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Opinião|As deportações em massa de Trump são um plano viável?


Há razões práticas, legais e econômicas pelas quais Trump não conseguirá deportar todos os imigrantes sem documentos, mas é provável que continue a usar sua retórica anti-imigrante como arma política

Por Andrés Oppenheimer

O presidente eleito Donald Trump disse na sua primeira entrevista à TV após as eleições que deportaria todos os que fossem encontrados ilegalmente nos Estados Unidos, o que totalizaria mais de 12 milhões de pessoas. Mas guarde minhas palavras: isso não vai acontecer.

Há razões práticas, legais e econômicas pelas quais Trump não conseguirá chegar nem remotamente perto de deportar todos os imigrantes sem documentos. No entanto, é provável que ele continue a usar sua retórica incendiária anti-imigrante como arma política para manter sua base mobilizada durante os próximos quatro anos.

Quando questionado em sua entrevista à NBC se o seu plano é “deportar nos próximos quatro anos todos os que estão aqui ilegalmente”, Trump respondeu: “Bem, penso que isso tem de ser feito”.

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Trump disse que começaria deportando imigrantes com antecedentes criminais. O responsável pelo controle das fronteiras nomeado por Trump, Tom Homan, afirmou que há 1,5 milhão de imigrantes com antecedentes criminais. Segundo dados oficiais da Agência de Imigração e Alfândega (ICE), o número real é de 660 mil.

Famílias brasileiras passam em uma brecha no muro da fronteira para chegar aos Estados Unidos após cruzar do México em Yuma, em junho de 2021. Foto: AP Photo/Eugene Garcia, Arquivo

A maioria dos especialistas em imigração afirma que Trump pode aumentar marginalmente o número de deportações, mas nunca expulsará 12 milhões de pessoas ou mais.

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Para colocar os números em perspectiva, Trump deportou 1,5 milhões de imigrantes durante os seus quatro anos de mandato. Biden terá deportado um número semelhante durante os seus quatro anos no poder, sem contar as expulsões ao abrigo da agora extinta ordem conhecida como Título 42, para evitar a propagação de covid durante a pandemia.

Andrew Selee, presidente do Immigration Policy Institute, disse-me que “é provável que vejamos um aumento nas deportações” sob o governo Trump. No entanto, acrescentou que este aumento “pode ser de algumas centenas de milhares de pessoas, mas não de milhões”.

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Primeiro, se o passado servir de indicação, as promessas de campanha de Trump devem ser encaradas com cautela. O presidente eleito iniciou sua primeira campanha presidencial, de 2016, prometendo que construiria um muro ao longo dos 3.200 quilômetros da fronteira e que “faria o México pagar por esse muro”. Mas ele não fez nem uma coisa, nem outra.

Trump construiu apenas 5 quilômetros de um novo muro fronteiriço – o resto dos recursos foi destinado a reparar estruturas existentes – e o México nunca pagou um centavo, de acordo com o site de verificação de fatos Politifact.

Em segundo lugar, a deportação de mais de 12 milhões de imigrantes indocumentados seria incrivelmente dispendiosa. De acordo com um estudo do Conselho Americano de Imigração, isso custaria pelo menos US$ 315 bilhões, “e essa seria uma estimativa muito conservadora”.

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O número nem sequer tem em conta o custo da construção de prisões para mais de 12 milhões de potenciais deportados. Atualmente, as prisões nos Estados Unidos são suficientes para abrigar uma população carcerária de 1,9 milhão.

Terceiro, a deportação de todos os imigrantes sem documentos causaria estragos nos setores da construção, da agricultura e da gastronomia, que dependem em grande parte dos trabalhadores sem documentos. Se forem expulsos do país, os custos laborais aumentariam, o que tornaria os preços dos alimentos e da habitação mais caros e aumentaria a inflação.

Manifestante segura uma faixa com a imagem de Trump, enquanto protesta no porto de San Ysidro, na fronteira entre os EUA e o México, durante o Dia Internacional dos Migrantes.  Foto: Guillermo Arias/AFP
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Quarto, haveria enormes obstáculos jurídicos à deportação de todos os imigrantes sem documentos, porque a Constituição garante o devido processo a todas as pessoas que vivem nos EUA, incluindo os imigrantes irregulares. Isto significa que cada caso de imigração deve ser ouvido em tribunal, o que por vezes pode levar anos.

Finalmente, cada vez mais americanos podem perceber que Trump está mentindo quando diz que há uma “invasão” de imigrantes sem documentos: houve uma invasão em 2022 e 2023, mas o fluxo de imigrantes irregulares caiu 60% em 2024, segundo dados oficiais.

Trump não menciona que a sua famosa “invasão” já não existe. E também não menciona os numerosos estudos que mostram que os imigrantes irregulares cometem menos crimes do que os cidadãos americanos.

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O mais preocupante é que Trump, que disse que os imigrantes estão “envenenando o sangue do nosso país”, usa imigrantes sem documentos para fins políticos, para manter sua base mobilizada. Receio que, além de causar danos à economia, isso contribua para aumentar o racismo./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

O presidente eleito Donald Trump disse na sua primeira entrevista à TV após as eleições que deportaria todos os que fossem encontrados ilegalmente nos Estados Unidos, o que totalizaria mais de 12 milhões de pessoas. Mas guarde minhas palavras: isso não vai acontecer.

Há razões práticas, legais e econômicas pelas quais Trump não conseguirá chegar nem remotamente perto de deportar todos os imigrantes sem documentos. No entanto, é provável que ele continue a usar sua retórica incendiária anti-imigrante como arma política para manter sua base mobilizada durante os próximos quatro anos.

Quando questionado em sua entrevista à NBC se o seu plano é “deportar nos próximos quatro anos todos os que estão aqui ilegalmente”, Trump respondeu: “Bem, penso que isso tem de ser feito”.

Trump disse que começaria deportando imigrantes com antecedentes criminais. O responsável pelo controle das fronteiras nomeado por Trump, Tom Homan, afirmou que há 1,5 milhão de imigrantes com antecedentes criminais. Segundo dados oficiais da Agência de Imigração e Alfândega (ICE), o número real é de 660 mil.

Famílias brasileiras passam em uma brecha no muro da fronteira para chegar aos Estados Unidos após cruzar do México em Yuma, em junho de 2021. Foto: AP Photo/Eugene Garcia, Arquivo

A maioria dos especialistas em imigração afirma que Trump pode aumentar marginalmente o número de deportações, mas nunca expulsará 12 milhões de pessoas ou mais.

Para colocar os números em perspectiva, Trump deportou 1,5 milhões de imigrantes durante os seus quatro anos de mandato. Biden terá deportado um número semelhante durante os seus quatro anos no poder, sem contar as expulsões ao abrigo da agora extinta ordem conhecida como Título 42, para evitar a propagação de covid durante a pandemia.

Andrew Selee, presidente do Immigration Policy Institute, disse-me que “é provável que vejamos um aumento nas deportações” sob o governo Trump. No entanto, acrescentou que este aumento “pode ser de algumas centenas de milhares de pessoas, mas não de milhões”.

Primeiro, se o passado servir de indicação, as promessas de campanha de Trump devem ser encaradas com cautela. O presidente eleito iniciou sua primeira campanha presidencial, de 2016, prometendo que construiria um muro ao longo dos 3.200 quilômetros da fronteira e que “faria o México pagar por esse muro”. Mas ele não fez nem uma coisa, nem outra.

Trump construiu apenas 5 quilômetros de um novo muro fronteiriço – o resto dos recursos foi destinado a reparar estruturas existentes – e o México nunca pagou um centavo, de acordo com o site de verificação de fatos Politifact.

Em segundo lugar, a deportação de mais de 12 milhões de imigrantes indocumentados seria incrivelmente dispendiosa. De acordo com um estudo do Conselho Americano de Imigração, isso custaria pelo menos US$ 315 bilhões, “e essa seria uma estimativa muito conservadora”.

O número nem sequer tem em conta o custo da construção de prisões para mais de 12 milhões de potenciais deportados. Atualmente, as prisões nos Estados Unidos são suficientes para abrigar uma população carcerária de 1,9 milhão.

Terceiro, a deportação de todos os imigrantes sem documentos causaria estragos nos setores da construção, da agricultura e da gastronomia, que dependem em grande parte dos trabalhadores sem documentos. Se forem expulsos do país, os custos laborais aumentariam, o que tornaria os preços dos alimentos e da habitação mais caros e aumentaria a inflação.

Manifestante segura uma faixa com a imagem de Trump, enquanto protesta no porto de San Ysidro, na fronteira entre os EUA e o México, durante o Dia Internacional dos Migrantes.  Foto: Guillermo Arias/AFP

Quarto, haveria enormes obstáculos jurídicos à deportação de todos os imigrantes sem documentos, porque a Constituição garante o devido processo a todas as pessoas que vivem nos EUA, incluindo os imigrantes irregulares. Isto significa que cada caso de imigração deve ser ouvido em tribunal, o que por vezes pode levar anos.

Finalmente, cada vez mais americanos podem perceber que Trump está mentindo quando diz que há uma “invasão” de imigrantes sem documentos: houve uma invasão em 2022 e 2023, mas o fluxo de imigrantes irregulares caiu 60% em 2024, segundo dados oficiais.

Trump não menciona que a sua famosa “invasão” já não existe. E também não menciona os numerosos estudos que mostram que os imigrantes irregulares cometem menos crimes do que os cidadãos americanos.

O mais preocupante é que Trump, que disse que os imigrantes estão “envenenando o sangue do nosso país”, usa imigrantes sem documentos para fins políticos, para manter sua base mobilizada. Receio que, além de causar danos à economia, isso contribua para aumentar o racismo./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

O presidente eleito Donald Trump disse na sua primeira entrevista à TV após as eleições que deportaria todos os que fossem encontrados ilegalmente nos Estados Unidos, o que totalizaria mais de 12 milhões de pessoas. Mas guarde minhas palavras: isso não vai acontecer.

Há razões práticas, legais e econômicas pelas quais Trump não conseguirá chegar nem remotamente perto de deportar todos os imigrantes sem documentos. No entanto, é provável que ele continue a usar sua retórica incendiária anti-imigrante como arma política para manter sua base mobilizada durante os próximos quatro anos.

Quando questionado em sua entrevista à NBC se o seu plano é “deportar nos próximos quatro anos todos os que estão aqui ilegalmente”, Trump respondeu: “Bem, penso que isso tem de ser feito”.

Trump disse que começaria deportando imigrantes com antecedentes criminais. O responsável pelo controle das fronteiras nomeado por Trump, Tom Homan, afirmou que há 1,5 milhão de imigrantes com antecedentes criminais. Segundo dados oficiais da Agência de Imigração e Alfândega (ICE), o número real é de 660 mil.

Famílias brasileiras passam em uma brecha no muro da fronteira para chegar aos Estados Unidos após cruzar do México em Yuma, em junho de 2021. Foto: AP Photo/Eugene Garcia, Arquivo

A maioria dos especialistas em imigração afirma que Trump pode aumentar marginalmente o número de deportações, mas nunca expulsará 12 milhões de pessoas ou mais.

Para colocar os números em perspectiva, Trump deportou 1,5 milhões de imigrantes durante os seus quatro anos de mandato. Biden terá deportado um número semelhante durante os seus quatro anos no poder, sem contar as expulsões ao abrigo da agora extinta ordem conhecida como Título 42, para evitar a propagação de covid durante a pandemia.

Andrew Selee, presidente do Immigration Policy Institute, disse-me que “é provável que vejamos um aumento nas deportações” sob o governo Trump. No entanto, acrescentou que este aumento “pode ser de algumas centenas de milhares de pessoas, mas não de milhões”.

Primeiro, se o passado servir de indicação, as promessas de campanha de Trump devem ser encaradas com cautela. O presidente eleito iniciou sua primeira campanha presidencial, de 2016, prometendo que construiria um muro ao longo dos 3.200 quilômetros da fronteira e que “faria o México pagar por esse muro”. Mas ele não fez nem uma coisa, nem outra.

Trump construiu apenas 5 quilômetros de um novo muro fronteiriço – o resto dos recursos foi destinado a reparar estruturas existentes – e o México nunca pagou um centavo, de acordo com o site de verificação de fatos Politifact.

Em segundo lugar, a deportação de mais de 12 milhões de imigrantes indocumentados seria incrivelmente dispendiosa. De acordo com um estudo do Conselho Americano de Imigração, isso custaria pelo menos US$ 315 bilhões, “e essa seria uma estimativa muito conservadora”.

O número nem sequer tem em conta o custo da construção de prisões para mais de 12 milhões de potenciais deportados. Atualmente, as prisões nos Estados Unidos são suficientes para abrigar uma população carcerária de 1,9 milhão.

Terceiro, a deportação de todos os imigrantes sem documentos causaria estragos nos setores da construção, da agricultura e da gastronomia, que dependem em grande parte dos trabalhadores sem documentos. Se forem expulsos do país, os custos laborais aumentariam, o que tornaria os preços dos alimentos e da habitação mais caros e aumentaria a inflação.

Manifestante segura uma faixa com a imagem de Trump, enquanto protesta no porto de San Ysidro, na fronteira entre os EUA e o México, durante o Dia Internacional dos Migrantes.  Foto: Guillermo Arias/AFP

Quarto, haveria enormes obstáculos jurídicos à deportação de todos os imigrantes sem documentos, porque a Constituição garante o devido processo a todas as pessoas que vivem nos EUA, incluindo os imigrantes irregulares. Isto significa que cada caso de imigração deve ser ouvido em tribunal, o que por vezes pode levar anos.

Finalmente, cada vez mais americanos podem perceber que Trump está mentindo quando diz que há uma “invasão” de imigrantes sem documentos: houve uma invasão em 2022 e 2023, mas o fluxo de imigrantes irregulares caiu 60% em 2024, segundo dados oficiais.

Trump não menciona que a sua famosa “invasão” já não existe. E também não menciona os numerosos estudos que mostram que os imigrantes irregulares cometem menos crimes do que os cidadãos americanos.

O mais preocupante é que Trump, que disse que os imigrantes estão “envenenando o sangue do nosso país”, usa imigrantes sem documentos para fins políticos, para manter sua base mobilizada. Receio que, além de causar danos à economia, isso contribua para aumentar o racismo./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Opinião por Andrés Oppenheimer

Andrés Oppenheimer foi considerado pela revista Foreign Policy 'um dos 50 intelectuais latino-americanos mais influentes' do mundo. É colunista do The Miami Herald, apresentador do programa 'Oppenheimer Apresenta' na CNN em Espanhol, e autor de oito best-sellers. Sua coluna 'Informe Oppenheimer' é publicada regularmente em mais de 50 jornais

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