THE NEW YORK TIMES - As forças russas e ucranianas estão convergindo na parte leste do país, enquanto milhares de civis deixaram a região antes do que ameaça ser a próxima grande batalha da guerra.
A luta pode parecer substancialmente diferente da batalha pela capital da Ucrânia, que viu as forças russas recuarem de áreas ao redor de Kiev, deixando tanques destruídos e casas bombardeadas em seu rastro.
Depois de se retirar das áreas ao redor de Kiev, as forças russas estão se reposicionando para uma nova ofensiva na região de Donbas, no leste da Ucrânia.
Eles vão operar em um território conhecido lá, dada a invasão da Rússia em 2014, e com linhas de suprimento mais curtas, dizem analistas.
Os russos também poderão contar com uma vasta rede de trens para reabastecer seu exército – um benefício que não existia ao norte de Kiev, sem uma rede ferroviária interligada à Rússia.
Os líderes da Ucrânia dizem que também estão se preparando para um grande confronto. O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, instou os líderes da Otan na semana passada a enviar reforços. Armas ocidentais chegaram à Ucrânia nos últimos dias, mas Kuleba disse que mais são necessárias, e rapidamente. A batalha pelo leste da Ucrânia “lembrará vocês da 2ª Guerra”, alertou.
O centro do confronto parece estar perto da cidade oriental de Izium, que unidades russas tomaram na semana passada enquanto tentavam se unir a outras forças na região de Donbas, no sudeste da Ucrânia. Os russos também estão tentando solidificar um corredor terrestre entre o Donbas e a península da Crimeia no Mar Negro, que a Rússia invadiu e anexou em 2014.
Há outros sinais de que os dois exércitos estão se preparando para uma grande luta. Imagens de satélite recém-divulgadas mostraram um comboio russo de centenas de veículos se movendo para o sul pela cidade ucraniana de Velykyi Burluk, a leste de Kharkiv e ao norte de Izium, segundo a Maxar Technologies, que divulgou as imagens.
“Esta será uma batalha em grande escala com centenas de tanques e veículos de combate – será extremamente brutal”, disse Franz-Stefan Gady, pesquisador do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos em Londres. “O escopo das operações militares será substancialmente diferente de tudo o que a região já viu antes.”
Desde a anexação da Crimeia pela Rússia, Moscou apoiou revoltas separatistas em duas províncias orientais – Donetsk e Luhansk – do Donbas. O conflito matou mais de 14.000 pessoas nos últimos oito anos.
“A Rússia está operando em um terreno muito familiar”, disse Keir Giles, do Centro de Pesquisa de Estudos de Conflitos, no Reino Unido. As forças de Moscou “terão aprendido com seus erros nos primeiros dias da campanha contra a Ucrânia”, acrescentou.
Há também o benefício adicional para a Rússia das ferrovias no leste, disse Giles, explicando que as redes são densas e atravessam territórios já sob controle da Rússia.
Ainda assim, apesar de todas as supostas vantagens russas no leste, alguns analistas duvidam que o exército seja mais eficaz no leste da Ucrânia do que no norte de Kiev.
Seu navegador não suporta esse video.
Russos deixaram a cidade de Bucha, mas corpos são encontrados largados nas ruas. Ucranianos voltam à procura de seus entes, muitos não têm o reencontro esperado
As forças russas que atacaram a capital ucraniana foram tão severamente atacadas que muitas das unidades estão esgotadas demais para começar a lutar novamente, segundo autoridades e analistas ocidentais. Eles também dizem que muitas unidades russas parecem estar sofrendo de moral baixa, com alguns soldados se recusando a lutar.
“Normalmente, um exército sério levaria meses para ser reconstruído, mas os russos parecem estar lançando-os nessa luta”, disse Frederick Kagan, diretor do projeto Ameaças Críticas do American Enterprise Institute, que fez parceria com o Instituto para o Estudo da Guerra para rastrear a guerra na Ucrânia. “As forças que eles estão mobilizando estão muito maltratadas e seu moral parece estar baixo.”
Kagan disse que, no leste, as forças russas podem encontrar alguns dos mesmos problemas de mobilidade que sofreram na invasão do norte da Ucrânia. As forças russas ficaram em grande parte confinadas às estradas do país, pois não foram capazes de atravessar o terreno.
Isso deixou veículos blindados e caminhões russos vulneráveis a ataques de forças ucranianas, que – usando mísseis antitanque fornecidos pelo Ocidente – destruíram centenas de veículos russos.
Para os russos, os problemas de transporte devem piorar. As chuvas da primavera transformarão grande parte do terreno em lama, dificultando ainda mais a mobilidade.
Kagan observou que as forças russas são “notavelmente limitadas às estradas, o que pode realmente tornar o leste mais desafiador, porque a rede rodoviária é muito pior do que a rede em torno de Kiev”.
Em última análise, disse Kagan, ambos os exércitos enfrentam grandes desafios. “Os russos têm muita força para exercer, mas têm muitos problemas”, disse Kagan. “Os ucranianos têm alta moral, alta motivação. E muita determinação. Mas eles estão em menor número e não têm a infraestrutura de um estado militarizado para apoiá-los”. “Na minha cabeça, é um impasse.”