Os quatro dias de referendos encenados sobre a integração de territórios ocupados da Ucrânia à Rússia, que se encerraram nesta terça-feira, 27, misturaram táticas de intimidação, incluindo homens armados com máscaras de esqui nas assembleias de voto, mensagens orwellianas e esforços com festividades, como shows e concertos esvaziados em praças centrais.
As votações realizadas em terras ocupadas em Donetsk e Luhansk, no leste, e Kherson e Zaporizhia, no sul, receberam ampla condenação internacional, e seus resultados não terão sentido, mas pouco importa. O objetivo é aparente: reivindicar as terras de quatro províncias ucranianas parcialmente ocupadas pelo exército russo como russas, e afirmar que a Ucrânia está agora atacando a Rússia, e não o contrário.
O presidente Vladimir Putin disse que a Rússia defenderá os territórios “com todos os meios”. O país tem o maior arsenal nuclear do mundo. Dmitri Medvedev, o ex-presidente da Rússia que agora atua como vice-presidente do Conselho de Segurança do país, reiterou no Telegram, na terça-feira, que Moscou tinha o direito de se defender com armas nucleares e isso “definitivamente não era um blefe”.
A anexação formal exigiria uma votação no Parlamento russo - controlado pelo Kremlin. Putin vai discursar em ambas as casas na sexta-feira, sugerindo que uma possível votação de fachada sobre a anexação poderia ocorrer na sequência.
Os referendos foram uma demonstração de suposta democracia da Rússia, mas que terá consequências assustadoras no mundo real. As implicações de segurança para a Ucrânia e a Europa não são menos graves pelo absurdo da suposta votação democrática.
O Kremlin provavelmente enviará tropas recém-mobilizadas para o sudeste da Ucrânia para fazer ainda mais pressão com as forças convencionais após os resultados.
Guerra na Ucrânia
A alta cúpula do governo da Ucrânia têm analisado com temor os próximos passos de Putin. “O clima é de confiança, mas temor”, disse Oleksandr Daniliuk, ex-secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia, em entrevista. “Eles acreditam no Exército. Mas todo mundo está com medo de uso de armas nucleares. Eles estão preocupados”.
Se uma escalada com armas convencionais falhar, disse, “é possível que usem armas nucleares táticas” para atingir os militares ucranianos, como um ataque às tropas que avançam.
*Andrew E. Kramer é repórter especial do NYT e cobre os países da antiga União Soviética