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Opinião|O retorno de Donald Trump à Casa Branca será bom ou ruim para a América Latina?


Planos econômicos do presidente eleito podem não causar tantos danos à região, mas desprezo a regras democráticas podem inspirar outros líderes

Por Andrés Oppenheimer

Muitos pensam que a vitória do presidente eleito Donald Trump afetará negativamente as economias da América Latina por causa da promessa dele de deportar milhões de imigrantes sem documentos e de aumentar as tarifas sobre as importações, mas que o impacto político da sua vitória será muito menor.

Eu acredito no oposto. Os planos econômicos de Trump podem não causar tantos danos à região, mas o seu desdém pelas regras democráticas será provavelmente usado como desculpa pelos aspirantes a autocratas da região para dizerem: “Se o presidente dos Estados Unidos faz isso, por que eu não posso fazê-lo?”

Os planos econômicos de Trump incluem aumentar as tarifas sobre produtos de todo o mundo em 20%, e sobre produtos chineses em 60%.

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Ele também ameaçou aumentar as tarifas sobre os produtos mexicanos em até 100% se o México não fizer algo para impedir o ataque de imigrantes sem documentos, e aplicar uma percentagem semelhante sobre certos produtos provenientes da China.

Imagem de setembro mostra apoiadores latinos de Trump em Tucson, no Arizona. Presidente eleito prometeu deportações em massa contra imigrantes ilegais e tarifas contra México Foto: Alex Brandon/AP

“Donald Trump está disposto a esmagar o México com tarifas”, foi a manchete da revista britânica The Economist esta semana.

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O antigo presidente mexicano Vicente Fox disse-me em uma entrevista em 7 de novembro que, se Trump aumentar as tarifas sobre os produtos mexicanos em 100%, “isso nos quebra”.

Além disso, Trump prometeu deportar os 11 milhões de imigrantes sem documentos nos EUA. Se isso acontecer, o México e outros países latino-americanos verão suas escolas e hospitais ficarem ainda mais superlotados e receberão menos remessas familiares dos seus imigrantes nos Estados Unidos.

Muitos defensores de Trump dizem que as ameaças dele não devem ser interpretadas tão literalmente, porque no seu primeiro mandato ele nem sempre fez tudo que prometeu.

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Mas, desta vez, poderá ser diferente, porque Trump terá poderes quase absolutos.

Ele ganhou a presidência, a maioria no Senado, e pode ganhar a maioria na Câmara dos Deputados quando a contagem dos votos terminar, e ainda tem maioria conservadora na Suprema Corte.

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Contudo, não acredito que seus planos econômicos sejam o fim do mundo para a América Latina. Pelo contrário, vários países da região poderiam se beneficiar se ele impusesse tarifas de 60% sobre as exportações chinesas e de 20% sobre os produtos latino-americanos.

Mario Cimoli, antigo secretário executivo adjunto da Comissão Econômica da ONU para a América Latina e o Caribe, disse-me que “o plano de Trump para fechar as portas para a China poderia beneficiar o México e vários países da América Central, que poderiam obter maior acesso ao mercado dos EUA”.

Quanto às deportações em massa de Trump, sou cético quanto à possibilidade de ele expulsar vários milhões de pessoas do país.

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Não se pode excluir a possibilidade de um acordo com a presidente do México, por meio do qual esta tomará medidas para reduzir a imigração de outros países para o México a caminho dos Estados Unidos, em troca de um fluxo maior de imigrantes temporários legais.

Imagem de outubro deste ano mostra uma parte do muro construído pelo primeiro governo Trump na fronteira entre EUA e México Foto: Olivier Touron/AFP

A deportação de milhões de imigrantes criaria uma enorme escassez de mão-de-obra nos setores da agricultura, hotelaria e construção dos EUA, aumentando os custos laborais e aumentando a inflação. Não creio que Trump queira que isso aconteça durante o seu mandato.

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Contudo, o impacto político da vitória de Trump poderá ser maior. A recusa de Trump em reconhecer a sua derrota nas eleições de 2020, o seu apoio aberto à multidão violenta que atacou o Capitólio em 6 de janeiro de 2021 e a sua afirmação de que os meios de comunicação independentes são “os inimigos do povo” encorajarão vários presidentes latino-americanos a tentarem se tornar ditadores eleitos.

Além disso, a admiração expressa por Trump por ditadores como Vladimir Putin, da Rússia, e Kim Jong Un, da Coreia do Norte, poderá minar ainda mais a autoridade moral dos EUA para pregar a democracia em outros lugares. Países como o México terão mais munição para justificar seu apoio às ditaduras da Venezuela e de Cuba.

Espero estar errado quanto ao efeito político da vitória de Trump. Mas o fato é que o presidente eleito terá poderes quase absolutos e apresenta um longo histórico de tentativas de violação do Estado de direito.

Um autocrata eleito na Casa Branca, que disse que gostaria de ser um ditador “no primeiro dia” da sua presidência, daria um exemplo terrível para o resto do mundo. /TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Muitos pensam que a vitória do presidente eleito Donald Trump afetará negativamente as economias da América Latina por causa da promessa dele de deportar milhões de imigrantes sem documentos e de aumentar as tarifas sobre as importações, mas que o impacto político da sua vitória será muito menor.

Eu acredito no oposto. Os planos econômicos de Trump podem não causar tantos danos à região, mas o seu desdém pelas regras democráticas será provavelmente usado como desculpa pelos aspirantes a autocratas da região para dizerem: “Se o presidente dos Estados Unidos faz isso, por que eu não posso fazê-lo?”

Os planos econômicos de Trump incluem aumentar as tarifas sobre produtos de todo o mundo em 20%, e sobre produtos chineses em 60%.

Ele também ameaçou aumentar as tarifas sobre os produtos mexicanos em até 100% se o México não fizer algo para impedir o ataque de imigrantes sem documentos, e aplicar uma percentagem semelhante sobre certos produtos provenientes da China.

Imagem de setembro mostra apoiadores latinos de Trump em Tucson, no Arizona. Presidente eleito prometeu deportações em massa contra imigrantes ilegais e tarifas contra México Foto: Alex Brandon/AP

“Donald Trump está disposto a esmagar o México com tarifas”, foi a manchete da revista britânica The Economist esta semana.

O antigo presidente mexicano Vicente Fox disse-me em uma entrevista em 7 de novembro que, se Trump aumentar as tarifas sobre os produtos mexicanos em 100%, “isso nos quebra”.

Além disso, Trump prometeu deportar os 11 milhões de imigrantes sem documentos nos EUA. Se isso acontecer, o México e outros países latino-americanos verão suas escolas e hospitais ficarem ainda mais superlotados e receberão menos remessas familiares dos seus imigrantes nos Estados Unidos.

Muitos defensores de Trump dizem que as ameaças dele não devem ser interpretadas tão literalmente, porque no seu primeiro mandato ele nem sempre fez tudo que prometeu.

Mas, desta vez, poderá ser diferente, porque Trump terá poderes quase absolutos.

Ele ganhou a presidência, a maioria no Senado, e pode ganhar a maioria na Câmara dos Deputados quando a contagem dos votos terminar, e ainda tem maioria conservadora na Suprema Corte.

Contudo, não acredito que seus planos econômicos sejam o fim do mundo para a América Latina. Pelo contrário, vários países da região poderiam se beneficiar se ele impusesse tarifas de 60% sobre as exportações chinesas e de 20% sobre os produtos latino-americanos.

Mario Cimoli, antigo secretário executivo adjunto da Comissão Econômica da ONU para a América Latina e o Caribe, disse-me que “o plano de Trump para fechar as portas para a China poderia beneficiar o México e vários países da América Central, que poderiam obter maior acesso ao mercado dos EUA”.

Quanto às deportações em massa de Trump, sou cético quanto à possibilidade de ele expulsar vários milhões de pessoas do país.

Não se pode excluir a possibilidade de um acordo com a presidente do México, por meio do qual esta tomará medidas para reduzir a imigração de outros países para o México a caminho dos Estados Unidos, em troca de um fluxo maior de imigrantes temporários legais.

Imagem de outubro deste ano mostra uma parte do muro construído pelo primeiro governo Trump na fronteira entre EUA e México Foto: Olivier Touron/AFP

A deportação de milhões de imigrantes criaria uma enorme escassez de mão-de-obra nos setores da agricultura, hotelaria e construção dos EUA, aumentando os custos laborais e aumentando a inflação. Não creio que Trump queira que isso aconteça durante o seu mandato.

Contudo, o impacto político da vitória de Trump poderá ser maior. A recusa de Trump em reconhecer a sua derrota nas eleições de 2020, o seu apoio aberto à multidão violenta que atacou o Capitólio em 6 de janeiro de 2021 e a sua afirmação de que os meios de comunicação independentes são “os inimigos do povo” encorajarão vários presidentes latino-americanos a tentarem se tornar ditadores eleitos.

Além disso, a admiração expressa por Trump por ditadores como Vladimir Putin, da Rússia, e Kim Jong Un, da Coreia do Norte, poderá minar ainda mais a autoridade moral dos EUA para pregar a democracia em outros lugares. Países como o México terão mais munição para justificar seu apoio às ditaduras da Venezuela e de Cuba.

Espero estar errado quanto ao efeito político da vitória de Trump. Mas o fato é que o presidente eleito terá poderes quase absolutos e apresenta um longo histórico de tentativas de violação do Estado de direito.

Um autocrata eleito na Casa Branca, que disse que gostaria de ser um ditador “no primeiro dia” da sua presidência, daria um exemplo terrível para o resto do mundo. /TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Muitos pensam que a vitória do presidente eleito Donald Trump afetará negativamente as economias da América Latina por causa da promessa dele de deportar milhões de imigrantes sem documentos e de aumentar as tarifas sobre as importações, mas que o impacto político da sua vitória será muito menor.

Eu acredito no oposto. Os planos econômicos de Trump podem não causar tantos danos à região, mas o seu desdém pelas regras democráticas será provavelmente usado como desculpa pelos aspirantes a autocratas da região para dizerem: “Se o presidente dos Estados Unidos faz isso, por que eu não posso fazê-lo?”

Os planos econômicos de Trump incluem aumentar as tarifas sobre produtos de todo o mundo em 20%, e sobre produtos chineses em 60%.

Ele também ameaçou aumentar as tarifas sobre os produtos mexicanos em até 100% se o México não fizer algo para impedir o ataque de imigrantes sem documentos, e aplicar uma percentagem semelhante sobre certos produtos provenientes da China.

Imagem de setembro mostra apoiadores latinos de Trump em Tucson, no Arizona. Presidente eleito prometeu deportações em massa contra imigrantes ilegais e tarifas contra México Foto: Alex Brandon/AP

“Donald Trump está disposto a esmagar o México com tarifas”, foi a manchete da revista britânica The Economist esta semana.

O antigo presidente mexicano Vicente Fox disse-me em uma entrevista em 7 de novembro que, se Trump aumentar as tarifas sobre os produtos mexicanos em 100%, “isso nos quebra”.

Além disso, Trump prometeu deportar os 11 milhões de imigrantes sem documentos nos EUA. Se isso acontecer, o México e outros países latino-americanos verão suas escolas e hospitais ficarem ainda mais superlotados e receberão menos remessas familiares dos seus imigrantes nos Estados Unidos.

Muitos defensores de Trump dizem que as ameaças dele não devem ser interpretadas tão literalmente, porque no seu primeiro mandato ele nem sempre fez tudo que prometeu.

Mas, desta vez, poderá ser diferente, porque Trump terá poderes quase absolutos.

Ele ganhou a presidência, a maioria no Senado, e pode ganhar a maioria na Câmara dos Deputados quando a contagem dos votos terminar, e ainda tem maioria conservadora na Suprema Corte.

Contudo, não acredito que seus planos econômicos sejam o fim do mundo para a América Latina. Pelo contrário, vários países da região poderiam se beneficiar se ele impusesse tarifas de 60% sobre as exportações chinesas e de 20% sobre os produtos latino-americanos.

Mario Cimoli, antigo secretário executivo adjunto da Comissão Econômica da ONU para a América Latina e o Caribe, disse-me que “o plano de Trump para fechar as portas para a China poderia beneficiar o México e vários países da América Central, que poderiam obter maior acesso ao mercado dos EUA”.

Quanto às deportações em massa de Trump, sou cético quanto à possibilidade de ele expulsar vários milhões de pessoas do país.

Não se pode excluir a possibilidade de um acordo com a presidente do México, por meio do qual esta tomará medidas para reduzir a imigração de outros países para o México a caminho dos Estados Unidos, em troca de um fluxo maior de imigrantes temporários legais.

Imagem de outubro deste ano mostra uma parte do muro construído pelo primeiro governo Trump na fronteira entre EUA e México Foto: Olivier Touron/AFP

A deportação de milhões de imigrantes criaria uma enorme escassez de mão-de-obra nos setores da agricultura, hotelaria e construção dos EUA, aumentando os custos laborais e aumentando a inflação. Não creio que Trump queira que isso aconteça durante o seu mandato.

Contudo, o impacto político da vitória de Trump poderá ser maior. A recusa de Trump em reconhecer a sua derrota nas eleições de 2020, o seu apoio aberto à multidão violenta que atacou o Capitólio em 6 de janeiro de 2021 e a sua afirmação de que os meios de comunicação independentes são “os inimigos do povo” encorajarão vários presidentes latino-americanos a tentarem se tornar ditadores eleitos.

Além disso, a admiração expressa por Trump por ditadores como Vladimir Putin, da Rússia, e Kim Jong Un, da Coreia do Norte, poderá minar ainda mais a autoridade moral dos EUA para pregar a democracia em outros lugares. Países como o México terão mais munição para justificar seu apoio às ditaduras da Venezuela e de Cuba.

Espero estar errado quanto ao efeito político da vitória de Trump. Mas o fato é que o presidente eleito terá poderes quase absolutos e apresenta um longo histórico de tentativas de violação do Estado de direito.

Um autocrata eleito na Casa Branca, que disse que gostaria de ser um ditador “no primeiro dia” da sua presidência, daria um exemplo terrível para o resto do mundo. /TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Opinião por Andrés Oppenheimer

Andrés Oppenheimer foi considerado pela revista Foreign Policy 'um dos 50 intelectuais latino-americanos mais influentes' do mundo. É colunista do The Miami Herald, apresentador do programa 'Oppenheimer Apresenta' na CNN em Espanhol, e autor de oito best-sellers. Sua coluna 'Informe Oppenheimer' é publicada regularmente em mais de 50 jornais

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