Felizmente, o presidente eleito Joe Biden não é nada inexperiente. Tendo sido uma parte essencial da equipe do novo governo Obama que colaborou com o governo de George W. Bush em 2008, Biden sabe como uma transição presidencial deve funcionar. Ele vai precisar de todo esse conhecimento, bem como de uma equipe dedicada e experiente, para evitar que a transição com a administração Trump fracasse.
Por sorte, a tradição de transição americana - grande parte dela consagrada em leis como a Lei de Melhorias de Transições Presidenciais de 2015 - inclui importantes formalidades que regem a transferência de poder.
Infelizmente, os EUA nunca tiveram um presidente em fim de mandato como Donald J. Trump.
Com pelo menos 74 milhões de votos para Biden (o maior número na história dos EUA), Trump age como se não fosse a lugar algum. Ao contrário de seus predecessores presidenciais modernos, Trump está questionando o processo democrático ao reivindicar uma vitória eleitoral para si mesmo.
Esse é um contraste triste e surpreendente com a história de transição americana meticulosamente compilada pelo Centro de Transição Presidencial da Partnership for Public Service, organização não-partidária e sem fins lucrativos.
O caso em questão: uma reunião entre o presidente que está deixando o cargo e o que está prestes a iniciar o mandato é uma etapa inicial essencial na transição de poder. Sinaliza a natureza pacífica da tradição democrática dos EUA, como observou o Centro de Transição Presidencial. Também é uma oportunidade para o presidente eleito ouvir diretamente do presidente que está deixando o cargo a respeito das questões que estarão na mesa depois que o juramento presidencial for realizado.
Seis dias após a eleição de 4 de novembro de 2008, o presidente George W. Bush se encontrou com o presidente eleito Barack Obama para informá-lo sobre várias questões internacionais importantes.
O presidente Obama se encontrou com o presidente eleito Trump logo após a eleição de 2016. Obama informou Trump acerca de várias questões urgentes de política externa, incluindo a ameaça da Coreia do Norte. Mas a conversa Obama-Trump não parou por aí. Vários telefonemas se seguiram.
Além disso, o chefe de gabinete de Obama, Denis McDonough, reuniu-se com o novo chefe de gabinete de Trump, Reince Priebus, e deu um passo adiante.
McDonough, de acordo com o Centro de Transição Presidencial, "organizou um almoço para Priebus e 10 ex-chefes de gabinete de todos os governos desde o presidente Jimmy Carter".
Por causa da intransigência de Trump, nenhuma reunião desse tipo aparece na programação até o momento.
Trump precisa enfrentar a verdade de que o governo não foi dado, mas apenas confiado a ele. E ele estragou isso, pra valer.
Biden já fez sua parte ao formar uma equipe de transição para a Casa Branca com funcionários experientes do governo Obama e veteranos do Capitólio, sob a liderança do conselheiro de longa data de Biden e ex-senador democrata de Delaware Ted Kaufman. Seu objetivo é garantir a continuidade do governo.
O objetivo de Trump é sua continuação no governo.
Quer Trump goste ou não, existem requisitos legais relacionados à transição que ele deve observar.
Alguns já existem, como um Conselho Oficial de Coordenação de Transição da Casa Branca e diretores de transição da organização para trabalhar com a equipe entrante.
Mas é preciso mais.
Os funcionários de Trump devem garantir que os executivos federais de carreira estejam posicionados para servir em capacidades de atuação com planos de sucessão durante a fase de transferência após os nomeados de Trump limparem suas mesas. A equipe de Trump também deve fornecer às equipes de Biden uma lista de todos os funcionários politicamente nomeados no governo federal, uma breve descrição de suas responsabilidades, incluindo as dos conselheiros seniores de Trump na Casa Branca Jared Kushner, Stephen Miller e Peter Navarro e outros. Entre agora e 23h59 de 20 de janeiro, eles terão que entregar seus crachás que permitem acesso e desocupar as instalações da Casa Branca.
Trump, apesar de sua amargura, tem a obrigação de se preparar para uma transferência de segurança nacional tranquila, garantindo que a equipe de segurança nacional de Biden esteja completamente informada a respeito de todas as questões pendentes de inteligência e segurança nacional. A segurança dos EUA não pode ser deixada no limbo.
Com anos de serviço na Casa Branca e no Congresso em seu currículo, Biden não começará do zero. Para o bem da nação, no entanto, Biden merece uma chance de passar por sua transição presidencial sem ter que superar barreiras e obstáculos colocados em seu caminho por Donald Trump, que está partindo, descontente e derrotado.
Assumir a presidência dos EUA não pode ficar à mercê de impulsos, caprichos ou vinganças. Os interesses de nossa nação merecem mais do que isso. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA
É COLUNISTA SEDIADO EM WASHINGTON E GANHADOR DO PULITZER EM 2003