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Opinião|O que acontecerá em Cuba depois dos apagões, na pior crise desde o colapso da União Soviética?


Tudo indica que o turismo, uma das principais fontes de rendimento do país, cairá nos próximos meses

Por Andrés Oppenheimer

O apagão massivo de 18 de outubro, que paralisou grande parte da economia de Cuba durante vários dias, e o furacão que castigou a ilha pouco depois pioraram uma crise econômica que já era grave. Mas o pior ainda pode estar por vir.

Tudo indica que o turismo, uma das principais fontes de rendimento do país, cairá nos próximos meses.

Embora o fornecimento de eletricidade tenha sido parcialmente restaurado em partes da ilha, quem viajaria para um país com constantes cortes de energia, onde a comida das pessoas apodrece nas geladeiras e os caixas automáticos, como quase todo o resto, estão fechados até segundo aviso?

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Cubanos jogam frisbee durante um grande apagão elétrico em Havana, Cuba, no dia 18 de outubro  Foto: Ramon Espinosa/AP

Mesmo antes do apagão, a ditadura cubana projetava que apenas 2,7 milhões de turistas visitariam a ilha este ano, uma diminuição de 16% em relação à sua projeção anterior. Bem abaixo dos 4,7 milhões de turistas que visitaram a ilha em 2018, antes da pandemia.

Agora, sem um fim à vista para os cortes de energia, que especialistas atribuem a uma rede elétrica antiquada que não é modernizada há décadas, o número de visitantes estrangeiros deverá diminuir ainda mais. O turismo corresponde a mais de 10% da economia cubana.

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Esta é a pior crise em Cuba desde o colapso da União Soviética, em 1991, quando os generosos subsídios soviéticos destinados à ilha terminaram abruptamente.

Os moradores de Havana dizem que, assim como no início da década de 90, a cidade voltou a ficar às escuras à noite e há uma escassez generalizada de alimentos, água e medicamentos.

Cubano pesca durante o apagão elétrico em Havana, Cuba, no dia 21 de outubro  Foto: Ramon Espinosa/AP
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Segundo dados do governo, mais de um milhão de cubanos – mais de 10% da população de Cuba – emigraram para o exterior nos últimos dois anos. É provável que esse número aumente agora, com essa nova onda de dificuldades.

Para piorar as coisas, a China acaba de cancelar um importante contrato para comprar mais de 400 mil toneladas de açúcar anualmente de Cuba, segundo noticiou o jornal Financial Times em 13 de outubro. A China tomou essa decisão porque Cuba não implementou reformas de mercado para reativar sua economia moribunda e pagar suas dívidas a empresas chinesas, notou o jornal britânico.

As autoridades chinesas estão “perplexas e frustradas” com a relutância dos governantes cubanos em implementar reformas de mercado, como fizeram a China e o Vietnã, afirmou o jornal.

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É possível que agora a Rússia e o México forneçam alguma ajuda. Mas a Venezuela, que substituiu a ex-União Soviética enquanto o maior benfeitora econômica da ilha, tem reduzido seus envios de petróleo para Cuba nos últimos anos devido à sua própria crise econômica.

Cubano dirige em Havana durante o apagão elétrico no país, no dia 18 de outubro  Foto: Ramon Espinosa/AP

Como era de se esperar, o ditador cubano, Miguel Díaz-Canel, atribuiu os cortes de energia ao embargo comercial dos Estados Unidos. Mas depois de 65 anos ouvindo a mesma lamúria, poucos cubanos acreditam nessa história. Eles sabem que Cuba pode fazer comércio com a Europa, a América Latina e quase qualquer outro país — e que o principal problema da ilha é a inépcia do regime.

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Nos últimos dias, segundo testemunhas, ocorreram panelaços esporádicos em Havana e vários outros pontos da ilha.

É cedo demais para dizer se esses protestos crescerão ou chegarão ao nível das manifestações de rua que sacudiram a ilha em 2021. Na ocasião, milhares de pessoas saíram às ruas exigindo comida e liberdades, e mais de 700 pessoas foram presas e condenadas a longas sentenças de prisão.

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A jornalista independente Yoani Sánchez, que vive em Havana e dirige o portal 14 y Medio, escreveu na sua conta no X, o antigo Twitter, que as tentativas do regime de culpar os EUA pela crise não funcionarão.

“A ira popular vai crescendo, e não parece haver um projeto oficial, nem a curto nem a médio prazo, para tornar a vida das pessoas mais suportável. Dias mais difíceis e sombrios estão por vir.”

Díaz-Canel provavelmente tentará resistir à tempestade com uma nova rodada de repressão e um novo êxodo em massa de jovens cubanos, mas isso apenas acelerará a longa decadência de Cuba no sentido de se tornar uma ilha empobrecida, de idosos que costumavam viver de subsídios estatais, mas que deixarão de ser capazes de cuidar de suas necessidades básicas. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

O apagão massivo de 18 de outubro, que paralisou grande parte da economia de Cuba durante vários dias, e o furacão que castigou a ilha pouco depois pioraram uma crise econômica que já era grave. Mas o pior ainda pode estar por vir.

Tudo indica que o turismo, uma das principais fontes de rendimento do país, cairá nos próximos meses.

Embora o fornecimento de eletricidade tenha sido parcialmente restaurado em partes da ilha, quem viajaria para um país com constantes cortes de energia, onde a comida das pessoas apodrece nas geladeiras e os caixas automáticos, como quase todo o resto, estão fechados até segundo aviso?

Cubanos jogam frisbee durante um grande apagão elétrico em Havana, Cuba, no dia 18 de outubro  Foto: Ramon Espinosa/AP

Mesmo antes do apagão, a ditadura cubana projetava que apenas 2,7 milhões de turistas visitariam a ilha este ano, uma diminuição de 16% em relação à sua projeção anterior. Bem abaixo dos 4,7 milhões de turistas que visitaram a ilha em 2018, antes da pandemia.

Agora, sem um fim à vista para os cortes de energia, que especialistas atribuem a uma rede elétrica antiquada que não é modernizada há décadas, o número de visitantes estrangeiros deverá diminuir ainda mais. O turismo corresponde a mais de 10% da economia cubana.

Esta é a pior crise em Cuba desde o colapso da União Soviética, em 1991, quando os generosos subsídios soviéticos destinados à ilha terminaram abruptamente.

Os moradores de Havana dizem que, assim como no início da década de 90, a cidade voltou a ficar às escuras à noite e há uma escassez generalizada de alimentos, água e medicamentos.

Cubano pesca durante o apagão elétrico em Havana, Cuba, no dia 21 de outubro  Foto: Ramon Espinosa/AP

Segundo dados do governo, mais de um milhão de cubanos – mais de 10% da população de Cuba – emigraram para o exterior nos últimos dois anos. É provável que esse número aumente agora, com essa nova onda de dificuldades.

Para piorar as coisas, a China acaba de cancelar um importante contrato para comprar mais de 400 mil toneladas de açúcar anualmente de Cuba, segundo noticiou o jornal Financial Times em 13 de outubro. A China tomou essa decisão porque Cuba não implementou reformas de mercado para reativar sua economia moribunda e pagar suas dívidas a empresas chinesas, notou o jornal britânico.

As autoridades chinesas estão “perplexas e frustradas” com a relutância dos governantes cubanos em implementar reformas de mercado, como fizeram a China e o Vietnã, afirmou o jornal.

É possível que agora a Rússia e o México forneçam alguma ajuda. Mas a Venezuela, que substituiu a ex-União Soviética enquanto o maior benfeitora econômica da ilha, tem reduzido seus envios de petróleo para Cuba nos últimos anos devido à sua própria crise econômica.

Cubano dirige em Havana durante o apagão elétrico no país, no dia 18 de outubro  Foto: Ramon Espinosa/AP

Como era de se esperar, o ditador cubano, Miguel Díaz-Canel, atribuiu os cortes de energia ao embargo comercial dos Estados Unidos. Mas depois de 65 anos ouvindo a mesma lamúria, poucos cubanos acreditam nessa história. Eles sabem que Cuba pode fazer comércio com a Europa, a América Latina e quase qualquer outro país — e que o principal problema da ilha é a inépcia do regime.

Nos últimos dias, segundo testemunhas, ocorreram panelaços esporádicos em Havana e vários outros pontos da ilha.

É cedo demais para dizer se esses protestos crescerão ou chegarão ao nível das manifestações de rua que sacudiram a ilha em 2021. Na ocasião, milhares de pessoas saíram às ruas exigindo comida e liberdades, e mais de 700 pessoas foram presas e condenadas a longas sentenças de prisão.

A jornalista independente Yoani Sánchez, que vive em Havana e dirige o portal 14 y Medio, escreveu na sua conta no X, o antigo Twitter, que as tentativas do regime de culpar os EUA pela crise não funcionarão.

“A ira popular vai crescendo, e não parece haver um projeto oficial, nem a curto nem a médio prazo, para tornar a vida das pessoas mais suportável. Dias mais difíceis e sombrios estão por vir.”

Díaz-Canel provavelmente tentará resistir à tempestade com uma nova rodada de repressão e um novo êxodo em massa de jovens cubanos, mas isso apenas acelerará a longa decadência de Cuba no sentido de se tornar uma ilha empobrecida, de idosos que costumavam viver de subsídios estatais, mas que deixarão de ser capazes de cuidar de suas necessidades básicas. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

O apagão massivo de 18 de outubro, que paralisou grande parte da economia de Cuba durante vários dias, e o furacão que castigou a ilha pouco depois pioraram uma crise econômica que já era grave. Mas o pior ainda pode estar por vir.

Tudo indica que o turismo, uma das principais fontes de rendimento do país, cairá nos próximos meses.

Embora o fornecimento de eletricidade tenha sido parcialmente restaurado em partes da ilha, quem viajaria para um país com constantes cortes de energia, onde a comida das pessoas apodrece nas geladeiras e os caixas automáticos, como quase todo o resto, estão fechados até segundo aviso?

Cubanos jogam frisbee durante um grande apagão elétrico em Havana, Cuba, no dia 18 de outubro  Foto: Ramon Espinosa/AP

Mesmo antes do apagão, a ditadura cubana projetava que apenas 2,7 milhões de turistas visitariam a ilha este ano, uma diminuição de 16% em relação à sua projeção anterior. Bem abaixo dos 4,7 milhões de turistas que visitaram a ilha em 2018, antes da pandemia.

Agora, sem um fim à vista para os cortes de energia, que especialistas atribuem a uma rede elétrica antiquada que não é modernizada há décadas, o número de visitantes estrangeiros deverá diminuir ainda mais. O turismo corresponde a mais de 10% da economia cubana.

Esta é a pior crise em Cuba desde o colapso da União Soviética, em 1991, quando os generosos subsídios soviéticos destinados à ilha terminaram abruptamente.

Os moradores de Havana dizem que, assim como no início da década de 90, a cidade voltou a ficar às escuras à noite e há uma escassez generalizada de alimentos, água e medicamentos.

Cubano pesca durante o apagão elétrico em Havana, Cuba, no dia 21 de outubro  Foto: Ramon Espinosa/AP

Segundo dados do governo, mais de um milhão de cubanos – mais de 10% da população de Cuba – emigraram para o exterior nos últimos dois anos. É provável que esse número aumente agora, com essa nova onda de dificuldades.

Para piorar as coisas, a China acaba de cancelar um importante contrato para comprar mais de 400 mil toneladas de açúcar anualmente de Cuba, segundo noticiou o jornal Financial Times em 13 de outubro. A China tomou essa decisão porque Cuba não implementou reformas de mercado para reativar sua economia moribunda e pagar suas dívidas a empresas chinesas, notou o jornal britânico.

As autoridades chinesas estão “perplexas e frustradas” com a relutância dos governantes cubanos em implementar reformas de mercado, como fizeram a China e o Vietnã, afirmou o jornal.

É possível que agora a Rússia e o México forneçam alguma ajuda. Mas a Venezuela, que substituiu a ex-União Soviética enquanto o maior benfeitora econômica da ilha, tem reduzido seus envios de petróleo para Cuba nos últimos anos devido à sua própria crise econômica.

Cubano dirige em Havana durante o apagão elétrico no país, no dia 18 de outubro  Foto: Ramon Espinosa/AP

Como era de se esperar, o ditador cubano, Miguel Díaz-Canel, atribuiu os cortes de energia ao embargo comercial dos Estados Unidos. Mas depois de 65 anos ouvindo a mesma lamúria, poucos cubanos acreditam nessa história. Eles sabem que Cuba pode fazer comércio com a Europa, a América Latina e quase qualquer outro país — e que o principal problema da ilha é a inépcia do regime.

Nos últimos dias, segundo testemunhas, ocorreram panelaços esporádicos em Havana e vários outros pontos da ilha.

É cedo demais para dizer se esses protestos crescerão ou chegarão ao nível das manifestações de rua que sacudiram a ilha em 2021. Na ocasião, milhares de pessoas saíram às ruas exigindo comida e liberdades, e mais de 700 pessoas foram presas e condenadas a longas sentenças de prisão.

A jornalista independente Yoani Sánchez, que vive em Havana e dirige o portal 14 y Medio, escreveu na sua conta no X, o antigo Twitter, que as tentativas do regime de culpar os EUA pela crise não funcionarão.

“A ira popular vai crescendo, e não parece haver um projeto oficial, nem a curto nem a médio prazo, para tornar a vida das pessoas mais suportável. Dias mais difíceis e sombrios estão por vir.”

Díaz-Canel provavelmente tentará resistir à tempestade com uma nova rodada de repressão e um novo êxodo em massa de jovens cubanos, mas isso apenas acelerará a longa decadência de Cuba no sentido de se tornar uma ilha empobrecida, de idosos que costumavam viver de subsídios estatais, mas que deixarão de ser capazes de cuidar de suas necessidades básicas. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

O apagão massivo de 18 de outubro, que paralisou grande parte da economia de Cuba durante vários dias, e o furacão que castigou a ilha pouco depois pioraram uma crise econômica que já era grave. Mas o pior ainda pode estar por vir.

Tudo indica que o turismo, uma das principais fontes de rendimento do país, cairá nos próximos meses.

Embora o fornecimento de eletricidade tenha sido parcialmente restaurado em partes da ilha, quem viajaria para um país com constantes cortes de energia, onde a comida das pessoas apodrece nas geladeiras e os caixas automáticos, como quase todo o resto, estão fechados até segundo aviso?

Cubanos jogam frisbee durante um grande apagão elétrico em Havana, Cuba, no dia 18 de outubro  Foto: Ramon Espinosa/AP

Mesmo antes do apagão, a ditadura cubana projetava que apenas 2,7 milhões de turistas visitariam a ilha este ano, uma diminuição de 16% em relação à sua projeção anterior. Bem abaixo dos 4,7 milhões de turistas que visitaram a ilha em 2018, antes da pandemia.

Agora, sem um fim à vista para os cortes de energia, que especialistas atribuem a uma rede elétrica antiquada que não é modernizada há décadas, o número de visitantes estrangeiros deverá diminuir ainda mais. O turismo corresponde a mais de 10% da economia cubana.

Esta é a pior crise em Cuba desde o colapso da União Soviética, em 1991, quando os generosos subsídios soviéticos destinados à ilha terminaram abruptamente.

Os moradores de Havana dizem que, assim como no início da década de 90, a cidade voltou a ficar às escuras à noite e há uma escassez generalizada de alimentos, água e medicamentos.

Cubano pesca durante o apagão elétrico em Havana, Cuba, no dia 21 de outubro  Foto: Ramon Espinosa/AP

Segundo dados do governo, mais de um milhão de cubanos – mais de 10% da população de Cuba – emigraram para o exterior nos últimos dois anos. É provável que esse número aumente agora, com essa nova onda de dificuldades.

Para piorar as coisas, a China acaba de cancelar um importante contrato para comprar mais de 400 mil toneladas de açúcar anualmente de Cuba, segundo noticiou o jornal Financial Times em 13 de outubro. A China tomou essa decisão porque Cuba não implementou reformas de mercado para reativar sua economia moribunda e pagar suas dívidas a empresas chinesas, notou o jornal britânico.

As autoridades chinesas estão “perplexas e frustradas” com a relutância dos governantes cubanos em implementar reformas de mercado, como fizeram a China e o Vietnã, afirmou o jornal.

É possível que agora a Rússia e o México forneçam alguma ajuda. Mas a Venezuela, que substituiu a ex-União Soviética enquanto o maior benfeitora econômica da ilha, tem reduzido seus envios de petróleo para Cuba nos últimos anos devido à sua própria crise econômica.

Cubano dirige em Havana durante o apagão elétrico no país, no dia 18 de outubro  Foto: Ramon Espinosa/AP

Como era de se esperar, o ditador cubano, Miguel Díaz-Canel, atribuiu os cortes de energia ao embargo comercial dos Estados Unidos. Mas depois de 65 anos ouvindo a mesma lamúria, poucos cubanos acreditam nessa história. Eles sabem que Cuba pode fazer comércio com a Europa, a América Latina e quase qualquer outro país — e que o principal problema da ilha é a inépcia do regime.

Nos últimos dias, segundo testemunhas, ocorreram panelaços esporádicos em Havana e vários outros pontos da ilha.

É cedo demais para dizer se esses protestos crescerão ou chegarão ao nível das manifestações de rua que sacudiram a ilha em 2021. Na ocasião, milhares de pessoas saíram às ruas exigindo comida e liberdades, e mais de 700 pessoas foram presas e condenadas a longas sentenças de prisão.

A jornalista independente Yoani Sánchez, que vive em Havana e dirige o portal 14 y Medio, escreveu na sua conta no X, o antigo Twitter, que as tentativas do regime de culpar os EUA pela crise não funcionarão.

“A ira popular vai crescendo, e não parece haver um projeto oficial, nem a curto nem a médio prazo, para tornar a vida das pessoas mais suportável. Dias mais difíceis e sombrios estão por vir.”

Díaz-Canel provavelmente tentará resistir à tempestade com uma nova rodada de repressão e um novo êxodo em massa de jovens cubanos, mas isso apenas acelerará a longa decadência de Cuba no sentido de se tornar uma ilha empobrecida, de idosos que costumavam viver de subsídios estatais, mas que deixarão de ser capazes de cuidar de suas necessidades básicas. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

O apagão massivo de 18 de outubro, que paralisou grande parte da economia de Cuba durante vários dias, e o furacão que castigou a ilha pouco depois pioraram uma crise econômica que já era grave. Mas o pior ainda pode estar por vir.

Tudo indica que o turismo, uma das principais fontes de rendimento do país, cairá nos próximos meses.

Embora o fornecimento de eletricidade tenha sido parcialmente restaurado em partes da ilha, quem viajaria para um país com constantes cortes de energia, onde a comida das pessoas apodrece nas geladeiras e os caixas automáticos, como quase todo o resto, estão fechados até segundo aviso?

Cubanos jogam frisbee durante um grande apagão elétrico em Havana, Cuba, no dia 18 de outubro  Foto: Ramon Espinosa/AP

Mesmo antes do apagão, a ditadura cubana projetava que apenas 2,7 milhões de turistas visitariam a ilha este ano, uma diminuição de 16% em relação à sua projeção anterior. Bem abaixo dos 4,7 milhões de turistas que visitaram a ilha em 2018, antes da pandemia.

Agora, sem um fim à vista para os cortes de energia, que especialistas atribuem a uma rede elétrica antiquada que não é modernizada há décadas, o número de visitantes estrangeiros deverá diminuir ainda mais. O turismo corresponde a mais de 10% da economia cubana.

Esta é a pior crise em Cuba desde o colapso da União Soviética, em 1991, quando os generosos subsídios soviéticos destinados à ilha terminaram abruptamente.

Os moradores de Havana dizem que, assim como no início da década de 90, a cidade voltou a ficar às escuras à noite e há uma escassez generalizada de alimentos, água e medicamentos.

Cubano pesca durante o apagão elétrico em Havana, Cuba, no dia 21 de outubro  Foto: Ramon Espinosa/AP

Segundo dados do governo, mais de um milhão de cubanos – mais de 10% da população de Cuba – emigraram para o exterior nos últimos dois anos. É provável que esse número aumente agora, com essa nova onda de dificuldades.

Para piorar as coisas, a China acaba de cancelar um importante contrato para comprar mais de 400 mil toneladas de açúcar anualmente de Cuba, segundo noticiou o jornal Financial Times em 13 de outubro. A China tomou essa decisão porque Cuba não implementou reformas de mercado para reativar sua economia moribunda e pagar suas dívidas a empresas chinesas, notou o jornal britânico.

As autoridades chinesas estão “perplexas e frustradas” com a relutância dos governantes cubanos em implementar reformas de mercado, como fizeram a China e o Vietnã, afirmou o jornal.

É possível que agora a Rússia e o México forneçam alguma ajuda. Mas a Venezuela, que substituiu a ex-União Soviética enquanto o maior benfeitora econômica da ilha, tem reduzido seus envios de petróleo para Cuba nos últimos anos devido à sua própria crise econômica.

Cubano dirige em Havana durante o apagão elétrico no país, no dia 18 de outubro  Foto: Ramon Espinosa/AP

Como era de se esperar, o ditador cubano, Miguel Díaz-Canel, atribuiu os cortes de energia ao embargo comercial dos Estados Unidos. Mas depois de 65 anos ouvindo a mesma lamúria, poucos cubanos acreditam nessa história. Eles sabem que Cuba pode fazer comércio com a Europa, a América Latina e quase qualquer outro país — e que o principal problema da ilha é a inépcia do regime.

Nos últimos dias, segundo testemunhas, ocorreram panelaços esporádicos em Havana e vários outros pontos da ilha.

É cedo demais para dizer se esses protestos crescerão ou chegarão ao nível das manifestações de rua que sacudiram a ilha em 2021. Na ocasião, milhares de pessoas saíram às ruas exigindo comida e liberdades, e mais de 700 pessoas foram presas e condenadas a longas sentenças de prisão.

A jornalista independente Yoani Sánchez, que vive em Havana e dirige o portal 14 y Medio, escreveu na sua conta no X, o antigo Twitter, que as tentativas do regime de culpar os EUA pela crise não funcionarão.

“A ira popular vai crescendo, e não parece haver um projeto oficial, nem a curto nem a médio prazo, para tornar a vida das pessoas mais suportável. Dias mais difíceis e sombrios estão por vir.”

Díaz-Canel provavelmente tentará resistir à tempestade com uma nova rodada de repressão e um novo êxodo em massa de jovens cubanos, mas isso apenas acelerará a longa decadência de Cuba no sentido de se tornar uma ilha empobrecida, de idosos que costumavam viver de subsídios estatais, mas que deixarão de ser capazes de cuidar de suas necessidades básicas. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Opinião por Andrés Oppenheimer

Andrés Oppenheimer foi considerado pela revista Foreign Policy 'um dos 50 intelectuais latino-americanos mais influentes' do mundo. É colunista do The Miami Herald, apresentador do programa 'Oppenheimer Apresenta' na CNN em Espanhol, e autor de oito best-sellers. Sua coluna 'Informe Oppenheimer' é publicada regularmente em mais de 50 jornais

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