Opinião|Ameaças de Trump à democracia americana exigem mudanças na Constituição


Progressistas tem se apegado à Carta para responsabilizá-lo, mas todos os esforços falharam

Por Aziz Rana

Na quinta-feira, a Suprema Corte reuniu-se para discutir se Donald Trump desfruta de imunidade jurídica por tentar reverter o resultado da eleição de 2020, quando era presidente. Mesmo se os ministros eventualmente decidirem contra ele, os progressistas não deveriam celebrar a Constituição enquanto o melhor bastião contra Trump. Na realidade, a Carta — por razões que transcendem Trump, o precedem há muito e poderiam seguir vigorando para muito além de sua existência — torna nossa democracia quase inexequível.

Por anos, sempre que Trump ameaçou princípios democráticos, os progressistas apelaram para a Constituição em busca de ajuda, procurando no texto ferramentas que ou poriam fim à sua carreira política ou pelo menos conteriam sua corrupção. Ele foi processado sob cláusulas de proveitos da Constituição. Sofreu dois impeachments. Houve uma votação no Congresso instando o então vice-presidente Mike Pence a invocar a 25.ª Emenda para proclamar Trump inapto para a função. Mais recentemente, advogados argumentaram que os Estados poderiam usar a 14.ª Emenda para remover Trump das cédulas eleitorais em razão de seu papel no ataque de 6 de janeiro de 2021.

Todos esses esforços foram motivados por um desejo louvável de responsabilizar Trump por suas ações. Todos falharam. E conforme nos dirigimos para o ardor de uma temporada eleitoral, nós precisamos encarar uma verdade simples: a Constituição não vai nos salvar de Donald Trump. Pelo contrário, para virar a página de Trump — e da política que ele engendrou — será necessário mudar a Carta fundamentalmente.

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Não se trata apenas de Trump nunca ter sido capaz de se eleger presidente não fosse o Colégio Eleitoral. Pensem nos motivos daqueles esforços anteriores de usar a Constituição para responsabilizar Trump terem fracassado. Os processos de impeachment ruíram no Senado porque a Casa confere poder desigualmente para Estados rurais e conservadores. A Suprema Corte foi capaz não apenas de manter Trump nas cédulas no Colorado, mas também de estreitar as circunstâncias nas quais a desqualificação poderia ser usada, porque os republicanos conseguiram nomear a maioria dos ministros do tribunal apesar de perder no voto popular em sete das ultimas oito eleições presidenciais.

Donald Trump durante julgamento do caso Stormy Daniels em Nova York. Foto: Jeenah Moon/AFP

Por anos, os progressistas foram reticentes em reconhecer esses fatos, talvez por força do hábito. Enquanto a maioria dos países considera suas Constituições regras para o governo — que podem ficar ultrapassadas e ser reformuladas se necessário — nossos políticos contam rotineiramente a história de um excepcionalismo americano arraigado na nossa Constituição. A Carta é um documento sagrado que, conforme Barack Obama colocou certa vez, “lançou o improvável experimento dos Estados Unidos na democracia” fundamentado em princípios comuns de igualdade, autogoverno e liberdades pessoais.

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Nestes anos Trump, à medida que pesquisas mostram alguns americanos se afastando desses ideais comuns, os progressistas estão se apegando com mais força ainda à Constituição enquanto um símbolo sob ameaça.

Seis meses atrás, por exemplo, quando Trump conclamou o “extermínio” das atuais regras eleitorais, os progressistas ficaram compreensivelmente ultrajados. O deputado Don Beyer, de Virgínia, rotulou-o como um “inimigo da Constituição”. O porta-voz da Casa Branca Andrew Bates proclamou que “atacar” o “sacrossanto” documento era uma “execração para a alma da nossa nação”. O problema é que esses votos de fidelidade à Constituição não são capazes de substituir o convencimento real do público a respeito da importância da democracia inclusiva.

Unir-se em torno da Constituição significa aceitar o mesmo texto que provoca essas patologias. Suas regras fortalecem a mão dos indiferentes ou até de quem se opõe ao princípio de uma pessoa, um voto. Finalmente, essas regras facilitam o caminho para a direita trumpista chegar ao poder sem conquistar a maioria dos eleitores. E levantam numerosas barreiras para responsabilizações — mesmo quando presidentes tentam subverter eleições.

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O choque ao sistema constitucional que Trump representa não começou e não terminará com ele. A melhor — e talvez única — maneira de conter a política que o cerca é reformar o governo para que ele passe a representar muito mais a vontade dos americanos. O objetivo é evitar que qualquer autoritário chegue ao poder sem obter a maioria dos votos dos cidadãos e impregnar instituições poderosas de juízes e autoridades absurdamente fora de sintonia com o público. Mas isso requer mudanças extensas nos nossos sistemas jurídico e político, incluindo na própria Constituição.

Nós precisamos de novas leis de financiamento de campanha e mais direitos eleitorais. Precisamos pôr fim ao mecanismo de obstrução no Senado, eliminar o Colégio Eleitoral, combater manipulações de circunscrições eleitorais e interferências partidárias em processos de votação, adotar distritos legislativos com vários membros e acrescentar novos Estados, como Washington, DC. Precisamos reduzir o poder do Senado, talvez transformando a Casa em um “conselho de revisão”, mais cerimonial, conforme propôs Jamelle Bouie.

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Uma reforma dessa magnitude exige uma reação contra o imenso poder da Suprema Corte por meio de medidas como limites de duração de mandato dos ministros e uma expansão no número de magistrados do tribunal. Um processo mais simples de formulação e aprovação de emendas constitucionais daria aos americanos poder para atualizar suas instituições e incorporar novos direitos à Carta, em vez de ter que depender apenas do que os magistrados decidem.

Sem dúvida tais mudanças podem parecer infactíveis politicamente. Mas atenderiam anseios de americanos preocupados a respeito dos perigos representados por Trump levar a sério uma agenda tão abrangente, se não por outra razão porque muitos na direita já estão trabalhando em suas próprias reformas constitucionais.

Governador da Flórida Ron DeSantis fala com a imprensa. O conservador tem apoiado movimento que defende mudanças na Constituição. Foto: Phil Sears/Associated Press
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Grupos como a Convenção de Estados (que tem apoio veemente do governador da Flórida, Ron DeSantis) foram bem-sucedidos em fazer 19 dos 34 Estados exigidos pelo Artigo 5.º da Constituição concordar com a convocação de uma nova assembleia constituinte. O pacote de mudanças potenciais da Convenção de Estados inclui conferir “a uma maioria simples de Estados” a capacidade de “rescindir ações do Congresso, do presidente ou de agências governamentais”, dando poder a autoridades republicanas de anular qualquer política à qual se oponham, independentemente dela desfrutar ou não de vasto apoio popular. Conforme escreveu David Pozen, da Faculdade de Direito de Columbia, a direita imaginou até como orientar essa segunda convenção de maneira a garantir que autoridades estaduais, de novo desproporcionalmente republicanas, controlem o que é proposto e o processo de votação.

Esses esforços persistirão mesmo depois de Trump deixar o palco da política. E enquanto os progressistas se recusarem a encarar o que precisa ser feito para consertar a Constituição os apoiadores do ex-presidente e grupos como a Convenção de Estados controlarão esse debate.

Cabe agora aos americanos evitar depreender lições erradas deste momento. Trump poderá perder nas urnas ou ser condenado em um dos quatro indiciamentos criminais a que responde, incluindo o caso cujo julgamento começou este mês em Manhattan. Se ele for responsabilizado, não terá sido porque a Constituição nos salvou, dadas todas as suas patologias. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Na quinta-feira, a Suprema Corte reuniu-se para discutir se Donald Trump desfruta de imunidade jurídica por tentar reverter o resultado da eleição de 2020, quando era presidente. Mesmo se os ministros eventualmente decidirem contra ele, os progressistas não deveriam celebrar a Constituição enquanto o melhor bastião contra Trump. Na realidade, a Carta — por razões que transcendem Trump, o precedem há muito e poderiam seguir vigorando para muito além de sua existência — torna nossa democracia quase inexequível.

Por anos, sempre que Trump ameaçou princípios democráticos, os progressistas apelaram para a Constituição em busca de ajuda, procurando no texto ferramentas que ou poriam fim à sua carreira política ou pelo menos conteriam sua corrupção. Ele foi processado sob cláusulas de proveitos da Constituição. Sofreu dois impeachments. Houve uma votação no Congresso instando o então vice-presidente Mike Pence a invocar a 25.ª Emenda para proclamar Trump inapto para a função. Mais recentemente, advogados argumentaram que os Estados poderiam usar a 14.ª Emenda para remover Trump das cédulas eleitorais em razão de seu papel no ataque de 6 de janeiro de 2021.

Todos esses esforços foram motivados por um desejo louvável de responsabilizar Trump por suas ações. Todos falharam. E conforme nos dirigimos para o ardor de uma temporada eleitoral, nós precisamos encarar uma verdade simples: a Constituição não vai nos salvar de Donald Trump. Pelo contrário, para virar a página de Trump — e da política que ele engendrou — será necessário mudar a Carta fundamentalmente.

Não se trata apenas de Trump nunca ter sido capaz de se eleger presidente não fosse o Colégio Eleitoral. Pensem nos motivos daqueles esforços anteriores de usar a Constituição para responsabilizar Trump terem fracassado. Os processos de impeachment ruíram no Senado porque a Casa confere poder desigualmente para Estados rurais e conservadores. A Suprema Corte foi capaz não apenas de manter Trump nas cédulas no Colorado, mas também de estreitar as circunstâncias nas quais a desqualificação poderia ser usada, porque os republicanos conseguiram nomear a maioria dos ministros do tribunal apesar de perder no voto popular em sete das ultimas oito eleições presidenciais.

Donald Trump durante julgamento do caso Stormy Daniels em Nova York. Foto: Jeenah Moon/AFP

Por anos, os progressistas foram reticentes em reconhecer esses fatos, talvez por força do hábito. Enquanto a maioria dos países considera suas Constituições regras para o governo — que podem ficar ultrapassadas e ser reformuladas se necessário — nossos políticos contam rotineiramente a história de um excepcionalismo americano arraigado na nossa Constituição. A Carta é um documento sagrado que, conforme Barack Obama colocou certa vez, “lançou o improvável experimento dos Estados Unidos na democracia” fundamentado em princípios comuns de igualdade, autogoverno e liberdades pessoais.

Nestes anos Trump, à medida que pesquisas mostram alguns americanos se afastando desses ideais comuns, os progressistas estão se apegando com mais força ainda à Constituição enquanto um símbolo sob ameaça.

Seis meses atrás, por exemplo, quando Trump conclamou o “extermínio” das atuais regras eleitorais, os progressistas ficaram compreensivelmente ultrajados. O deputado Don Beyer, de Virgínia, rotulou-o como um “inimigo da Constituição”. O porta-voz da Casa Branca Andrew Bates proclamou que “atacar” o “sacrossanto” documento era uma “execração para a alma da nossa nação”. O problema é que esses votos de fidelidade à Constituição não são capazes de substituir o convencimento real do público a respeito da importância da democracia inclusiva.

Unir-se em torno da Constituição significa aceitar o mesmo texto que provoca essas patologias. Suas regras fortalecem a mão dos indiferentes ou até de quem se opõe ao princípio de uma pessoa, um voto. Finalmente, essas regras facilitam o caminho para a direita trumpista chegar ao poder sem conquistar a maioria dos eleitores. E levantam numerosas barreiras para responsabilizações — mesmo quando presidentes tentam subverter eleições.

O choque ao sistema constitucional que Trump representa não começou e não terminará com ele. A melhor — e talvez única — maneira de conter a política que o cerca é reformar o governo para que ele passe a representar muito mais a vontade dos americanos. O objetivo é evitar que qualquer autoritário chegue ao poder sem obter a maioria dos votos dos cidadãos e impregnar instituições poderosas de juízes e autoridades absurdamente fora de sintonia com o público. Mas isso requer mudanças extensas nos nossos sistemas jurídico e político, incluindo na própria Constituição.

Nós precisamos de novas leis de financiamento de campanha e mais direitos eleitorais. Precisamos pôr fim ao mecanismo de obstrução no Senado, eliminar o Colégio Eleitoral, combater manipulações de circunscrições eleitorais e interferências partidárias em processos de votação, adotar distritos legislativos com vários membros e acrescentar novos Estados, como Washington, DC. Precisamos reduzir o poder do Senado, talvez transformando a Casa em um “conselho de revisão”, mais cerimonial, conforme propôs Jamelle Bouie.

Uma reforma dessa magnitude exige uma reação contra o imenso poder da Suprema Corte por meio de medidas como limites de duração de mandato dos ministros e uma expansão no número de magistrados do tribunal. Um processo mais simples de formulação e aprovação de emendas constitucionais daria aos americanos poder para atualizar suas instituições e incorporar novos direitos à Carta, em vez de ter que depender apenas do que os magistrados decidem.

Sem dúvida tais mudanças podem parecer infactíveis politicamente. Mas atenderiam anseios de americanos preocupados a respeito dos perigos representados por Trump levar a sério uma agenda tão abrangente, se não por outra razão porque muitos na direita já estão trabalhando em suas próprias reformas constitucionais.

Governador da Flórida Ron DeSantis fala com a imprensa. O conservador tem apoiado movimento que defende mudanças na Constituição. Foto: Phil Sears/Associated Press

Grupos como a Convenção de Estados (que tem apoio veemente do governador da Flórida, Ron DeSantis) foram bem-sucedidos em fazer 19 dos 34 Estados exigidos pelo Artigo 5.º da Constituição concordar com a convocação de uma nova assembleia constituinte. O pacote de mudanças potenciais da Convenção de Estados inclui conferir “a uma maioria simples de Estados” a capacidade de “rescindir ações do Congresso, do presidente ou de agências governamentais”, dando poder a autoridades republicanas de anular qualquer política à qual se oponham, independentemente dela desfrutar ou não de vasto apoio popular. Conforme escreveu David Pozen, da Faculdade de Direito de Columbia, a direita imaginou até como orientar essa segunda convenção de maneira a garantir que autoridades estaduais, de novo desproporcionalmente republicanas, controlem o que é proposto e o processo de votação.

Esses esforços persistirão mesmo depois de Trump deixar o palco da política. E enquanto os progressistas se recusarem a encarar o que precisa ser feito para consertar a Constituição os apoiadores do ex-presidente e grupos como a Convenção de Estados controlarão esse debate.

Cabe agora aos americanos evitar depreender lições erradas deste momento. Trump poderá perder nas urnas ou ser condenado em um dos quatro indiciamentos criminais a que responde, incluindo o caso cujo julgamento começou este mês em Manhattan. Se ele for responsabilizado, não terá sido porque a Constituição nos salvou, dadas todas as suas patologias. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Na quinta-feira, a Suprema Corte reuniu-se para discutir se Donald Trump desfruta de imunidade jurídica por tentar reverter o resultado da eleição de 2020, quando era presidente. Mesmo se os ministros eventualmente decidirem contra ele, os progressistas não deveriam celebrar a Constituição enquanto o melhor bastião contra Trump. Na realidade, a Carta — por razões que transcendem Trump, o precedem há muito e poderiam seguir vigorando para muito além de sua existência — torna nossa democracia quase inexequível.

Por anos, sempre que Trump ameaçou princípios democráticos, os progressistas apelaram para a Constituição em busca de ajuda, procurando no texto ferramentas que ou poriam fim à sua carreira política ou pelo menos conteriam sua corrupção. Ele foi processado sob cláusulas de proveitos da Constituição. Sofreu dois impeachments. Houve uma votação no Congresso instando o então vice-presidente Mike Pence a invocar a 25.ª Emenda para proclamar Trump inapto para a função. Mais recentemente, advogados argumentaram que os Estados poderiam usar a 14.ª Emenda para remover Trump das cédulas eleitorais em razão de seu papel no ataque de 6 de janeiro de 2021.

Todos esses esforços foram motivados por um desejo louvável de responsabilizar Trump por suas ações. Todos falharam. E conforme nos dirigimos para o ardor de uma temporada eleitoral, nós precisamos encarar uma verdade simples: a Constituição não vai nos salvar de Donald Trump. Pelo contrário, para virar a página de Trump — e da política que ele engendrou — será necessário mudar a Carta fundamentalmente.

Não se trata apenas de Trump nunca ter sido capaz de se eleger presidente não fosse o Colégio Eleitoral. Pensem nos motivos daqueles esforços anteriores de usar a Constituição para responsabilizar Trump terem fracassado. Os processos de impeachment ruíram no Senado porque a Casa confere poder desigualmente para Estados rurais e conservadores. A Suprema Corte foi capaz não apenas de manter Trump nas cédulas no Colorado, mas também de estreitar as circunstâncias nas quais a desqualificação poderia ser usada, porque os republicanos conseguiram nomear a maioria dos ministros do tribunal apesar de perder no voto popular em sete das ultimas oito eleições presidenciais.

Donald Trump durante julgamento do caso Stormy Daniels em Nova York. Foto: Jeenah Moon/AFP

Por anos, os progressistas foram reticentes em reconhecer esses fatos, talvez por força do hábito. Enquanto a maioria dos países considera suas Constituições regras para o governo — que podem ficar ultrapassadas e ser reformuladas se necessário — nossos políticos contam rotineiramente a história de um excepcionalismo americano arraigado na nossa Constituição. A Carta é um documento sagrado que, conforme Barack Obama colocou certa vez, “lançou o improvável experimento dos Estados Unidos na democracia” fundamentado em princípios comuns de igualdade, autogoverno e liberdades pessoais.

Nestes anos Trump, à medida que pesquisas mostram alguns americanos se afastando desses ideais comuns, os progressistas estão se apegando com mais força ainda à Constituição enquanto um símbolo sob ameaça.

Seis meses atrás, por exemplo, quando Trump conclamou o “extermínio” das atuais regras eleitorais, os progressistas ficaram compreensivelmente ultrajados. O deputado Don Beyer, de Virgínia, rotulou-o como um “inimigo da Constituição”. O porta-voz da Casa Branca Andrew Bates proclamou que “atacar” o “sacrossanto” documento era uma “execração para a alma da nossa nação”. O problema é que esses votos de fidelidade à Constituição não são capazes de substituir o convencimento real do público a respeito da importância da democracia inclusiva.

Unir-se em torno da Constituição significa aceitar o mesmo texto que provoca essas patologias. Suas regras fortalecem a mão dos indiferentes ou até de quem se opõe ao princípio de uma pessoa, um voto. Finalmente, essas regras facilitam o caminho para a direita trumpista chegar ao poder sem conquistar a maioria dos eleitores. E levantam numerosas barreiras para responsabilizações — mesmo quando presidentes tentam subverter eleições.

O choque ao sistema constitucional que Trump representa não começou e não terminará com ele. A melhor — e talvez única — maneira de conter a política que o cerca é reformar o governo para que ele passe a representar muito mais a vontade dos americanos. O objetivo é evitar que qualquer autoritário chegue ao poder sem obter a maioria dos votos dos cidadãos e impregnar instituições poderosas de juízes e autoridades absurdamente fora de sintonia com o público. Mas isso requer mudanças extensas nos nossos sistemas jurídico e político, incluindo na própria Constituição.

Nós precisamos de novas leis de financiamento de campanha e mais direitos eleitorais. Precisamos pôr fim ao mecanismo de obstrução no Senado, eliminar o Colégio Eleitoral, combater manipulações de circunscrições eleitorais e interferências partidárias em processos de votação, adotar distritos legislativos com vários membros e acrescentar novos Estados, como Washington, DC. Precisamos reduzir o poder do Senado, talvez transformando a Casa em um “conselho de revisão”, mais cerimonial, conforme propôs Jamelle Bouie.

Uma reforma dessa magnitude exige uma reação contra o imenso poder da Suprema Corte por meio de medidas como limites de duração de mandato dos ministros e uma expansão no número de magistrados do tribunal. Um processo mais simples de formulação e aprovação de emendas constitucionais daria aos americanos poder para atualizar suas instituições e incorporar novos direitos à Carta, em vez de ter que depender apenas do que os magistrados decidem.

Sem dúvida tais mudanças podem parecer infactíveis politicamente. Mas atenderiam anseios de americanos preocupados a respeito dos perigos representados por Trump levar a sério uma agenda tão abrangente, se não por outra razão porque muitos na direita já estão trabalhando em suas próprias reformas constitucionais.

Governador da Flórida Ron DeSantis fala com a imprensa. O conservador tem apoiado movimento que defende mudanças na Constituição. Foto: Phil Sears/Associated Press

Grupos como a Convenção de Estados (que tem apoio veemente do governador da Flórida, Ron DeSantis) foram bem-sucedidos em fazer 19 dos 34 Estados exigidos pelo Artigo 5.º da Constituição concordar com a convocação de uma nova assembleia constituinte. O pacote de mudanças potenciais da Convenção de Estados inclui conferir “a uma maioria simples de Estados” a capacidade de “rescindir ações do Congresso, do presidente ou de agências governamentais”, dando poder a autoridades republicanas de anular qualquer política à qual se oponham, independentemente dela desfrutar ou não de vasto apoio popular. Conforme escreveu David Pozen, da Faculdade de Direito de Columbia, a direita imaginou até como orientar essa segunda convenção de maneira a garantir que autoridades estaduais, de novo desproporcionalmente republicanas, controlem o que é proposto e o processo de votação.

Esses esforços persistirão mesmo depois de Trump deixar o palco da política. E enquanto os progressistas se recusarem a encarar o que precisa ser feito para consertar a Constituição os apoiadores do ex-presidente e grupos como a Convenção de Estados controlarão esse debate.

Cabe agora aos americanos evitar depreender lições erradas deste momento. Trump poderá perder nas urnas ou ser condenado em um dos quatro indiciamentos criminais a que responde, incluindo o caso cujo julgamento começou este mês em Manhattan. Se ele for responsabilizado, não terá sido porque a Constituição nos salvou, dadas todas as suas patologias. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Na quinta-feira, a Suprema Corte reuniu-se para discutir se Donald Trump desfruta de imunidade jurídica por tentar reverter o resultado da eleição de 2020, quando era presidente. Mesmo se os ministros eventualmente decidirem contra ele, os progressistas não deveriam celebrar a Constituição enquanto o melhor bastião contra Trump. Na realidade, a Carta — por razões que transcendem Trump, o precedem há muito e poderiam seguir vigorando para muito além de sua existência — torna nossa democracia quase inexequível.

Por anos, sempre que Trump ameaçou princípios democráticos, os progressistas apelaram para a Constituição em busca de ajuda, procurando no texto ferramentas que ou poriam fim à sua carreira política ou pelo menos conteriam sua corrupção. Ele foi processado sob cláusulas de proveitos da Constituição. Sofreu dois impeachments. Houve uma votação no Congresso instando o então vice-presidente Mike Pence a invocar a 25.ª Emenda para proclamar Trump inapto para a função. Mais recentemente, advogados argumentaram que os Estados poderiam usar a 14.ª Emenda para remover Trump das cédulas eleitorais em razão de seu papel no ataque de 6 de janeiro de 2021.

Todos esses esforços foram motivados por um desejo louvável de responsabilizar Trump por suas ações. Todos falharam. E conforme nos dirigimos para o ardor de uma temporada eleitoral, nós precisamos encarar uma verdade simples: a Constituição não vai nos salvar de Donald Trump. Pelo contrário, para virar a página de Trump — e da política que ele engendrou — será necessário mudar a Carta fundamentalmente.

Não se trata apenas de Trump nunca ter sido capaz de se eleger presidente não fosse o Colégio Eleitoral. Pensem nos motivos daqueles esforços anteriores de usar a Constituição para responsabilizar Trump terem fracassado. Os processos de impeachment ruíram no Senado porque a Casa confere poder desigualmente para Estados rurais e conservadores. A Suprema Corte foi capaz não apenas de manter Trump nas cédulas no Colorado, mas também de estreitar as circunstâncias nas quais a desqualificação poderia ser usada, porque os republicanos conseguiram nomear a maioria dos ministros do tribunal apesar de perder no voto popular em sete das ultimas oito eleições presidenciais.

Donald Trump durante julgamento do caso Stormy Daniels em Nova York. Foto: Jeenah Moon/AFP

Por anos, os progressistas foram reticentes em reconhecer esses fatos, talvez por força do hábito. Enquanto a maioria dos países considera suas Constituições regras para o governo — que podem ficar ultrapassadas e ser reformuladas se necessário — nossos políticos contam rotineiramente a história de um excepcionalismo americano arraigado na nossa Constituição. A Carta é um documento sagrado que, conforme Barack Obama colocou certa vez, “lançou o improvável experimento dos Estados Unidos na democracia” fundamentado em princípios comuns de igualdade, autogoverno e liberdades pessoais.

Nestes anos Trump, à medida que pesquisas mostram alguns americanos se afastando desses ideais comuns, os progressistas estão se apegando com mais força ainda à Constituição enquanto um símbolo sob ameaça.

Seis meses atrás, por exemplo, quando Trump conclamou o “extermínio” das atuais regras eleitorais, os progressistas ficaram compreensivelmente ultrajados. O deputado Don Beyer, de Virgínia, rotulou-o como um “inimigo da Constituição”. O porta-voz da Casa Branca Andrew Bates proclamou que “atacar” o “sacrossanto” documento era uma “execração para a alma da nossa nação”. O problema é que esses votos de fidelidade à Constituição não são capazes de substituir o convencimento real do público a respeito da importância da democracia inclusiva.

Unir-se em torno da Constituição significa aceitar o mesmo texto que provoca essas patologias. Suas regras fortalecem a mão dos indiferentes ou até de quem se opõe ao princípio de uma pessoa, um voto. Finalmente, essas regras facilitam o caminho para a direita trumpista chegar ao poder sem conquistar a maioria dos eleitores. E levantam numerosas barreiras para responsabilizações — mesmo quando presidentes tentam subverter eleições.

O choque ao sistema constitucional que Trump representa não começou e não terminará com ele. A melhor — e talvez única — maneira de conter a política que o cerca é reformar o governo para que ele passe a representar muito mais a vontade dos americanos. O objetivo é evitar que qualquer autoritário chegue ao poder sem obter a maioria dos votos dos cidadãos e impregnar instituições poderosas de juízes e autoridades absurdamente fora de sintonia com o público. Mas isso requer mudanças extensas nos nossos sistemas jurídico e político, incluindo na própria Constituição.

Nós precisamos de novas leis de financiamento de campanha e mais direitos eleitorais. Precisamos pôr fim ao mecanismo de obstrução no Senado, eliminar o Colégio Eleitoral, combater manipulações de circunscrições eleitorais e interferências partidárias em processos de votação, adotar distritos legislativos com vários membros e acrescentar novos Estados, como Washington, DC. Precisamos reduzir o poder do Senado, talvez transformando a Casa em um “conselho de revisão”, mais cerimonial, conforme propôs Jamelle Bouie.

Uma reforma dessa magnitude exige uma reação contra o imenso poder da Suprema Corte por meio de medidas como limites de duração de mandato dos ministros e uma expansão no número de magistrados do tribunal. Um processo mais simples de formulação e aprovação de emendas constitucionais daria aos americanos poder para atualizar suas instituições e incorporar novos direitos à Carta, em vez de ter que depender apenas do que os magistrados decidem.

Sem dúvida tais mudanças podem parecer infactíveis politicamente. Mas atenderiam anseios de americanos preocupados a respeito dos perigos representados por Trump levar a sério uma agenda tão abrangente, se não por outra razão porque muitos na direita já estão trabalhando em suas próprias reformas constitucionais.

Governador da Flórida Ron DeSantis fala com a imprensa. O conservador tem apoiado movimento que defende mudanças na Constituição. Foto: Phil Sears/Associated Press

Grupos como a Convenção de Estados (que tem apoio veemente do governador da Flórida, Ron DeSantis) foram bem-sucedidos em fazer 19 dos 34 Estados exigidos pelo Artigo 5.º da Constituição concordar com a convocação de uma nova assembleia constituinte. O pacote de mudanças potenciais da Convenção de Estados inclui conferir “a uma maioria simples de Estados” a capacidade de “rescindir ações do Congresso, do presidente ou de agências governamentais”, dando poder a autoridades republicanas de anular qualquer política à qual se oponham, independentemente dela desfrutar ou não de vasto apoio popular. Conforme escreveu David Pozen, da Faculdade de Direito de Columbia, a direita imaginou até como orientar essa segunda convenção de maneira a garantir que autoridades estaduais, de novo desproporcionalmente republicanas, controlem o que é proposto e o processo de votação.

Esses esforços persistirão mesmo depois de Trump deixar o palco da política. E enquanto os progressistas se recusarem a encarar o que precisa ser feito para consertar a Constituição os apoiadores do ex-presidente e grupos como a Convenção de Estados controlarão esse debate.

Cabe agora aos americanos evitar depreender lições erradas deste momento. Trump poderá perder nas urnas ou ser condenado em um dos quatro indiciamentos criminais a que responde, incluindo o caso cujo julgamento começou este mês em Manhattan. Se ele for responsabilizado, não terá sido porque a Constituição nos salvou, dadas todas as suas patologias. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Na quinta-feira, a Suprema Corte reuniu-se para discutir se Donald Trump desfruta de imunidade jurídica por tentar reverter o resultado da eleição de 2020, quando era presidente. Mesmo se os ministros eventualmente decidirem contra ele, os progressistas não deveriam celebrar a Constituição enquanto o melhor bastião contra Trump. Na realidade, a Carta — por razões que transcendem Trump, o precedem há muito e poderiam seguir vigorando para muito além de sua existência — torna nossa democracia quase inexequível.

Por anos, sempre que Trump ameaçou princípios democráticos, os progressistas apelaram para a Constituição em busca de ajuda, procurando no texto ferramentas que ou poriam fim à sua carreira política ou pelo menos conteriam sua corrupção. Ele foi processado sob cláusulas de proveitos da Constituição. Sofreu dois impeachments. Houve uma votação no Congresso instando o então vice-presidente Mike Pence a invocar a 25.ª Emenda para proclamar Trump inapto para a função. Mais recentemente, advogados argumentaram que os Estados poderiam usar a 14.ª Emenda para remover Trump das cédulas eleitorais em razão de seu papel no ataque de 6 de janeiro de 2021.

Todos esses esforços foram motivados por um desejo louvável de responsabilizar Trump por suas ações. Todos falharam. E conforme nos dirigimos para o ardor de uma temporada eleitoral, nós precisamos encarar uma verdade simples: a Constituição não vai nos salvar de Donald Trump. Pelo contrário, para virar a página de Trump — e da política que ele engendrou — será necessário mudar a Carta fundamentalmente.

Não se trata apenas de Trump nunca ter sido capaz de se eleger presidente não fosse o Colégio Eleitoral. Pensem nos motivos daqueles esforços anteriores de usar a Constituição para responsabilizar Trump terem fracassado. Os processos de impeachment ruíram no Senado porque a Casa confere poder desigualmente para Estados rurais e conservadores. A Suprema Corte foi capaz não apenas de manter Trump nas cédulas no Colorado, mas também de estreitar as circunstâncias nas quais a desqualificação poderia ser usada, porque os republicanos conseguiram nomear a maioria dos ministros do tribunal apesar de perder no voto popular em sete das ultimas oito eleições presidenciais.

Donald Trump durante julgamento do caso Stormy Daniels em Nova York. Foto: Jeenah Moon/AFP

Por anos, os progressistas foram reticentes em reconhecer esses fatos, talvez por força do hábito. Enquanto a maioria dos países considera suas Constituições regras para o governo — que podem ficar ultrapassadas e ser reformuladas se necessário — nossos políticos contam rotineiramente a história de um excepcionalismo americano arraigado na nossa Constituição. A Carta é um documento sagrado que, conforme Barack Obama colocou certa vez, “lançou o improvável experimento dos Estados Unidos na democracia” fundamentado em princípios comuns de igualdade, autogoverno e liberdades pessoais.

Nestes anos Trump, à medida que pesquisas mostram alguns americanos se afastando desses ideais comuns, os progressistas estão se apegando com mais força ainda à Constituição enquanto um símbolo sob ameaça.

Seis meses atrás, por exemplo, quando Trump conclamou o “extermínio” das atuais regras eleitorais, os progressistas ficaram compreensivelmente ultrajados. O deputado Don Beyer, de Virgínia, rotulou-o como um “inimigo da Constituição”. O porta-voz da Casa Branca Andrew Bates proclamou que “atacar” o “sacrossanto” documento era uma “execração para a alma da nossa nação”. O problema é que esses votos de fidelidade à Constituição não são capazes de substituir o convencimento real do público a respeito da importância da democracia inclusiva.

Unir-se em torno da Constituição significa aceitar o mesmo texto que provoca essas patologias. Suas regras fortalecem a mão dos indiferentes ou até de quem se opõe ao princípio de uma pessoa, um voto. Finalmente, essas regras facilitam o caminho para a direita trumpista chegar ao poder sem conquistar a maioria dos eleitores. E levantam numerosas barreiras para responsabilizações — mesmo quando presidentes tentam subverter eleições.

O choque ao sistema constitucional que Trump representa não começou e não terminará com ele. A melhor — e talvez única — maneira de conter a política que o cerca é reformar o governo para que ele passe a representar muito mais a vontade dos americanos. O objetivo é evitar que qualquer autoritário chegue ao poder sem obter a maioria dos votos dos cidadãos e impregnar instituições poderosas de juízes e autoridades absurdamente fora de sintonia com o público. Mas isso requer mudanças extensas nos nossos sistemas jurídico e político, incluindo na própria Constituição.

Nós precisamos de novas leis de financiamento de campanha e mais direitos eleitorais. Precisamos pôr fim ao mecanismo de obstrução no Senado, eliminar o Colégio Eleitoral, combater manipulações de circunscrições eleitorais e interferências partidárias em processos de votação, adotar distritos legislativos com vários membros e acrescentar novos Estados, como Washington, DC. Precisamos reduzir o poder do Senado, talvez transformando a Casa em um “conselho de revisão”, mais cerimonial, conforme propôs Jamelle Bouie.

Uma reforma dessa magnitude exige uma reação contra o imenso poder da Suprema Corte por meio de medidas como limites de duração de mandato dos ministros e uma expansão no número de magistrados do tribunal. Um processo mais simples de formulação e aprovação de emendas constitucionais daria aos americanos poder para atualizar suas instituições e incorporar novos direitos à Carta, em vez de ter que depender apenas do que os magistrados decidem.

Sem dúvida tais mudanças podem parecer infactíveis politicamente. Mas atenderiam anseios de americanos preocupados a respeito dos perigos representados por Trump levar a sério uma agenda tão abrangente, se não por outra razão porque muitos na direita já estão trabalhando em suas próprias reformas constitucionais.

Governador da Flórida Ron DeSantis fala com a imprensa. O conservador tem apoiado movimento que defende mudanças na Constituição. Foto: Phil Sears/Associated Press

Grupos como a Convenção de Estados (que tem apoio veemente do governador da Flórida, Ron DeSantis) foram bem-sucedidos em fazer 19 dos 34 Estados exigidos pelo Artigo 5.º da Constituição concordar com a convocação de uma nova assembleia constituinte. O pacote de mudanças potenciais da Convenção de Estados inclui conferir “a uma maioria simples de Estados” a capacidade de “rescindir ações do Congresso, do presidente ou de agências governamentais”, dando poder a autoridades republicanas de anular qualquer política à qual se oponham, independentemente dela desfrutar ou não de vasto apoio popular. Conforme escreveu David Pozen, da Faculdade de Direito de Columbia, a direita imaginou até como orientar essa segunda convenção de maneira a garantir que autoridades estaduais, de novo desproporcionalmente republicanas, controlem o que é proposto e o processo de votação.

Esses esforços persistirão mesmo depois de Trump deixar o palco da política. E enquanto os progressistas se recusarem a encarar o que precisa ser feito para consertar a Constituição os apoiadores do ex-presidente e grupos como a Convenção de Estados controlarão esse debate.

Cabe agora aos americanos evitar depreender lições erradas deste momento. Trump poderá perder nas urnas ou ser condenado em um dos quatro indiciamentos criminais a que responde, incluindo o caso cujo julgamento começou este mês em Manhattan. Se ele for responsabilizado, não terá sido porque a Constituição nos salvou, dadas todas as suas patologias. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Opinião por Aziz Rana

Aziz Rana é professor de direito da Boston College e autor, mais recentemente, do livro “The Constitutional Bind: How Americans Came to Idolize a Document That Fails Them”.

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