A indústria armamentista da Ucrânia está crescendo; mas esse crescimento será rápido o suficiente?


O objetivo de Kiev é construir suas próprias armas para levar a guerra para dentro da Rússia; mas isso levará um tempo que a Ucrânia pode não ter

Por Lara Jakes
Atualização:

As Forças Armadas da Ucrânia tinham apenas um canhão de artilharia Bohdana quando a Rússia invadiu, dois anos atrás. Mas aquela única arma, construída na Ucrânia em 2018 e capaz de disparar projéteis do mesmo calibre dos usados pela Otan, provou-se tão eficaz nos primeiros dias da guerra que foi levado a campos de batalha em todo o país, da cidade de Kharkiv, no nordeste, à costa sudoeste, ao longo do Mar Negro e em pontos no meio do caminho.

Agora, a indústria armamentista da Ucrânia está construindo oito sistemas de artilharia autopropelida Bohdana mensalmente, e apesar das autoridades não informarem quantos foram fabricados no total, o aumento na produção sinaliza uma possível explosão na produção doméstica de armas.

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O incremento ocorre em um momento crítico. A máquina de guerra russa já está quadruplicando sua produção de armamentos em operações contínuas. As forças ucranianas estão perdendo território de regiões cruciais, incluindo a estratégica cidade de Avdiivka, no leste, de onde se retiraram em fevereiro. Um pacote de ajuda dos Estados Unidos ainda está empacado no Congresso. E ainda que empresas de defesa europeias estejam, mesmo que cautelosamente, abrindo operações na Ucrânia, grandes fabricantes de armas americanos ainda não se comprometeram em erguer instalações em meio a uma guerra.

Um trabalhador arma projéteis de morteiro em uma fábrica en 31 de janeiro de 2024, na Ucrânia  Foto: Evgeniy Maloletka/AP

Quase todos concordam que a Ucrânia precisa reconstruir sua indústria doméstica de defesa para que suas Forças Armadas não tenham de depender por anos a fio do Ocidente, que certas vezes hesitou em enviar sistemas sofisticados de armamentos — incluindo defesas antiaéreas, tanques e mísseis de longo alcance. Resta ver se isso pode ser feito a tempo para alterar a trajetória de uma guerra que seria muito menos intensa sem mais ajudas militares dos EUA.

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Mas os engenheiros militares ucranianos já mostraram habilidades surpreendentes ao adaptar sistemas de armamentos antigos para um poder de fogo mais moderno. E apenas no ano passado as empresas ucranianas de defesa construíram três vezes mais veículos blindados do que antes da guerra e quadruplicaram a produção de mísseis antitanque, de acordo com documentos do governo ucraniano analisados pelo The New York Times.

O financiamento para pesquisa e desenvolvimento está previsto para aumentar oito vezes este ano — de US$ 162 milhões para US$ 1,3 bilhão — de acordo com uma análise do orçamento militar da Ucrânia até 2030 realizada pela firma de inteligência em defesa Janes. Os contratos de aquisição de equipamentos militares saltaram para uma previsão recorde em 20 anos, de aproximadamente US$ 10 bilhões em 2023, em comparação com um registro anterior à guerra de cerca de US$ 1 bilhão ao ano.

“Nós dizemos que a morte do inimigo começa conosco”, afirmou o ministro ucraniano de Indústrias Estratégicas, Alexander Kamishin, em entrevista concedida no mês passado, em seu gabinete, em um discreto edifício de tijolos em Kiev escondido entre restaurantes e condomínios residenciais.

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“Para mostrar que nós não ficamos sentados esperando vocês virem nos ajudar”, afirmou Kamishin. “Para tentar fazer as coisas com nossas próprias mãos.”

Alguns armamentos estão se revelando mais difíceis de produzir na Ucrânia do que outros. Entre eles, os projéteis de artilharia de 155 milímetros, que são incrivelmente necessários no campo de batalha mas cuja produção depende de matérias-primas importadas e direitos de licenciamento de fabricantes ou governos ocidentais. Kamishin afirmou que a produção doméstica de projéteis de 155 milímetros está “a caminho”, mas não estimou quando se concretizará.

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Antes uma grande fornecedora à União Soviética, a indústria de defesa da Ucrânia encolheu ao longo de três décadas de cortes de orçamento depois que o país declarou independência, em 1991. Agora o governo em Kiev planeja gastar cerca de US$ 6 bilhões este ano em armamentos fabricados na Ucrânia, incluindo um milhão de drones, mas, afirmou Kamishin, “nossa capacidade de produção é maior do que os fundos que temos disponíveis”.

Pode ser difícil superar o longo período de declínio. Para reativar a produção dos canhões de artilharia Bohdana 2S22, por exemplo, as autoridades tiveram que localizar os projetistas e engenheiros originais, alguns deles acionados em missões militares menores, espalhados por toda a Ucrânia.

Engenheiros instalam antenas em um drone terrestre na região de Kiev, Ucrâniaem 7 de fevereiro de 2024 Foto: Evgeniy Maloletka/AP
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Em junho de 2022, as forças ucranianas usaram o alcance de 48 quilômetros do Bohdana para destruir defesas antiaéreas russas na bem-sucedida batalha pela Ilha da Cobra, no Mar Negro.

“Foi uma surpresa muito grande para os russos”, afirmou o major Miroslav Hai, um dos oficiais de operações especiais que ajudou a libertar a ilha. “Eles não podiam entender como alguém conseguia usar artilharia àquela distância.”

Na Europa, líderes políticos que se preocupam com a erosão do apoio americano e executivos de empresas que percebem novas oportunidades de mercado estão promovendo empreendimentos de manufatura militar na Ucrânia, mesmo que possa levar vários anos até que essas armas ou equipamentos cheguem ao campo de batalha.

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A gigante alemã da indústria armamentista Rheinmetall e o fabricante turco de drones Baykar estão no processo de construção de fábricas na Ucrânia. O ministro da Defesa da França afirmou em março que três empresas francesas que produzem drones e equipamentos de guerra terrestre estavam próximas de acordos similares. No mês passado, França e Alemanha anunciaram um empreendimento conjunto por meio do conglomerado de defesa KNDS para construir componentes de tanques e obuses — e, eventualmente, sistemas completos de armamentos.

Especialistas afirmam que as Forças Armadas ucranianas posicionaram sistemas de defesa antiaérea em torno de suas fábricas de armamentos mais críticas. É provável que grandes manufaturas sejam construídas com financiamento estrangeiro no oeste ucraniano, longe das linhas de frente mas também protegidas por defesas antiaéreas.

Christian Seear, diretor de operações na Ucrânia do fabricante de equipamentos militares BAE Systems, com sede no Reino Unido, afirmou que os movimentos gestados por empresas estrangeiras mandam “uma mensagem crítica: você pode entrar na Ucrânia e montar sua manufatura”.

Além de buscar fabricar armas na Ucrânia, afirmou Seear, a BAE Systems tem foco atualmente em uma abordagem “reparos para o futuro”, para consertar armamentos danificados em fábricas dentro da Ucrânia e devolvê-las às linhas de frente mais rapidamente. Muitas das armas da guerra terrestre na Ucrânia — incluindo os obuses M777 e Archer, os veículos de combate Bradley e CV90 e os tanques Challenger 2 — são fabricados pela BAE Systems.

“Nós queremos manter esses equipamentos em condições de combate, e está ficando bastante claro que é impossível continuar fazendo sua manutenção em países vizinhos”, afirmou Seear. “Não é aceitável em uma guerra de desgaste ter centenas de obuses confiáveis, de alta qualidade, tendo de viajar centenas de quilômetros.”

Até aqui, afirmaram autoridades ucranianas e americanas, nenhum grande fabricante de armamentos americano anunciou planos de abrir linhas de produção na Ucrânia. Contudo, alguns executivos importantes têm visitado Kiev nas semanas recentes para se encontrar com Kamishin e outras autoridades, e o governo Biden organizou reuniões em dezembro para apresentar líderes ucranianos a fornecedores de equipamentos militares americanos.

Cartuchos de morteiro são vistos em uma fábrica na Ucrânia em 31 de janeiro de 2024 Foto: Evgeniy Maloletka/AP

Ajudar a Ucrânia a reconstruir sua indústria de defesa tornou-se ainda mais vital enquanto os republicanos bloqueiam no Congresso uma ajuda militar e financeira de US$ 60 bilhões à Ucrânia. (Apesar de o presidente da Câmara dos Deputados, o republicano Mike Johnson, de Louisiana, ter sinalizado recentemente que está buscando maneiras palatáveis politicamente para levar o pacote de ajuda à votação.)

Mas uma rede de burocracia em Kiev ameaça fazer alguns investidores tirarem o pé do acelerador conforme buscam avançar com propostas em pelo menos três ministérios: da Defesa, da Transformação Digital e das Indústrias Estratégicas, de Kamishin.

“Nós estamos tentando entender como tudo isso se encaixa e como eles trabalham juntos”, afirmou o ex-embaixador americano em Kiev William Taylor, que lidera um esforço do Instituto de Paz dos EUA para ajudar a estabelecer conexões entre empresas de defesa americanas e ucranianas.

“As empresas americanas têm muitas oportunidades para investir em outros lugares em todo o mundo”, afirmou Taylor. “A Ucrânia é um lugar onde interesses americanos estão em jogo, portanto é por isso que nós faríamos um esforço maior para ajudar a fazer essas conexões.”

Já que projéteis de artilharia de calibre 155 milímetros são tão urgentemente necessários, Taylor sugeriu que um empreendimento conjunto inicial entre empresas ucranianas e americanas poderia ter foco em aumentar sua produção.

Fabricantes europeus já se aventuram nesse mercado.

Um trabalhador coloca números de série em um projétil de morteiro em uma fábrica na Ucrânia Foto: Evgeniy Maloletka/AP

“Se os europeus se envolverem nesse desenvolvimento nos volumes que prometem, acho que com o tempo resolveremos o problema da ‘fome de projéteis’”, afirmou o comandante das Forças Armadas da Ucrânia, Oleksandr Sirskii, à imprensa estatal ucraniana, segundo uma entrevista publicada na sexta-feira.

Apesar dos fabricantes ucranianos estarem proibidos de exportar armamentos até que a guerra acabe, Kamishin parece ávido para competir com manufaturas de armas estrangeiras.

Orador persuasivo, com cavanhaque e topete em estilo tradicional dos cossacos ucranianos, Kamishin pertence ao que Taylor descreveu como uma nova geração de líderes ucranianos — aos 39 anos, é um jovem prodígio, que ascendeu rapidamente nos quadros do governos.

Após sua nomeação como ministro, em março de 2023, Kamishin visitou quase todas as fábricas de armamentos na Ucrânia e disse ter encontrado uma indústria que precisa seriamente de uma reforma. Funcionários trabalhavam em fábricas danificadas em alguns lugares; em outros, foguetes eram construídos a mão.

Apesar de afirmar que a indústria se move com menos percalços atualmente, Kamishin ainda recebe boletins diários a respeito de linhas de montagem para identificar rapidamente máquinas quebradas ou danificadas e consertá-las prontamente.

“Estamos fazendo as coisas mais rapidamente e com menos custos, e está funcionando”, afirmou Kamishin na entrevista, que pareceu tanto uma propaganda de vendas de armas fabricadas domesticamente quanto uma discussão a respeito de investimentos estrangeiros.

“Nós nos juntaremos a vocês e à Otan algum dia”, afirmou Kamishin confiante. “Portanto, se vocês compram de nós, estão construindo habilidades, e isso se tornará parte de nossas capacidades conjuntas algum dia. Então por que não investir nas suas próprias capacidades conjuntas?” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

As Forças Armadas da Ucrânia tinham apenas um canhão de artilharia Bohdana quando a Rússia invadiu, dois anos atrás. Mas aquela única arma, construída na Ucrânia em 2018 e capaz de disparar projéteis do mesmo calibre dos usados pela Otan, provou-se tão eficaz nos primeiros dias da guerra que foi levado a campos de batalha em todo o país, da cidade de Kharkiv, no nordeste, à costa sudoeste, ao longo do Mar Negro e em pontos no meio do caminho.

Agora, a indústria armamentista da Ucrânia está construindo oito sistemas de artilharia autopropelida Bohdana mensalmente, e apesar das autoridades não informarem quantos foram fabricados no total, o aumento na produção sinaliza uma possível explosão na produção doméstica de armas.

O incremento ocorre em um momento crítico. A máquina de guerra russa já está quadruplicando sua produção de armamentos em operações contínuas. As forças ucranianas estão perdendo território de regiões cruciais, incluindo a estratégica cidade de Avdiivka, no leste, de onde se retiraram em fevereiro. Um pacote de ajuda dos Estados Unidos ainda está empacado no Congresso. E ainda que empresas de defesa europeias estejam, mesmo que cautelosamente, abrindo operações na Ucrânia, grandes fabricantes de armas americanos ainda não se comprometeram em erguer instalações em meio a uma guerra.

Um trabalhador arma projéteis de morteiro em uma fábrica en 31 de janeiro de 2024, na Ucrânia  Foto: Evgeniy Maloletka/AP

Quase todos concordam que a Ucrânia precisa reconstruir sua indústria doméstica de defesa para que suas Forças Armadas não tenham de depender por anos a fio do Ocidente, que certas vezes hesitou em enviar sistemas sofisticados de armamentos — incluindo defesas antiaéreas, tanques e mísseis de longo alcance. Resta ver se isso pode ser feito a tempo para alterar a trajetória de uma guerra que seria muito menos intensa sem mais ajudas militares dos EUA.

Mas os engenheiros militares ucranianos já mostraram habilidades surpreendentes ao adaptar sistemas de armamentos antigos para um poder de fogo mais moderno. E apenas no ano passado as empresas ucranianas de defesa construíram três vezes mais veículos blindados do que antes da guerra e quadruplicaram a produção de mísseis antitanque, de acordo com documentos do governo ucraniano analisados pelo The New York Times.

O financiamento para pesquisa e desenvolvimento está previsto para aumentar oito vezes este ano — de US$ 162 milhões para US$ 1,3 bilhão — de acordo com uma análise do orçamento militar da Ucrânia até 2030 realizada pela firma de inteligência em defesa Janes. Os contratos de aquisição de equipamentos militares saltaram para uma previsão recorde em 20 anos, de aproximadamente US$ 10 bilhões em 2023, em comparação com um registro anterior à guerra de cerca de US$ 1 bilhão ao ano.

“Nós dizemos que a morte do inimigo começa conosco”, afirmou o ministro ucraniano de Indústrias Estratégicas, Alexander Kamishin, em entrevista concedida no mês passado, em seu gabinete, em um discreto edifício de tijolos em Kiev escondido entre restaurantes e condomínios residenciais.

“Para mostrar que nós não ficamos sentados esperando vocês virem nos ajudar”, afirmou Kamishin. “Para tentar fazer as coisas com nossas próprias mãos.”

Alguns armamentos estão se revelando mais difíceis de produzir na Ucrânia do que outros. Entre eles, os projéteis de artilharia de 155 milímetros, que são incrivelmente necessários no campo de batalha mas cuja produção depende de matérias-primas importadas e direitos de licenciamento de fabricantes ou governos ocidentais. Kamishin afirmou que a produção doméstica de projéteis de 155 milímetros está “a caminho”, mas não estimou quando se concretizará.

Antes uma grande fornecedora à União Soviética, a indústria de defesa da Ucrânia encolheu ao longo de três décadas de cortes de orçamento depois que o país declarou independência, em 1991. Agora o governo em Kiev planeja gastar cerca de US$ 6 bilhões este ano em armamentos fabricados na Ucrânia, incluindo um milhão de drones, mas, afirmou Kamishin, “nossa capacidade de produção é maior do que os fundos que temos disponíveis”.

Pode ser difícil superar o longo período de declínio. Para reativar a produção dos canhões de artilharia Bohdana 2S22, por exemplo, as autoridades tiveram que localizar os projetistas e engenheiros originais, alguns deles acionados em missões militares menores, espalhados por toda a Ucrânia.

Engenheiros instalam antenas em um drone terrestre na região de Kiev, Ucrâniaem 7 de fevereiro de 2024 Foto: Evgeniy Maloletka/AP

Em junho de 2022, as forças ucranianas usaram o alcance de 48 quilômetros do Bohdana para destruir defesas antiaéreas russas na bem-sucedida batalha pela Ilha da Cobra, no Mar Negro.

“Foi uma surpresa muito grande para os russos”, afirmou o major Miroslav Hai, um dos oficiais de operações especiais que ajudou a libertar a ilha. “Eles não podiam entender como alguém conseguia usar artilharia àquela distância.”

Na Europa, líderes políticos que se preocupam com a erosão do apoio americano e executivos de empresas que percebem novas oportunidades de mercado estão promovendo empreendimentos de manufatura militar na Ucrânia, mesmo que possa levar vários anos até que essas armas ou equipamentos cheguem ao campo de batalha.

A gigante alemã da indústria armamentista Rheinmetall e o fabricante turco de drones Baykar estão no processo de construção de fábricas na Ucrânia. O ministro da Defesa da França afirmou em março que três empresas francesas que produzem drones e equipamentos de guerra terrestre estavam próximas de acordos similares. No mês passado, França e Alemanha anunciaram um empreendimento conjunto por meio do conglomerado de defesa KNDS para construir componentes de tanques e obuses — e, eventualmente, sistemas completos de armamentos.

Especialistas afirmam que as Forças Armadas ucranianas posicionaram sistemas de defesa antiaérea em torno de suas fábricas de armamentos mais críticas. É provável que grandes manufaturas sejam construídas com financiamento estrangeiro no oeste ucraniano, longe das linhas de frente mas também protegidas por defesas antiaéreas.

Christian Seear, diretor de operações na Ucrânia do fabricante de equipamentos militares BAE Systems, com sede no Reino Unido, afirmou que os movimentos gestados por empresas estrangeiras mandam “uma mensagem crítica: você pode entrar na Ucrânia e montar sua manufatura”.

Além de buscar fabricar armas na Ucrânia, afirmou Seear, a BAE Systems tem foco atualmente em uma abordagem “reparos para o futuro”, para consertar armamentos danificados em fábricas dentro da Ucrânia e devolvê-las às linhas de frente mais rapidamente. Muitas das armas da guerra terrestre na Ucrânia — incluindo os obuses M777 e Archer, os veículos de combate Bradley e CV90 e os tanques Challenger 2 — são fabricados pela BAE Systems.

“Nós queremos manter esses equipamentos em condições de combate, e está ficando bastante claro que é impossível continuar fazendo sua manutenção em países vizinhos”, afirmou Seear. “Não é aceitável em uma guerra de desgaste ter centenas de obuses confiáveis, de alta qualidade, tendo de viajar centenas de quilômetros.”

Até aqui, afirmaram autoridades ucranianas e americanas, nenhum grande fabricante de armamentos americano anunciou planos de abrir linhas de produção na Ucrânia. Contudo, alguns executivos importantes têm visitado Kiev nas semanas recentes para se encontrar com Kamishin e outras autoridades, e o governo Biden organizou reuniões em dezembro para apresentar líderes ucranianos a fornecedores de equipamentos militares americanos.

Cartuchos de morteiro são vistos em uma fábrica na Ucrânia em 31 de janeiro de 2024 Foto: Evgeniy Maloletka/AP

Ajudar a Ucrânia a reconstruir sua indústria de defesa tornou-se ainda mais vital enquanto os republicanos bloqueiam no Congresso uma ajuda militar e financeira de US$ 60 bilhões à Ucrânia. (Apesar de o presidente da Câmara dos Deputados, o republicano Mike Johnson, de Louisiana, ter sinalizado recentemente que está buscando maneiras palatáveis politicamente para levar o pacote de ajuda à votação.)

Mas uma rede de burocracia em Kiev ameaça fazer alguns investidores tirarem o pé do acelerador conforme buscam avançar com propostas em pelo menos três ministérios: da Defesa, da Transformação Digital e das Indústrias Estratégicas, de Kamishin.

“Nós estamos tentando entender como tudo isso se encaixa e como eles trabalham juntos”, afirmou o ex-embaixador americano em Kiev William Taylor, que lidera um esforço do Instituto de Paz dos EUA para ajudar a estabelecer conexões entre empresas de defesa americanas e ucranianas.

“As empresas americanas têm muitas oportunidades para investir em outros lugares em todo o mundo”, afirmou Taylor. “A Ucrânia é um lugar onde interesses americanos estão em jogo, portanto é por isso que nós faríamos um esforço maior para ajudar a fazer essas conexões.”

Já que projéteis de artilharia de calibre 155 milímetros são tão urgentemente necessários, Taylor sugeriu que um empreendimento conjunto inicial entre empresas ucranianas e americanas poderia ter foco em aumentar sua produção.

Fabricantes europeus já se aventuram nesse mercado.

Um trabalhador coloca números de série em um projétil de morteiro em uma fábrica na Ucrânia Foto: Evgeniy Maloletka/AP

“Se os europeus se envolverem nesse desenvolvimento nos volumes que prometem, acho que com o tempo resolveremos o problema da ‘fome de projéteis’”, afirmou o comandante das Forças Armadas da Ucrânia, Oleksandr Sirskii, à imprensa estatal ucraniana, segundo uma entrevista publicada na sexta-feira.

Apesar dos fabricantes ucranianos estarem proibidos de exportar armamentos até que a guerra acabe, Kamishin parece ávido para competir com manufaturas de armas estrangeiras.

Orador persuasivo, com cavanhaque e topete em estilo tradicional dos cossacos ucranianos, Kamishin pertence ao que Taylor descreveu como uma nova geração de líderes ucranianos — aos 39 anos, é um jovem prodígio, que ascendeu rapidamente nos quadros do governos.

Após sua nomeação como ministro, em março de 2023, Kamishin visitou quase todas as fábricas de armamentos na Ucrânia e disse ter encontrado uma indústria que precisa seriamente de uma reforma. Funcionários trabalhavam em fábricas danificadas em alguns lugares; em outros, foguetes eram construídos a mão.

Apesar de afirmar que a indústria se move com menos percalços atualmente, Kamishin ainda recebe boletins diários a respeito de linhas de montagem para identificar rapidamente máquinas quebradas ou danificadas e consertá-las prontamente.

“Estamos fazendo as coisas mais rapidamente e com menos custos, e está funcionando”, afirmou Kamishin na entrevista, que pareceu tanto uma propaganda de vendas de armas fabricadas domesticamente quanto uma discussão a respeito de investimentos estrangeiros.

“Nós nos juntaremos a vocês e à Otan algum dia”, afirmou Kamishin confiante. “Portanto, se vocês compram de nós, estão construindo habilidades, e isso se tornará parte de nossas capacidades conjuntas algum dia. Então por que não investir nas suas próprias capacidades conjuntas?” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

As Forças Armadas da Ucrânia tinham apenas um canhão de artilharia Bohdana quando a Rússia invadiu, dois anos atrás. Mas aquela única arma, construída na Ucrânia em 2018 e capaz de disparar projéteis do mesmo calibre dos usados pela Otan, provou-se tão eficaz nos primeiros dias da guerra que foi levado a campos de batalha em todo o país, da cidade de Kharkiv, no nordeste, à costa sudoeste, ao longo do Mar Negro e em pontos no meio do caminho.

Agora, a indústria armamentista da Ucrânia está construindo oito sistemas de artilharia autopropelida Bohdana mensalmente, e apesar das autoridades não informarem quantos foram fabricados no total, o aumento na produção sinaliza uma possível explosão na produção doméstica de armas.

O incremento ocorre em um momento crítico. A máquina de guerra russa já está quadruplicando sua produção de armamentos em operações contínuas. As forças ucranianas estão perdendo território de regiões cruciais, incluindo a estratégica cidade de Avdiivka, no leste, de onde se retiraram em fevereiro. Um pacote de ajuda dos Estados Unidos ainda está empacado no Congresso. E ainda que empresas de defesa europeias estejam, mesmo que cautelosamente, abrindo operações na Ucrânia, grandes fabricantes de armas americanos ainda não se comprometeram em erguer instalações em meio a uma guerra.

Um trabalhador arma projéteis de morteiro em uma fábrica en 31 de janeiro de 2024, na Ucrânia  Foto: Evgeniy Maloletka/AP

Quase todos concordam que a Ucrânia precisa reconstruir sua indústria doméstica de defesa para que suas Forças Armadas não tenham de depender por anos a fio do Ocidente, que certas vezes hesitou em enviar sistemas sofisticados de armamentos — incluindo defesas antiaéreas, tanques e mísseis de longo alcance. Resta ver se isso pode ser feito a tempo para alterar a trajetória de uma guerra que seria muito menos intensa sem mais ajudas militares dos EUA.

Mas os engenheiros militares ucranianos já mostraram habilidades surpreendentes ao adaptar sistemas de armamentos antigos para um poder de fogo mais moderno. E apenas no ano passado as empresas ucranianas de defesa construíram três vezes mais veículos blindados do que antes da guerra e quadruplicaram a produção de mísseis antitanque, de acordo com documentos do governo ucraniano analisados pelo The New York Times.

O financiamento para pesquisa e desenvolvimento está previsto para aumentar oito vezes este ano — de US$ 162 milhões para US$ 1,3 bilhão — de acordo com uma análise do orçamento militar da Ucrânia até 2030 realizada pela firma de inteligência em defesa Janes. Os contratos de aquisição de equipamentos militares saltaram para uma previsão recorde em 20 anos, de aproximadamente US$ 10 bilhões em 2023, em comparação com um registro anterior à guerra de cerca de US$ 1 bilhão ao ano.

“Nós dizemos que a morte do inimigo começa conosco”, afirmou o ministro ucraniano de Indústrias Estratégicas, Alexander Kamishin, em entrevista concedida no mês passado, em seu gabinete, em um discreto edifício de tijolos em Kiev escondido entre restaurantes e condomínios residenciais.

“Para mostrar que nós não ficamos sentados esperando vocês virem nos ajudar”, afirmou Kamishin. “Para tentar fazer as coisas com nossas próprias mãos.”

Alguns armamentos estão se revelando mais difíceis de produzir na Ucrânia do que outros. Entre eles, os projéteis de artilharia de 155 milímetros, que são incrivelmente necessários no campo de batalha mas cuja produção depende de matérias-primas importadas e direitos de licenciamento de fabricantes ou governos ocidentais. Kamishin afirmou que a produção doméstica de projéteis de 155 milímetros está “a caminho”, mas não estimou quando se concretizará.

Antes uma grande fornecedora à União Soviética, a indústria de defesa da Ucrânia encolheu ao longo de três décadas de cortes de orçamento depois que o país declarou independência, em 1991. Agora o governo em Kiev planeja gastar cerca de US$ 6 bilhões este ano em armamentos fabricados na Ucrânia, incluindo um milhão de drones, mas, afirmou Kamishin, “nossa capacidade de produção é maior do que os fundos que temos disponíveis”.

Pode ser difícil superar o longo período de declínio. Para reativar a produção dos canhões de artilharia Bohdana 2S22, por exemplo, as autoridades tiveram que localizar os projetistas e engenheiros originais, alguns deles acionados em missões militares menores, espalhados por toda a Ucrânia.

Engenheiros instalam antenas em um drone terrestre na região de Kiev, Ucrâniaem 7 de fevereiro de 2024 Foto: Evgeniy Maloletka/AP

Em junho de 2022, as forças ucranianas usaram o alcance de 48 quilômetros do Bohdana para destruir defesas antiaéreas russas na bem-sucedida batalha pela Ilha da Cobra, no Mar Negro.

“Foi uma surpresa muito grande para os russos”, afirmou o major Miroslav Hai, um dos oficiais de operações especiais que ajudou a libertar a ilha. “Eles não podiam entender como alguém conseguia usar artilharia àquela distância.”

Na Europa, líderes políticos que se preocupam com a erosão do apoio americano e executivos de empresas que percebem novas oportunidades de mercado estão promovendo empreendimentos de manufatura militar na Ucrânia, mesmo que possa levar vários anos até que essas armas ou equipamentos cheguem ao campo de batalha.

A gigante alemã da indústria armamentista Rheinmetall e o fabricante turco de drones Baykar estão no processo de construção de fábricas na Ucrânia. O ministro da Defesa da França afirmou em março que três empresas francesas que produzem drones e equipamentos de guerra terrestre estavam próximas de acordos similares. No mês passado, França e Alemanha anunciaram um empreendimento conjunto por meio do conglomerado de defesa KNDS para construir componentes de tanques e obuses — e, eventualmente, sistemas completos de armamentos.

Especialistas afirmam que as Forças Armadas ucranianas posicionaram sistemas de defesa antiaérea em torno de suas fábricas de armamentos mais críticas. É provável que grandes manufaturas sejam construídas com financiamento estrangeiro no oeste ucraniano, longe das linhas de frente mas também protegidas por defesas antiaéreas.

Christian Seear, diretor de operações na Ucrânia do fabricante de equipamentos militares BAE Systems, com sede no Reino Unido, afirmou que os movimentos gestados por empresas estrangeiras mandam “uma mensagem crítica: você pode entrar na Ucrânia e montar sua manufatura”.

Além de buscar fabricar armas na Ucrânia, afirmou Seear, a BAE Systems tem foco atualmente em uma abordagem “reparos para o futuro”, para consertar armamentos danificados em fábricas dentro da Ucrânia e devolvê-las às linhas de frente mais rapidamente. Muitas das armas da guerra terrestre na Ucrânia — incluindo os obuses M777 e Archer, os veículos de combate Bradley e CV90 e os tanques Challenger 2 — são fabricados pela BAE Systems.

“Nós queremos manter esses equipamentos em condições de combate, e está ficando bastante claro que é impossível continuar fazendo sua manutenção em países vizinhos”, afirmou Seear. “Não é aceitável em uma guerra de desgaste ter centenas de obuses confiáveis, de alta qualidade, tendo de viajar centenas de quilômetros.”

Até aqui, afirmaram autoridades ucranianas e americanas, nenhum grande fabricante de armamentos americano anunciou planos de abrir linhas de produção na Ucrânia. Contudo, alguns executivos importantes têm visitado Kiev nas semanas recentes para se encontrar com Kamishin e outras autoridades, e o governo Biden organizou reuniões em dezembro para apresentar líderes ucranianos a fornecedores de equipamentos militares americanos.

Cartuchos de morteiro são vistos em uma fábrica na Ucrânia em 31 de janeiro de 2024 Foto: Evgeniy Maloletka/AP

Ajudar a Ucrânia a reconstruir sua indústria de defesa tornou-se ainda mais vital enquanto os republicanos bloqueiam no Congresso uma ajuda militar e financeira de US$ 60 bilhões à Ucrânia. (Apesar de o presidente da Câmara dos Deputados, o republicano Mike Johnson, de Louisiana, ter sinalizado recentemente que está buscando maneiras palatáveis politicamente para levar o pacote de ajuda à votação.)

Mas uma rede de burocracia em Kiev ameaça fazer alguns investidores tirarem o pé do acelerador conforme buscam avançar com propostas em pelo menos três ministérios: da Defesa, da Transformação Digital e das Indústrias Estratégicas, de Kamishin.

“Nós estamos tentando entender como tudo isso se encaixa e como eles trabalham juntos”, afirmou o ex-embaixador americano em Kiev William Taylor, que lidera um esforço do Instituto de Paz dos EUA para ajudar a estabelecer conexões entre empresas de defesa americanas e ucranianas.

“As empresas americanas têm muitas oportunidades para investir em outros lugares em todo o mundo”, afirmou Taylor. “A Ucrânia é um lugar onde interesses americanos estão em jogo, portanto é por isso que nós faríamos um esforço maior para ajudar a fazer essas conexões.”

Já que projéteis de artilharia de calibre 155 milímetros são tão urgentemente necessários, Taylor sugeriu que um empreendimento conjunto inicial entre empresas ucranianas e americanas poderia ter foco em aumentar sua produção.

Fabricantes europeus já se aventuram nesse mercado.

Um trabalhador coloca números de série em um projétil de morteiro em uma fábrica na Ucrânia Foto: Evgeniy Maloletka/AP

“Se os europeus se envolverem nesse desenvolvimento nos volumes que prometem, acho que com o tempo resolveremos o problema da ‘fome de projéteis’”, afirmou o comandante das Forças Armadas da Ucrânia, Oleksandr Sirskii, à imprensa estatal ucraniana, segundo uma entrevista publicada na sexta-feira.

Apesar dos fabricantes ucranianos estarem proibidos de exportar armamentos até que a guerra acabe, Kamishin parece ávido para competir com manufaturas de armas estrangeiras.

Orador persuasivo, com cavanhaque e topete em estilo tradicional dos cossacos ucranianos, Kamishin pertence ao que Taylor descreveu como uma nova geração de líderes ucranianos — aos 39 anos, é um jovem prodígio, que ascendeu rapidamente nos quadros do governos.

Após sua nomeação como ministro, em março de 2023, Kamishin visitou quase todas as fábricas de armamentos na Ucrânia e disse ter encontrado uma indústria que precisa seriamente de uma reforma. Funcionários trabalhavam em fábricas danificadas em alguns lugares; em outros, foguetes eram construídos a mão.

Apesar de afirmar que a indústria se move com menos percalços atualmente, Kamishin ainda recebe boletins diários a respeito de linhas de montagem para identificar rapidamente máquinas quebradas ou danificadas e consertá-las prontamente.

“Estamos fazendo as coisas mais rapidamente e com menos custos, e está funcionando”, afirmou Kamishin na entrevista, que pareceu tanto uma propaganda de vendas de armas fabricadas domesticamente quanto uma discussão a respeito de investimentos estrangeiros.

“Nós nos juntaremos a vocês e à Otan algum dia”, afirmou Kamishin confiante. “Portanto, se vocês compram de nós, estão construindo habilidades, e isso se tornará parte de nossas capacidades conjuntas algum dia. Então por que não investir nas suas próprias capacidades conjuntas?” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

As Forças Armadas da Ucrânia tinham apenas um canhão de artilharia Bohdana quando a Rússia invadiu, dois anos atrás. Mas aquela única arma, construída na Ucrânia em 2018 e capaz de disparar projéteis do mesmo calibre dos usados pela Otan, provou-se tão eficaz nos primeiros dias da guerra que foi levado a campos de batalha em todo o país, da cidade de Kharkiv, no nordeste, à costa sudoeste, ao longo do Mar Negro e em pontos no meio do caminho.

Agora, a indústria armamentista da Ucrânia está construindo oito sistemas de artilharia autopropelida Bohdana mensalmente, e apesar das autoridades não informarem quantos foram fabricados no total, o aumento na produção sinaliza uma possível explosão na produção doméstica de armas.

O incremento ocorre em um momento crítico. A máquina de guerra russa já está quadruplicando sua produção de armamentos em operações contínuas. As forças ucranianas estão perdendo território de regiões cruciais, incluindo a estratégica cidade de Avdiivka, no leste, de onde se retiraram em fevereiro. Um pacote de ajuda dos Estados Unidos ainda está empacado no Congresso. E ainda que empresas de defesa europeias estejam, mesmo que cautelosamente, abrindo operações na Ucrânia, grandes fabricantes de armas americanos ainda não se comprometeram em erguer instalações em meio a uma guerra.

Um trabalhador arma projéteis de morteiro em uma fábrica en 31 de janeiro de 2024, na Ucrânia  Foto: Evgeniy Maloletka/AP

Quase todos concordam que a Ucrânia precisa reconstruir sua indústria doméstica de defesa para que suas Forças Armadas não tenham de depender por anos a fio do Ocidente, que certas vezes hesitou em enviar sistemas sofisticados de armamentos — incluindo defesas antiaéreas, tanques e mísseis de longo alcance. Resta ver se isso pode ser feito a tempo para alterar a trajetória de uma guerra que seria muito menos intensa sem mais ajudas militares dos EUA.

Mas os engenheiros militares ucranianos já mostraram habilidades surpreendentes ao adaptar sistemas de armamentos antigos para um poder de fogo mais moderno. E apenas no ano passado as empresas ucranianas de defesa construíram três vezes mais veículos blindados do que antes da guerra e quadruplicaram a produção de mísseis antitanque, de acordo com documentos do governo ucraniano analisados pelo The New York Times.

O financiamento para pesquisa e desenvolvimento está previsto para aumentar oito vezes este ano — de US$ 162 milhões para US$ 1,3 bilhão — de acordo com uma análise do orçamento militar da Ucrânia até 2030 realizada pela firma de inteligência em defesa Janes. Os contratos de aquisição de equipamentos militares saltaram para uma previsão recorde em 20 anos, de aproximadamente US$ 10 bilhões em 2023, em comparação com um registro anterior à guerra de cerca de US$ 1 bilhão ao ano.

“Nós dizemos que a morte do inimigo começa conosco”, afirmou o ministro ucraniano de Indústrias Estratégicas, Alexander Kamishin, em entrevista concedida no mês passado, em seu gabinete, em um discreto edifício de tijolos em Kiev escondido entre restaurantes e condomínios residenciais.

“Para mostrar que nós não ficamos sentados esperando vocês virem nos ajudar”, afirmou Kamishin. “Para tentar fazer as coisas com nossas próprias mãos.”

Alguns armamentos estão se revelando mais difíceis de produzir na Ucrânia do que outros. Entre eles, os projéteis de artilharia de 155 milímetros, que são incrivelmente necessários no campo de batalha mas cuja produção depende de matérias-primas importadas e direitos de licenciamento de fabricantes ou governos ocidentais. Kamishin afirmou que a produção doméstica de projéteis de 155 milímetros está “a caminho”, mas não estimou quando se concretizará.

Antes uma grande fornecedora à União Soviética, a indústria de defesa da Ucrânia encolheu ao longo de três décadas de cortes de orçamento depois que o país declarou independência, em 1991. Agora o governo em Kiev planeja gastar cerca de US$ 6 bilhões este ano em armamentos fabricados na Ucrânia, incluindo um milhão de drones, mas, afirmou Kamishin, “nossa capacidade de produção é maior do que os fundos que temos disponíveis”.

Pode ser difícil superar o longo período de declínio. Para reativar a produção dos canhões de artilharia Bohdana 2S22, por exemplo, as autoridades tiveram que localizar os projetistas e engenheiros originais, alguns deles acionados em missões militares menores, espalhados por toda a Ucrânia.

Engenheiros instalam antenas em um drone terrestre na região de Kiev, Ucrâniaem 7 de fevereiro de 2024 Foto: Evgeniy Maloletka/AP

Em junho de 2022, as forças ucranianas usaram o alcance de 48 quilômetros do Bohdana para destruir defesas antiaéreas russas na bem-sucedida batalha pela Ilha da Cobra, no Mar Negro.

“Foi uma surpresa muito grande para os russos”, afirmou o major Miroslav Hai, um dos oficiais de operações especiais que ajudou a libertar a ilha. “Eles não podiam entender como alguém conseguia usar artilharia àquela distância.”

Na Europa, líderes políticos que se preocupam com a erosão do apoio americano e executivos de empresas que percebem novas oportunidades de mercado estão promovendo empreendimentos de manufatura militar na Ucrânia, mesmo que possa levar vários anos até que essas armas ou equipamentos cheguem ao campo de batalha.

A gigante alemã da indústria armamentista Rheinmetall e o fabricante turco de drones Baykar estão no processo de construção de fábricas na Ucrânia. O ministro da Defesa da França afirmou em março que três empresas francesas que produzem drones e equipamentos de guerra terrestre estavam próximas de acordos similares. No mês passado, França e Alemanha anunciaram um empreendimento conjunto por meio do conglomerado de defesa KNDS para construir componentes de tanques e obuses — e, eventualmente, sistemas completos de armamentos.

Especialistas afirmam que as Forças Armadas ucranianas posicionaram sistemas de defesa antiaérea em torno de suas fábricas de armamentos mais críticas. É provável que grandes manufaturas sejam construídas com financiamento estrangeiro no oeste ucraniano, longe das linhas de frente mas também protegidas por defesas antiaéreas.

Christian Seear, diretor de operações na Ucrânia do fabricante de equipamentos militares BAE Systems, com sede no Reino Unido, afirmou que os movimentos gestados por empresas estrangeiras mandam “uma mensagem crítica: você pode entrar na Ucrânia e montar sua manufatura”.

Além de buscar fabricar armas na Ucrânia, afirmou Seear, a BAE Systems tem foco atualmente em uma abordagem “reparos para o futuro”, para consertar armamentos danificados em fábricas dentro da Ucrânia e devolvê-las às linhas de frente mais rapidamente. Muitas das armas da guerra terrestre na Ucrânia — incluindo os obuses M777 e Archer, os veículos de combate Bradley e CV90 e os tanques Challenger 2 — são fabricados pela BAE Systems.

“Nós queremos manter esses equipamentos em condições de combate, e está ficando bastante claro que é impossível continuar fazendo sua manutenção em países vizinhos”, afirmou Seear. “Não é aceitável em uma guerra de desgaste ter centenas de obuses confiáveis, de alta qualidade, tendo de viajar centenas de quilômetros.”

Até aqui, afirmaram autoridades ucranianas e americanas, nenhum grande fabricante de armamentos americano anunciou planos de abrir linhas de produção na Ucrânia. Contudo, alguns executivos importantes têm visitado Kiev nas semanas recentes para se encontrar com Kamishin e outras autoridades, e o governo Biden organizou reuniões em dezembro para apresentar líderes ucranianos a fornecedores de equipamentos militares americanos.

Cartuchos de morteiro são vistos em uma fábrica na Ucrânia em 31 de janeiro de 2024 Foto: Evgeniy Maloletka/AP

Ajudar a Ucrânia a reconstruir sua indústria de defesa tornou-se ainda mais vital enquanto os republicanos bloqueiam no Congresso uma ajuda militar e financeira de US$ 60 bilhões à Ucrânia. (Apesar de o presidente da Câmara dos Deputados, o republicano Mike Johnson, de Louisiana, ter sinalizado recentemente que está buscando maneiras palatáveis politicamente para levar o pacote de ajuda à votação.)

Mas uma rede de burocracia em Kiev ameaça fazer alguns investidores tirarem o pé do acelerador conforme buscam avançar com propostas em pelo menos três ministérios: da Defesa, da Transformação Digital e das Indústrias Estratégicas, de Kamishin.

“Nós estamos tentando entender como tudo isso se encaixa e como eles trabalham juntos”, afirmou o ex-embaixador americano em Kiev William Taylor, que lidera um esforço do Instituto de Paz dos EUA para ajudar a estabelecer conexões entre empresas de defesa americanas e ucranianas.

“As empresas americanas têm muitas oportunidades para investir em outros lugares em todo o mundo”, afirmou Taylor. “A Ucrânia é um lugar onde interesses americanos estão em jogo, portanto é por isso que nós faríamos um esforço maior para ajudar a fazer essas conexões.”

Já que projéteis de artilharia de calibre 155 milímetros são tão urgentemente necessários, Taylor sugeriu que um empreendimento conjunto inicial entre empresas ucranianas e americanas poderia ter foco em aumentar sua produção.

Fabricantes europeus já se aventuram nesse mercado.

Um trabalhador coloca números de série em um projétil de morteiro em uma fábrica na Ucrânia Foto: Evgeniy Maloletka/AP

“Se os europeus se envolverem nesse desenvolvimento nos volumes que prometem, acho que com o tempo resolveremos o problema da ‘fome de projéteis’”, afirmou o comandante das Forças Armadas da Ucrânia, Oleksandr Sirskii, à imprensa estatal ucraniana, segundo uma entrevista publicada na sexta-feira.

Apesar dos fabricantes ucranianos estarem proibidos de exportar armamentos até que a guerra acabe, Kamishin parece ávido para competir com manufaturas de armas estrangeiras.

Orador persuasivo, com cavanhaque e topete em estilo tradicional dos cossacos ucranianos, Kamishin pertence ao que Taylor descreveu como uma nova geração de líderes ucranianos — aos 39 anos, é um jovem prodígio, que ascendeu rapidamente nos quadros do governos.

Após sua nomeação como ministro, em março de 2023, Kamishin visitou quase todas as fábricas de armamentos na Ucrânia e disse ter encontrado uma indústria que precisa seriamente de uma reforma. Funcionários trabalhavam em fábricas danificadas em alguns lugares; em outros, foguetes eram construídos a mão.

Apesar de afirmar que a indústria se move com menos percalços atualmente, Kamishin ainda recebe boletins diários a respeito de linhas de montagem para identificar rapidamente máquinas quebradas ou danificadas e consertá-las prontamente.

“Estamos fazendo as coisas mais rapidamente e com menos custos, e está funcionando”, afirmou Kamishin na entrevista, que pareceu tanto uma propaganda de vendas de armas fabricadas domesticamente quanto uma discussão a respeito de investimentos estrangeiros.

“Nós nos juntaremos a vocês e à Otan algum dia”, afirmou Kamishin confiante. “Portanto, se vocês compram de nós, estão construindo habilidades, e isso se tornará parte de nossas capacidades conjuntas algum dia. Então por que não investir nas suas próprias capacidades conjuntas?” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

As Forças Armadas da Ucrânia tinham apenas um canhão de artilharia Bohdana quando a Rússia invadiu, dois anos atrás. Mas aquela única arma, construída na Ucrânia em 2018 e capaz de disparar projéteis do mesmo calibre dos usados pela Otan, provou-se tão eficaz nos primeiros dias da guerra que foi levado a campos de batalha em todo o país, da cidade de Kharkiv, no nordeste, à costa sudoeste, ao longo do Mar Negro e em pontos no meio do caminho.

Agora, a indústria armamentista da Ucrânia está construindo oito sistemas de artilharia autopropelida Bohdana mensalmente, e apesar das autoridades não informarem quantos foram fabricados no total, o aumento na produção sinaliza uma possível explosão na produção doméstica de armas.

O incremento ocorre em um momento crítico. A máquina de guerra russa já está quadruplicando sua produção de armamentos em operações contínuas. As forças ucranianas estão perdendo território de regiões cruciais, incluindo a estratégica cidade de Avdiivka, no leste, de onde se retiraram em fevereiro. Um pacote de ajuda dos Estados Unidos ainda está empacado no Congresso. E ainda que empresas de defesa europeias estejam, mesmo que cautelosamente, abrindo operações na Ucrânia, grandes fabricantes de armas americanos ainda não se comprometeram em erguer instalações em meio a uma guerra.

Um trabalhador arma projéteis de morteiro em uma fábrica en 31 de janeiro de 2024, na Ucrânia  Foto: Evgeniy Maloletka/AP

Quase todos concordam que a Ucrânia precisa reconstruir sua indústria doméstica de defesa para que suas Forças Armadas não tenham de depender por anos a fio do Ocidente, que certas vezes hesitou em enviar sistemas sofisticados de armamentos — incluindo defesas antiaéreas, tanques e mísseis de longo alcance. Resta ver se isso pode ser feito a tempo para alterar a trajetória de uma guerra que seria muito menos intensa sem mais ajudas militares dos EUA.

Mas os engenheiros militares ucranianos já mostraram habilidades surpreendentes ao adaptar sistemas de armamentos antigos para um poder de fogo mais moderno. E apenas no ano passado as empresas ucranianas de defesa construíram três vezes mais veículos blindados do que antes da guerra e quadruplicaram a produção de mísseis antitanque, de acordo com documentos do governo ucraniano analisados pelo The New York Times.

O financiamento para pesquisa e desenvolvimento está previsto para aumentar oito vezes este ano — de US$ 162 milhões para US$ 1,3 bilhão — de acordo com uma análise do orçamento militar da Ucrânia até 2030 realizada pela firma de inteligência em defesa Janes. Os contratos de aquisição de equipamentos militares saltaram para uma previsão recorde em 20 anos, de aproximadamente US$ 10 bilhões em 2023, em comparação com um registro anterior à guerra de cerca de US$ 1 bilhão ao ano.

“Nós dizemos que a morte do inimigo começa conosco”, afirmou o ministro ucraniano de Indústrias Estratégicas, Alexander Kamishin, em entrevista concedida no mês passado, em seu gabinete, em um discreto edifício de tijolos em Kiev escondido entre restaurantes e condomínios residenciais.

“Para mostrar que nós não ficamos sentados esperando vocês virem nos ajudar”, afirmou Kamishin. “Para tentar fazer as coisas com nossas próprias mãos.”

Alguns armamentos estão se revelando mais difíceis de produzir na Ucrânia do que outros. Entre eles, os projéteis de artilharia de 155 milímetros, que são incrivelmente necessários no campo de batalha mas cuja produção depende de matérias-primas importadas e direitos de licenciamento de fabricantes ou governos ocidentais. Kamishin afirmou que a produção doméstica de projéteis de 155 milímetros está “a caminho”, mas não estimou quando se concretizará.

Antes uma grande fornecedora à União Soviética, a indústria de defesa da Ucrânia encolheu ao longo de três décadas de cortes de orçamento depois que o país declarou independência, em 1991. Agora o governo em Kiev planeja gastar cerca de US$ 6 bilhões este ano em armamentos fabricados na Ucrânia, incluindo um milhão de drones, mas, afirmou Kamishin, “nossa capacidade de produção é maior do que os fundos que temos disponíveis”.

Pode ser difícil superar o longo período de declínio. Para reativar a produção dos canhões de artilharia Bohdana 2S22, por exemplo, as autoridades tiveram que localizar os projetistas e engenheiros originais, alguns deles acionados em missões militares menores, espalhados por toda a Ucrânia.

Engenheiros instalam antenas em um drone terrestre na região de Kiev, Ucrâniaem 7 de fevereiro de 2024 Foto: Evgeniy Maloletka/AP

Em junho de 2022, as forças ucranianas usaram o alcance de 48 quilômetros do Bohdana para destruir defesas antiaéreas russas na bem-sucedida batalha pela Ilha da Cobra, no Mar Negro.

“Foi uma surpresa muito grande para os russos”, afirmou o major Miroslav Hai, um dos oficiais de operações especiais que ajudou a libertar a ilha. “Eles não podiam entender como alguém conseguia usar artilharia àquela distância.”

Na Europa, líderes políticos que se preocupam com a erosão do apoio americano e executivos de empresas que percebem novas oportunidades de mercado estão promovendo empreendimentos de manufatura militar na Ucrânia, mesmo que possa levar vários anos até que essas armas ou equipamentos cheguem ao campo de batalha.

A gigante alemã da indústria armamentista Rheinmetall e o fabricante turco de drones Baykar estão no processo de construção de fábricas na Ucrânia. O ministro da Defesa da França afirmou em março que três empresas francesas que produzem drones e equipamentos de guerra terrestre estavam próximas de acordos similares. No mês passado, França e Alemanha anunciaram um empreendimento conjunto por meio do conglomerado de defesa KNDS para construir componentes de tanques e obuses — e, eventualmente, sistemas completos de armamentos.

Especialistas afirmam que as Forças Armadas ucranianas posicionaram sistemas de defesa antiaérea em torno de suas fábricas de armamentos mais críticas. É provável que grandes manufaturas sejam construídas com financiamento estrangeiro no oeste ucraniano, longe das linhas de frente mas também protegidas por defesas antiaéreas.

Christian Seear, diretor de operações na Ucrânia do fabricante de equipamentos militares BAE Systems, com sede no Reino Unido, afirmou que os movimentos gestados por empresas estrangeiras mandam “uma mensagem crítica: você pode entrar na Ucrânia e montar sua manufatura”.

Além de buscar fabricar armas na Ucrânia, afirmou Seear, a BAE Systems tem foco atualmente em uma abordagem “reparos para o futuro”, para consertar armamentos danificados em fábricas dentro da Ucrânia e devolvê-las às linhas de frente mais rapidamente. Muitas das armas da guerra terrestre na Ucrânia — incluindo os obuses M777 e Archer, os veículos de combate Bradley e CV90 e os tanques Challenger 2 — são fabricados pela BAE Systems.

“Nós queremos manter esses equipamentos em condições de combate, e está ficando bastante claro que é impossível continuar fazendo sua manutenção em países vizinhos”, afirmou Seear. “Não é aceitável em uma guerra de desgaste ter centenas de obuses confiáveis, de alta qualidade, tendo de viajar centenas de quilômetros.”

Até aqui, afirmaram autoridades ucranianas e americanas, nenhum grande fabricante de armamentos americano anunciou planos de abrir linhas de produção na Ucrânia. Contudo, alguns executivos importantes têm visitado Kiev nas semanas recentes para se encontrar com Kamishin e outras autoridades, e o governo Biden organizou reuniões em dezembro para apresentar líderes ucranianos a fornecedores de equipamentos militares americanos.

Cartuchos de morteiro são vistos em uma fábrica na Ucrânia em 31 de janeiro de 2024 Foto: Evgeniy Maloletka/AP

Ajudar a Ucrânia a reconstruir sua indústria de defesa tornou-se ainda mais vital enquanto os republicanos bloqueiam no Congresso uma ajuda militar e financeira de US$ 60 bilhões à Ucrânia. (Apesar de o presidente da Câmara dos Deputados, o republicano Mike Johnson, de Louisiana, ter sinalizado recentemente que está buscando maneiras palatáveis politicamente para levar o pacote de ajuda à votação.)

Mas uma rede de burocracia em Kiev ameaça fazer alguns investidores tirarem o pé do acelerador conforme buscam avançar com propostas em pelo menos três ministérios: da Defesa, da Transformação Digital e das Indústrias Estratégicas, de Kamishin.

“Nós estamos tentando entender como tudo isso se encaixa e como eles trabalham juntos”, afirmou o ex-embaixador americano em Kiev William Taylor, que lidera um esforço do Instituto de Paz dos EUA para ajudar a estabelecer conexões entre empresas de defesa americanas e ucranianas.

“As empresas americanas têm muitas oportunidades para investir em outros lugares em todo o mundo”, afirmou Taylor. “A Ucrânia é um lugar onde interesses americanos estão em jogo, portanto é por isso que nós faríamos um esforço maior para ajudar a fazer essas conexões.”

Já que projéteis de artilharia de calibre 155 milímetros são tão urgentemente necessários, Taylor sugeriu que um empreendimento conjunto inicial entre empresas ucranianas e americanas poderia ter foco em aumentar sua produção.

Fabricantes europeus já se aventuram nesse mercado.

Um trabalhador coloca números de série em um projétil de morteiro em uma fábrica na Ucrânia Foto: Evgeniy Maloletka/AP

“Se os europeus se envolverem nesse desenvolvimento nos volumes que prometem, acho que com o tempo resolveremos o problema da ‘fome de projéteis’”, afirmou o comandante das Forças Armadas da Ucrânia, Oleksandr Sirskii, à imprensa estatal ucraniana, segundo uma entrevista publicada na sexta-feira.

Apesar dos fabricantes ucranianos estarem proibidos de exportar armamentos até que a guerra acabe, Kamishin parece ávido para competir com manufaturas de armas estrangeiras.

Orador persuasivo, com cavanhaque e topete em estilo tradicional dos cossacos ucranianos, Kamishin pertence ao que Taylor descreveu como uma nova geração de líderes ucranianos — aos 39 anos, é um jovem prodígio, que ascendeu rapidamente nos quadros do governos.

Após sua nomeação como ministro, em março de 2023, Kamishin visitou quase todas as fábricas de armamentos na Ucrânia e disse ter encontrado uma indústria que precisa seriamente de uma reforma. Funcionários trabalhavam em fábricas danificadas em alguns lugares; em outros, foguetes eram construídos a mão.

Apesar de afirmar que a indústria se move com menos percalços atualmente, Kamishin ainda recebe boletins diários a respeito de linhas de montagem para identificar rapidamente máquinas quebradas ou danificadas e consertá-las prontamente.

“Estamos fazendo as coisas mais rapidamente e com menos custos, e está funcionando”, afirmou Kamishin na entrevista, que pareceu tanto uma propaganda de vendas de armas fabricadas domesticamente quanto uma discussão a respeito de investimentos estrangeiros.

“Nós nos juntaremos a vocês e à Otan algum dia”, afirmou Kamishin confiante. “Portanto, se vocês compram de nós, estão construindo habilidades, e isso se tornará parte de nossas capacidades conjuntas algum dia. Então por que não investir nas suas próprias capacidades conjuntas?” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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