CARACAS - O principal candidato opositor à presidência da Venezuela, Henri Falcón, denunciou irregularidades durante a eleição deste domingo, 20. Após votar, ele reclamou da presença de postos de informação e controle chavistas a menos de 200 metros dos locais de votação.
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Na véspera, o Conselho Nacional Eleitoral havia proibido a instalação desses postos. Também vetou o pagamento prometido pelo chavismo aos que registrassem seu voto nesses "pontos vermelhos" usando a "carteira da pátria", um sistema de identificação paralelo criado pelo chavismo para estimular a participação de seu eleitorado a base de gratificações. O registro já inclui 16 milhões de habitantes, em sua maioria chavistas. O país tem 20 milhões de eleitores aptos a votar.
"Prometeram 10 milhões de bolívares (US$ 12, pelo mercado negro) a quem registrar seu votos nos 'pontos vermelhos'. Não podemos vender nossa dignidade", reclamou Falcón. A reportagem viu esses postos chavistas colocados em frente de centros de votação.
Embora tenha apontados irregularidades, Falcón preferiu não responder se pensava em não reconhecer os resultados. No meio da tarde, meios de comunicação chavistas ou sob intervenção do governo já faziam análises de como será o próximo governo de Nicolás Maduro.
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"Não se pode seguir esperando paciência do povo. A inflação, a falta de medicamentos e a falta de transportes são os principais problemas hoje. Não há produção", disse o economista Julio Escalona ao canal Globovisión, que em 2013 mudou de dono após pressão chavista e deixou de criticar o governo.
Aposta
Um dos primeiros venezuelanos a votar na manhã deste domingo foi o presidente Nicolás Maduro, acusado por opositores de promover uma eleição sem garantias democráticas. O candidato à reeleição antecipou o processo eleitoral, previsto para o fim do ano, aproveitando um momento em que os principais líderes antichavistas estão impedidos de concorrer. Os opositores decidiram então boicotar a eleição e conseguiram que ela não seja reconhecida por parte da comunidade internacional.
“Fui o primeiro venezuelano a votar. É preciso fazer um governo de diálogo. Vou insistir no diálogo para a paz com todos os setores” , disse Maduro ao votar no colégio Miguel Antonio Caro, no bairro de Catia, em Caracas.
Seu primeiro mandato não se caracterizou pelo diálogo. O chavismo controla o Conselho Nacional Eleitoral, o Judiciário e o Legislativo, que teve funções tomadas por uma Assembleia Constituinte criada no ano passado. Protestos contra o avanço chavista sobre o Congresso resultaram em pelo menos 121 mortes.
Políticos opositores como Henrique Capriles (que perdeu para Maduro em 2013 e foi impedido de concorrer pela Justiça) e Leopoldo López (em prisão domiciliar) se recusaram a se unir em torno de um nome autorizado a competir e convocaram o boicote. Isso colocou como principal rival de Maduro o ex-chavista Henri Falcón.
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Maduro, que pretende conquistar o direito de governar até 2025, tentou nos últimos dias dar legitimidade ao processo. Prometeu que reconhecerá uma derrota imediatamente e convocou jornalistas a fazer imagens dele com “observadores estrangeiros”, políticos e diplomatas com vínculos com o chavismo.
Há 20 milhões de eleitores habilitados a votar. O resultado depende essencialmente da adesão dos eleitores antichavistas ao boicote. As últimas pesquisas do instituto Datanálisis colocam Falcón à frente de Maduro, mas em Caracas a mobilização de opositores nas ruas era discreta. Em contrapartida, os chavistas ocupavam ônibus pagos pelo Estado para chegar aos centros de votação.
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O voto não é obrigatório no país e o processo é eletrônico. Depois de escolher seu candidato na tela, o eleitor deposita um comprovante de papel em uma urna de papelão.
Entre os opositores que decidiram votar, um argumento comum era que a participação seria necessária para não deixar o chavismo manipular o voto dos ausentes. Já entre aqueles que preferem não ir às urnas, o objetivo principal é inflar a abstenção para contestar a legitimidade de um novo mandato de seis anos de Maduro. Em três anos, o presidente poderia ser submetido a um referendo revogatório que encurtaria seu mandato.