LONDRES - A família real britânica tentará deixar para trás um de seus maiores escândalos com o anúncio, na terça-feira, de que o príncipe Andrew havia resolvido um processo movido por uma mulher que o acusou de estuprá-la quando ela era uma adolescente. O acordo não encerrou o caso e várias questões permanecem em aberto, além da pressão para que ele renuncie ao título de duque de York.
A deputada Rachael Maskell, do Partido Trabalhista e representante de York Central, disse que seguirá vários caminhos no Parlamento para que a última posição honorária do duque seja removida. Ela afirmou nesta quarta-feira, 16, ter se reunido com funcionários legislativos para explorar maneiras de forçar o príncipe a desistir do título.
Segundo o jornal britânico Guardian, Maskell espera que Andrew abandone voluntariamente sua associação com a cidade - um título vitalício concedido pela rainha em 1986. No entanto, ela afirmou que buscará nas próximas semanas garantir que isso aconteça, incluindo por meio de emendas à legislação.
Ainda de acordo com o Guardian, o vereador liberal democrata Darryl Smalley, membro executivo do conselho da cidade, disse que as alegações de agressão sexual eram uma "mancha na reputação da cidade". Ele afirmou que aumentaria a pressão sobre os parlamentares e a família real para que Andrew renuncie ao título de duque de York.
Entre as perguntas que permanecem em aberto sobre o acordo de terça-feira, a principal delas é sobre quem irá pagar a quantia não revelada definida pelo pacto, dado aos altos e baixos financeiros do príncipe Andrew.
O valor e os detalhes do acordo com a acusadora de Andrew, Virginia Giuffre, não foram divulgados em um processo judicial em Nova York na terça-feira. Andrew negou repetidamente as alegações de abuso sexual descritas no processo e não admitiu irregularidades em uma declaração sobre o acordo.
O fim do processo pode permitir que o Palácio de Buckingham siga em frente e se afaste dos escândalos de Andrew. Mas no tribunal da opinião pública, ele está muito prejudicado. Essa é a opinião consensual de comentaristas reais, especialistas em relações públicas, advogados, biógrafos da monarquia, grupos de direitos das vítimas e usuários de mídia social no Reino Unido.
"Acho que está tudo acabado para ele, qualquer tipo de vida pública", disse Dickie Arbiter, ex-secretário de imprensa da rainha e comentarista real. "Sua reputação está cravada, dentro e fora da família real. Ninguém vai querê-lo de volta", disse Mark Stephens, advogado de mídia do escritório de advocacia Howard Kennedy em Londres, que acompanhou de perto o caso. Stephens disse que Andrew já havia sido banido, metaforicamente, para a "Sibéria social".
Para a rainha Elizabeth II, que celebrou o 70º aniversário de sua ascensão ao trono no início deste mês, o acordo elimina a perspectiva da divulgação de detalhes embaraçosos sobre os contatos de Andrew com sua acusadora, que ele conheceu por meio do financista e criminoso sexual condenado Jeffrey Epstein, que se matou na prisão.
“Ainda há muitas perguntas”, disse Penny Junor, historiadora real. “Nunca saberemos qual das pessoas nessa triste história estava dizendo a verdade. Mas não teremos uma dieta diária de revelações que envergonharão a família.”
Um julgamento quase certamente lançaria uma longa sombra sobre as celebrações do Jubileu de Platina da rainha, marcadas para junho. O ano de aniversário já começou tumultuado com a notícia de que o filho mais velho e herdeiro da rainha, o príncipe Charles, foi reinfectado pelo coronavírus, dois dias depois de ter entrado em contato com sua mãe de 95 anos.
O Palácio de Buckingham se recusou a dizer se a rainha havia contraído a covid-19 ou se foi testada para o vírus. Mas na terça-feira, os temores sobre sua saúde diminuíram um pouco depois que o palácio postou fotos dela conduzindo audiências virtuais com embaixadores da Espanha e da Estônia, que estavam apresentando suas credenciais. Andrew provavelmente será mantido longe das próximas celebrações do Jubileu, segundo especialistas.
Quanto ao tamanho do acordo, o jornal Telegraph, citando suas fontes, informou que o total pode chegar a cerca de US$ 16 milhões. Outros observadores legais disseram ao Washington Post que estimaram um acordo de US$ 10 milhões a US$ 12 milhões.
Muitos se perguntam de onde o dinheiro para fazer os pagamentos pode ter vindo, já que a família real é apoiada por uma mistura de fundos públicos e privados. O Palácio de Buckingham disse que Andrew seria considerado "um cidadão privado" nos procedimentos legais.
Andrew foi destituído de seus títulos militares honorários e patrocínios reais no mês passado pelo palácio e também instruído a não usar o honorífico "Sua Alteza Real". Andrew, no entanto, ainda é um príncipe e duque de York, mesmo quando foi lançado no deserto real em uma forma de exílio interno antes do acordo.
Andrew também manteve o título de vice-almirante da Marinha - até agora. O secretário de Defesa britânico, Ben Wallace, disse na quarta-feira que caberia ao Palácio de Buckingham retirar esse título. "Acho que ele está efetivamente agindo agora como um cidadão privado, na medida em que aborda os desafios e as alegações, e acho que obviamente houve um pagamento", disse Wallace.
Os problemas do príncipe com o público são profundos - ele não apenas fez amizade com Epstein, algo que ele agora diz lamentar, como também era próximo da socialite britânica Ghislaine Maxwell, que foi condenada por tráfico sexual em um tribunal federal de Nova York no fim do ano passado.
Durante anos, Andrew jurou que não se lembrava de ter conhecido Giuffre, apesar de uma fotografia dele sorrindo com o braço em volta da cintura dela.
Em declarações anteriores, a equipe jurídica do príncipe havia descrito a alegação de Giuffre de que ela foi forçada a fazer sexo com Andrew em três ocasiões como "infundada". Os advogados do príncipe também disseram que Giuffre estava buscando um "pagamento". Mas agora, em uma reviravolta notável, as partes concordaram em uma declaração de uma página que Andrew "nunca teve a intenção de difamar o caráter" da vítima. /NYT, WP e REUTERS