 

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Foto: Nicholas Kamm / AFP

Após um congressista republicano ser baleado por um atirador desequilibrado no último verão (Hemisfério Norte), líderes democratas disseram estar “ultrajados” com a sugestão de que sua retórica tivesse incentivado o episódio. Mas usaram o caso do envio de bombas a políticos e celebridades críticos de Trump e o ataque à sinagoga para iniciar um debate sobre a responsabilidade do presidente no terrorismo doméstico. 

A democracia americana é sólida – e foi criada para ser. Entretanto, uma a uma suas instituições vêm sendo infectadas pela polarização tóxica. O Congresso contraiu o vírus nos anos 90, quando Newt Gingrich era presidente da Câmara. A mídia também é vítima do ceticismo político.

Apenas 11% dos apoiadores mais fiéis de Trump acreditam na grande imprensa, enquanto 91% deles acreditam no presidente, segundo pesquisa da CBS News realizada no último verão. Entre os democratas, os porcentuais tendem a ser o inverso.

Agora, também a Suprema Corte está sendo vista como partidária. Para democratas, Brett Kavanaugh, recém-confirmado, é alguém capaz de mentir quando acusado de abuso sexual, mas incapaz de pôr a lei acima de seu partido.

Já republicanos veem a confirmação como uma vitória contra uma monstruosa conspiração democrata para derrubar um homem decente. Um Executivo desonesto, conivente com uma legislatura bajuladora fortalecida por um Judiciário partidarizado: se a situação chegar a isso, os Estados Unidos terão graves problemas. 

O que pode ser feito? Assim como a política americana não se deteriorou da noite para o dia, a caminhada rumo a sua redenção exige muitos pequenos passos, que começariam a ser dados nestas eleições. O primeiro deles é devolver o controle da Câmara dos Deputados para os democrata. 

Esse passo é importante para pôr Trump sob vigilância do Congresso. O presidente despreza normas que, em graus variados, mantiveram sob controle seus antecessores – pela recusa a liberar devoluções de impostos, a permitir a mistura de negócios públicos e privados ou a perseguir funcionários que trabalham, digamos, no Departamento de Justiça e deveriam ser independentes. 

O Congresso deveria investigar tal comportamento, mas os republicanos da Câmara dos Deputados têm repetidamente se esquivado de fazer isso, fugindo de sua responsabilidade constitucional. 

Por exemplo: confrontados com a conclusão dos serviços de inteligência de que a Rússia interveio na eleição presidencial, eles intimaram judicialmente funcionários envolvidos nas investigações, fazendo crescer a carga de trabalho. Sua abdicação à responsabilidade pode indicar que a continuidade de uma maioria republicana na Câmara colocaria eventualmente em risco a soberania da lei.

Antes mesmo do resultado da eleição, analistas acreditavam que, no longo prazo, o controle da Câmara dos Deputados pelos democratas beneficiaria ambos os partidos. Uma derrota encorajaria alguns republicanos a começar a articular uma alternativa conservadora ao trumpismo. A manutenção do status quo, em contrapartida, pavimentaria a tomada do partido por Trump.

Os democratas devem levar em conta o perigo que uma derrota significa. Eles já estão em meio a uma disputa entre o centro e a ala radical do partido. A tensão pode empurrá-los cada vez mais rápido para a esquerda. E, se mais uma vez tiverem maioria de votos, mas terminarem com minoria de cadeiras, a ala radical do partido pode se ver tentada a uma política de romper com as normas, por exemplo, aumentando o tamanho da Suprema Corte ou buscando o impeachment de juízes. O controle da Câmara dos Deputados pode encorajar os moderados do partido.

Um governo dividido não leva, necessariamente, à paralisação do Estado. Mesmo agora, o presidente Donald Trump e congressistas democratas concordam em alguns pontos, como fortalecer a infraestrutura do país, confrontar a China na questão tarifária e combater a epidemia de drogas que afeta o país. 

Eles que briguem por qualquer outra coisa, mas deixem de lado seu mútuo desprezo e se empenhem em políticas que renderiam créditos para os dois lados. Um único exemplo poderia mostrar que compromissos podem representar dignidade e valor. 

Os Estados Unidos não resolverão seus problemas políticos com uma única eleição. No mínimo, o avanço democrata exigirá uma renovação do Partido Republicano e um presidente diferente, com outra orientação moral. No entanto, o resultado desta eleição, com certeza, indicará o caminho. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ  © 2018 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

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Na campanha para estas eleições de meio de mandato nos Estados Unidos, políticos chamaram-se uns aos outros de bandidos, idiotas, traidores. Recentemente, um apoiador do presidente Donald Trump mandou bombas para 14 opositores, políticos e celebridades e, no pior atentado antissemita da história dos EUA, um supremacista branco assassinou 11 judeus em uma sinagoga. 

Trump, claro, não é o único político a surfar na onda divisionista, mas é o mais poderoso e um dos mais bem-sucedidos nisso. Antes de ele ser eleito, mais da metade dos democratas disseram em pesquisas que tinham medo dos republicanos, e quase metade dos republicanos disseram o mesmo sobre os democratas. 

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Foto: Nicholas Kamm / AFP

Após um congressista republicano ser baleado por um atirador desequilibrado no último verão (Hemisfério Norte), líderes democratas disseram estar “ultrajados” com a sugestão de que sua retórica tivesse incentivado o episódio. Mas usaram o caso do envio de bombas a políticos e celebridades críticos de Trump e o ataque à sinagoga para iniciar um debate sobre a responsabilidade do presidente no terrorismo doméstico. 

A democracia americana é sólida – e foi criada para ser. Entretanto, uma a uma suas instituições vêm sendo infectadas pela polarização tóxica. O Congresso contraiu o vírus nos anos 90, quando Newt Gingrich era presidente da Câmara. A mídia também é vítima do ceticismo político.

Apenas 11% dos apoiadores mais fiéis de Trump acreditam na grande imprensa, enquanto 91% deles acreditam no presidente, segundo pesquisa da CBS News realizada no último verão. Entre os democratas, os porcentuais tendem a ser o inverso.

Agora, também a Suprema Corte está sendo vista como partidária. Para democratas, Brett Kavanaugh, recém-confirmado, é alguém capaz de mentir quando acusado de abuso sexual, mas incapaz de pôr a lei acima de seu partido.

Já republicanos veem a confirmação como uma vitória contra uma monstruosa conspiração democrata para derrubar um homem decente. Um Executivo desonesto, conivente com uma legislatura bajuladora fortalecida por um Judiciário partidarizado: se a situação chegar a isso, os Estados Unidos terão graves problemas. 

O que pode ser feito? Assim como a política americana não se deteriorou da noite para o dia, a caminhada rumo a sua redenção exige muitos pequenos passos, que começariam a ser dados nestas eleições. O primeiro deles é devolver o controle da Câmara dos Deputados para os democrata. 

Esse passo é importante para pôr Trump sob vigilância do Congresso. O presidente despreza normas que, em graus variados, mantiveram sob controle seus antecessores – pela recusa a liberar devoluções de impostos, a permitir a mistura de negócios públicos e privados ou a perseguir funcionários que trabalham, digamos, no Departamento de Justiça e deveriam ser independentes. 

O Congresso deveria investigar tal comportamento, mas os republicanos da Câmara dos Deputados têm repetidamente se esquivado de fazer isso, fugindo de sua responsabilidade constitucional. 

Por exemplo: confrontados com a conclusão dos serviços de inteligência de que a Rússia interveio na eleição presidencial, eles intimaram judicialmente funcionários envolvidos nas investigações, fazendo crescer a carga de trabalho. Sua abdicação à responsabilidade pode indicar que a continuidade de uma maioria republicana na Câmara colocaria eventualmente em risco a soberania da lei.

Antes mesmo do resultado da eleição, analistas acreditavam que, no longo prazo, o controle da Câmara dos Deputados pelos democratas beneficiaria ambos os partidos. Uma derrota encorajaria alguns republicanos a começar a articular uma alternativa conservadora ao trumpismo. A manutenção do status quo, em contrapartida, pavimentaria a tomada do partido por Trump.

Os democratas devem levar em conta o perigo que uma derrota significa. Eles já estão em meio a uma disputa entre o centro e a ala radical do partido. A tensão pode empurrá-los cada vez mais rápido para a esquerda. E, se mais uma vez tiverem maioria de votos, mas terminarem com minoria de cadeiras, a ala radical do partido pode se ver tentada a uma política de romper com as normas, por exemplo, aumentando o tamanho da Suprema Corte ou buscando o impeachment de juízes. O controle da Câmara dos Deputados pode encorajar os moderados do partido.

Um governo dividido não leva, necessariamente, à paralisação do Estado. Mesmo agora, o presidente Donald Trump e congressistas democratas concordam em alguns pontos, como fortalecer a infraestrutura do país, confrontar a China na questão tarifária e combater a epidemia de drogas que afeta o país. 

Eles que briguem por qualquer outra coisa, mas deixem de lado seu mútuo desprezo e se empenhem em políticas que renderiam créditos para os dois lados. Um único exemplo poderia mostrar que compromissos podem representar dignidade e valor. 

Os Estados Unidos não resolverão seus problemas políticos com uma única eleição. No mínimo, o avanço democrata exigirá uma renovação do Partido Republicano e um presidente diferente, com outra orientação moral. No entanto, o resultado desta eleição, com certeza, indicará o caminho. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ  © 2018 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

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Na campanha para estas eleições de meio de mandato nos Estados Unidos, políticos chamaram-se uns aos outros de bandidos, idiotas, traidores. Recentemente, um apoiador do presidente Donald Trump mandou bombas para 14 opositores, políticos e celebridades e, no pior atentado antissemita da história dos EUA, um supremacista branco assassinou 11 judeus em uma sinagoga. 

Trump, claro, não é o único político a surfar na onda divisionista, mas é o mais poderoso e um dos mais bem-sucedidos nisso. Antes de ele ser eleito, mais da metade dos democratas disseram em pesquisas que tinham medo dos republicanos, e quase metade dos republicanos disseram o mesmo sobre os democratas. 

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Foto: Nicholas Kamm / AFP

Após um congressista republicano ser baleado por um atirador desequilibrado no último verão (Hemisfério Norte), líderes democratas disseram estar “ultrajados” com a sugestão de que sua retórica tivesse incentivado o episódio. Mas usaram o caso do envio de bombas a políticos e celebridades críticos de Trump e o ataque à sinagoga para iniciar um debate sobre a responsabilidade do presidente no terrorismo doméstico. 

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Apenas 11% dos apoiadores mais fiéis de Trump acreditam na grande imprensa, enquanto 91% deles acreditam no presidente, segundo pesquisa da CBS News realizada no último verão. Entre os democratas, os porcentuais tendem a ser o inverso.

Agora, também a Suprema Corte está sendo vista como partidária. Para democratas, Brett Kavanaugh, recém-confirmado, é alguém capaz de mentir quando acusado de abuso sexual, mas incapaz de pôr a lei acima de seu partido.

Já republicanos veem a confirmação como uma vitória contra uma monstruosa conspiração democrata para derrubar um homem decente. Um Executivo desonesto, conivente com uma legislatura bajuladora fortalecida por um Judiciário partidarizado: se a situação chegar a isso, os Estados Unidos terão graves problemas. 

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O Congresso deveria investigar tal comportamento, mas os republicanos da Câmara dos Deputados têm repetidamente se esquivado de fazer isso, fugindo de sua responsabilidade constitucional. 

Por exemplo: confrontados com a conclusão dos serviços de inteligência de que a Rússia interveio na eleição presidencial, eles intimaram judicialmente funcionários envolvidos nas investigações, fazendo crescer a carga de trabalho. Sua abdicação à responsabilidade pode indicar que a continuidade de uma maioria republicana na Câmara colocaria eventualmente em risco a soberania da lei.

Antes mesmo do resultado da eleição, analistas acreditavam que, no longo prazo, o controle da Câmara dos Deputados pelos democratas beneficiaria ambos os partidos. Uma derrota encorajaria alguns republicanos a começar a articular uma alternativa conservadora ao trumpismo. A manutenção do status quo, em contrapartida, pavimentaria a tomada do partido por Trump.

Os democratas devem levar em conta o perigo que uma derrota significa. Eles já estão em meio a uma disputa entre o centro e a ala radical do partido. A tensão pode empurrá-los cada vez mais rápido para a esquerda. E, se mais uma vez tiverem maioria de votos, mas terminarem com minoria de cadeiras, a ala radical do partido pode se ver tentada a uma política de romper com as normas, por exemplo, aumentando o tamanho da Suprema Corte ou buscando o impeachment de juízes. O controle da Câmara dos Deputados pode encorajar os moderados do partido.

Um governo dividido não leva, necessariamente, à paralisação do Estado. Mesmo agora, o presidente Donald Trump e congressistas democratas concordam em alguns pontos, como fortalecer a infraestrutura do país, confrontar a China na questão tarifária e combater a epidemia de drogas que afeta o país. 

Eles que briguem por qualquer outra coisa, mas deixem de lado seu mútuo desprezo e se empenhem em políticas que renderiam créditos para os dois lados. Um único exemplo poderia mostrar que compromissos podem representar dignidade e valor. 

Os Estados Unidos não resolverão seus problemas políticos com uma única eleição. No mínimo, o avanço democrata exigirá uma renovação do Partido Republicano e um presidente diferente, com outra orientação moral. No entanto, o resultado desta eleição, com certeza, indicará o caminho. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ  © 2018 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

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Um homem abriu fogo neste sábado, durante cerimônia do shabat na sinagoga Árvore da Vida, na cidade americana de Pittsburgh, deixando onze mortos e seis feridos antes de ser detido.

Na campanha para estas eleições de meio de mandato nos Estados Unidos, políticos chamaram-se uns aos outros de bandidos, idiotas, traidores. Recentemente, um apoiador do presidente Donald Trump mandou bombas para 14 opositores, políticos e celebridades e, no pior atentado antissemita da história dos EUA, um supremacista branco assassinou 11 judeus em uma sinagoga. 

Trump, claro, não é o único político a surfar na onda divisionista, mas é o mais poderoso e um dos mais bem-sucedidos nisso. Antes de ele ser eleito, mais da metade dos democratas disseram em pesquisas que tinham medo dos republicanos, e quase metade dos republicanos disseram o mesmo sobre os democratas. 

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Foto: Nicholas Kamm / AFP

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Apenas 11% dos apoiadores mais fiéis de Trump acreditam na grande imprensa, enquanto 91% deles acreditam no presidente, segundo pesquisa da CBS News realizada no último verão. Entre os democratas, os porcentuais tendem a ser o inverso.

Agora, também a Suprema Corte está sendo vista como partidária. Para democratas, Brett Kavanaugh, recém-confirmado, é alguém capaz de mentir quando acusado de abuso sexual, mas incapaz de pôr a lei acima de seu partido.

Já republicanos veem a confirmação como uma vitória contra uma monstruosa conspiração democrata para derrubar um homem decente. Um Executivo desonesto, conivente com uma legislatura bajuladora fortalecida por um Judiciário partidarizado: se a situação chegar a isso, os Estados Unidos terão graves problemas. 

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Esse passo é importante para pôr Trump sob vigilância do Congresso. O presidente despreza normas que, em graus variados, mantiveram sob controle seus antecessores – pela recusa a liberar devoluções de impostos, a permitir a mistura de negócios públicos e privados ou a perseguir funcionários que trabalham, digamos, no Departamento de Justiça e deveriam ser independentes. 

O Congresso deveria investigar tal comportamento, mas os republicanos da Câmara dos Deputados têm repetidamente se esquivado de fazer isso, fugindo de sua responsabilidade constitucional. 

Por exemplo: confrontados com a conclusão dos serviços de inteligência de que a Rússia interveio na eleição presidencial, eles intimaram judicialmente funcionários envolvidos nas investigações, fazendo crescer a carga de trabalho. Sua abdicação à responsabilidade pode indicar que a continuidade de uma maioria republicana na Câmara colocaria eventualmente em risco a soberania da lei.

Antes mesmo do resultado da eleição, analistas acreditavam que, no longo prazo, o controle da Câmara dos Deputados pelos democratas beneficiaria ambos os partidos. Uma derrota encorajaria alguns republicanos a começar a articular uma alternativa conservadora ao trumpismo. A manutenção do status quo, em contrapartida, pavimentaria a tomada do partido por Trump.

Os democratas devem levar em conta o perigo que uma derrota significa. Eles já estão em meio a uma disputa entre o centro e a ala radical do partido. A tensão pode empurrá-los cada vez mais rápido para a esquerda. E, se mais uma vez tiverem maioria de votos, mas terminarem com minoria de cadeiras, a ala radical do partido pode se ver tentada a uma política de romper com as normas, por exemplo, aumentando o tamanho da Suprema Corte ou buscando o impeachment de juízes. O controle da Câmara dos Deputados pode encorajar os moderados do partido.

Um governo dividido não leva, necessariamente, à paralisação do Estado. Mesmo agora, o presidente Donald Trump e congressistas democratas concordam em alguns pontos, como fortalecer a infraestrutura do país, confrontar a China na questão tarifária e combater a epidemia de drogas que afeta o país. 

Eles que briguem por qualquer outra coisa, mas deixem de lado seu mútuo desprezo e se empenhem em políticas que renderiam créditos para os dois lados. Um único exemplo poderia mostrar que compromissos podem representar dignidade e valor. 

Os Estados Unidos não resolverão seus problemas políticos com uma única eleição. No mínimo, o avanço democrata exigirá uma renovação do Partido Republicano e um presidente diferente, com outra orientação moral. No entanto, o resultado desta eleição, com certeza, indicará o caminho. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ  © 2018 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

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