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Opinião|Quais são as democracias mais ameaçadas da América Latina?


A pesquisa Latinobarometro descobriu que 90% dos bolivianos e peruanos dizem estar insatisfeitos com a democracia.

Por Andrés Oppenheimer

Tudo leva a crer que o indicado do presidente eleito Donald Trump para Secretário de Estado, o senador cubano-americano Marco Rubio, prestará muita atenção à América Latina, especialmente à Venezuela, Cuba e Nicarágua. Mas também poderá ter de lidar com outros dois potenciais pontos de conflito: Bolívia e Peru.

Uma nova pesquisa realizada em 17 países latino-americanos mostra que a Bolívia e o Peru podem ser as democracias mais frágeis da América Latina.

A pesquisa Latinobarometro, que entrevistou 19.214 pessoas em 17 países da região, descobriu que surpreendentes 90% dos bolivianos e peruanos dizem estar insatisfeitos com a democracia. Apenas 10% das pessoas na Bolívia e no Peru disseram estar “muito satisfeitas” ou “satisfeitas” com a democracia do seu país, ou com os seus respectivos governos.

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Bolivianos votam para as eleições judiciais em Guaqui, Bolívia  Foto: Juan Karita/AP

Em comparação, 63% dos uruguaios, 50% dos mexicanos, 45% dos argentinos, 39% dos chilenos e 28% dos brasileiros disseram estar satisfeitos com a democracia nos seus respectivos países.

“A Bolívia e o Peru são terreno fértil para um líder populista ou um ditador”, disse Marta Lagos, a pesquisadora chilena que conduziu o estudo regional. “Ambos os países mostram uma grave deterioração das instituições, a tal ponto que os cidadãos procuram desesperadamente soluções a qualquer preço.”

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Esses resultados não surpreendem. A economia da Bolívia está quase paralisada em meio a uma luta política entre o presidente de esquerda Luis Arce e o seu antigo mentor, o antigo presidente de extrema-esquerda Evo Morales.

Ambos contestam a liderança do partido Movimento ao Socialismo e apoiam publicamente as ditaduras da Venezuela, Cuba e Irã. Mas Morales, que durante a sua presidência de 2006 a 2019 alterou as leis para permanecer no poder para além do seu mandato constitucional, está tentando se candidatar novamente à presidência em 2025.

O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, discursa para militantes em Chimore, Cochabamba  Foto: Fernando Cartagena/AFP
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O movimento dos cocaleiros de Morales tem bloqueado estradas para protestar contra uma decisão do Tribunal Constitucional que proíbe o ex-presidente de concorrer a um quarto mandato.

Além disso, um promotor apresentou acusações de “tráfico de pessoas” contra Morales em 16 de dezembro, por supostamente ter tido relações sexuais com uma menina de 14 anos quando ele era presidente em 2015. A jovem teve um filho com Morales em 2016, de acordo com a Agência Boliviana de Informação.

Enquanto isso, a crise econômica da Bolívia continua a piorar. A inflação atingiu quase 10% em 2024, as reservas cambiais despencaram e há cortes de energia crescentes e escassez de combustível, leite, pão e outros produtos essenciais.

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No Peru, por sua vez, o caos político está freando o crescimento econômico. Há mais de 60 candidatos presidenciais – não é erro de digitação – para as eleições de 2026.

O problema com tantos candidatos é que a maioria é de centristas, que dividem os votos moderados entre si e permitem que vençam candidatos extremistas de direita e de esquerda que têm partidos mais bem organizados.

A presidente do Peru, Dina Boluarte, participa de uma coletiva de imprensa em Lima, Peru  Foto: Martin Mejia/AP
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Foi o que aconteceu nas eleições de 2021, vencidas por Pedro Castillo, candidato de um partido marxista que foi destituído constitucionalmente após tentativa de dissolução do Congresso.

Muitos dos partidos políticos que apresentam candidatos no Peru são frentes do tráfico de drogas ou outras organizações ilegais que procuram beneficiar-se da confusão e ter representação no Congresso, dizem analistas políticos.

Estou um pouco mais otimista em relação ao Peru do que em relação à Bolívia, porque todos os recentes presidentes peruanos, tanto de direita como de esquerda, respeitaram a independência do Banco Central.

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O Banco Central do Peru é dirigido desde 2006 por Julio Velarde, um economista respeitado que conseguiu manter a estabilidade econômica. Os economistas brincam que “o Peru cresce à noite, quando os políticos dormem e Velarde trabalha”.

Outra razão para termos um otimismo cauteloso em relação ao Peru é que 72% dos peruanos acreditam que a economia de mercado é o “único sistema” que leva ao desenvolvimento econômico. Em comparação, apenas 56% dos argentinos e 62% dos mexicanos dizem concordar com essa afirmação.

No entanto, a nova pesquisa do Latinobarômetro deverá soar o alarme em relação à Bolívia e ao Peru. Se apenas 10% da população acreditar que a democracia está funcionando, isso pode ser um sinal de que tempos turbulentos se aproximam. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Tudo leva a crer que o indicado do presidente eleito Donald Trump para Secretário de Estado, o senador cubano-americano Marco Rubio, prestará muita atenção à América Latina, especialmente à Venezuela, Cuba e Nicarágua. Mas também poderá ter de lidar com outros dois potenciais pontos de conflito: Bolívia e Peru.

Uma nova pesquisa realizada em 17 países latino-americanos mostra que a Bolívia e o Peru podem ser as democracias mais frágeis da América Latina.

A pesquisa Latinobarometro, que entrevistou 19.214 pessoas em 17 países da região, descobriu que surpreendentes 90% dos bolivianos e peruanos dizem estar insatisfeitos com a democracia. Apenas 10% das pessoas na Bolívia e no Peru disseram estar “muito satisfeitas” ou “satisfeitas” com a democracia do seu país, ou com os seus respectivos governos.

Bolivianos votam para as eleições judiciais em Guaqui, Bolívia  Foto: Juan Karita/AP

Em comparação, 63% dos uruguaios, 50% dos mexicanos, 45% dos argentinos, 39% dos chilenos e 28% dos brasileiros disseram estar satisfeitos com a democracia nos seus respectivos países.

“A Bolívia e o Peru são terreno fértil para um líder populista ou um ditador”, disse Marta Lagos, a pesquisadora chilena que conduziu o estudo regional. “Ambos os países mostram uma grave deterioração das instituições, a tal ponto que os cidadãos procuram desesperadamente soluções a qualquer preço.”

Esses resultados não surpreendem. A economia da Bolívia está quase paralisada em meio a uma luta política entre o presidente de esquerda Luis Arce e o seu antigo mentor, o antigo presidente de extrema-esquerda Evo Morales.

Ambos contestam a liderança do partido Movimento ao Socialismo e apoiam publicamente as ditaduras da Venezuela, Cuba e Irã. Mas Morales, que durante a sua presidência de 2006 a 2019 alterou as leis para permanecer no poder para além do seu mandato constitucional, está tentando se candidatar novamente à presidência em 2025.

O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, discursa para militantes em Chimore, Cochabamba  Foto: Fernando Cartagena/AFP

O movimento dos cocaleiros de Morales tem bloqueado estradas para protestar contra uma decisão do Tribunal Constitucional que proíbe o ex-presidente de concorrer a um quarto mandato.

Além disso, um promotor apresentou acusações de “tráfico de pessoas” contra Morales em 16 de dezembro, por supostamente ter tido relações sexuais com uma menina de 14 anos quando ele era presidente em 2015. A jovem teve um filho com Morales em 2016, de acordo com a Agência Boliviana de Informação.

Enquanto isso, a crise econômica da Bolívia continua a piorar. A inflação atingiu quase 10% em 2024, as reservas cambiais despencaram e há cortes de energia crescentes e escassez de combustível, leite, pão e outros produtos essenciais.

No Peru, por sua vez, o caos político está freando o crescimento econômico. Há mais de 60 candidatos presidenciais – não é erro de digitação – para as eleições de 2026.

O problema com tantos candidatos é que a maioria é de centristas, que dividem os votos moderados entre si e permitem que vençam candidatos extremistas de direita e de esquerda que têm partidos mais bem organizados.

A presidente do Peru, Dina Boluarte, participa de uma coletiva de imprensa em Lima, Peru  Foto: Martin Mejia/AP

Foi o que aconteceu nas eleições de 2021, vencidas por Pedro Castillo, candidato de um partido marxista que foi destituído constitucionalmente após tentativa de dissolução do Congresso.

Muitos dos partidos políticos que apresentam candidatos no Peru são frentes do tráfico de drogas ou outras organizações ilegais que procuram beneficiar-se da confusão e ter representação no Congresso, dizem analistas políticos.

Estou um pouco mais otimista em relação ao Peru do que em relação à Bolívia, porque todos os recentes presidentes peruanos, tanto de direita como de esquerda, respeitaram a independência do Banco Central.

O Banco Central do Peru é dirigido desde 2006 por Julio Velarde, um economista respeitado que conseguiu manter a estabilidade econômica. Os economistas brincam que “o Peru cresce à noite, quando os políticos dormem e Velarde trabalha”.

Outra razão para termos um otimismo cauteloso em relação ao Peru é que 72% dos peruanos acreditam que a economia de mercado é o “único sistema” que leva ao desenvolvimento econômico. Em comparação, apenas 56% dos argentinos e 62% dos mexicanos dizem concordar com essa afirmação.

No entanto, a nova pesquisa do Latinobarômetro deverá soar o alarme em relação à Bolívia e ao Peru. Se apenas 10% da população acreditar que a democracia está funcionando, isso pode ser um sinal de que tempos turbulentos se aproximam. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Tudo leva a crer que o indicado do presidente eleito Donald Trump para Secretário de Estado, o senador cubano-americano Marco Rubio, prestará muita atenção à América Latina, especialmente à Venezuela, Cuba e Nicarágua. Mas também poderá ter de lidar com outros dois potenciais pontos de conflito: Bolívia e Peru.

Uma nova pesquisa realizada em 17 países latino-americanos mostra que a Bolívia e o Peru podem ser as democracias mais frágeis da América Latina.

A pesquisa Latinobarometro, que entrevistou 19.214 pessoas em 17 países da região, descobriu que surpreendentes 90% dos bolivianos e peruanos dizem estar insatisfeitos com a democracia. Apenas 10% das pessoas na Bolívia e no Peru disseram estar “muito satisfeitas” ou “satisfeitas” com a democracia do seu país, ou com os seus respectivos governos.

Bolivianos votam para as eleições judiciais em Guaqui, Bolívia  Foto: Juan Karita/AP

Em comparação, 63% dos uruguaios, 50% dos mexicanos, 45% dos argentinos, 39% dos chilenos e 28% dos brasileiros disseram estar satisfeitos com a democracia nos seus respectivos países.

“A Bolívia e o Peru são terreno fértil para um líder populista ou um ditador”, disse Marta Lagos, a pesquisadora chilena que conduziu o estudo regional. “Ambos os países mostram uma grave deterioração das instituições, a tal ponto que os cidadãos procuram desesperadamente soluções a qualquer preço.”

Esses resultados não surpreendem. A economia da Bolívia está quase paralisada em meio a uma luta política entre o presidente de esquerda Luis Arce e o seu antigo mentor, o antigo presidente de extrema-esquerda Evo Morales.

Ambos contestam a liderança do partido Movimento ao Socialismo e apoiam publicamente as ditaduras da Venezuela, Cuba e Irã. Mas Morales, que durante a sua presidência de 2006 a 2019 alterou as leis para permanecer no poder para além do seu mandato constitucional, está tentando se candidatar novamente à presidência em 2025.

O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, discursa para militantes em Chimore, Cochabamba  Foto: Fernando Cartagena/AFP

O movimento dos cocaleiros de Morales tem bloqueado estradas para protestar contra uma decisão do Tribunal Constitucional que proíbe o ex-presidente de concorrer a um quarto mandato.

Além disso, um promotor apresentou acusações de “tráfico de pessoas” contra Morales em 16 de dezembro, por supostamente ter tido relações sexuais com uma menina de 14 anos quando ele era presidente em 2015. A jovem teve um filho com Morales em 2016, de acordo com a Agência Boliviana de Informação.

Enquanto isso, a crise econômica da Bolívia continua a piorar. A inflação atingiu quase 10% em 2024, as reservas cambiais despencaram e há cortes de energia crescentes e escassez de combustível, leite, pão e outros produtos essenciais.

No Peru, por sua vez, o caos político está freando o crescimento econômico. Há mais de 60 candidatos presidenciais – não é erro de digitação – para as eleições de 2026.

O problema com tantos candidatos é que a maioria é de centristas, que dividem os votos moderados entre si e permitem que vençam candidatos extremistas de direita e de esquerda que têm partidos mais bem organizados.

A presidente do Peru, Dina Boluarte, participa de uma coletiva de imprensa em Lima, Peru  Foto: Martin Mejia/AP

Foi o que aconteceu nas eleições de 2021, vencidas por Pedro Castillo, candidato de um partido marxista que foi destituído constitucionalmente após tentativa de dissolução do Congresso.

Muitos dos partidos políticos que apresentam candidatos no Peru são frentes do tráfico de drogas ou outras organizações ilegais que procuram beneficiar-se da confusão e ter representação no Congresso, dizem analistas políticos.

Estou um pouco mais otimista em relação ao Peru do que em relação à Bolívia, porque todos os recentes presidentes peruanos, tanto de direita como de esquerda, respeitaram a independência do Banco Central.

O Banco Central do Peru é dirigido desde 2006 por Julio Velarde, um economista respeitado que conseguiu manter a estabilidade econômica. Os economistas brincam que “o Peru cresce à noite, quando os políticos dormem e Velarde trabalha”.

Outra razão para termos um otimismo cauteloso em relação ao Peru é que 72% dos peruanos acreditam que a economia de mercado é o “único sistema” que leva ao desenvolvimento econômico. Em comparação, apenas 56% dos argentinos e 62% dos mexicanos dizem concordar com essa afirmação.

No entanto, a nova pesquisa do Latinobarômetro deverá soar o alarme em relação à Bolívia e ao Peru. Se apenas 10% da população acreditar que a democracia está funcionando, isso pode ser um sinal de que tempos turbulentos se aproximam. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Opinião por Andrés Oppenheimer

Andrés Oppenheimer foi considerado pela revista Foreign Policy 'um dos 50 intelectuais latino-americanos mais influentes' do mundo. É colunista do The Miami Herald, apresentador do programa 'Oppenheimer Apresenta' na CNN em Espanhol, e autor de oito best-sellers. Sua coluna 'Informe Oppenheimer' é publicada regularmente em mais de 50 jornais

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