A lógica da escalada militar para esfriar a guerra na Ucrânia; leia a análise


Estratégia adotada pelo Ocidente - e pela Rússia - tenta aumentar tensão para buscar acordo de paz e pôr fim a uma guerra arrastada

Por Ross Douthat
Atualização:

Quando os militares ucranianos fizeram rápidos avanços em sua campanha no outono do Hemisfério Norte, os temores de uma retaliação nuclear russa estavam ligados a uma interpretação americana de longa data da teoria estratégica russa: “escalar para desescalar”, a ideia de usar um ataque nuclear limitado para aumentar tão alto as apostas de conflito que seus inimigos não veem escolha a não ser barganhar, independentemente de suas vantagens convencionais.

Nos meses que se seguiram, o retorno a uma guerra de desgaste e várias negativas russas aliviaram um pouco as ansiedades nucleares. Mas uma teoria de “escalar para desescalar” continua relevante para a situação na Ucrânia, porque escancara tanto as estratégias americanas quanto as russas – convencionais, não nucleares – para a campanha da primavera.

Observe que eu disse estratégia americana e não ucraniana. A estratégia desejada pela Ucrânia continua sendo a mesma, compreensivelmente, durante toda a guerra: escalar para vencer. Kiev quer o máximo de armas que o Ocidente puder enviar, quer recuperar cada centímetro do território e não quer aceitar termos que concedam qualquer coisa aos invasores russos.

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Imagem mostra tanque Leopard 2, de fabricação alemã, durante exercício em Bergen, na Alemanha, em 2014. Berlim confirmou o envio dos blindados à Ucrânia para reforçar poder ofensivo contra a Rússia Foto: Peter Steffen / AP - 10/10/2014

Essa atitude é compartilhada por muitas vozes mais extremadas na Europa e nos EUA, que continuam a planejar o triunfo da Ucrânia e a derrubada de Vladimir Putin. Mas essa visão não é compartilhado pelo governo Biden, ou pelo menos não pelos principais tomadores de decisão.

Sim, a posição formal da Casa Branca é que a Ucrânia terá nosso apoio até a vitória. Mas a abordagem cautelosa que o presidente Biden e sua equipe adotaram em relação aos armamentos que podem mudar radicalmente o equilíbrio da guerra, as cutucadas que encorajam Kiev a mostrar abertura à negociação, a preocupação de investir pesadamente às custas de nossos compromissos asiáticos - tudo isso isso indica que o objetivo imediato da Casa Branca é um armistício favorável, não uma derrota completa da Rússia.

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Para chegar a essa paz imaginada, porém, você precisa persuadir os russos de que um verdadeiro armistício - em oposição a outro “conflito congelado”, no qual a guerra morre, mas a paz nunca é formalmente estabelecida - é do interesse deles. Que se eles mantiverem a guerra fervendo, continuarão perdendo homens e material em um ritmo brutal e desestabilizador do regime.

Uma esperança era que a contra-ofensiva ucraniana no outono passado e a resistência até então bem-sucedida da Europa nos meses de inverno fossem decisivas para levar Moscou a aceitar essa realidade e até a elaborar suas próprias propostas (sem dúvida irrealistas no início) para um acordo negociado.

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Mas, em vez disso, os russos parecem se preparar para sua própria ofensiva renovada. O que explica por que a Casa Branca de Biden e os aliados europeus estão cautelosamente - e com certa hesitação - girando o botão da escalada, permitindo um aumento no fluxo de tanques e blindados pesados para a Ucrânia.

Até agora, esta não é uma política destinada a subjugar completamente uma mobilização russa ou expulsar os russos da Ucrânia. É uma política aparentemente destinada a atenuar qualquer nova ofensiva, potencialmente fazer os russos perderem mais terreno e mostrar a Moscou que não pode vencer uma guerra longa de atrito com mais facilidade do que inicialmente esperava vencer uma curta. É uma escalada que pressupõe que os russos precisam de um pouco mais de convencimento para ficarem abertos à ‘desescalada’.

Mas uma lógica semelhante também parece estar conduzindo a estratégia russa – pelo menos do quanto podemos ver através do vidro escuro entre nós e as intenções russas.

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Soldado ucraniano anda sobre destroços de um tanque russo destruído no centro de Kiev, em imagem desta quarta-feira, 25. Kiev busca expulsar russos de todo o território ucraniano com o apoio do Ocidente Foto: Daniel Cole / AP

Da suposta perspectiva russa, os ganhos ucranianos no outono e a resiliência europeia no inverno tornaram o sucesso militar ainda mais urgente. Não adianta elaborar propostas de paz enquanto os ucranianos estiverem convencidos de que podem obter uma vitória total, e estão mais do que nunca convencidos disso.

Portanto, somente quando essa esperança for quebrada pela força das armas, um acordo aceitável para Moscou poderá começar a surgir. O que torna necessário provar militarmente que o impasse é absolutamente o melhor que Kiev pode esperar, que o apoio americano e europeu pode ser suficiente para manter o terreno, mas não para recuperá-lo de forma abrangente. E essa prova só pode ser entregue por meio da escalada militar, com a “desescalada” esperando do outro lado.

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Os conservadores mais reativos vão se opor a essa análise, observando que não temos provas de que a Rússia realmente deseja uma desescalada real em qualquer estágio antes da conquista. Os mais diplomáticos vão objetar que estou superestimando o desejo real da Casa Branca de Biden de chegar a um acordo e subestimando o quanto a política dos EUA está sendo definida pela febre da guerra, imperativos militares-industriais ou o romance de um liberalismo decadente com um nacionalismo distante.

Mas a razão para ver a situação nos termos que descrevi, com Washington e Moscou imaginando-se escalando em direção a um acordo de paz, é simples: trata-se de uma situação historicamente familiar. Uma guerra começa, espera-se que termine rapidamente, mas um impasse ocorre, e ambos os lados se convencem de que aumentar seu compromisso com o conflito o levará a um fim mais rápido em termos mais favoráveis.

Essa convicção mútua não é uma questão de romance, fantasia ou simples loucura (embora, é claro, essas forças tenham seu papel). Em vez disso, a escalada é adotada como uma decisão friamente lógica, como o único curso razoável. E a partir dessa racionalidade, você se aproxima da irracionalidade de lutar por anos em uma guerra que nenhum dos lados pode esperar vencer - o que tende a levar a um acordo.

Quando os militares ucranianos fizeram rápidos avanços em sua campanha no outono do Hemisfério Norte, os temores de uma retaliação nuclear russa estavam ligados a uma interpretação americana de longa data da teoria estratégica russa: “escalar para desescalar”, a ideia de usar um ataque nuclear limitado para aumentar tão alto as apostas de conflito que seus inimigos não veem escolha a não ser barganhar, independentemente de suas vantagens convencionais.

Nos meses que se seguiram, o retorno a uma guerra de desgaste e várias negativas russas aliviaram um pouco as ansiedades nucleares. Mas uma teoria de “escalar para desescalar” continua relevante para a situação na Ucrânia, porque escancara tanto as estratégias americanas quanto as russas – convencionais, não nucleares – para a campanha da primavera.

Observe que eu disse estratégia americana e não ucraniana. A estratégia desejada pela Ucrânia continua sendo a mesma, compreensivelmente, durante toda a guerra: escalar para vencer. Kiev quer o máximo de armas que o Ocidente puder enviar, quer recuperar cada centímetro do território e não quer aceitar termos que concedam qualquer coisa aos invasores russos.

Imagem mostra tanque Leopard 2, de fabricação alemã, durante exercício em Bergen, na Alemanha, em 2014. Berlim confirmou o envio dos blindados à Ucrânia para reforçar poder ofensivo contra a Rússia Foto: Peter Steffen / AP - 10/10/2014

Essa atitude é compartilhada por muitas vozes mais extremadas na Europa e nos EUA, que continuam a planejar o triunfo da Ucrânia e a derrubada de Vladimir Putin. Mas essa visão não é compartilhado pelo governo Biden, ou pelo menos não pelos principais tomadores de decisão.

Sim, a posição formal da Casa Branca é que a Ucrânia terá nosso apoio até a vitória. Mas a abordagem cautelosa que o presidente Biden e sua equipe adotaram em relação aos armamentos que podem mudar radicalmente o equilíbrio da guerra, as cutucadas que encorajam Kiev a mostrar abertura à negociação, a preocupação de investir pesadamente às custas de nossos compromissos asiáticos - tudo isso isso indica que o objetivo imediato da Casa Branca é um armistício favorável, não uma derrota completa da Rússia.

Para chegar a essa paz imaginada, porém, você precisa persuadir os russos de que um verdadeiro armistício - em oposição a outro “conflito congelado”, no qual a guerra morre, mas a paz nunca é formalmente estabelecida - é do interesse deles. Que se eles mantiverem a guerra fervendo, continuarão perdendo homens e material em um ritmo brutal e desestabilizador do regime.

Uma esperança era que a contra-ofensiva ucraniana no outono passado e a resistência até então bem-sucedida da Europa nos meses de inverno fossem decisivas para levar Moscou a aceitar essa realidade e até a elaborar suas próprias propostas (sem dúvida irrealistas no início) para um acordo negociado.

Mas, em vez disso, os russos parecem se preparar para sua própria ofensiva renovada. O que explica por que a Casa Branca de Biden e os aliados europeus estão cautelosamente - e com certa hesitação - girando o botão da escalada, permitindo um aumento no fluxo de tanques e blindados pesados para a Ucrânia.

Até agora, esta não é uma política destinada a subjugar completamente uma mobilização russa ou expulsar os russos da Ucrânia. É uma política aparentemente destinada a atenuar qualquer nova ofensiva, potencialmente fazer os russos perderem mais terreno e mostrar a Moscou que não pode vencer uma guerra longa de atrito com mais facilidade do que inicialmente esperava vencer uma curta. É uma escalada que pressupõe que os russos precisam de um pouco mais de convencimento para ficarem abertos à ‘desescalada’.

Mas uma lógica semelhante também parece estar conduzindo a estratégia russa – pelo menos do quanto podemos ver através do vidro escuro entre nós e as intenções russas.

Soldado ucraniano anda sobre destroços de um tanque russo destruído no centro de Kiev, em imagem desta quarta-feira, 25. Kiev busca expulsar russos de todo o território ucraniano com o apoio do Ocidente Foto: Daniel Cole / AP

Da suposta perspectiva russa, os ganhos ucranianos no outono e a resiliência europeia no inverno tornaram o sucesso militar ainda mais urgente. Não adianta elaborar propostas de paz enquanto os ucranianos estiverem convencidos de que podem obter uma vitória total, e estão mais do que nunca convencidos disso.

Portanto, somente quando essa esperança for quebrada pela força das armas, um acordo aceitável para Moscou poderá começar a surgir. O que torna necessário provar militarmente que o impasse é absolutamente o melhor que Kiev pode esperar, que o apoio americano e europeu pode ser suficiente para manter o terreno, mas não para recuperá-lo de forma abrangente. E essa prova só pode ser entregue por meio da escalada militar, com a “desescalada” esperando do outro lado.

Os conservadores mais reativos vão se opor a essa análise, observando que não temos provas de que a Rússia realmente deseja uma desescalada real em qualquer estágio antes da conquista. Os mais diplomáticos vão objetar que estou superestimando o desejo real da Casa Branca de Biden de chegar a um acordo e subestimando o quanto a política dos EUA está sendo definida pela febre da guerra, imperativos militares-industriais ou o romance de um liberalismo decadente com um nacionalismo distante.

Mas a razão para ver a situação nos termos que descrevi, com Washington e Moscou imaginando-se escalando em direção a um acordo de paz, é simples: trata-se de uma situação historicamente familiar. Uma guerra começa, espera-se que termine rapidamente, mas um impasse ocorre, e ambos os lados se convencem de que aumentar seu compromisso com o conflito o levará a um fim mais rápido em termos mais favoráveis.

Essa convicção mútua não é uma questão de romance, fantasia ou simples loucura (embora, é claro, essas forças tenham seu papel). Em vez disso, a escalada é adotada como uma decisão friamente lógica, como o único curso razoável. E a partir dessa racionalidade, você se aproxima da irracionalidade de lutar por anos em uma guerra que nenhum dos lados pode esperar vencer - o que tende a levar a um acordo.

Quando os militares ucranianos fizeram rápidos avanços em sua campanha no outono do Hemisfério Norte, os temores de uma retaliação nuclear russa estavam ligados a uma interpretação americana de longa data da teoria estratégica russa: “escalar para desescalar”, a ideia de usar um ataque nuclear limitado para aumentar tão alto as apostas de conflito que seus inimigos não veem escolha a não ser barganhar, independentemente de suas vantagens convencionais.

Nos meses que se seguiram, o retorno a uma guerra de desgaste e várias negativas russas aliviaram um pouco as ansiedades nucleares. Mas uma teoria de “escalar para desescalar” continua relevante para a situação na Ucrânia, porque escancara tanto as estratégias americanas quanto as russas – convencionais, não nucleares – para a campanha da primavera.

Observe que eu disse estratégia americana e não ucraniana. A estratégia desejada pela Ucrânia continua sendo a mesma, compreensivelmente, durante toda a guerra: escalar para vencer. Kiev quer o máximo de armas que o Ocidente puder enviar, quer recuperar cada centímetro do território e não quer aceitar termos que concedam qualquer coisa aos invasores russos.

Imagem mostra tanque Leopard 2, de fabricação alemã, durante exercício em Bergen, na Alemanha, em 2014. Berlim confirmou o envio dos blindados à Ucrânia para reforçar poder ofensivo contra a Rússia Foto: Peter Steffen / AP - 10/10/2014

Essa atitude é compartilhada por muitas vozes mais extremadas na Europa e nos EUA, que continuam a planejar o triunfo da Ucrânia e a derrubada de Vladimir Putin. Mas essa visão não é compartilhado pelo governo Biden, ou pelo menos não pelos principais tomadores de decisão.

Sim, a posição formal da Casa Branca é que a Ucrânia terá nosso apoio até a vitória. Mas a abordagem cautelosa que o presidente Biden e sua equipe adotaram em relação aos armamentos que podem mudar radicalmente o equilíbrio da guerra, as cutucadas que encorajam Kiev a mostrar abertura à negociação, a preocupação de investir pesadamente às custas de nossos compromissos asiáticos - tudo isso isso indica que o objetivo imediato da Casa Branca é um armistício favorável, não uma derrota completa da Rússia.

Para chegar a essa paz imaginada, porém, você precisa persuadir os russos de que um verdadeiro armistício - em oposição a outro “conflito congelado”, no qual a guerra morre, mas a paz nunca é formalmente estabelecida - é do interesse deles. Que se eles mantiverem a guerra fervendo, continuarão perdendo homens e material em um ritmo brutal e desestabilizador do regime.

Uma esperança era que a contra-ofensiva ucraniana no outono passado e a resistência até então bem-sucedida da Europa nos meses de inverno fossem decisivas para levar Moscou a aceitar essa realidade e até a elaborar suas próprias propostas (sem dúvida irrealistas no início) para um acordo negociado.

Mas, em vez disso, os russos parecem se preparar para sua própria ofensiva renovada. O que explica por que a Casa Branca de Biden e os aliados europeus estão cautelosamente - e com certa hesitação - girando o botão da escalada, permitindo um aumento no fluxo de tanques e blindados pesados para a Ucrânia.

Até agora, esta não é uma política destinada a subjugar completamente uma mobilização russa ou expulsar os russos da Ucrânia. É uma política aparentemente destinada a atenuar qualquer nova ofensiva, potencialmente fazer os russos perderem mais terreno e mostrar a Moscou que não pode vencer uma guerra longa de atrito com mais facilidade do que inicialmente esperava vencer uma curta. É uma escalada que pressupõe que os russos precisam de um pouco mais de convencimento para ficarem abertos à ‘desescalada’.

Mas uma lógica semelhante também parece estar conduzindo a estratégia russa – pelo menos do quanto podemos ver através do vidro escuro entre nós e as intenções russas.

Soldado ucraniano anda sobre destroços de um tanque russo destruído no centro de Kiev, em imagem desta quarta-feira, 25. Kiev busca expulsar russos de todo o território ucraniano com o apoio do Ocidente Foto: Daniel Cole / AP

Da suposta perspectiva russa, os ganhos ucranianos no outono e a resiliência europeia no inverno tornaram o sucesso militar ainda mais urgente. Não adianta elaborar propostas de paz enquanto os ucranianos estiverem convencidos de que podem obter uma vitória total, e estão mais do que nunca convencidos disso.

Portanto, somente quando essa esperança for quebrada pela força das armas, um acordo aceitável para Moscou poderá começar a surgir. O que torna necessário provar militarmente que o impasse é absolutamente o melhor que Kiev pode esperar, que o apoio americano e europeu pode ser suficiente para manter o terreno, mas não para recuperá-lo de forma abrangente. E essa prova só pode ser entregue por meio da escalada militar, com a “desescalada” esperando do outro lado.

Os conservadores mais reativos vão se opor a essa análise, observando que não temos provas de que a Rússia realmente deseja uma desescalada real em qualquer estágio antes da conquista. Os mais diplomáticos vão objetar que estou superestimando o desejo real da Casa Branca de Biden de chegar a um acordo e subestimando o quanto a política dos EUA está sendo definida pela febre da guerra, imperativos militares-industriais ou o romance de um liberalismo decadente com um nacionalismo distante.

Mas a razão para ver a situação nos termos que descrevi, com Washington e Moscou imaginando-se escalando em direção a um acordo de paz, é simples: trata-se de uma situação historicamente familiar. Uma guerra começa, espera-se que termine rapidamente, mas um impasse ocorre, e ambos os lados se convencem de que aumentar seu compromisso com o conflito o levará a um fim mais rápido em termos mais favoráveis.

Essa convicção mútua não é uma questão de romance, fantasia ou simples loucura (embora, é claro, essas forças tenham seu papel). Em vez disso, a escalada é adotada como uma decisão friamente lógica, como o único curso razoável. E a partir dessa racionalidade, você se aproxima da irracionalidade de lutar por anos em uma guerra que nenhum dos lados pode esperar vencer - o que tende a levar a um acordo.

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