Análise: Vitória de Lasso na eleição do Equador mantém futuro incerto


Com a eleição de Guillermo Lasso sobre André Arauz, o Equador está está mais próximo na América do Sul dos principais governos de direita e com discurso neoliberal

Por Paulo Niccoli Ramirez
Atualização:
O novo presidente do Equador, Guillermo Lasso, após votar em Guayaquil Foto: EFE/MAURICIO TORRES

No dia 11 de abril, os equatorianos escolheram seu novo presidente numa eleição disputada e marcada pela grave crise econômica decorrente da pandemia. Há um ano, o país foi o primeiro a alcançar na América do Sul o colapso do sistema de saúde, corpos foram deixados nas ruas e pessoas não conseguiam atendimento nos hospitais, o que alavancou o descontentamento com o atual presidente Lenín Moreno.

Moreno estava rompido com o ex-mandatário Rafael Correa, exilado na Bélgica após ser condenado por corrupção. No segundo turno, Andrés Arauz (da esquerda e apoiado por Correa) e Guillermo Lasso (banqueiro apoiado por Moreno) se enfrentaram em meio a recíprocas acusações de corrupção, favorecimento de interesses econômicos estrangeiros e polêmicas em torno da questão indígena local.

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Houve campanha das lideranças indígenas para a anulação dos votos, o que deixou incertas as projeções das pesquisas eleitorais, que apontavam pequena vantagem de Arauz sobre Lasso.

Pachakutik pode influenciar seus eleitores, que representaram 20% dos votos do primeiro turno Foto: Santiago Arcos/REUTERS

Com a eleição de Lasso, o Equador está está mais próximo na América do Sul dos principais governos de direita e com discurso neoliberal, como é o caso do presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou (eleito em 2019 e considerado de direita moderada) e o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, hoje considerado um radical de direita. No entanto, em relação ao Brasil, Lasso não se aproximará ao discurso negacionista e contra os direitos humanos proclamado pelo brasileiro, cada vez mais isolado entre os demais chefes de Estado, principalmente das grandes potências.

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O resultado das eleições no Equador é um indicativo não somente da situação política e econômica da América do Sul. Revela também a polarização entre discurso popular da esquerda e o discurso financista neoliberal.

A vitória de Arauz teria permitido o retorno de políticas sociais e participação mais ativa do governo sobre a economia. A decepção em relação às políticas neoliberais adotadas na última década na América Latina influenciou o retorno e fortalecimento das esquerdas locais.

Andres Arauz, o candidato derrotado, na sede de sua campanha, em Quito Foto: AP Photo/Dolores Ochoa
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As manifestações populares contra o presidente e empresário Piñera no Chile conduziram a pressões para a elaboração de uma nova carta constitucional, o que deve ocorrer esse ano; na Argentina, em 2019 a vitória do peronista Alberto Fernández, apoiado pela sua vice Cristina Kirchner, foi resultado da piora das finanças públicas com o governo liberal de Macri; na Bolívia, ano passado o candidato Luis Acre, ligado ao ex-presidente Evo Morales (deposto por um golpe de Estado em 2019) expressa igualmente a intenção da população para o retorno dos governos populares e maiores investimentos para a redução da pobreza.

A atual situação do continente nos permite elucidar o prognóstico do cenário eleitoral brasileiro para 2022.

Será difícil Bolsonaro arregimentar apoio internacional para a sua reeleição. Mesmo as direitas que estão no poder hoje procuram o distanciamento com o presidente brasileiro, devido às ações equivocadas durante à pandemia, há denúncias e crescente consenso sobre o genocídio da população, principalmente diante da renúncia em assumir a responsabilidade constitucional na concentração de decisões sanitárias em casos emergenciais.

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Caso Lula seja candidato ano que vem, configura-se o apoio das recentes esquerdas vitoriosas na América do Sul e outras lideranças mundiais, inclusive algumas vinculadas às políticas consideradas de direitas e neoliberais. Ao lado de Arauz, os presidentes da Bolívia e Argentina (além de parte considerável da assembleia constituinte chilena) deverão apoiar Lula no Brasil. 

*  Paulo Niccoli Ramirez é sociólogo e professor da ESPM São Paulo

O novo presidente do Equador, Guillermo Lasso, após votar em Guayaquil Foto: EFE/MAURICIO TORRES

No dia 11 de abril, os equatorianos escolheram seu novo presidente numa eleição disputada e marcada pela grave crise econômica decorrente da pandemia. Há um ano, o país foi o primeiro a alcançar na América do Sul o colapso do sistema de saúde, corpos foram deixados nas ruas e pessoas não conseguiam atendimento nos hospitais, o que alavancou o descontentamento com o atual presidente Lenín Moreno.

Moreno estava rompido com o ex-mandatário Rafael Correa, exilado na Bélgica após ser condenado por corrupção. No segundo turno, Andrés Arauz (da esquerda e apoiado por Correa) e Guillermo Lasso (banqueiro apoiado por Moreno) se enfrentaram em meio a recíprocas acusações de corrupção, favorecimento de interesses econômicos estrangeiros e polêmicas em torno da questão indígena local.

Houve campanha das lideranças indígenas para a anulação dos votos, o que deixou incertas as projeções das pesquisas eleitorais, que apontavam pequena vantagem de Arauz sobre Lasso.

Pachakutik pode influenciar seus eleitores, que representaram 20% dos votos do primeiro turno Foto: Santiago Arcos/REUTERS

Com a eleição de Lasso, o Equador está está mais próximo na América do Sul dos principais governos de direita e com discurso neoliberal, como é o caso do presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou (eleito em 2019 e considerado de direita moderada) e o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, hoje considerado um radical de direita. No entanto, em relação ao Brasil, Lasso não se aproximará ao discurso negacionista e contra os direitos humanos proclamado pelo brasileiro, cada vez mais isolado entre os demais chefes de Estado, principalmente das grandes potências.

O resultado das eleições no Equador é um indicativo não somente da situação política e econômica da América do Sul. Revela também a polarização entre discurso popular da esquerda e o discurso financista neoliberal.

A vitória de Arauz teria permitido o retorno de políticas sociais e participação mais ativa do governo sobre a economia. A decepção em relação às políticas neoliberais adotadas na última década na América Latina influenciou o retorno e fortalecimento das esquerdas locais.

Andres Arauz, o candidato derrotado, na sede de sua campanha, em Quito Foto: AP Photo/Dolores Ochoa

As manifestações populares contra o presidente e empresário Piñera no Chile conduziram a pressões para a elaboração de uma nova carta constitucional, o que deve ocorrer esse ano; na Argentina, em 2019 a vitória do peronista Alberto Fernández, apoiado pela sua vice Cristina Kirchner, foi resultado da piora das finanças públicas com o governo liberal de Macri; na Bolívia, ano passado o candidato Luis Acre, ligado ao ex-presidente Evo Morales (deposto por um golpe de Estado em 2019) expressa igualmente a intenção da população para o retorno dos governos populares e maiores investimentos para a redução da pobreza.

A atual situação do continente nos permite elucidar o prognóstico do cenário eleitoral brasileiro para 2022.

Será difícil Bolsonaro arregimentar apoio internacional para a sua reeleição. Mesmo as direitas que estão no poder hoje procuram o distanciamento com o presidente brasileiro, devido às ações equivocadas durante à pandemia, há denúncias e crescente consenso sobre o genocídio da população, principalmente diante da renúncia em assumir a responsabilidade constitucional na concentração de decisões sanitárias em casos emergenciais.

Caso Lula seja candidato ano que vem, configura-se o apoio das recentes esquerdas vitoriosas na América do Sul e outras lideranças mundiais, inclusive algumas vinculadas às políticas consideradas de direitas e neoliberais. Ao lado de Arauz, os presidentes da Bolívia e Argentina (além de parte considerável da assembleia constituinte chilena) deverão apoiar Lula no Brasil. 

*  Paulo Niccoli Ramirez é sociólogo e professor da ESPM São Paulo

O novo presidente do Equador, Guillermo Lasso, após votar em Guayaquil Foto: EFE/MAURICIO TORRES

No dia 11 de abril, os equatorianos escolheram seu novo presidente numa eleição disputada e marcada pela grave crise econômica decorrente da pandemia. Há um ano, o país foi o primeiro a alcançar na América do Sul o colapso do sistema de saúde, corpos foram deixados nas ruas e pessoas não conseguiam atendimento nos hospitais, o que alavancou o descontentamento com o atual presidente Lenín Moreno.

Moreno estava rompido com o ex-mandatário Rafael Correa, exilado na Bélgica após ser condenado por corrupção. No segundo turno, Andrés Arauz (da esquerda e apoiado por Correa) e Guillermo Lasso (banqueiro apoiado por Moreno) se enfrentaram em meio a recíprocas acusações de corrupção, favorecimento de interesses econômicos estrangeiros e polêmicas em torno da questão indígena local.

Houve campanha das lideranças indígenas para a anulação dos votos, o que deixou incertas as projeções das pesquisas eleitorais, que apontavam pequena vantagem de Arauz sobre Lasso.

Pachakutik pode influenciar seus eleitores, que representaram 20% dos votos do primeiro turno Foto: Santiago Arcos/REUTERS

Com a eleição de Lasso, o Equador está está mais próximo na América do Sul dos principais governos de direita e com discurso neoliberal, como é o caso do presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou (eleito em 2019 e considerado de direita moderada) e o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, hoje considerado um radical de direita. No entanto, em relação ao Brasil, Lasso não se aproximará ao discurso negacionista e contra os direitos humanos proclamado pelo brasileiro, cada vez mais isolado entre os demais chefes de Estado, principalmente das grandes potências.

O resultado das eleições no Equador é um indicativo não somente da situação política e econômica da América do Sul. Revela também a polarização entre discurso popular da esquerda e o discurso financista neoliberal.

A vitória de Arauz teria permitido o retorno de políticas sociais e participação mais ativa do governo sobre a economia. A decepção em relação às políticas neoliberais adotadas na última década na América Latina influenciou o retorno e fortalecimento das esquerdas locais.

Andres Arauz, o candidato derrotado, na sede de sua campanha, em Quito Foto: AP Photo/Dolores Ochoa

As manifestações populares contra o presidente e empresário Piñera no Chile conduziram a pressões para a elaboração de uma nova carta constitucional, o que deve ocorrer esse ano; na Argentina, em 2019 a vitória do peronista Alberto Fernández, apoiado pela sua vice Cristina Kirchner, foi resultado da piora das finanças públicas com o governo liberal de Macri; na Bolívia, ano passado o candidato Luis Acre, ligado ao ex-presidente Evo Morales (deposto por um golpe de Estado em 2019) expressa igualmente a intenção da população para o retorno dos governos populares e maiores investimentos para a redução da pobreza.

A atual situação do continente nos permite elucidar o prognóstico do cenário eleitoral brasileiro para 2022.

Será difícil Bolsonaro arregimentar apoio internacional para a sua reeleição. Mesmo as direitas que estão no poder hoje procuram o distanciamento com o presidente brasileiro, devido às ações equivocadas durante à pandemia, há denúncias e crescente consenso sobre o genocídio da população, principalmente diante da renúncia em assumir a responsabilidade constitucional na concentração de decisões sanitárias em casos emergenciais.

Caso Lula seja candidato ano que vem, configura-se o apoio das recentes esquerdas vitoriosas na América do Sul e outras lideranças mundiais, inclusive algumas vinculadas às políticas consideradas de direitas e neoliberais. Ao lado de Arauz, os presidentes da Bolívia e Argentina (além de parte considerável da assembleia constituinte chilena) deverão apoiar Lula no Brasil. 

*  Paulo Niccoli Ramirez é sociólogo e professor da ESPM São Paulo

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