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Opinião|Por que Trump e Kamala ignoraram Venezuela, Cuba e México no debate?


Apesar do seu impacto para os Estados Unidos, América Latina foi citada apenas em alegações falsas sobre imigração, sem discussão séria sobre a política externa para região

Por Andrés Oppenheimer

O debate da terça-feira entre a candidata presidencial democrata, Kamala Harris, e seu rival republicano, Donald Trump, entrará para a história como o evento em que o ex-presidente caiu no ridículo ao repetir a falsa afirmação racista de que os imigrantes haitianos estão devorando cães e gatos dos americanos em Ohio.

Mas a longa lista de mentiras de Trump sobre os imigrantes encobriu o fato de nem ele, nem Kamala, nem os moderadores da ABC terem mencionado várias questões de política externa que afetam milhões de americanos.

Refiro-me às ditaduras cada vez mais violentas de Venezuela, Nicarágua e Cuba, cuja repressão brutal e políticas econômicas desastrosas são a razão pela qual tantos imigrantes indocumentados desses países chegam nos Estados Unidos.

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Donald Trump enfrenta Kamala Harris em debate.  Foto: Doug Mills/The New York Times

E estou falando do que ocorre no México, o principal parceiro comercial dos EUA no mundo, onde a reforma judicial do presidente Andrés Manuel López Obrador provavelmente transformará o país na maior autocracia eleita da América Latina.

O debate durou uma hora e 45 minutos e abordou vários temas de política externa, incluindo as guerras na Ucrânia e em Gaza e o Afeganistão.

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E vários ditadores foram mencionados, incluindo o autocrata húngaro, Viktor Orbán.

Quase 8 milhões de venezuelanos já fugiram do seu país desde que Nicolás Maduro assumiu o poder, em 2013, e estima-se que outros milhões sairão após sua fraude eleitoral em 28 de julho, que desencadeou uma nova onda de repressão.

Trump e a Venezuela

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Trump mencionou a Venezuela de passagem, mas sem abordar o ataque de Maduro contra a democracia e seus abusos aos direitos humanos. Trump afirmou que a Venezuela esvazia sistematicamente suas prisões para inundar os EUA de criminosos que se fazem passar por imigrantes. E que por isso a Venezuela se tornou um país mais seguro. Ambas as afirmações são ridiculamente falsas.

Igualmente surpreendente é que nenhum candidato mencionou a reforma judicial do México, que foi aprovada pelo Senado mexicano, de maioria pró-governo, naquela mesma terça-feira. Essa reforma permitirá ao presidente populista do México controlar os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. O embaixador dos EUA no México, Ken Salazar, descreveu a medida como um risco para a democracia mexicana e uma ameaça às relações comerciais entre EUA e México.

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No debate, Trump, de 78 anos, não teve resposta para muitas perguntas que lhe foram feitas e repetiu constantemente afirmações ridículas sobre imigrantes, seja qual fosse o tema de que falavam.

“Vejam o que está acontecendo nas cidades dos EUA. Vejam Springfield, Ohio”, disse Trump. “Em Springfield, eles estão comendo os cachorros. As pessoas que vieram de fora estão comendo os gatos. Estão comendo os bichos de estimação das pessoas que moram lá.”

Insultos a haitianos

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Na verdade, o Departamento de Polícia de Springfield afirma não ter recebido nenhuma informação sobre roubos de mascotes nem a respeito de cães e gatos devorados. E a municipalidade de Springfield disse que não há relatos confiáveis de bichos de estimação feridos ou mortos. Trump repetiu uma notícia falsa publicada num grupo de Springfield no Facebook no qual uma pessoa escreveu que a amiga da filha de um vizinho tinha perdido seu gato e que ele poderia ter sido comido por imigrantes haitianos.

Imagem gerada com IA mostra Donald Trump "salvando" gatos de haitianos em referência às alegações falsas de que imigrantes estariam comendo animais de estimação.  Foto: Rebecca Noble/AFP

A maioria das outras afirmações de Trump sobre imigração é igualmente absurda. Embora seja verdade que a imigração não autorizada atingiu níveis recorde em 2023, este ano o número de entradas ilegais despencou — após o presidente Joe Biden impor novas restrições aos solicitantes de asilo. E estatísticas do FBI mostram que o índice de crimes violentos está nos níveis mais baixos dos últimos 50 anos.

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Em suma, Trump perdeu o debate em quase todas as frentes. Mas em política externa ambos os candidatos falharam ao não incluir na discussão a América Latina, a região que talvez mais afete a vida cotidiana dos americanos em termos de imigração, comércio, drogas, meio ambiente e oportunidades econômicas. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

O debate da terça-feira entre a candidata presidencial democrata, Kamala Harris, e seu rival republicano, Donald Trump, entrará para a história como o evento em que o ex-presidente caiu no ridículo ao repetir a falsa afirmação racista de que os imigrantes haitianos estão devorando cães e gatos dos americanos em Ohio.

Mas a longa lista de mentiras de Trump sobre os imigrantes encobriu o fato de nem ele, nem Kamala, nem os moderadores da ABC terem mencionado várias questões de política externa que afetam milhões de americanos.

Refiro-me às ditaduras cada vez mais violentas de Venezuela, Nicarágua e Cuba, cuja repressão brutal e políticas econômicas desastrosas são a razão pela qual tantos imigrantes indocumentados desses países chegam nos Estados Unidos.

Donald Trump enfrenta Kamala Harris em debate.  Foto: Doug Mills/The New York Times

E estou falando do que ocorre no México, o principal parceiro comercial dos EUA no mundo, onde a reforma judicial do presidente Andrés Manuel López Obrador provavelmente transformará o país na maior autocracia eleita da América Latina.

O debate durou uma hora e 45 minutos e abordou vários temas de política externa, incluindo as guerras na Ucrânia e em Gaza e o Afeganistão.

E vários ditadores foram mencionados, incluindo o autocrata húngaro, Viktor Orbán.

Quase 8 milhões de venezuelanos já fugiram do seu país desde que Nicolás Maduro assumiu o poder, em 2013, e estima-se que outros milhões sairão após sua fraude eleitoral em 28 de julho, que desencadeou uma nova onda de repressão.

Trump e a Venezuela

Trump mencionou a Venezuela de passagem, mas sem abordar o ataque de Maduro contra a democracia e seus abusos aos direitos humanos. Trump afirmou que a Venezuela esvazia sistematicamente suas prisões para inundar os EUA de criminosos que se fazem passar por imigrantes. E que por isso a Venezuela se tornou um país mais seguro. Ambas as afirmações são ridiculamente falsas.

Igualmente surpreendente é que nenhum candidato mencionou a reforma judicial do México, que foi aprovada pelo Senado mexicano, de maioria pró-governo, naquela mesma terça-feira. Essa reforma permitirá ao presidente populista do México controlar os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. O embaixador dos EUA no México, Ken Salazar, descreveu a medida como um risco para a democracia mexicana e uma ameaça às relações comerciais entre EUA e México.

No debate, Trump, de 78 anos, não teve resposta para muitas perguntas que lhe foram feitas e repetiu constantemente afirmações ridículas sobre imigrantes, seja qual fosse o tema de que falavam.

“Vejam o que está acontecendo nas cidades dos EUA. Vejam Springfield, Ohio”, disse Trump. “Em Springfield, eles estão comendo os cachorros. As pessoas que vieram de fora estão comendo os gatos. Estão comendo os bichos de estimação das pessoas que moram lá.”

Insultos a haitianos

Na verdade, o Departamento de Polícia de Springfield afirma não ter recebido nenhuma informação sobre roubos de mascotes nem a respeito de cães e gatos devorados. E a municipalidade de Springfield disse que não há relatos confiáveis de bichos de estimação feridos ou mortos. Trump repetiu uma notícia falsa publicada num grupo de Springfield no Facebook no qual uma pessoa escreveu que a amiga da filha de um vizinho tinha perdido seu gato e que ele poderia ter sido comido por imigrantes haitianos.

Imagem gerada com IA mostra Donald Trump "salvando" gatos de haitianos em referência às alegações falsas de que imigrantes estariam comendo animais de estimação.  Foto: Rebecca Noble/AFP

A maioria das outras afirmações de Trump sobre imigração é igualmente absurda. Embora seja verdade que a imigração não autorizada atingiu níveis recorde em 2023, este ano o número de entradas ilegais despencou — após o presidente Joe Biden impor novas restrições aos solicitantes de asilo. E estatísticas do FBI mostram que o índice de crimes violentos está nos níveis mais baixos dos últimos 50 anos.

Em suma, Trump perdeu o debate em quase todas as frentes. Mas em política externa ambos os candidatos falharam ao não incluir na discussão a América Latina, a região que talvez mais afete a vida cotidiana dos americanos em termos de imigração, comércio, drogas, meio ambiente e oportunidades econômicas. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

O debate da terça-feira entre a candidata presidencial democrata, Kamala Harris, e seu rival republicano, Donald Trump, entrará para a história como o evento em que o ex-presidente caiu no ridículo ao repetir a falsa afirmação racista de que os imigrantes haitianos estão devorando cães e gatos dos americanos em Ohio.

Mas a longa lista de mentiras de Trump sobre os imigrantes encobriu o fato de nem ele, nem Kamala, nem os moderadores da ABC terem mencionado várias questões de política externa que afetam milhões de americanos.

Refiro-me às ditaduras cada vez mais violentas de Venezuela, Nicarágua e Cuba, cuja repressão brutal e políticas econômicas desastrosas são a razão pela qual tantos imigrantes indocumentados desses países chegam nos Estados Unidos.

Donald Trump enfrenta Kamala Harris em debate.  Foto: Doug Mills/The New York Times

E estou falando do que ocorre no México, o principal parceiro comercial dos EUA no mundo, onde a reforma judicial do presidente Andrés Manuel López Obrador provavelmente transformará o país na maior autocracia eleita da América Latina.

O debate durou uma hora e 45 minutos e abordou vários temas de política externa, incluindo as guerras na Ucrânia e em Gaza e o Afeganistão.

E vários ditadores foram mencionados, incluindo o autocrata húngaro, Viktor Orbán.

Quase 8 milhões de venezuelanos já fugiram do seu país desde que Nicolás Maduro assumiu o poder, em 2013, e estima-se que outros milhões sairão após sua fraude eleitoral em 28 de julho, que desencadeou uma nova onda de repressão.

Trump e a Venezuela

Trump mencionou a Venezuela de passagem, mas sem abordar o ataque de Maduro contra a democracia e seus abusos aos direitos humanos. Trump afirmou que a Venezuela esvazia sistematicamente suas prisões para inundar os EUA de criminosos que se fazem passar por imigrantes. E que por isso a Venezuela se tornou um país mais seguro. Ambas as afirmações são ridiculamente falsas.

Igualmente surpreendente é que nenhum candidato mencionou a reforma judicial do México, que foi aprovada pelo Senado mexicano, de maioria pró-governo, naquela mesma terça-feira. Essa reforma permitirá ao presidente populista do México controlar os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. O embaixador dos EUA no México, Ken Salazar, descreveu a medida como um risco para a democracia mexicana e uma ameaça às relações comerciais entre EUA e México.

No debate, Trump, de 78 anos, não teve resposta para muitas perguntas que lhe foram feitas e repetiu constantemente afirmações ridículas sobre imigrantes, seja qual fosse o tema de que falavam.

“Vejam o que está acontecendo nas cidades dos EUA. Vejam Springfield, Ohio”, disse Trump. “Em Springfield, eles estão comendo os cachorros. As pessoas que vieram de fora estão comendo os gatos. Estão comendo os bichos de estimação das pessoas que moram lá.”

Insultos a haitianos

Na verdade, o Departamento de Polícia de Springfield afirma não ter recebido nenhuma informação sobre roubos de mascotes nem a respeito de cães e gatos devorados. E a municipalidade de Springfield disse que não há relatos confiáveis de bichos de estimação feridos ou mortos. Trump repetiu uma notícia falsa publicada num grupo de Springfield no Facebook no qual uma pessoa escreveu que a amiga da filha de um vizinho tinha perdido seu gato e que ele poderia ter sido comido por imigrantes haitianos.

Imagem gerada com IA mostra Donald Trump "salvando" gatos de haitianos em referência às alegações falsas de que imigrantes estariam comendo animais de estimação.  Foto: Rebecca Noble/AFP

A maioria das outras afirmações de Trump sobre imigração é igualmente absurda. Embora seja verdade que a imigração não autorizada atingiu níveis recorde em 2023, este ano o número de entradas ilegais despencou — após o presidente Joe Biden impor novas restrições aos solicitantes de asilo. E estatísticas do FBI mostram que o índice de crimes violentos está nos níveis mais baixos dos últimos 50 anos.

Em suma, Trump perdeu o debate em quase todas as frentes. Mas em política externa ambos os candidatos falharam ao não incluir na discussão a América Latina, a região que talvez mais afete a vida cotidiana dos americanos em termos de imigração, comércio, drogas, meio ambiente e oportunidades econômicas. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Opinião por Andrés Oppenheimer

Andrés Oppenheimer foi considerado pela revista Foreign Policy 'um dos 50 intelectuais latino-americanos mais influentes' do mundo. É colunista do The Miami Herald, apresentador do programa 'Oppenheimer Apresenta' na CNN em Espanhol, e autor de oito best-sellers. Sua coluna 'Informe Oppenheimer' é publicada regularmente em mais de 50 jornais

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