BOGOTÁ - As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) avançaram nesta terça-feira, 31, em sua "última marcha", como o governo denominou o traslado dos guerrilheiros aos locais onde em no máximo seis meses deverão ser deixadas as armas após mais de meio século de conflito armado.
"No dia de hoje (terça-feira), 4.329 homens das FARC entraram nas zonas de desarmamento e esperamos que até esta quarta-feira (1º) se complete o traslado dos 2 mil combatentes restantes", afirmou, em coletiva de imprensa, o Alto Comissário para a Paz, Sergio Jaramillo.
De acordo com Jaramillo, 6,3 mil guerrilheiros, e não 5,8 mil como inicialmente o grupo rebelde havia estimado, devem se dirigir às 26 zonas em todo o país onde, sob a supervisão da ONU, devem se desarmar e preparar para a reinserção na vida civil.
Em botes e canoas a partir de lugares remotos, a pé ou em caminhões por inóspitas estradas, os combatentes das Farc carregam seus poucos pertences, em muitos casos acompanhados por seus animais de estimação.
A concentração das tropas da maior e mais antiga guerrilha do país estava prevista para 31 de dezembro no acordo de paz firmado no mês anterior, porém foi postergado para 31 de janeiro por problemas logísticos.
O presidente Juan Manuel Santos, vencedor do Nobel da Paz de 2016, reconheceu o "desafio" de adequar os lugares, pela dificuldade de acesso e falta de infraestrutura.
O chefe das Farc, Rodrigo "Timochenko" Londoño, propôs na semana passada adiar novamente a data da chegada dos homens das Farc aos campos de de desarmamento, porque em ao menos três deles ainda não havia nada construído e outros três careciam de eletricidade e água.
Segundo informe apresentado nesta terça-feira pela Fundação Paz e Reconciliação, uma ONG que investiga o conflito colombiano, somente um dos pontos de de desarmamento, o de Anori, no departamento de Antioquia, estava totalmente pronto para receber os rebeldes.
"A preparação das zonas de de desarmamento está entre 30% e 35%", afirmou o diretor da organização, León Valência.
As caminhadas, acompanhadas pela ONU e o governo, começaram no sábado, 28, e devem terminar nos próximos dias.
"Não tivemos um só incidente grave", afirmou Jaramillo, ao celebrar este avanço como um passo "extraordinário" na implementação da paz.
O funcionário da ONU, plenipotenciário nas negociações de paz desenvolvidas durante quatro anos em Cuba, reiterou que no momento não está contemplada a chegada às zonas de concentração de milicianos das Farc, que segundo estimativas oficiais seriam entre um e três para cada combatente.
Jaramillo também detalhou que os guerrilheiros presos que estão recebendo anistias e indultos poderão igualmente ir às zonas de de desarmamento para se beneficiarem dos projetos previstos.
Término. Após o fim do conflito com as Farc, o governo de Santos espera agora conseguir a "paz completa", com um pacto com o Exército de Libertação Nacional (ELN), última guerrilha ativa no território colombiano.
Para isto, ambas as partes se apressam para lançar negociações formais em 7 de fevereiro em Quito, após três anos de conversas confidenciais. Está prevista para esta quinta-feira, 2, a libertação do ex-congressista Odin Sánchez, sequestrado desde abril, e o indulto a dois combatentes.
No entanto, o ELN anunciou nesta terça que tem em seu poder um soldado que o Exército reportou como desaparecido dias atrás no departamento de Arauca, na fronteira com a Venezuela. O governo colombiano não se pronunciou sobre o tema. /AFP