No Equador, a banana d’água se chama cavendish. É maior, mais doce e cremosa do que sua versão brasileira. Nas plantações e centros de distribuição, ela é lavada, separada e tratada como se estivesse em um spa. O destino dos cachos mais bonitos é a mesa de grã-finos na Europa e nos EUA. Não há dúvida, os equatorianos criaram a banana premium.
A invencionice tem uma lógica simples. Pelos menos parte da produção de uma matéria-prima rende muito mais dinheiro no mercado internacional se tiver algum valor agregado. Nos últimos anos, segundo produtores equatorianos, os europeus e americanos mais endinheirados vêm mostrando que a estratégia dá resultado.
O país é hoje o maior exportador de bananas do mundo. A produção traz mais de US$ 2 bilhões em divisas por ano e difunde uma longa cadeia produtiva que cria cerca de 1 milhão de empregos, segundo Eduardo Ledesma García, diretor da Associação dos Exportadores de Banana do Equador. “Se o governo atual ajudasse, poderíamos crescer muito mais”, diz Ledesma.
Quando o assunto é banana, o equatoriano age como connoisseur. Assim como os esquimós têm diferentes palavras para neve, o Equador coleciona as suas para descrever a fruta e seu estágio de maturação. A olho do leigo, no entanto, a maioria delas quer dizer uma coisa só: banana.
Multiplicação. A doutrina da banana é replicada em outros setores. A cotação do chocolate, por exemplo, disparou no mercado internacional desde que o produto caiu nas graças de chineses e indianos. Os equatorianos perceberam o movimento e começaram a nascer pequenas fábricas de chocolate artesanal pelo país inteiro.
Uma das mais conhecidas é a Pacari. Comandada pelo empresário Santiago Peralta, ela vem deixando no chinelo a concorrência belga e suíça com seu chocolate gourmet. Suas barras foram premiadas como as melhores do mundo por cinco anos seguidos e a marca já tem mais de 160 reconhecimentos internacionais. A grande estrela da companhia é uma variação orgânica de menta, que faz Peralta afirmar que o Equador já é o país do chocolate.
Camarão. Uma novela parecida acontece em Guayaquil. Nos tanques da capital econômica do país está a indústria que mais cresce no Equador. A qualidade do camarão equatoriano foi capaz de cavar um lugar para o produto no mercado chinês, o mais competitivo do mundo. A consequência é um setor que aumenta a um ritmo de até 14% por ano.
A fama do bicho é justificada: em média, ele é duas vezes em média maior que o brasileiro. E tamanho, às vezes, é documento. No Brasil, segundo José Antonio Camposano, presidente da associação local de produtores, o camarão é menor porque a oferta não supre a demanda e o produto é obrigado a ir para a mesa do consumidor mais cedo.
Sabendo disso, o Equador negocia com o governo brasileiro a chance de colocar seu top de linha nas prateleiras dos supermercados do País. A negociação deve ser concluída em junho, segundo Camposano, se o bom senso prevalecer sobre o lobby dos criadores nacionais, que querem manter sua reserva de mercado.
“Não queremos concorrer com o camarão brasileiro”, diz Camposano. “Estamos interessados na elite, em uma fatia do mercado que está carente de um produto de alta qualidade. Não há razão para o consumidor brasileiro pagar mais caro por um camarão de qualidade inferior”.