Analistas veem em Lacalle elo entre Brasil e Argentina


Presidente eleito do Uruguai tem um perfil moderado e interesse em preservar as boas relações entre Bolsonaro e Fernández

Por Murillo Ferrari e Fernanda Simas

O presidente eleito do Uruguai, Luis Lacalle Pou, deve intermediar discussões políticas e econômicas entre o brasileiro, Jair Bolsonaro, e o futuro líder argentino, Alberto Fernández, que assumirá a Casa Rosada no dia 10, dizem analistas. Podem contribuir para esse papel a moderação de Lacalle Pou e os interesses comerciais em manter boas relações com seus dois vizinhos.

“Apesar das diferenças, Lacalle Pou terá uma boa relação com Bolsonaro. Além disso, Ernesto Talvi – que foi candidato presidencial do Partido Colorado e faz parte da coalizão do presidente eleito – é de centro-esquerda, ou seja, manterá uma ótima relação com o novo governo argentino”, afirma o professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Oliver Stuenkel.

Coalizão montada por Luis Lacalle Pou depois do primeiro turno no Uruguai foi decisiva para ele ultrapassar Daniel Martínez nas intenções de voto Foto: Raúl Martínez/EFE
continua após a publicidade

Para ele, o Uruguai é um dos poucos países que têm essa capacidade diplomática no continente por ser pouco polarizado e não haver um grande custo político para Lacalle Pou em ter boas relações com os dois lados. 

“Claro que essa mediação tem limites. Como é um país pequeno, o Uruguai não pode usar, por exemplo, sua economia e seu mercado como argumento (para unificar os vizinhos)”, explica Stuenkel. “Ao mesmo tempo, é o único país da região que não passa por turbulências políticas neste momento. E, nesse sentido, tem a credibilidade necessária para exercer essa função mediadora.”

Bolsonaro e Fernández têm uma relação conflituosa e há um risco real de não haver uma relação bilateral funcional entre os dois países. “A tensão entre Brasil e Argentina se deve também ao fato de isso proporcionar benefícios internos para os dois lados, ou seja, tanto Bolsonaro quanto Fernández usam o outro para mobilizar seu seguidores mais radicais”, afirma o professor da FGV.

continua após a publicidade

Um exemplo desse desencontro é o fato de que, pela primeira vez desde 2003, um presidente brasileiro não irá à posse na Argentina – Bolsonaro será representado pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra. Quanto ao Uruguai, Bolsonaro telefonou para Lacalle Pou depois que a Justiça Eleitoral confirmou a vitória dele e disse que estará presente na cerimônia de posse, em 1.º de março de 2020.

“Foi uma conversa bastante saudável. Ele é conservador, de direita, tem um programa muito parecido com o nosso. A posse dele é em 1.º de março do ano que vem, já confirmei a minha presença. Convidei para estar no Brasil também”, disse o presidente, na quinta-feira. 

Sem alinhamento determinado

continua após a publicidade

O professor do Instituto de Ciência Política do Uruguai, Adolfo Garcé, acredita que não haverá uma mudança de relação com o Brasil depois que Lacalle Pou assumir, mas diz ainda não estar convencido sobre uma possível mediação de Lacalle Pou.

“A política externa do Uruguai será pragmática, autônoma, independente, tanto no trato com blocos comerciais quanto com países vizinhos”, diz. “As orientações do governo serão, em princípio, liberais, com críticas a ditaduras, defesa do princípio da autodeterminação dos povos, o que é muito tradicional no Uruguai, e sem um alinhamento determinado.”

No cenário interno, os analistas acreditam que Lacalle Pou terá uma dinâmica de governo difícil em razão da diversidade dos partidos que o apoiam e precisará negociar, caso a caso, os projetos que quiser aprovar no Congresso. 

continua após a publicidade

Além disso, o mais provável é que seu governo faça pequenas mudanças para corrigir os rumos das políticas adotadas pela governista Frente Ampla, antes de tentar emplacar mudanças radicais. “Lacalle Pou dará ênfase em políticas sociais para continuar diminuindo a desigualdade. Não deve haver mudanças de fundo”, afirma Garcé.

“Ele terá de levar em conta a Frente Ampla na hora de tratar de reformas complexas em seu governo. E deve ter cuidado redobrado na elaboração e aprovação do salário mínimo, na questão da reforma tributária e em mudanças nas regras do mercado de trabalho”, completa o professor uruguaio.

O algodão entre dois cristais

continua após a publicidade

No início do século 19, os argentinos reivindicavam a banda oriental do Rio Uruguai como parte de seu território, o que batia de frente com os interesses do Império brasileiro, que acreditava ter herdado de Portugal a soberania sobre a faixa de terra que chamava de Província Cisplatina.

A guerra entre Brasil e Argentina começou em 1825 e ajudou a desgastar ainda mais o recém-formado reinado do imperador D. Pedro I. A paz foi alcançada em 1828, com mediação britânica. O Império renunciava suas pretensões mediante garantia de que a nova república não seria anexada pela Argentina. Um Estado-tampão nascia na América do Sul. “Colocamos algodão entre dois cristais”, disse John Ponsonby, diplomata britânico que costurou o acordo.

O presidente eleito do Uruguai, Luis Lacalle Pou, deve intermediar discussões políticas e econômicas entre o brasileiro, Jair Bolsonaro, e o futuro líder argentino, Alberto Fernández, que assumirá a Casa Rosada no dia 10, dizem analistas. Podem contribuir para esse papel a moderação de Lacalle Pou e os interesses comerciais em manter boas relações com seus dois vizinhos.

“Apesar das diferenças, Lacalle Pou terá uma boa relação com Bolsonaro. Além disso, Ernesto Talvi – que foi candidato presidencial do Partido Colorado e faz parte da coalizão do presidente eleito – é de centro-esquerda, ou seja, manterá uma ótima relação com o novo governo argentino”, afirma o professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Oliver Stuenkel.

Coalizão montada por Luis Lacalle Pou depois do primeiro turno no Uruguai foi decisiva para ele ultrapassar Daniel Martínez nas intenções de voto Foto: Raúl Martínez/EFE

Para ele, o Uruguai é um dos poucos países que têm essa capacidade diplomática no continente por ser pouco polarizado e não haver um grande custo político para Lacalle Pou em ter boas relações com os dois lados. 

“Claro que essa mediação tem limites. Como é um país pequeno, o Uruguai não pode usar, por exemplo, sua economia e seu mercado como argumento (para unificar os vizinhos)”, explica Stuenkel. “Ao mesmo tempo, é o único país da região que não passa por turbulências políticas neste momento. E, nesse sentido, tem a credibilidade necessária para exercer essa função mediadora.”

Bolsonaro e Fernández têm uma relação conflituosa e há um risco real de não haver uma relação bilateral funcional entre os dois países. “A tensão entre Brasil e Argentina se deve também ao fato de isso proporcionar benefícios internos para os dois lados, ou seja, tanto Bolsonaro quanto Fernández usam o outro para mobilizar seu seguidores mais radicais”, afirma o professor da FGV.

Um exemplo desse desencontro é o fato de que, pela primeira vez desde 2003, um presidente brasileiro não irá à posse na Argentina – Bolsonaro será representado pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra. Quanto ao Uruguai, Bolsonaro telefonou para Lacalle Pou depois que a Justiça Eleitoral confirmou a vitória dele e disse que estará presente na cerimônia de posse, em 1.º de março de 2020.

“Foi uma conversa bastante saudável. Ele é conservador, de direita, tem um programa muito parecido com o nosso. A posse dele é em 1.º de março do ano que vem, já confirmei a minha presença. Convidei para estar no Brasil também”, disse o presidente, na quinta-feira. 

Sem alinhamento determinado

O professor do Instituto de Ciência Política do Uruguai, Adolfo Garcé, acredita que não haverá uma mudança de relação com o Brasil depois que Lacalle Pou assumir, mas diz ainda não estar convencido sobre uma possível mediação de Lacalle Pou.

“A política externa do Uruguai será pragmática, autônoma, independente, tanto no trato com blocos comerciais quanto com países vizinhos”, diz. “As orientações do governo serão, em princípio, liberais, com críticas a ditaduras, defesa do princípio da autodeterminação dos povos, o que é muito tradicional no Uruguai, e sem um alinhamento determinado.”

No cenário interno, os analistas acreditam que Lacalle Pou terá uma dinâmica de governo difícil em razão da diversidade dos partidos que o apoiam e precisará negociar, caso a caso, os projetos que quiser aprovar no Congresso. 

Além disso, o mais provável é que seu governo faça pequenas mudanças para corrigir os rumos das políticas adotadas pela governista Frente Ampla, antes de tentar emplacar mudanças radicais. “Lacalle Pou dará ênfase em políticas sociais para continuar diminuindo a desigualdade. Não deve haver mudanças de fundo”, afirma Garcé.

“Ele terá de levar em conta a Frente Ampla na hora de tratar de reformas complexas em seu governo. E deve ter cuidado redobrado na elaboração e aprovação do salário mínimo, na questão da reforma tributária e em mudanças nas regras do mercado de trabalho”, completa o professor uruguaio.

O algodão entre dois cristais

No início do século 19, os argentinos reivindicavam a banda oriental do Rio Uruguai como parte de seu território, o que batia de frente com os interesses do Império brasileiro, que acreditava ter herdado de Portugal a soberania sobre a faixa de terra que chamava de Província Cisplatina.

A guerra entre Brasil e Argentina começou em 1825 e ajudou a desgastar ainda mais o recém-formado reinado do imperador D. Pedro I. A paz foi alcançada em 1828, com mediação britânica. O Império renunciava suas pretensões mediante garantia de que a nova república não seria anexada pela Argentina. Um Estado-tampão nascia na América do Sul. “Colocamos algodão entre dois cristais”, disse John Ponsonby, diplomata britânico que costurou o acordo.

O presidente eleito do Uruguai, Luis Lacalle Pou, deve intermediar discussões políticas e econômicas entre o brasileiro, Jair Bolsonaro, e o futuro líder argentino, Alberto Fernández, que assumirá a Casa Rosada no dia 10, dizem analistas. Podem contribuir para esse papel a moderação de Lacalle Pou e os interesses comerciais em manter boas relações com seus dois vizinhos.

“Apesar das diferenças, Lacalle Pou terá uma boa relação com Bolsonaro. Além disso, Ernesto Talvi – que foi candidato presidencial do Partido Colorado e faz parte da coalizão do presidente eleito – é de centro-esquerda, ou seja, manterá uma ótima relação com o novo governo argentino”, afirma o professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Oliver Stuenkel.

Coalizão montada por Luis Lacalle Pou depois do primeiro turno no Uruguai foi decisiva para ele ultrapassar Daniel Martínez nas intenções de voto Foto: Raúl Martínez/EFE

Para ele, o Uruguai é um dos poucos países que têm essa capacidade diplomática no continente por ser pouco polarizado e não haver um grande custo político para Lacalle Pou em ter boas relações com os dois lados. 

“Claro que essa mediação tem limites. Como é um país pequeno, o Uruguai não pode usar, por exemplo, sua economia e seu mercado como argumento (para unificar os vizinhos)”, explica Stuenkel. “Ao mesmo tempo, é o único país da região que não passa por turbulências políticas neste momento. E, nesse sentido, tem a credibilidade necessária para exercer essa função mediadora.”

Bolsonaro e Fernández têm uma relação conflituosa e há um risco real de não haver uma relação bilateral funcional entre os dois países. “A tensão entre Brasil e Argentina se deve também ao fato de isso proporcionar benefícios internos para os dois lados, ou seja, tanto Bolsonaro quanto Fernández usam o outro para mobilizar seu seguidores mais radicais”, afirma o professor da FGV.

Um exemplo desse desencontro é o fato de que, pela primeira vez desde 2003, um presidente brasileiro não irá à posse na Argentina – Bolsonaro será representado pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra. Quanto ao Uruguai, Bolsonaro telefonou para Lacalle Pou depois que a Justiça Eleitoral confirmou a vitória dele e disse que estará presente na cerimônia de posse, em 1.º de março de 2020.

“Foi uma conversa bastante saudável. Ele é conservador, de direita, tem um programa muito parecido com o nosso. A posse dele é em 1.º de março do ano que vem, já confirmei a minha presença. Convidei para estar no Brasil também”, disse o presidente, na quinta-feira. 

Sem alinhamento determinado

O professor do Instituto de Ciência Política do Uruguai, Adolfo Garcé, acredita que não haverá uma mudança de relação com o Brasil depois que Lacalle Pou assumir, mas diz ainda não estar convencido sobre uma possível mediação de Lacalle Pou.

“A política externa do Uruguai será pragmática, autônoma, independente, tanto no trato com blocos comerciais quanto com países vizinhos”, diz. “As orientações do governo serão, em princípio, liberais, com críticas a ditaduras, defesa do princípio da autodeterminação dos povos, o que é muito tradicional no Uruguai, e sem um alinhamento determinado.”

No cenário interno, os analistas acreditam que Lacalle Pou terá uma dinâmica de governo difícil em razão da diversidade dos partidos que o apoiam e precisará negociar, caso a caso, os projetos que quiser aprovar no Congresso. 

Além disso, o mais provável é que seu governo faça pequenas mudanças para corrigir os rumos das políticas adotadas pela governista Frente Ampla, antes de tentar emplacar mudanças radicais. “Lacalle Pou dará ênfase em políticas sociais para continuar diminuindo a desigualdade. Não deve haver mudanças de fundo”, afirma Garcé.

“Ele terá de levar em conta a Frente Ampla na hora de tratar de reformas complexas em seu governo. E deve ter cuidado redobrado na elaboração e aprovação do salário mínimo, na questão da reforma tributária e em mudanças nas regras do mercado de trabalho”, completa o professor uruguaio.

O algodão entre dois cristais

No início do século 19, os argentinos reivindicavam a banda oriental do Rio Uruguai como parte de seu território, o que batia de frente com os interesses do Império brasileiro, que acreditava ter herdado de Portugal a soberania sobre a faixa de terra que chamava de Província Cisplatina.

A guerra entre Brasil e Argentina começou em 1825 e ajudou a desgastar ainda mais o recém-formado reinado do imperador D. Pedro I. A paz foi alcançada em 1828, com mediação britânica. O Império renunciava suas pretensões mediante garantia de que a nova república não seria anexada pela Argentina. Um Estado-tampão nascia na América do Sul. “Colocamos algodão entre dois cristais”, disse John Ponsonby, diplomata britânico que costurou o acordo.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.