SAO PETERSBURGO, RÚSSIA - O assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assuntos internacionais, Celso Amorim, enfatizou a ascensão do “Sul Global” e defendeu reforma do sistema de governança internacional em reunião promovida pelo Conselho de Segurança da Rússia, em São Petersburgo.
“Um dos mais significantes desenvolvimentos internacionais nos últimos 25 anos tem sido o crescimento de países do Sul”, disse Amorim em seu discurso. Ele ressaltou aspectos econômicos e sociais desse eixo de países e destacou: “Ainda assim, a governança global não reflete essas transformações”.
Sob o governo Lula, o Brasil tem defendido o protagonismo do “Sul Global”, que o presidente já definiu como “parte incontornável da solução para as principais crises que afligem o planeta”.
Como reflexo dessa prioridade em política externa, o Brasil tem ampliado o comércio com a Rússia, na contramão das sanções do Ocidente pela a guerra na Ucrânia. Como mostrou o Estadão, contudo, essa aposta é considerada arriscada no momento de acentuada divisão entre EUA e o polo China-Rússia.
“Uma multipolaridade pacífica não pode existir sem o apoio de instituições multilaterais fortes”, insistiu Celso Amorim. “Como o presidente Lula afirma, enfrentamos uma escolha dramática: de um lado, conflitos e desigualdade, do outro, paz e prosperidade baseada em uma governança justa e eficiente”, disse ao concluir o discurso na Rússia — que trava uma guerra contra Ucrânia e aposta no “Sul Global” para driblar as sanções.
A ideia de multipolaridade também foi defendida pelo presidente russo Vladimir Putin, que mandou uma mensagem em vídeo para o encontro. “A Rússia está preparada para uma estreita colaboração com todos os parceiros interessados em defender a segurança global e regional e estabelecer uma nova ordem internacional multipolar que se alinhe aos interesses da maioria das nações”, disse.
Em reunião com o secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, às margens da cúpula de segurança, Celso Amorim discutiu a interação entre Brasil e Rússia nos formatos multilaterais, além da relação entre os dois países, relatou a agência de notícias Tass.
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Essa foi a segunda visita de Amorim à Rússia como assessor especial do governo Lula 3. Há cerca de um ano, ele fez uma viagem sem alardes para Moscou enquanto o petista tentava se credenciar como um mediador para a guerra, esforço que esbarrou em declarações interpretadas como alinhadas com o lado russo.
Nas suas idas e vindas sobre o conflito, Lula foi criticado por equiparar as responsabilidades que Ucrânia e Rússia teriam pela guerra ao dizer que “quando um não quer, dois não brigam”. E por dizer que Estados Unidos e Europa estariam prolongando a guerra, em referência ao envido de armas a Kiev.
O presidente também sugeriu que Putin poderia vir ao Brasil sem medo de ser detido, embora seja alvo de um mandado de prisão pelo Tribunal Penal Internacional (TPI). Para abrir caminho, o governo endossou a tese de imunidade de chefes de Estado para recebê-lo em novembro, na Cúpula do G-20.
Além da defesa da multipolaridade e do Sul Global, Celso Amorim também aproveitou o seu discurso para destacar os riscos das novas tecnologias, citando como exemplo relatos de uso da Inteligência Artificial na Guerra em Gaza.