Na sequência dos editoriais sobre a indicação de Marco Rubio para a Secretaria de Estado de Donald Trump e sobre uma ação mais direta da política externa dos EUA na América Latina, cabe examinar a próxima eleição da Organização dos Estados Americanos (OEA) em 2025.
A OEA poderá ser importante no contexto das prioridades do novo ministro do exterior norte americano. Não há dúvidas de que Rubio terá uma agenda ideológica forte em relação aos governos de esquerda, com a formação de uma aliança conservadora na região, que apoiará as posições conservadoras de Washington.
Responsável por 60% do orçamento da OEA, o governo de Washington, sob a gestão de Rubio, pode tentar utilizar a Organização como um instrumento de ação e de pressão sobre os governos de esquerda na região, em especial, Venezuela e Nicarágua, mas também Cuba e Brasil.
Até o momento, existem dois candidatos para a eleição em março de 2025, que irá substituir o atual secretário-geral, Luis Almagro. Ruben R. Lezcano, chanceler do Paraguai, e o chanceler do Suriname, Albert Ramdin, apoiado pelo Caricom. Comenta-se que poderiam também se apresentar Ivan Duque, ex-presidente da Colômbia, e Ivone Baki, embaixadora do Equador e próxima a Trump.
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O Paraguai está ativo no apoio a Lezcano. O presidente Santiago Peña falou por telefone com Trump, e o chanceler paraguaio visitou o presidente eleito em Mar-a-Lago e manteve conversa com Elon Musk.
Esses encontros e conversas mostram o candidato paraguaio bem posicionado no círculo de Trump, sendo possível que tenham sido mantidos contatos também com Rubio. Manifestações públicas do governo paraguaio em relação à Venezuela e inclusive em relação à crescente presença da China (o Paraguai tem relações com Taiwan) têm se aproximado das posições norte-americanas,.
A questão da Venezuela pode ser a primeira a ser tratada, logo após a posse de Trump. Antony Blinken, atual secretário de Estado, já declarou publicamente que a eleição de Nicolás Maduro foi fraudada e que o legítimo presidente é Edmundo González Urrutia. Notícias recentes dão conta de que o governo de Caracas voltou a pressionar os seis venezuelanos que estão exilados na embaixada da Argentina com cerco à residência oficial e corte de energia. O Brasil não reagiu até aqui, e a Argentina tem seus canais diretos com Trump e Rubio. A posse de Maduro em janeiro poderá ser alvo de ações de Rubio para reforçar a ideia de que o legítimo presidente é Gonzáles e que Maduro fraudou as eleições.
Como exemplo dessa eventual ação, no caso do Brasil, podem ser lembrados a carta enviada por congressistas republicanos à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Ela tinha ameaça de corte de recursos, se a comissão não atuar contra o Brasil, as decisões do STF contra Elon Musk. Além disso, há um projeto de lei apresentado por congressista da Flórida propondo cancelar vistos de autoridades estrangeiras que que ameaçassem a liberdade de expressão de cidadãos norte-americanos.
No passado, Trump e Bolsonaro atuaram conjuntamente na OEA na crise da Bolívia com o golpe contra Evo Morales em 2019 para denunciar “anomalias durante a eleição presidencial”. Agora, deputados e outras personalidades bolsonaristas mantêm estreito contato com representantes na Câmara de Representantes e com o governo Trump para pressionar o governo Lula.
A OEA poderá também ser utilizada para pressionar os países da região contra a crescente influência da China e de outras potências regionais, como a Rússia e o Irã. As medidas dos EUA contra a China globalmente poderão incluir ações para prejudicar a presença comercial chinesa na região.
Dado o passado de influência de Washington sobre as atividades da OEA, sensivelmente reduzida nos últimos anos, não seria novidade essa renovada atuação política do Departamento de Estado sob a direção de Marco Rubio na Organização. Tudo indica que o novo governo em Washington deverá promover a visão mais ideológica na América Latina, via atuação do Departamento de Estado, com apoio da coalizão conservadora. A Organização poderá ser um instrumento ativo para os objetivos da política externa americana, uma vez que, tendo maioria, conseguirá aprovar suas propostas contra certas políticas e certos países.