ASSUNÇÃO - O presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, enfrenta uma turbulência política nesta quarta-feira, 26, um dia depois que o caixão do líder do Exército do Povo Paraguaio (EPP), Osvaldo Villalba, ter tido entrada autorizada em uma prisão feminina onde sua irmã Carmen Villalba, considerada a fundadora dessa guerrilha, está detida.
Congressistas classificaram como um “tapa na cara” que Carmen Villalba tenha sido autorizada a se despedir do irmão antes do enterro no cemitério da Recoleta, um dos principais de Assunção.
Além disso, consideraram “insuficiente” as demissões, feitas por Abdo Benítez, do ministro da Justiça, Édgar Taboada, que deixou o cargo menos de 12 horas depois de assumi-lo, e da diretora do presídio feminino Buen Pastor, Marian Vázquez.
“O que aconteceu ontem (terça-feira) não pode se repetir, porque os criminosos não podem definir as diretrizes do governo e do Estado de direito”, disse a deputada Kattya González em uma sessão da Câmara.
Kattya González afirmou que a oposição exige “explicações claras, contundentes e categóricas e um pedido público de desculpas ao povo paraguaio por parte do presidente da República”. A deputada considerou o que aconteceu como uma “ofensa” e destacou que “não basta a demissão de alguns convidados”.
Ela ainda criticou Carmen Villalba que, de acordo com “a versão atual”, poderia “ameaçar de motim” e “alterar” o “protocolo”. A deputada explicou que a lei estabelece permissões especiais para detentos em caso de morte ou doença de parentes próximos e não a entrada de caixões nas prisões.
“O governo não pode ceder a esse tipo de chantagem ou vamos ter de colocar o número de caixões de acordo com o número de prisioneiros que temos no país”, afirmou o senador Fidel Zavala, do Partido Pátria Querida (PPQ).
Do partido no poder, o deputado Hugo Ramírez, ligado ao grupo liderado por Abdo Benítez no Partido Colorado, pediu “revisão de toda a cadeia de comando” considerando que “certamente haverá mais pessoas envolvidas”.
Duro golpe
Osvaldo Villalba morreu no último domingo em combate com os militares da chamada Força Tarefa Conjunta, o que foi um duro golpe para os guerrilheiros do EPP após o sequestro, em setembro de 2020, do ex-vice-presidente paraguaio Óscar Denis.
Questionado sobre o ocorrido, o ministro do Interior, Federico González, disse à Rádio Ñandutí, de Montevidéu, que “foi obviamente um erro” e destacou que “as medidas corretivas correspondentes já foram tomadas”.
De qualquer forma, considerou que o ministro da Justiça demitido tinha acabado de tomar posse e estava enfrentando “uma situação inesperada”. /EFE