BERLIM - A Alemanha autorizou nesta segunda-feira, 20, a abertura de algumas lojas e a Noruega fez o mesmo com as creches, em uma Europa que começa a aliviar seu confinamento com prudência, graças aos primeiros sinais de contenção da pandemia de coronavírus.
Governos de todo o mundo debatem como e quando suspender o confinamento, que mantém mais da metade da humanidade trancada em suas casas e paralisa a economia global, apesar de o número de mortos ainda ser alto, especialmente nos EUA, que ultrapassou os 40 mil mortos.
Vários países como França (mais de 20 mil mortos), Espanha (21 mil) e Itália (mais de 24,1 mil) registram uma diminuição no número de contagiados e mortos, permitindo que os governos considerem as primeiras medidas de desconfinamento nas próximas semanas.
Na Alemanha, com mais de 139 mil casos registrados e 4 mil mortes, a abertura da maioria das lojas com menos de 800 metros foi autorizada a partir desta segunda-feira, 20.
'Orgias de discussão'
A pandemia está "sob controle e é administrável", avaliou o ministro da Saúde, Jens Spahn. As medidas serão aplicadas de maneira diferente nas 16 regiões do país, e muitas empresas ainda permaneciam nesta segunda-feira em Berlim.
Em Leipzig (leste), Manuel Fischer, proprietário de uma loja de roupas, disse estar "incrivelmente feliz" por poder reabrir.
Centros culturais, bares, restaurantes, áreas de lazer e quadras esportivas ainda estão fechados. As escolas de ensino fundamental e médio reabrirão gradualmente a partir de 4 de maio.
A instrução para respeitar uma distância mínima de um metro e meio em locais públicos ainda está em vigor e o uso de máscaras é "fortemente recomendado".
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Considerando o novo coronavírus "sob controle", a Alemanha inicia seu desconfinamento nesta segunda-feira. Outros países do continente europeu, fortemente atingido pela pandemia, também fexibilizam o confinamento de suas populações.
A situação é "frágil", destacou a chanceler Angela Merkel, que na segunda-feira não escondeu sua raiva das "orgias de discussões" no país sobre um possível desconfinamento total e pelo crescente descumprimento, na sua opinião, das regras do distanciamento.
"Estamos no início da pandemia e ainda estamos longe de ter deixado o pior para trás", alertou a chancelar, reconhecendo que uma "recaída seria lamentável".
Essa estratégia de saída da crise na Alemanha, o motor econômico do continente, é observada de perto pelo resto de uma Europa confinada há um mês.
Creches e escolas abertas
Na Noruega, onde a pandemia também parece estar sob controle, creches e escolas para crianças reabriram nesta segunda-feira após cinco semanas.
Em uma creche ao norte de Oslo, as crianças ficaram felizes em encontrar seus amigos novamente. Os funcionários, por sua vez, desinfetavam regularmente os brinquedos.
Outros países europeus, como Áustria e Dinamarca, já haviam começado a flexibilizar suas restrições.
Retomada das atividades
O desafio de sair do confinamento é enorme: relançar a atividade e conter os riscos de multidões para impedir o ressurgimento do vírus.
Um sinal da urgência econômica causada pela pandemia é que o Banco da Espanha prevê para 2020 uma queda no PIB entre 6,6% e 13,6%, algo "sem precedentes na história recente".
Enquanto isso, o petróleo dos Estados Unidos chegou a despencar nesta segunda-feira devido à saturação das reservas em plena desaceleração econômica.
"Vamos ter de aprender a conviver com o vírus", alertou o primeiro-ministro francês, Edouard Philippe. A França está considerando um desconfinamento a partir de 11 de maio, mas será muito gradual.
Na Itália, onde nesta segunda-feira o número de pacientes caiu pela primeira vez, as primeiras medidas não serão adotadas até 3 de maio, mas aos poucos as empresas serão reabertas, mesmo que parcialmente e com muita cautela.
No Reino Unido, o confinamento foi prolongado por pelo menos mais três semanas. Com mais de 16.500 mortes, é um dos países mais atingidos pela pandemia, apesar de nesta segunda-feira ter o menor número de mortes (449) em duas semanas.
Ramadã sombrio
Desde o seu surgimento em dezembro, em Wuhan, uma cidade no centro da China, a pandemia causou mais de 165 mil mortes em todo o mundo, de acordo com uma contagem da France-Presse feita a partir de fontes oficiais nesta segunda-feira.
O Japão, por sua vez, já tem o maior número de casos na Ásia, depois de China e Índia, com mais de 10 mil contágios, apesar do estado de emergência.
Nos Estados Unidos, onde o presidente Donald Trump pressiona por uma rápida recuperação da atividade econômica em contraposição a vários governadores democratas, o Estado de Nova York, epicentro da epidemia no país, anunciou que sua curva começa a ser "descendente".
Os números, entretanto, continuam a subir. O patamar de 40 mil mortos foi rompido no domingo, segundo a Universidade Johns Hopkins.
Em relação às críticas de Washington à demora na gestão da Organização Mundial da Saúde (OMS), o diretor-geral da instituição, Tedros Adhanom Ghebreyesus, defendeu suas ações na segunda-feira e afirmou que "lançamos o alerta desde o primeiro dia".
Em outras partes do mundo, o número de mortes também está subindo, ultrapassando a barreira de 2 mil na Turquia e mil na África.
E depois da Páscoa cristã e judaica, o mundo muçulmano se prepara para um sombrio Ramadã, em um confinado Oriente Médio. "Nossos corações choram", lamentou o muezzin da Grande Mesquita de Meca, a cidade sagrada do Islã, que parece deserta.
A América Latina, por sua vez, ultrapassou 100 mil casos e tem pouco mais de 5 mil mortes, segundo a contagem da France-Presse.
No México, o governo concordou com as autoridades americanas em prorrogar mais 30 dias, até 21 de maio, restrições ao tráfego terrestre "não essencial" na fronteira comum./AFP