WASHINGTON - O oficial da Alfândega e Proteção de Fronteiras vasculhou por um labirinto da esteira de bagagens do Aeroporto de Dulles (EUA), seguindo seu faro em busca de contrabando. Ele se posicionou ao lado de um passageiro com uma mochila cinza e preta, recém-chegado de um voo de Istambul (Turquia).
Freddie, um cão treinado em agricultura da Brigada Beagle, pareceu ter captado o cheiro de mercadorias proibidas e sentou-se, um sinal para seu parceiro. Sua cuidadora, a especialista em agricultura Melissa Snyder, abordou o passageiro.
“Maçãs? Laranja? Bananas? Carne? É carne? Eu só vou dar uma olhada, tá bom?”, ela disse ao homem antes dele abrir sua sacola.
O passageiro confuso, que aparentemente só falava russo, revelou um saco plástico roxo contendo os itens ilícitos: nove maçãs.
Freddie sentou-se novamente, e Snyder o recompensou com um osso de leite por sua caçada bem-sucedida.
Encontrado nas ruas há apenas alguns anos, Freddie agora é um dos seis cães da Brigada Beagle de nariz afiado, que patrulha o Aeroporto Internacional Washington Dulles em busca de plantas e produtos de carne que os viajantes são proibidos de trazer para o país. A intenção de vasculhar as bagagens é impedir a entrada de micróbios vindo do exterior, para prevenir doenças ou infestações por plantas.
E à medida que a temporada de festas se aproxima, a Alfândega e Proteção de Fronteiras espera um aumento no número de viajantes — que muitas vezes desconhecem as regras ou os riscos — transportando frutas e iguarias de viagens de turismo ou carnes, como de cobra ou camelo, que proporcionam sabores familiares de terras distantes.
A Brigada Beagle é empregada pela Alfândega e Proteção de Fronteiras em todo o país como guardiões no ponto de desembarque, para interromper o fluxo de bens que poderiam prejudicar plantas nativas e o gado, e danificar os mercados agrícolas dos EUA.
“Você não vai querer começar a pagar US$15 na sua caixa de flocos de milho porque um inseto entrou e dizimou nossa safra de trigo. É por isso que estamos aqui,” disse Christopher Brewer, chefe de agricultura do porto de D.C. “Freddie é uma das camadas que usamos para fazer cumprir as regras.”
Jornada de trabalho
Quatro dias por semana, Freddie e Snyder trabalham das 4h às 14h. O cão está sendo treinando para aprender novos cheiros de plantas proibidas e proteínas. Ele fareja produtos típicos vindos da África e do Oriente Médio, rotas que coincidem com o seu turno de trabalho.
Freddie parece mais com um bluetick hound (raça de cães de caça originária dos Estados Unidos) de acordo com seus parceiros humanos, mas seu nariz é totalmente de beagle. Ele rastreou cítricos, mangas e outras frutas, assim como uma variedade de carnes: pombo e, em setembro, dois quilos de cobra da Guiné Equatorial.
“Geralmente é carne não identificada”, disse Snyder. “Não temos certeza do que é.”
História
Freddie foi encontrado andando por um canteiro de tráfego na Geórgia cerca de quatro anos atrás e foi levado para um programa de treinamento conduzido pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Oficiais avaliam os cães quanto ao temperamento, comportamento e capacidade de serem treinados na academia do USDA, disseram os oficiais.
“Temos cinco cheiros primários nos quais eles são treinados na Geórgia,” disse Snyder. “Maçã, cítricos, manga, carne bovina e suína. Mas ele definitivamente expandiu isso agora.”
Recentemente, ele aprendeu sobre camelos e tem treinado com ameixas africanas que estavam na temporada, disse Snyder, que estudou e ensinou botânica medicinal na Universidade Brigham Young em seu estado natal, Utah, antes de se juntar à Alfândega e Proteção de Fronteiras há quatro anos.
Feriados
O USDA envia cardápios de alimentos sazonais, consumidos em feriados, festivais e festas religiosas. Isso ajuda os agentes a se prepararem para fluxos de produtos específicos, disse Josue Ledezma, supervisor K-9 da Alfândega e Proteção de Fronteiras.
Por exemplo, o feriado judaico de Sucot frequentemente traz viajantes carregando um cítrico chamado etrog. A temporada de mangas do Egito terminou em setembro, quando Freddie sozinho apreendeu 188 quilos de mangas.
Mangas podem carregar moscas-das-frutas mediterrâneas, enquanto cítricos de praticamente qualquer outro lugar do mundo são proibidos para proteger os pomares nos Estados Unidos. “Qualquer passageiro que der positivo, nós o levamos para os fundos, revistamos sua bagagem, removemos o contrabando, que nós ou cortamos ou colocamos em um saco para incinerar”, disse Brewer.
‘Sabor de casa’
Escondida atrás de paredes e portas espelhadas, uma esteira rolante passa por uma máquina de raio X dentro da câmara de inspeção, onde especialistas agrícolas examinam mais de perto as bagagens sinalizadas pelos beagles.
Freddie e Snyder escoltaram o passageiro que falava russo para a área, onde agentes descobriram carne fatiada além de suas maçãs.
A fruta e a carne foram removidas de sua bagagem e colocadas com outros alimentos confiscados em uma mesa de aço inoxidável: linguiça crua, chorizo embalado, algumas dúzias de berinjelas minúsculas e verdes do México.
As berinjelas precisavam ser cortadas ao meio para verificar quais insetos poderiam estar atingindo os portos de entrada, disse Brewer.
E uma sacola de favo de mel seco era particularmente preocupante.
“Somos sensíveis ao mel e há muitas doenças estranhas que podem dizimar nossa população de abelhas”, disse Brewer. Agentes apreenderam um lado inteiro de uma vaca cortado em quartos; metade de um peixe defumado cru cheio de larvas; e frangos — abatidos pouco antes da partida, disseram os oficiais.
Muitas vezes, as apreensões são comidas tradicionais de comunidades imigrantes. “É o sabor de casa deles”, disse Brewer. “Na maioria das vezes, eles acham que não podem conseguir isso aqui ou é apenas um gosto de casa que eles desejam desesperadamente. Muitos viajantes de primeira viagem simplesmente não percebem que você pode conseguir quase tudo aqui, então eles tentam trazer.”
Mas os riscos de permitir que passageiros tragam a comida caseira da vovó e presunto caro são muito grandes, dizem os oficiais.
Coisas desse tipo, normalmente é o que não queremos que entre, porque não temos a menor ideia de onde foi fabricado, o que contém”, disse Brewer. “É muito importante não introduzirmos inadvertidamente uma doença animal aqui que ainda não exista no país.”
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