A Itália abriu seus braços para os ursos. Agora, um ataque letal divide a nação


Corredor profissional Andrea Papi foi morto por ursa quando corria perto de casa em Caldes, norte da Itália, e reacendeu o debate sobre a quantidade de ursos na região após esforço de repovoamento multiplicar seu número em 20 vezes

Por Leo Sands

Andrea Papi tinha saído para correr no bosque em torno da cidade da Caldes, no norte da Itália, quando algo inimaginável lhe aconteceu: uma ursa-parda-europeia adulta, conhecida pelas autoridades por seu histórico de violência contra humanos atacou o italiano de 26 anos e o matou.

Há pouco mais de duas décadas havia notícia de apenas cinco ursos-pardos-europeus vivendo na região de Trentino, e conservacionistas temiam que sua população poderia se extinguir.

Um esforço de repovoamento foi tão bem-sucedido que seu número cresceu 20 vezes; mas os ursos — não acostumados com a presença de predadores — passaram a entrar em contato com humanos cada vez frequentemente, e a morte de Papi reacendeu um debate sobre a quantidade dos bichos.

continua após a publicidade

A dúvida mais premente após o ataque de 5 de abril tem sido o que fazer com a ursa que matou Papi, e a disputa opôs o governador de Trentino e ativistas defensores dos direitos dos animais, fazendo com que moradores da província questionassem o quanto estão dispostos a abrir mão para conviver com seus novos vizinhos.

Yurka, uma ursa marrom de 8 anos, caminha no santuário de São Romedio em Sanzeno, na província de Trento, no norte da Itália, em dezembro de 2007 Foto: Max Rossi / Reuters

Na sexta-feira, um tribunal de Roma ofereceu à matadora de Papi um indulto temporário, suspendendo uma ordem de abate à ursa, de 17 anos, mãe de três. A decisão foi elogiada por defensores dos direitos dos animais, que pretendem transferir a ursa para um santuário na Romênia, mas criticada pelo governador — que pretende sacrificá-la a tiros, juntamente com outros três ursos “problemáticos”.

continua após a publicidade

A corte considerou que abater a ursa, conhecida como JJ4, seria “desproporcional”, segundo noticiou a Reuters, citando um tratado de 1979 que proíbe matar animais selvagens desnecessariamente.

“É uma sentença que não tem nenhum respeito pelo nosso território”, disse a repórteres o governador de Trentino, Maurizio Fugatti, no sábado, em resposta à decisão judicial, prometendo continuar sua luta nas cortes para sacrificar a ursa — segundo ele a única maneira de garantir a segurança das pessoas que vivem na região. Ele afirmou que a ordem do tribunal o fez imaginar se a Justiça valoriza mais a vida humana ou de um animal.

continua após a publicidade

Agentes florestais do governo capturaram a ursa numa noite de abril, de acordo com autoridades locais, que divulgaram imagens de JJ4 sendo transportada em um veículo seguro ao confinamento.

Grupos de defesa de direitos dos animais, cujos advogados peticionaram à Justiça para que a vida da ursa fosse poupada, comemoraram a decisão judicial qualificando-a como uma vitória para os esforços conservacionistas.

A noiva do corredor, Alessia Gregori, escreveu uma mensagem no Facebook, defendendo os direitos animais e criticando as declarações de pessoas que não têm conhecimento sobre o assunto e pediram que a ursa fosse sacrificada.

continua após a publicidade
Yurka, uma ursa marrom de 8 anos de idade, nas montanhas do Trento, no norte da Itália, em dezembro de 2007: esforço de repovoamento provocou multiplicação de ursos na região  Foto: Max Rossi/Reuters

“Não sei se está claro que vivemos na floresta. Saia pela sua porta e é a floresta. Ninguém procura nada, ninguém é sem noção. O urso fez o que o instinto lhe mandou e o animal certamente não tem culpa”, escreveu Alessia Gregori.

Em um comunicado, o grupo italiano de defesa dos animais LAV disse que pretende proceder imediatamente com a transferência da ursa para a Romênia — onde a entidade afirma ter assegurado a JJ4 vaga em um refúgio em que ela poderá viver o restante de sua vida em paz.

continua após a publicidade

Mas a decisão judicial da sexta-feira fez pouco para responder a uma incerteza mais ampla que passou a pairar sobre Trentino: o que fazer a respeito do crescente número de ursos-pardos-europeus que vagueiam pela região — que nos anos recentes cometeram uma série de ataques não fatais contra humanos?

Em março, mês anterior à morte de Papi, um outro urso atacou um homem nas imediações da Comuna de Malè, causando-lhe ferimentos nos braços e na cabeça, de acordo com registros oficiais. Em 2020, afirmam autoridades, JJ4 também protagonizou uma série de ataques não fatais, incluindo contra dois homens que escalavam o Monte Peller, nas Dolomitas.

Um urso busca alívio do calor enquanto come comida gelada em um zoológico em Roma: animais tem sido resgatados para não serem abatidos Foto: Remo Casilli/Reuters
continua após a publicidade

A população de ursos-pardos-europeus de Trentino cresceu dramaticamente desde 1999, quando um projeto financiado pela União Europeia começou a soltar ursos eslovenos nos Alpes Italianos, numa tentativa de aumentar a população dos animais, que escasseava na Itália. Ao longo do quarto de século seguinte, sua população cresceu para mais de 100 indivíduos, de acordo com estimativas do governo local.

Fugatti argumenta que a população de ursos-pardos-europeus na província está perigosamente alta e que seu número deve baixar para 40 a 60 indivíduos — uma população sustentável, segundo ele, em linha com os objetivos iniciais dos conservacionistas que iniciaram o esforço de repovoamento.

Em um comunicado emitido na sexta-feira, o WWF Itália criticou os políticos por sua campanha “demagógica” contra os ursos, pedindo que as autoridades ouçam, em vez disso, conselhos de cientistas sobre como ursos e humanos podem conviver pacificamente nos Alpes.

Ataques de ursos contra humanos são raros. No mês passado, uma mulher de 64 anos foi mordida por um urso-negro em Porter, no Estado americano do Maine, depois de dar um soco no focinho do animal enquanto ele se preparava para atacar seu cão. Em um outro incidente, no mesmo fim de semana, um homem de Connecticut se feriu ao tentar impedir que um urso atacasse seu cachorro.

De acordo com o Serviço Nacional de Parques, quem chama a atenção de um urso sem fazer com que ele aja agressivamente deve agitar os braços e afastar-se devagar, evitando olhar o bicho nos olhos. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Andrea Papi tinha saído para correr no bosque em torno da cidade da Caldes, no norte da Itália, quando algo inimaginável lhe aconteceu: uma ursa-parda-europeia adulta, conhecida pelas autoridades por seu histórico de violência contra humanos atacou o italiano de 26 anos e o matou.

Há pouco mais de duas décadas havia notícia de apenas cinco ursos-pardos-europeus vivendo na região de Trentino, e conservacionistas temiam que sua população poderia se extinguir.

Um esforço de repovoamento foi tão bem-sucedido que seu número cresceu 20 vezes; mas os ursos — não acostumados com a presença de predadores — passaram a entrar em contato com humanos cada vez frequentemente, e a morte de Papi reacendeu um debate sobre a quantidade dos bichos.

A dúvida mais premente após o ataque de 5 de abril tem sido o que fazer com a ursa que matou Papi, e a disputa opôs o governador de Trentino e ativistas defensores dos direitos dos animais, fazendo com que moradores da província questionassem o quanto estão dispostos a abrir mão para conviver com seus novos vizinhos.

Yurka, uma ursa marrom de 8 anos, caminha no santuário de São Romedio em Sanzeno, na província de Trento, no norte da Itália, em dezembro de 2007 Foto: Max Rossi / Reuters

Na sexta-feira, um tribunal de Roma ofereceu à matadora de Papi um indulto temporário, suspendendo uma ordem de abate à ursa, de 17 anos, mãe de três. A decisão foi elogiada por defensores dos direitos dos animais, que pretendem transferir a ursa para um santuário na Romênia, mas criticada pelo governador — que pretende sacrificá-la a tiros, juntamente com outros três ursos “problemáticos”.

A corte considerou que abater a ursa, conhecida como JJ4, seria “desproporcional”, segundo noticiou a Reuters, citando um tratado de 1979 que proíbe matar animais selvagens desnecessariamente.

“É uma sentença que não tem nenhum respeito pelo nosso território”, disse a repórteres o governador de Trentino, Maurizio Fugatti, no sábado, em resposta à decisão judicial, prometendo continuar sua luta nas cortes para sacrificar a ursa — segundo ele a única maneira de garantir a segurança das pessoas que vivem na região. Ele afirmou que a ordem do tribunal o fez imaginar se a Justiça valoriza mais a vida humana ou de um animal.

Agentes florestais do governo capturaram a ursa numa noite de abril, de acordo com autoridades locais, que divulgaram imagens de JJ4 sendo transportada em um veículo seguro ao confinamento.

Grupos de defesa de direitos dos animais, cujos advogados peticionaram à Justiça para que a vida da ursa fosse poupada, comemoraram a decisão judicial qualificando-a como uma vitória para os esforços conservacionistas.

A noiva do corredor, Alessia Gregori, escreveu uma mensagem no Facebook, defendendo os direitos animais e criticando as declarações de pessoas que não têm conhecimento sobre o assunto e pediram que a ursa fosse sacrificada.

Yurka, uma ursa marrom de 8 anos de idade, nas montanhas do Trento, no norte da Itália, em dezembro de 2007: esforço de repovoamento provocou multiplicação de ursos na região  Foto: Max Rossi/Reuters

“Não sei se está claro que vivemos na floresta. Saia pela sua porta e é a floresta. Ninguém procura nada, ninguém é sem noção. O urso fez o que o instinto lhe mandou e o animal certamente não tem culpa”, escreveu Alessia Gregori.

Em um comunicado, o grupo italiano de defesa dos animais LAV disse que pretende proceder imediatamente com a transferência da ursa para a Romênia — onde a entidade afirma ter assegurado a JJ4 vaga em um refúgio em que ela poderá viver o restante de sua vida em paz.

Mas a decisão judicial da sexta-feira fez pouco para responder a uma incerteza mais ampla que passou a pairar sobre Trentino: o que fazer a respeito do crescente número de ursos-pardos-europeus que vagueiam pela região — que nos anos recentes cometeram uma série de ataques não fatais contra humanos?

Em março, mês anterior à morte de Papi, um outro urso atacou um homem nas imediações da Comuna de Malè, causando-lhe ferimentos nos braços e na cabeça, de acordo com registros oficiais. Em 2020, afirmam autoridades, JJ4 também protagonizou uma série de ataques não fatais, incluindo contra dois homens que escalavam o Monte Peller, nas Dolomitas.

Um urso busca alívio do calor enquanto come comida gelada em um zoológico em Roma: animais tem sido resgatados para não serem abatidos Foto: Remo Casilli/Reuters

A população de ursos-pardos-europeus de Trentino cresceu dramaticamente desde 1999, quando um projeto financiado pela União Europeia começou a soltar ursos eslovenos nos Alpes Italianos, numa tentativa de aumentar a população dos animais, que escasseava na Itália. Ao longo do quarto de século seguinte, sua população cresceu para mais de 100 indivíduos, de acordo com estimativas do governo local.

Fugatti argumenta que a população de ursos-pardos-europeus na província está perigosamente alta e que seu número deve baixar para 40 a 60 indivíduos — uma população sustentável, segundo ele, em linha com os objetivos iniciais dos conservacionistas que iniciaram o esforço de repovoamento.

Em um comunicado emitido na sexta-feira, o WWF Itália criticou os políticos por sua campanha “demagógica” contra os ursos, pedindo que as autoridades ouçam, em vez disso, conselhos de cientistas sobre como ursos e humanos podem conviver pacificamente nos Alpes.

Ataques de ursos contra humanos são raros. No mês passado, uma mulher de 64 anos foi mordida por um urso-negro em Porter, no Estado americano do Maine, depois de dar um soco no focinho do animal enquanto ele se preparava para atacar seu cão. Em um outro incidente, no mesmo fim de semana, um homem de Connecticut se feriu ao tentar impedir que um urso atacasse seu cachorro.

De acordo com o Serviço Nacional de Parques, quem chama a atenção de um urso sem fazer com que ele aja agressivamente deve agitar os braços e afastar-se devagar, evitando olhar o bicho nos olhos. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Andrea Papi tinha saído para correr no bosque em torno da cidade da Caldes, no norte da Itália, quando algo inimaginável lhe aconteceu: uma ursa-parda-europeia adulta, conhecida pelas autoridades por seu histórico de violência contra humanos atacou o italiano de 26 anos e o matou.

Há pouco mais de duas décadas havia notícia de apenas cinco ursos-pardos-europeus vivendo na região de Trentino, e conservacionistas temiam que sua população poderia se extinguir.

Um esforço de repovoamento foi tão bem-sucedido que seu número cresceu 20 vezes; mas os ursos — não acostumados com a presença de predadores — passaram a entrar em contato com humanos cada vez frequentemente, e a morte de Papi reacendeu um debate sobre a quantidade dos bichos.

A dúvida mais premente após o ataque de 5 de abril tem sido o que fazer com a ursa que matou Papi, e a disputa opôs o governador de Trentino e ativistas defensores dos direitos dos animais, fazendo com que moradores da província questionassem o quanto estão dispostos a abrir mão para conviver com seus novos vizinhos.

Yurka, uma ursa marrom de 8 anos, caminha no santuário de São Romedio em Sanzeno, na província de Trento, no norte da Itália, em dezembro de 2007 Foto: Max Rossi / Reuters

Na sexta-feira, um tribunal de Roma ofereceu à matadora de Papi um indulto temporário, suspendendo uma ordem de abate à ursa, de 17 anos, mãe de três. A decisão foi elogiada por defensores dos direitos dos animais, que pretendem transferir a ursa para um santuário na Romênia, mas criticada pelo governador — que pretende sacrificá-la a tiros, juntamente com outros três ursos “problemáticos”.

A corte considerou que abater a ursa, conhecida como JJ4, seria “desproporcional”, segundo noticiou a Reuters, citando um tratado de 1979 que proíbe matar animais selvagens desnecessariamente.

“É uma sentença que não tem nenhum respeito pelo nosso território”, disse a repórteres o governador de Trentino, Maurizio Fugatti, no sábado, em resposta à decisão judicial, prometendo continuar sua luta nas cortes para sacrificar a ursa — segundo ele a única maneira de garantir a segurança das pessoas que vivem na região. Ele afirmou que a ordem do tribunal o fez imaginar se a Justiça valoriza mais a vida humana ou de um animal.

Agentes florestais do governo capturaram a ursa numa noite de abril, de acordo com autoridades locais, que divulgaram imagens de JJ4 sendo transportada em um veículo seguro ao confinamento.

Grupos de defesa de direitos dos animais, cujos advogados peticionaram à Justiça para que a vida da ursa fosse poupada, comemoraram a decisão judicial qualificando-a como uma vitória para os esforços conservacionistas.

A noiva do corredor, Alessia Gregori, escreveu uma mensagem no Facebook, defendendo os direitos animais e criticando as declarações de pessoas que não têm conhecimento sobre o assunto e pediram que a ursa fosse sacrificada.

Yurka, uma ursa marrom de 8 anos de idade, nas montanhas do Trento, no norte da Itália, em dezembro de 2007: esforço de repovoamento provocou multiplicação de ursos na região  Foto: Max Rossi/Reuters

“Não sei se está claro que vivemos na floresta. Saia pela sua porta e é a floresta. Ninguém procura nada, ninguém é sem noção. O urso fez o que o instinto lhe mandou e o animal certamente não tem culpa”, escreveu Alessia Gregori.

Em um comunicado, o grupo italiano de defesa dos animais LAV disse que pretende proceder imediatamente com a transferência da ursa para a Romênia — onde a entidade afirma ter assegurado a JJ4 vaga em um refúgio em que ela poderá viver o restante de sua vida em paz.

Mas a decisão judicial da sexta-feira fez pouco para responder a uma incerteza mais ampla que passou a pairar sobre Trentino: o que fazer a respeito do crescente número de ursos-pardos-europeus que vagueiam pela região — que nos anos recentes cometeram uma série de ataques não fatais contra humanos?

Em março, mês anterior à morte de Papi, um outro urso atacou um homem nas imediações da Comuna de Malè, causando-lhe ferimentos nos braços e na cabeça, de acordo com registros oficiais. Em 2020, afirmam autoridades, JJ4 também protagonizou uma série de ataques não fatais, incluindo contra dois homens que escalavam o Monte Peller, nas Dolomitas.

Um urso busca alívio do calor enquanto come comida gelada em um zoológico em Roma: animais tem sido resgatados para não serem abatidos Foto: Remo Casilli/Reuters

A população de ursos-pardos-europeus de Trentino cresceu dramaticamente desde 1999, quando um projeto financiado pela União Europeia começou a soltar ursos eslovenos nos Alpes Italianos, numa tentativa de aumentar a população dos animais, que escasseava na Itália. Ao longo do quarto de século seguinte, sua população cresceu para mais de 100 indivíduos, de acordo com estimativas do governo local.

Fugatti argumenta que a população de ursos-pardos-europeus na província está perigosamente alta e que seu número deve baixar para 40 a 60 indivíduos — uma população sustentável, segundo ele, em linha com os objetivos iniciais dos conservacionistas que iniciaram o esforço de repovoamento.

Em um comunicado emitido na sexta-feira, o WWF Itália criticou os políticos por sua campanha “demagógica” contra os ursos, pedindo que as autoridades ouçam, em vez disso, conselhos de cientistas sobre como ursos e humanos podem conviver pacificamente nos Alpes.

Ataques de ursos contra humanos são raros. No mês passado, uma mulher de 64 anos foi mordida por um urso-negro em Porter, no Estado americano do Maine, depois de dar um soco no focinho do animal enquanto ele se preparava para atacar seu cão. Em um outro incidente, no mesmo fim de semana, um homem de Connecticut se feriu ao tentar impedir que um urso atacasse seu cachorro.

De acordo com o Serviço Nacional de Parques, quem chama a atenção de um urso sem fazer com que ele aja agressivamente deve agitar os braços e afastar-se devagar, evitando olhar o bicho nos olhos. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Andrea Papi tinha saído para correr no bosque em torno da cidade da Caldes, no norte da Itália, quando algo inimaginável lhe aconteceu: uma ursa-parda-europeia adulta, conhecida pelas autoridades por seu histórico de violência contra humanos atacou o italiano de 26 anos e o matou.

Há pouco mais de duas décadas havia notícia de apenas cinco ursos-pardos-europeus vivendo na região de Trentino, e conservacionistas temiam que sua população poderia se extinguir.

Um esforço de repovoamento foi tão bem-sucedido que seu número cresceu 20 vezes; mas os ursos — não acostumados com a presença de predadores — passaram a entrar em contato com humanos cada vez frequentemente, e a morte de Papi reacendeu um debate sobre a quantidade dos bichos.

A dúvida mais premente após o ataque de 5 de abril tem sido o que fazer com a ursa que matou Papi, e a disputa opôs o governador de Trentino e ativistas defensores dos direitos dos animais, fazendo com que moradores da província questionassem o quanto estão dispostos a abrir mão para conviver com seus novos vizinhos.

Yurka, uma ursa marrom de 8 anos, caminha no santuário de São Romedio em Sanzeno, na província de Trento, no norte da Itália, em dezembro de 2007 Foto: Max Rossi / Reuters

Na sexta-feira, um tribunal de Roma ofereceu à matadora de Papi um indulto temporário, suspendendo uma ordem de abate à ursa, de 17 anos, mãe de três. A decisão foi elogiada por defensores dos direitos dos animais, que pretendem transferir a ursa para um santuário na Romênia, mas criticada pelo governador — que pretende sacrificá-la a tiros, juntamente com outros três ursos “problemáticos”.

A corte considerou que abater a ursa, conhecida como JJ4, seria “desproporcional”, segundo noticiou a Reuters, citando um tratado de 1979 que proíbe matar animais selvagens desnecessariamente.

“É uma sentença que não tem nenhum respeito pelo nosso território”, disse a repórteres o governador de Trentino, Maurizio Fugatti, no sábado, em resposta à decisão judicial, prometendo continuar sua luta nas cortes para sacrificar a ursa — segundo ele a única maneira de garantir a segurança das pessoas que vivem na região. Ele afirmou que a ordem do tribunal o fez imaginar se a Justiça valoriza mais a vida humana ou de um animal.

Agentes florestais do governo capturaram a ursa numa noite de abril, de acordo com autoridades locais, que divulgaram imagens de JJ4 sendo transportada em um veículo seguro ao confinamento.

Grupos de defesa de direitos dos animais, cujos advogados peticionaram à Justiça para que a vida da ursa fosse poupada, comemoraram a decisão judicial qualificando-a como uma vitória para os esforços conservacionistas.

A noiva do corredor, Alessia Gregori, escreveu uma mensagem no Facebook, defendendo os direitos animais e criticando as declarações de pessoas que não têm conhecimento sobre o assunto e pediram que a ursa fosse sacrificada.

Yurka, uma ursa marrom de 8 anos de idade, nas montanhas do Trento, no norte da Itália, em dezembro de 2007: esforço de repovoamento provocou multiplicação de ursos na região  Foto: Max Rossi/Reuters

“Não sei se está claro que vivemos na floresta. Saia pela sua porta e é a floresta. Ninguém procura nada, ninguém é sem noção. O urso fez o que o instinto lhe mandou e o animal certamente não tem culpa”, escreveu Alessia Gregori.

Em um comunicado, o grupo italiano de defesa dos animais LAV disse que pretende proceder imediatamente com a transferência da ursa para a Romênia — onde a entidade afirma ter assegurado a JJ4 vaga em um refúgio em que ela poderá viver o restante de sua vida em paz.

Mas a decisão judicial da sexta-feira fez pouco para responder a uma incerteza mais ampla que passou a pairar sobre Trentino: o que fazer a respeito do crescente número de ursos-pardos-europeus que vagueiam pela região — que nos anos recentes cometeram uma série de ataques não fatais contra humanos?

Em março, mês anterior à morte de Papi, um outro urso atacou um homem nas imediações da Comuna de Malè, causando-lhe ferimentos nos braços e na cabeça, de acordo com registros oficiais. Em 2020, afirmam autoridades, JJ4 também protagonizou uma série de ataques não fatais, incluindo contra dois homens que escalavam o Monte Peller, nas Dolomitas.

Um urso busca alívio do calor enquanto come comida gelada em um zoológico em Roma: animais tem sido resgatados para não serem abatidos Foto: Remo Casilli/Reuters

A população de ursos-pardos-europeus de Trentino cresceu dramaticamente desde 1999, quando um projeto financiado pela União Europeia começou a soltar ursos eslovenos nos Alpes Italianos, numa tentativa de aumentar a população dos animais, que escasseava na Itália. Ao longo do quarto de século seguinte, sua população cresceu para mais de 100 indivíduos, de acordo com estimativas do governo local.

Fugatti argumenta que a população de ursos-pardos-europeus na província está perigosamente alta e que seu número deve baixar para 40 a 60 indivíduos — uma população sustentável, segundo ele, em linha com os objetivos iniciais dos conservacionistas que iniciaram o esforço de repovoamento.

Em um comunicado emitido na sexta-feira, o WWF Itália criticou os políticos por sua campanha “demagógica” contra os ursos, pedindo que as autoridades ouçam, em vez disso, conselhos de cientistas sobre como ursos e humanos podem conviver pacificamente nos Alpes.

Ataques de ursos contra humanos são raros. No mês passado, uma mulher de 64 anos foi mordida por um urso-negro em Porter, no Estado americano do Maine, depois de dar um soco no focinho do animal enquanto ele se preparava para atacar seu cão. Em um outro incidente, no mesmo fim de semana, um homem de Connecticut se feriu ao tentar impedir que um urso atacasse seu cachorro.

De acordo com o Serviço Nacional de Parques, quem chama a atenção de um urso sem fazer com que ele aja agressivamente deve agitar os braços e afastar-se devagar, evitando olhar o bicho nos olhos. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Andrea Papi tinha saído para correr no bosque em torno da cidade da Caldes, no norte da Itália, quando algo inimaginável lhe aconteceu: uma ursa-parda-europeia adulta, conhecida pelas autoridades por seu histórico de violência contra humanos atacou o italiano de 26 anos e o matou.

Há pouco mais de duas décadas havia notícia de apenas cinco ursos-pardos-europeus vivendo na região de Trentino, e conservacionistas temiam que sua população poderia se extinguir.

Um esforço de repovoamento foi tão bem-sucedido que seu número cresceu 20 vezes; mas os ursos — não acostumados com a presença de predadores — passaram a entrar em contato com humanos cada vez frequentemente, e a morte de Papi reacendeu um debate sobre a quantidade dos bichos.

A dúvida mais premente após o ataque de 5 de abril tem sido o que fazer com a ursa que matou Papi, e a disputa opôs o governador de Trentino e ativistas defensores dos direitos dos animais, fazendo com que moradores da província questionassem o quanto estão dispostos a abrir mão para conviver com seus novos vizinhos.

Yurka, uma ursa marrom de 8 anos, caminha no santuário de São Romedio em Sanzeno, na província de Trento, no norte da Itália, em dezembro de 2007 Foto: Max Rossi / Reuters

Na sexta-feira, um tribunal de Roma ofereceu à matadora de Papi um indulto temporário, suspendendo uma ordem de abate à ursa, de 17 anos, mãe de três. A decisão foi elogiada por defensores dos direitos dos animais, que pretendem transferir a ursa para um santuário na Romênia, mas criticada pelo governador — que pretende sacrificá-la a tiros, juntamente com outros três ursos “problemáticos”.

A corte considerou que abater a ursa, conhecida como JJ4, seria “desproporcional”, segundo noticiou a Reuters, citando um tratado de 1979 que proíbe matar animais selvagens desnecessariamente.

“É uma sentença que não tem nenhum respeito pelo nosso território”, disse a repórteres o governador de Trentino, Maurizio Fugatti, no sábado, em resposta à decisão judicial, prometendo continuar sua luta nas cortes para sacrificar a ursa — segundo ele a única maneira de garantir a segurança das pessoas que vivem na região. Ele afirmou que a ordem do tribunal o fez imaginar se a Justiça valoriza mais a vida humana ou de um animal.

Agentes florestais do governo capturaram a ursa numa noite de abril, de acordo com autoridades locais, que divulgaram imagens de JJ4 sendo transportada em um veículo seguro ao confinamento.

Grupos de defesa de direitos dos animais, cujos advogados peticionaram à Justiça para que a vida da ursa fosse poupada, comemoraram a decisão judicial qualificando-a como uma vitória para os esforços conservacionistas.

A noiva do corredor, Alessia Gregori, escreveu uma mensagem no Facebook, defendendo os direitos animais e criticando as declarações de pessoas que não têm conhecimento sobre o assunto e pediram que a ursa fosse sacrificada.

Yurka, uma ursa marrom de 8 anos de idade, nas montanhas do Trento, no norte da Itália, em dezembro de 2007: esforço de repovoamento provocou multiplicação de ursos na região  Foto: Max Rossi/Reuters

“Não sei se está claro que vivemos na floresta. Saia pela sua porta e é a floresta. Ninguém procura nada, ninguém é sem noção. O urso fez o que o instinto lhe mandou e o animal certamente não tem culpa”, escreveu Alessia Gregori.

Em um comunicado, o grupo italiano de defesa dos animais LAV disse que pretende proceder imediatamente com a transferência da ursa para a Romênia — onde a entidade afirma ter assegurado a JJ4 vaga em um refúgio em que ela poderá viver o restante de sua vida em paz.

Mas a decisão judicial da sexta-feira fez pouco para responder a uma incerteza mais ampla que passou a pairar sobre Trentino: o que fazer a respeito do crescente número de ursos-pardos-europeus que vagueiam pela região — que nos anos recentes cometeram uma série de ataques não fatais contra humanos?

Em março, mês anterior à morte de Papi, um outro urso atacou um homem nas imediações da Comuna de Malè, causando-lhe ferimentos nos braços e na cabeça, de acordo com registros oficiais. Em 2020, afirmam autoridades, JJ4 também protagonizou uma série de ataques não fatais, incluindo contra dois homens que escalavam o Monte Peller, nas Dolomitas.

Um urso busca alívio do calor enquanto come comida gelada em um zoológico em Roma: animais tem sido resgatados para não serem abatidos Foto: Remo Casilli/Reuters

A população de ursos-pardos-europeus de Trentino cresceu dramaticamente desde 1999, quando um projeto financiado pela União Europeia começou a soltar ursos eslovenos nos Alpes Italianos, numa tentativa de aumentar a população dos animais, que escasseava na Itália. Ao longo do quarto de século seguinte, sua população cresceu para mais de 100 indivíduos, de acordo com estimativas do governo local.

Fugatti argumenta que a população de ursos-pardos-europeus na província está perigosamente alta e que seu número deve baixar para 40 a 60 indivíduos — uma população sustentável, segundo ele, em linha com os objetivos iniciais dos conservacionistas que iniciaram o esforço de repovoamento.

Em um comunicado emitido na sexta-feira, o WWF Itália criticou os políticos por sua campanha “demagógica” contra os ursos, pedindo que as autoridades ouçam, em vez disso, conselhos de cientistas sobre como ursos e humanos podem conviver pacificamente nos Alpes.

Ataques de ursos contra humanos são raros. No mês passado, uma mulher de 64 anos foi mordida por um urso-negro em Porter, no Estado americano do Maine, depois de dar um soco no focinho do animal enquanto ele se preparava para atacar seu cão. Em um outro incidente, no mesmo fim de semana, um homem de Connecticut se feriu ao tentar impedir que um urso atacasse seu cachorro.

De acordo com o Serviço Nacional de Parques, quem chama a atenção de um urso sem fazer com que ele aja agressivamente deve agitar os braços e afastar-se devagar, evitando olhar o bicho nos olhos. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.