Mais um "filme-catástrofe" que os homens projetam para si mesmos, sem precisar nem de câmera nem de atores muito caros. A realidade supera a ficção.O acaso que rege o mundo, ou antes os deuses que organizam nossas sociedades, tem mais imaginação do que o roteirista mais criativo de Hollywood. No caso do naufrágio do Costa Concordia, ao largo da Toscana, o próprio cenário (a ilha italiana e o monstro metálico encalhado nos rochedos como um animal pré-histórico) é digno do melhor dos cinemas em 3D. O elenco é dos mais seletos: o pobre comandante do Concordia, Francesco Schettino, com sua covardia, suas mentiras e suas baixezas, mereceria o Oscar de melhor ator. Evitemos voltar para as imagens do barco e do seu comandante arrasados, que estão sendo exibidas há dias no mundo inteiro. O desastre suscita todo tipo de pergunta, em primeiro lugar a do gigantismo. Por razões de lucratividade, há muito tempo, os navios de cruzeiro são lançados ao mar numa corrida ao mastodôntico. O Titanic, que foi a pique em 1912, já tinha 269 metros de comprimento e transportava 2.435 passageiros. O Titanic não acalmou o frenesi dos homens, o que os gregos chamavam de sua "hubris" (arrogância). O Costa Concordia que se acidentou a 50 metros da costa italiana transportava 3.780 passageiros. E a companhia que administra o navio já anuncia outro barco maior ainda, que poderá transportar 4.968 turistas. Mas o recorde mundial é o do Allure of the Sea, um monstro de mais de 350 metros que cruza o Mar do Caribe com um máximo de 5.400 passageiros, aos quais se acrescentam 2.164 membros da tripulação. O Allure of the Sea tem a altura de um edifício de 20 andares! E os escritórios de engenharia já trabalham em projetos ainda mais delirantes: um deles prevê a instalação no interior desses barcos um minimetrô de maneira que a tripulação possa se deslocar rapidamente nas instalações. Evidentemente, ninguém se aventura a fazer previsões sobre o preço do desastre do Concordia. Só há uma certeza: ele será enorme. A organizadora dos cruzeiros, a empresa americana Carnival, calcula que o naufrágio terá um impacto sobre suas contas de 95 milhões, uma cifra fantástica. Por enquanto, não se pode arriscar nenhuma hipótese.A embarcação, que custou 475 milhões, sofrerá reparos caríssimos, mas ainda não foi divulgada a perícia. Por outro lado, há uma primeira estimativa das seguradoras: a fatura para elas poderá chegar a 750 milhões, o que tornaria o naufrágio do Concordia a catástrofe mais cara de toda a história marítima. Essa corrida ao monstruoso é significativa numa época que procura continuamente superar os próprios recordes: a maior bilheteria de um filme, o best seller editorial, o edifício mais alto do mundo, a favela mais populosa, a mulher que se casou mais vezes, a que conseguiu com o divórcio a pensão alimentícia mais elevada, o homem mais velho do planeta, etc... Como explicar esta busca do enorme? Indubitavelmente, trata-se de uma perversão do gênio humano que tem sonhos de super-homem. Mas há também, principalmente, a preocupação com o lucro. O maior custa menos. Na França, está sendo projetado um novo navio de cruzeiro, o France. Ele só transportará 500 passageiros. Será preciso dizer que o preço do cruzeiro será infinitamente mais elevado? Por uma semana de viagem, seus passageiros pagarão entre 2 mil e 7 mil.
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