Americanos buscam casas à prova de catástrofes diante de crise climática


Domos geodésicos e outras estruturas resilientes ganham atenção de arquitetos e construtores

Por Christopher Flavelle

THE NEW YORK TIMES - O engenheiro de software aposentado John duSaint comprou recentemente um terreno perto de Bishop, na Califórnia, em um vale inóspito a leste de Serra Nevada, nos EUA. Trata-se de uma área considerada de risco para incêndios, temperaturas diurnas altas e ventos fortes, além de nevascas fortes no inverno.

Mas DuSaint não está preocupado com as mudanças climáticas locais. Isso porque ele pretende viver em um domo geodésico.

A estrutura desse domo tem quase nove metros de altura e será revestida com telhas de alumínio que refletem o calor e são resistentes ao fogo. Como tem uma superfície menor que uma casa retangular, é mais fácil de isolar contra o calor ou o frio. E é capaz de resistir a ventos e nevascas fortes. “A parte externa da cúpula é basicamente impenetrável”, disse DuSaint.

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A casa de Joel e Deborah Veazey no sudoeste da Louisiana, uma cúpula geodésica construída para resistir a ventos com força de furacão Foto: Bryan Tarnowski/NYT

Com as condições meteorológicas cada vez mais extremas, domos geodésicos e outros designs de casas resilientes vêm ganhando mais atenção de pessoas com consciência climática interessadas em comprar uma casa —e dos arquitetos e construtores.

A tendência pode começar a desalojar a inércia subjacente à dificuldade dos EUA em se adaptar à crise climática. Existem tecnologias que podem proteger casas contra condições severas, mas essas inovações têm demorado a ser aceitas na construção residencial convencional, deixando os americanos cada vez mais expostos a choques climáticos, dizem especialistas.

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A cúpula “Weatherbreak” em construção após 40 anos em armazenamento Museu Nacional de História Americana do Instituto Smithsonian Foto: Jason Andrew/NYT

O resultado disso não é apenas um risco mais elevado de ferimentos ou até morte, mas também de calamidade financeira, com os donos de casas enfrentando a desvalorização dos imóveis, sem conseguir seguro para eles ou até a perda do bem —em muitos casos, o mais valioso que possuem. Além disso, o custo emocional e social de perder a casa em desastres naturais está apenas começando a ser entendido.

Dados do censo mostram que em 2022, desastres ligados ao clima obrigaram mais de 3,3 milhões de americanos a deixar suas casas. Pelo menos 1,2 milhão dessas pessoas passaram um mês ou mais fora de suas residências, e mais de 500 mil nunca voltaram a elas, alimentando uma diáspora crescente de refugiados climáticos.

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A entrada frontal da casa geodésica de Joel e Deborah Veazey, construída para resistir a ventos com força de furacão Foto: Bryan Tarnowski/NYT

Resistência à tempestades

No átrio do Museu Nacional de História Americana do Instituto Smithsonian, voluntários terminaram recentemente de remontar “Weatherbreak”, um domo geodésico construído há mais de 70 anos e que foi usado por pouco tempo como residência em Hollywood Hills, em Los Angeles. Foi um projeto de vanguarda na época: cerca de mil suportes de alumínio aparafusados para formar um hemisfério com 7,6 metros de altura e 15 metros de largura, evocando um grande iglu de metal.

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Agora, com a Terra em processo de aquecimento, a estrutura ganhou nova relevância.

“Começamos a estudar como nosso museu pode responder à mudança climática”, disse Abeer Saha, o curador que comandou a reconstrução do domo. “Os domos geodésicos chamaram nossa atenção como uma maneira em que o passado pode apontar uma solução para nossa crise habitacional, de uma maneira que até agora não recebeu a atenção devida”, acrescentou.

Joel e Deborah Veazey do lado de fora de sua casa geodésica Foto: Bryan Tarnowski/NYT
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Os domos são apenas um exemplo dos esforços de inovação que estão sendo promovidos. Casas feitas de aço e concreto podem ser mais resilientes ao calor, incêndios e tempestades. Mesmo as tradicionais, com estrutura de madeira, podem ser construídas de maneira a reduzir fortemente as chances de serem fortemente danificadas por furacões ou enchentes.

Mas essas adaptações podem implicar em custos 10% mais altos do que a construção convencional. Esse valor a mais, que frequentemente se paga mais adiante graças aos custos menores de reparos após um desastre, é um problema já que a maioria das pessoas que compra casa própria não sabe o suficiente sobre construção para exigir padrões mais elevados. Os construtores, por sua vez, relutam em acrescentar resiliência, temendo que os consumidores não se disponham a pagar por elementos que não entendem.

Uma maneira de resolver esse problema seria endurecer os códigos de edificação, que são definidos aos níveis estadual e local. Mas a maioria dos lugares não adota o código mais recente, se é que exige quaisquer padrões de edificação obrigatórios.

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"As pessoas vinham à minha casa, pediam desculpas e diziam: 'Nós zombamos de você por causa da aparência da sua casa'”, disse Veazey Foto: Bryan Tarnowski/NYT

Alguns arquitetos e designers estão tomando a iniciativa de responder às preocupações crescentes com desastres naturais.

Perto de Cape Cod, no Massachusetts, em um terreno que se projeta sobre o rio Wareham, Dana Levy acompanha a construção de sua casa, uma verdadeira fortaleza. A estrutura será construída com formas de concreto, criando paredes capazes de resistir a ventos fortes e detritos voadores, além de manter temperaturas estáveis em caso de queda da eletricidade —algo improvável, graças aos painéis solares, baterias de reserva e gerador para emergências. Telhado, portas e janelas serão resistentes a furacões.

Para Levy, aposentado de 60 anos que trabalhou com energia renovável, o objetivo todo é garantir que ele e sua esposa não sejam obrigados a deixar a casa na próxima vez que chegar uma tempestade de grandes proporções.

A casa geodésica de Max Bégué, construída para suportar ventos com força de furacão Foto: Bryan Tarnowski/NYT

Nos lugares onde o risco de incêndio é elevado, alguns arquitetos estão recorrendo ao aço. Em Boulder, Colorado, Renée del Gaudio projetou uma casa com estrutura e revestimento externo de aço, criando o que ela descreve como um revestimento resistente à ignição.

Esses deques são feitos de pau-ferro, madeira resistente ao fogo. Embaixo e em volta da casa há uma barreira vegetal coberta por brita para evitar o crescimento de plantas que possam alimentar um incêndio. Ainda há uma cisterna com 2.500 galões de água que pode suprir mangueiras no caso de uma queimada chegar muito perto da casa.

Esses elementos também encarecem a construção em até 10%, segundo a arquiteta. Esse valor adicional poderia ser reduzido pela metade com a utilização de materiais mais baratos, como estuque, que garantiriam um nível semelhante de proteção.

Max Bégué em sua casa geodésica Foto: Bryan Tarnowski/NYT

Mas Del Gaudio teve motivos para utilizar os melhores materiais. Ela projetou a casa para seu pai.

Talvez nenhum outro tipo de design de casa resiliente inspire tanta aprovação quanto os domos geodésicos. Em 2005, o furacão Rita devastou Pecan Island, uma comunidade pequena no sudoeste da Louisiana, destruindo a maioria das poucas centenas de casas da área.

A casa de Joel Veazey, um domo de 214 metros quadrados, não foi uma delas. Ele perdeu apenas algumas telhas.

“As pessoas vieram até minha casa me pedir desculpas, dizendo: ‘Zombamos de você por causa da aparência de sua casa. Não devíamos ter feito isso. A sua continua aqui, sendo que as nossas desapareceram’”, disse Veazey, um petroleiro aposentado.

Bégué, que perdeu sua casa perto de Nova Orleans para o furacão Katrina, construiu uma cúpula na mesma propriedade e sofreu poucos danos desde então Foto: Bryan Tarnowski/NYT

Max Bégué perdeu sua casa em Nova Orleans na passagem do furacão Katrina, em agosto de 2005. Em 2008, ele construiu um domo no mesmo terreno, onde vive e que sobreviveu a todas as tempestades desde então, incluindo o furacão Ida, em 2021.

Há dois elementos que conferem aos domos sua capacidade de resistir aos ventos. Para começar, eles são compostos de pequenos triângulos, capazes de suportar mais carga que outras formas.

A forma do domo também leva os ventos a circular em volta da estrutura, privando-os de uma superfície plana sobre a qual possam exercer força.

“O domo resiste ao vento”, disse Bégué, veterinário de cavalos de corrida. “Ele balança um pouquinho, mais do que eu gostaria. Mas acho que isso faz parte de sua força.”

THE NEW YORK TIMES - O engenheiro de software aposentado John duSaint comprou recentemente um terreno perto de Bishop, na Califórnia, em um vale inóspito a leste de Serra Nevada, nos EUA. Trata-se de uma área considerada de risco para incêndios, temperaturas diurnas altas e ventos fortes, além de nevascas fortes no inverno.

Mas DuSaint não está preocupado com as mudanças climáticas locais. Isso porque ele pretende viver em um domo geodésico.

A estrutura desse domo tem quase nove metros de altura e será revestida com telhas de alumínio que refletem o calor e são resistentes ao fogo. Como tem uma superfície menor que uma casa retangular, é mais fácil de isolar contra o calor ou o frio. E é capaz de resistir a ventos e nevascas fortes. “A parte externa da cúpula é basicamente impenetrável”, disse DuSaint.

A casa de Joel e Deborah Veazey no sudoeste da Louisiana, uma cúpula geodésica construída para resistir a ventos com força de furacão Foto: Bryan Tarnowski/NYT

Com as condições meteorológicas cada vez mais extremas, domos geodésicos e outros designs de casas resilientes vêm ganhando mais atenção de pessoas com consciência climática interessadas em comprar uma casa —e dos arquitetos e construtores.

A tendência pode começar a desalojar a inércia subjacente à dificuldade dos EUA em se adaptar à crise climática. Existem tecnologias que podem proteger casas contra condições severas, mas essas inovações têm demorado a ser aceitas na construção residencial convencional, deixando os americanos cada vez mais expostos a choques climáticos, dizem especialistas.

A cúpula “Weatherbreak” em construção após 40 anos em armazenamento Museu Nacional de História Americana do Instituto Smithsonian Foto: Jason Andrew/NYT

O resultado disso não é apenas um risco mais elevado de ferimentos ou até morte, mas também de calamidade financeira, com os donos de casas enfrentando a desvalorização dos imóveis, sem conseguir seguro para eles ou até a perda do bem —em muitos casos, o mais valioso que possuem. Além disso, o custo emocional e social de perder a casa em desastres naturais está apenas começando a ser entendido.

Dados do censo mostram que em 2022, desastres ligados ao clima obrigaram mais de 3,3 milhões de americanos a deixar suas casas. Pelo menos 1,2 milhão dessas pessoas passaram um mês ou mais fora de suas residências, e mais de 500 mil nunca voltaram a elas, alimentando uma diáspora crescente de refugiados climáticos.

A entrada frontal da casa geodésica de Joel e Deborah Veazey, construída para resistir a ventos com força de furacão Foto: Bryan Tarnowski/NYT

Resistência à tempestades

No átrio do Museu Nacional de História Americana do Instituto Smithsonian, voluntários terminaram recentemente de remontar “Weatherbreak”, um domo geodésico construído há mais de 70 anos e que foi usado por pouco tempo como residência em Hollywood Hills, em Los Angeles. Foi um projeto de vanguarda na época: cerca de mil suportes de alumínio aparafusados para formar um hemisfério com 7,6 metros de altura e 15 metros de largura, evocando um grande iglu de metal.

Agora, com a Terra em processo de aquecimento, a estrutura ganhou nova relevância.

“Começamos a estudar como nosso museu pode responder à mudança climática”, disse Abeer Saha, o curador que comandou a reconstrução do domo. “Os domos geodésicos chamaram nossa atenção como uma maneira em que o passado pode apontar uma solução para nossa crise habitacional, de uma maneira que até agora não recebeu a atenção devida”, acrescentou.

Joel e Deborah Veazey do lado de fora de sua casa geodésica Foto: Bryan Tarnowski/NYT

Os domos são apenas um exemplo dos esforços de inovação que estão sendo promovidos. Casas feitas de aço e concreto podem ser mais resilientes ao calor, incêndios e tempestades. Mesmo as tradicionais, com estrutura de madeira, podem ser construídas de maneira a reduzir fortemente as chances de serem fortemente danificadas por furacões ou enchentes.

Mas essas adaptações podem implicar em custos 10% mais altos do que a construção convencional. Esse valor a mais, que frequentemente se paga mais adiante graças aos custos menores de reparos após um desastre, é um problema já que a maioria das pessoas que compra casa própria não sabe o suficiente sobre construção para exigir padrões mais elevados. Os construtores, por sua vez, relutam em acrescentar resiliência, temendo que os consumidores não se disponham a pagar por elementos que não entendem.

Uma maneira de resolver esse problema seria endurecer os códigos de edificação, que são definidos aos níveis estadual e local. Mas a maioria dos lugares não adota o código mais recente, se é que exige quaisquer padrões de edificação obrigatórios.

"As pessoas vinham à minha casa, pediam desculpas e diziam: 'Nós zombamos de você por causa da aparência da sua casa'”, disse Veazey Foto: Bryan Tarnowski/NYT

Alguns arquitetos e designers estão tomando a iniciativa de responder às preocupações crescentes com desastres naturais.

Perto de Cape Cod, no Massachusetts, em um terreno que se projeta sobre o rio Wareham, Dana Levy acompanha a construção de sua casa, uma verdadeira fortaleza. A estrutura será construída com formas de concreto, criando paredes capazes de resistir a ventos fortes e detritos voadores, além de manter temperaturas estáveis em caso de queda da eletricidade —algo improvável, graças aos painéis solares, baterias de reserva e gerador para emergências. Telhado, portas e janelas serão resistentes a furacões.

Para Levy, aposentado de 60 anos que trabalhou com energia renovável, o objetivo todo é garantir que ele e sua esposa não sejam obrigados a deixar a casa na próxima vez que chegar uma tempestade de grandes proporções.

A casa geodésica de Max Bégué, construída para suportar ventos com força de furacão Foto: Bryan Tarnowski/NYT

Nos lugares onde o risco de incêndio é elevado, alguns arquitetos estão recorrendo ao aço. Em Boulder, Colorado, Renée del Gaudio projetou uma casa com estrutura e revestimento externo de aço, criando o que ela descreve como um revestimento resistente à ignição.

Esses deques são feitos de pau-ferro, madeira resistente ao fogo. Embaixo e em volta da casa há uma barreira vegetal coberta por brita para evitar o crescimento de plantas que possam alimentar um incêndio. Ainda há uma cisterna com 2.500 galões de água que pode suprir mangueiras no caso de uma queimada chegar muito perto da casa.

Esses elementos também encarecem a construção em até 10%, segundo a arquiteta. Esse valor adicional poderia ser reduzido pela metade com a utilização de materiais mais baratos, como estuque, que garantiriam um nível semelhante de proteção.

Max Bégué em sua casa geodésica Foto: Bryan Tarnowski/NYT

Mas Del Gaudio teve motivos para utilizar os melhores materiais. Ela projetou a casa para seu pai.

Talvez nenhum outro tipo de design de casa resiliente inspire tanta aprovação quanto os domos geodésicos. Em 2005, o furacão Rita devastou Pecan Island, uma comunidade pequena no sudoeste da Louisiana, destruindo a maioria das poucas centenas de casas da área.

A casa de Joel Veazey, um domo de 214 metros quadrados, não foi uma delas. Ele perdeu apenas algumas telhas.

“As pessoas vieram até minha casa me pedir desculpas, dizendo: ‘Zombamos de você por causa da aparência de sua casa. Não devíamos ter feito isso. A sua continua aqui, sendo que as nossas desapareceram’”, disse Veazey, um petroleiro aposentado.

Bégué, que perdeu sua casa perto de Nova Orleans para o furacão Katrina, construiu uma cúpula na mesma propriedade e sofreu poucos danos desde então Foto: Bryan Tarnowski/NYT

Max Bégué perdeu sua casa em Nova Orleans na passagem do furacão Katrina, em agosto de 2005. Em 2008, ele construiu um domo no mesmo terreno, onde vive e que sobreviveu a todas as tempestades desde então, incluindo o furacão Ida, em 2021.

Há dois elementos que conferem aos domos sua capacidade de resistir aos ventos. Para começar, eles são compostos de pequenos triângulos, capazes de suportar mais carga que outras formas.

A forma do domo também leva os ventos a circular em volta da estrutura, privando-os de uma superfície plana sobre a qual possam exercer força.

“O domo resiste ao vento”, disse Bégué, veterinário de cavalos de corrida. “Ele balança um pouquinho, mais do que eu gostaria. Mas acho que isso faz parte de sua força.”

THE NEW YORK TIMES - O engenheiro de software aposentado John duSaint comprou recentemente um terreno perto de Bishop, na Califórnia, em um vale inóspito a leste de Serra Nevada, nos EUA. Trata-se de uma área considerada de risco para incêndios, temperaturas diurnas altas e ventos fortes, além de nevascas fortes no inverno.

Mas DuSaint não está preocupado com as mudanças climáticas locais. Isso porque ele pretende viver em um domo geodésico.

A estrutura desse domo tem quase nove metros de altura e será revestida com telhas de alumínio que refletem o calor e são resistentes ao fogo. Como tem uma superfície menor que uma casa retangular, é mais fácil de isolar contra o calor ou o frio. E é capaz de resistir a ventos e nevascas fortes. “A parte externa da cúpula é basicamente impenetrável”, disse DuSaint.

A casa de Joel e Deborah Veazey no sudoeste da Louisiana, uma cúpula geodésica construída para resistir a ventos com força de furacão Foto: Bryan Tarnowski/NYT

Com as condições meteorológicas cada vez mais extremas, domos geodésicos e outros designs de casas resilientes vêm ganhando mais atenção de pessoas com consciência climática interessadas em comprar uma casa —e dos arquitetos e construtores.

A tendência pode começar a desalojar a inércia subjacente à dificuldade dos EUA em se adaptar à crise climática. Existem tecnologias que podem proteger casas contra condições severas, mas essas inovações têm demorado a ser aceitas na construção residencial convencional, deixando os americanos cada vez mais expostos a choques climáticos, dizem especialistas.

A cúpula “Weatherbreak” em construção após 40 anos em armazenamento Museu Nacional de História Americana do Instituto Smithsonian Foto: Jason Andrew/NYT

O resultado disso não é apenas um risco mais elevado de ferimentos ou até morte, mas também de calamidade financeira, com os donos de casas enfrentando a desvalorização dos imóveis, sem conseguir seguro para eles ou até a perda do bem —em muitos casos, o mais valioso que possuem. Além disso, o custo emocional e social de perder a casa em desastres naturais está apenas começando a ser entendido.

Dados do censo mostram que em 2022, desastres ligados ao clima obrigaram mais de 3,3 milhões de americanos a deixar suas casas. Pelo menos 1,2 milhão dessas pessoas passaram um mês ou mais fora de suas residências, e mais de 500 mil nunca voltaram a elas, alimentando uma diáspora crescente de refugiados climáticos.

A entrada frontal da casa geodésica de Joel e Deborah Veazey, construída para resistir a ventos com força de furacão Foto: Bryan Tarnowski/NYT

Resistência à tempestades

No átrio do Museu Nacional de História Americana do Instituto Smithsonian, voluntários terminaram recentemente de remontar “Weatherbreak”, um domo geodésico construído há mais de 70 anos e que foi usado por pouco tempo como residência em Hollywood Hills, em Los Angeles. Foi um projeto de vanguarda na época: cerca de mil suportes de alumínio aparafusados para formar um hemisfério com 7,6 metros de altura e 15 metros de largura, evocando um grande iglu de metal.

Agora, com a Terra em processo de aquecimento, a estrutura ganhou nova relevância.

“Começamos a estudar como nosso museu pode responder à mudança climática”, disse Abeer Saha, o curador que comandou a reconstrução do domo. “Os domos geodésicos chamaram nossa atenção como uma maneira em que o passado pode apontar uma solução para nossa crise habitacional, de uma maneira que até agora não recebeu a atenção devida”, acrescentou.

Joel e Deborah Veazey do lado de fora de sua casa geodésica Foto: Bryan Tarnowski/NYT

Os domos são apenas um exemplo dos esforços de inovação que estão sendo promovidos. Casas feitas de aço e concreto podem ser mais resilientes ao calor, incêndios e tempestades. Mesmo as tradicionais, com estrutura de madeira, podem ser construídas de maneira a reduzir fortemente as chances de serem fortemente danificadas por furacões ou enchentes.

Mas essas adaptações podem implicar em custos 10% mais altos do que a construção convencional. Esse valor a mais, que frequentemente se paga mais adiante graças aos custos menores de reparos após um desastre, é um problema já que a maioria das pessoas que compra casa própria não sabe o suficiente sobre construção para exigir padrões mais elevados. Os construtores, por sua vez, relutam em acrescentar resiliência, temendo que os consumidores não se disponham a pagar por elementos que não entendem.

Uma maneira de resolver esse problema seria endurecer os códigos de edificação, que são definidos aos níveis estadual e local. Mas a maioria dos lugares não adota o código mais recente, se é que exige quaisquer padrões de edificação obrigatórios.

"As pessoas vinham à minha casa, pediam desculpas e diziam: 'Nós zombamos de você por causa da aparência da sua casa'”, disse Veazey Foto: Bryan Tarnowski/NYT

Alguns arquitetos e designers estão tomando a iniciativa de responder às preocupações crescentes com desastres naturais.

Perto de Cape Cod, no Massachusetts, em um terreno que se projeta sobre o rio Wareham, Dana Levy acompanha a construção de sua casa, uma verdadeira fortaleza. A estrutura será construída com formas de concreto, criando paredes capazes de resistir a ventos fortes e detritos voadores, além de manter temperaturas estáveis em caso de queda da eletricidade —algo improvável, graças aos painéis solares, baterias de reserva e gerador para emergências. Telhado, portas e janelas serão resistentes a furacões.

Para Levy, aposentado de 60 anos que trabalhou com energia renovável, o objetivo todo é garantir que ele e sua esposa não sejam obrigados a deixar a casa na próxima vez que chegar uma tempestade de grandes proporções.

A casa geodésica de Max Bégué, construída para suportar ventos com força de furacão Foto: Bryan Tarnowski/NYT

Nos lugares onde o risco de incêndio é elevado, alguns arquitetos estão recorrendo ao aço. Em Boulder, Colorado, Renée del Gaudio projetou uma casa com estrutura e revestimento externo de aço, criando o que ela descreve como um revestimento resistente à ignição.

Esses deques são feitos de pau-ferro, madeira resistente ao fogo. Embaixo e em volta da casa há uma barreira vegetal coberta por brita para evitar o crescimento de plantas que possam alimentar um incêndio. Ainda há uma cisterna com 2.500 galões de água que pode suprir mangueiras no caso de uma queimada chegar muito perto da casa.

Esses elementos também encarecem a construção em até 10%, segundo a arquiteta. Esse valor adicional poderia ser reduzido pela metade com a utilização de materiais mais baratos, como estuque, que garantiriam um nível semelhante de proteção.

Max Bégué em sua casa geodésica Foto: Bryan Tarnowski/NYT

Mas Del Gaudio teve motivos para utilizar os melhores materiais. Ela projetou a casa para seu pai.

Talvez nenhum outro tipo de design de casa resiliente inspire tanta aprovação quanto os domos geodésicos. Em 2005, o furacão Rita devastou Pecan Island, uma comunidade pequena no sudoeste da Louisiana, destruindo a maioria das poucas centenas de casas da área.

A casa de Joel Veazey, um domo de 214 metros quadrados, não foi uma delas. Ele perdeu apenas algumas telhas.

“As pessoas vieram até minha casa me pedir desculpas, dizendo: ‘Zombamos de você por causa da aparência de sua casa. Não devíamos ter feito isso. A sua continua aqui, sendo que as nossas desapareceram’”, disse Veazey, um petroleiro aposentado.

Bégué, que perdeu sua casa perto de Nova Orleans para o furacão Katrina, construiu uma cúpula na mesma propriedade e sofreu poucos danos desde então Foto: Bryan Tarnowski/NYT

Max Bégué perdeu sua casa em Nova Orleans na passagem do furacão Katrina, em agosto de 2005. Em 2008, ele construiu um domo no mesmo terreno, onde vive e que sobreviveu a todas as tempestades desde então, incluindo o furacão Ida, em 2021.

Há dois elementos que conferem aos domos sua capacidade de resistir aos ventos. Para começar, eles são compostos de pequenos triângulos, capazes de suportar mais carga que outras formas.

A forma do domo também leva os ventos a circular em volta da estrutura, privando-os de uma superfície plana sobre a qual possam exercer força.

“O domo resiste ao vento”, disse Bégué, veterinário de cavalos de corrida. “Ele balança um pouquinho, mais do que eu gostaria. Mas acho que isso faz parte de sua força.”

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