BERLIM - A Alemanha vive uma "pandemia dos não vacinados", alertou o ministro da Saúde, Jens Spahn, em entrevista a repórteres nesta quarta-feira, 3. "A quarta onda da pandemia está nos atingindo com força", disse ao relatar que a maior economia da Europa viu os casos de covid-19 dispararem nas últimas semanas.
Segundo o ministro, as pessoas relutantes a se vacinar têm grande parte da responsabilidade por essa situação. "É uma pandemia essencialmente dos não vacinados, e é grande", afirmou o ministro conservador. "A quarta onda da pandemia avança, como temíamos, porque o número de pessoas vacinadas não é suficiente", corroborou Lothar Wieler, presidente do Instituto Robert Koch (RKI).
Nesta quarta-feira, o RKI, que atua na área de vigilância epidemiológica, informou mais de 20 mil novos casos em 24 horas e 194 mortes, uma incidência próxima aos níveis registrados em maio. Segundo a Associação de Hospitais alemã, os atendimentos hospitalares de pacientes de covid aumentaram 40% em uma semana. Nas unidades de terapia intensiva (UTI), o aumento foi de 15%.
De acordo com os últimos dados do RKI, 55,6 milhões de pessoas receberam duas doses da vacina - o equivalente a 66,8% da população. "Os não vacinados têm um alto risco de se infectarem nos próximos meses e alguns deles podem adoecer gravemente", alertou Wieler.
Mas convencê-los não é tarefa fácil. Uma pesquisa da Forsa encomendada pelo ministério da Saúde revelou recentemente que 65% dos entrevistados que não estão vacinados não querem "de jeito nenhum" receber a vacina.
"Se a situação continuar se agravando nos hospitais a nível regional, é possível que novas restrições sejam impostas somente aos não vacinados", alertou o porta-voz do governo, Steffen Seibert.
O ressurgimento das infecções chega em um momento politicamente delicado para a Alemanha, quando os social-democratas, vencedores das eleições de 26 de setembro, negociam a formação de um governo com os Verdes e os liberais para tentar alcançar um acordo em dezembro.
Até então, o governo conservador de Angela Merkel, que abandonará o poder após 16 anos de mandato, segue à frente do Executivo.
A chanceler disse neste fim de semana estar "muito preocupada" com a evolução da pandemia e que lamenta o número elevado de pessoas maiores de 60 anos não vacinadas. Ela reiterou, no entanto, que não considera necessário tornar a vacinação obrigatória. /AFP