Ao ver a ascensão chinesa como um jogo de soma zero, Biden só adia conflito entre China e EUA


Presidente dos EUA limita competição com a China a disputa entre democracias e autocracias, mas estratégia americana de contenção é vista como ameaça e pode ser o gatilho de um conflito maior entre ambas nações

Por Lourival Sant'Anna
Atualização:

Depois de se reunir com Xi Jinping, Joe Biden foi indagado por uma repórter da CNN se o presidente americano ainda considerava o líder chinês um ditador. Ele respondeu que sim. A chancelaria chinesa repudiou a declaração. O episódio revela os imensos obstáculos a uma distensão entre as duas superpotências.

Em seguida ao encontro de quatro horas, Biden anunciou uma série de passos positivos. Ele disse que a partir de então os dois líderes poderiam telefonar um para o outro sempre que necessário. O mesmo se aplicaria aos militares.

Desde o início do ano, os militares chineses não estavam atendendo às chamadas dos americanos. Isso causa ansiedade em todo o mundo. Aviões e navios americanos e chineses têm contatos recorrentes na costa da Ásia. Um incidente pode escalar para uma guerra na falta de uma conversa que indique não ser essa a intenção.

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O presidente Biden e o líder da China, Xi Jinping, nos jardins do Filoli Estate em Woodside, Califórnia, à margem da conferência da Cooperativa Econômica Ásia-Pacífico na quarta-feira, 15 de novembro de 2023.  Foto: Doug Mills / NYT

O último encontro de Biden e Xi tinha ocorrido um ano atrás na cúpula do G20 em Bali. A derrubada de um balão meteorológico chinês suspeito de espionagem na costa da Carolina do Sul por um caça F-22 americano em fevereiro levou ao cancelamento dos contatos em alto nível por parte da China.

Biden anunciou também retomada da cooperação na questão das drogas. A China é a maior fabricante de insumos para a droga fentanil, causadora de uma epidemia de abuso de psicotrópicos que segundo o presidente mata mais americanos de 18 a 49 anos de idade do que acidentes de automóveis. Ele pediu que o governo chinês coibisse esse comércio.

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O presidente americano também disse que os dois países reuniriam especialistas para discutir as ameaças representadas pela inteligência artificial. Por outro lado, Biden reconheceu que não há acordo sobre a guerra na Ucrânia e na Faixa de Gaza. A China é aliada da Rússia e do Irã, patrocinador do Hamas e do Hezbollah e principal inimigo de Israel.

O mesmo quanto à projeção chinesa sobre o Mar do Sul da China e suas intenções de anexação forçada de Taiwan. A ilha tem eleições em janeiro. O favorito, segundo as pesquisas, é William Lai, vice da atual presidente Tsai Ing-wen, que mantém posição firme de defesa de sua independência.

Biden reafirmou a política de uma China, adotada em 1979 quando os Estados Unidos trocaram o reconhecimento diplomático formal de Taiwan pelo da China. Essa política, aprovada pelo Congresso americano na época, inclui rejeição pelos EUA da anexação forçada de Taiwan à China. Biden disse algumas vezes no passado que os EUA honrariam esse compromisso com ação armada se necessário, o que entra em conflito com a prática da ambiguidade estratégica que acompanha historicamente essa política. Ou seja, não revelar em público como os EUA reagiriam.

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Segundo Biden, ele e Xi já tinham se reunido no total por 64 horas antes desse encontro. Ambos foram vice-presidentes simultaneamente e o então presidente Barack Obama encarregou Biden de se aproximar de Xi quando ficou claro que ele seria o sucessor de Hu Jintao.

“Nós nos conhecemos há muito tempo”, disse Biden a Xi diante da imprensa, antes da reunião. “Não concordamos sempre, o que não surpreenderia a ninguém, mas nossos encontros sempre foram francos, diretos e úteis.”

Xi retribuiu: “Vindo aqui, penso na sua viagem à China quando eu era vice-presidente da China. Tivemos uma reunião. Foi 12 anos atrás. Ainda me lembro de nossas interações muito vividamente e sempre me provoca muitos sentimentos”. O que pode significar algo positivo ou negativo. Na melhor tradição chinesa, Xi guarda suas intenções para si.

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Biden usou sua fórmula segundo a qual a competição não deveria conduzir ao conflito. Durante a reunião a portas fechadas, segundo a agência oficial chinesa Xinhua, Xi argumentou: “A China não tem planos de ultrapassar ou desbancar os EUA, e os EUA não deveriam tramar para suprimir ou conter a China”.

O governo Biden adotou sanções contra o acesso da China a chips de alta tecnologia e a programas de desenho de máquinas que fabricam esses dispositivos. Uma fonte do governo americano disse à CNN que Xi acusou os EUA de “contenção tecnológica”. Ao que Biden teria respondido que os EUA não vão fornecer à China tecnologia que pode ser usada militarmente contra eles.

A palavra contenção, aqui, tem um sentido militar. Os ocidentais veem a contenção no âmbito da dissuasão; os chineses, como ameaça. A China acredita ter vocação milenar para ocupar o centro do mundo. O nome oficial do país em chinês, Zhōng guó, significa “o reino do centro”. Os EUA veem a ascensão chinesa como um jogo de soma zero, no qual os ganhos chineses representam perdas dos americanos.

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Biden caracteriza essa competição como disputa entre democracias e autocracias. Essa é sua estratégia para mobilizar o Ocidente Coletivo contra China, Rússia, Irã e Coreia do Norte. Por isso ele não se furtou a responder à repórter.

Diante de tudo isso, um conflito entre os dois países pode ser adiado, mas dificilmente evitado.

Depois de se reunir com Xi Jinping, Joe Biden foi indagado por uma repórter da CNN se o presidente americano ainda considerava o líder chinês um ditador. Ele respondeu que sim. A chancelaria chinesa repudiou a declaração. O episódio revela os imensos obstáculos a uma distensão entre as duas superpotências.

Em seguida ao encontro de quatro horas, Biden anunciou uma série de passos positivos. Ele disse que a partir de então os dois líderes poderiam telefonar um para o outro sempre que necessário. O mesmo se aplicaria aos militares.

Desde o início do ano, os militares chineses não estavam atendendo às chamadas dos americanos. Isso causa ansiedade em todo o mundo. Aviões e navios americanos e chineses têm contatos recorrentes na costa da Ásia. Um incidente pode escalar para uma guerra na falta de uma conversa que indique não ser essa a intenção.

O presidente Biden e o líder da China, Xi Jinping, nos jardins do Filoli Estate em Woodside, Califórnia, à margem da conferência da Cooperativa Econômica Ásia-Pacífico na quarta-feira, 15 de novembro de 2023.  Foto: Doug Mills / NYT

O último encontro de Biden e Xi tinha ocorrido um ano atrás na cúpula do G20 em Bali. A derrubada de um balão meteorológico chinês suspeito de espionagem na costa da Carolina do Sul por um caça F-22 americano em fevereiro levou ao cancelamento dos contatos em alto nível por parte da China.

Biden anunciou também retomada da cooperação na questão das drogas. A China é a maior fabricante de insumos para a droga fentanil, causadora de uma epidemia de abuso de psicotrópicos que segundo o presidente mata mais americanos de 18 a 49 anos de idade do que acidentes de automóveis. Ele pediu que o governo chinês coibisse esse comércio.

O presidente americano também disse que os dois países reuniriam especialistas para discutir as ameaças representadas pela inteligência artificial. Por outro lado, Biden reconheceu que não há acordo sobre a guerra na Ucrânia e na Faixa de Gaza. A China é aliada da Rússia e do Irã, patrocinador do Hamas e do Hezbollah e principal inimigo de Israel.

O mesmo quanto à projeção chinesa sobre o Mar do Sul da China e suas intenções de anexação forçada de Taiwan. A ilha tem eleições em janeiro. O favorito, segundo as pesquisas, é William Lai, vice da atual presidente Tsai Ing-wen, que mantém posição firme de defesa de sua independência.

Biden reafirmou a política de uma China, adotada em 1979 quando os Estados Unidos trocaram o reconhecimento diplomático formal de Taiwan pelo da China. Essa política, aprovada pelo Congresso americano na época, inclui rejeição pelos EUA da anexação forçada de Taiwan à China. Biden disse algumas vezes no passado que os EUA honrariam esse compromisso com ação armada se necessário, o que entra em conflito com a prática da ambiguidade estratégica que acompanha historicamente essa política. Ou seja, não revelar em público como os EUA reagiriam.

Segundo Biden, ele e Xi já tinham se reunido no total por 64 horas antes desse encontro. Ambos foram vice-presidentes simultaneamente e o então presidente Barack Obama encarregou Biden de se aproximar de Xi quando ficou claro que ele seria o sucessor de Hu Jintao.

“Nós nos conhecemos há muito tempo”, disse Biden a Xi diante da imprensa, antes da reunião. “Não concordamos sempre, o que não surpreenderia a ninguém, mas nossos encontros sempre foram francos, diretos e úteis.”

Xi retribuiu: “Vindo aqui, penso na sua viagem à China quando eu era vice-presidente da China. Tivemos uma reunião. Foi 12 anos atrás. Ainda me lembro de nossas interações muito vividamente e sempre me provoca muitos sentimentos”. O que pode significar algo positivo ou negativo. Na melhor tradição chinesa, Xi guarda suas intenções para si.

Biden usou sua fórmula segundo a qual a competição não deveria conduzir ao conflito. Durante a reunião a portas fechadas, segundo a agência oficial chinesa Xinhua, Xi argumentou: “A China não tem planos de ultrapassar ou desbancar os EUA, e os EUA não deveriam tramar para suprimir ou conter a China”.

O governo Biden adotou sanções contra o acesso da China a chips de alta tecnologia e a programas de desenho de máquinas que fabricam esses dispositivos. Uma fonte do governo americano disse à CNN que Xi acusou os EUA de “contenção tecnológica”. Ao que Biden teria respondido que os EUA não vão fornecer à China tecnologia que pode ser usada militarmente contra eles.

A palavra contenção, aqui, tem um sentido militar. Os ocidentais veem a contenção no âmbito da dissuasão; os chineses, como ameaça. A China acredita ter vocação milenar para ocupar o centro do mundo. O nome oficial do país em chinês, Zhōng guó, significa “o reino do centro”. Os EUA veem a ascensão chinesa como um jogo de soma zero, no qual os ganhos chineses representam perdas dos americanos.

Biden caracteriza essa competição como disputa entre democracias e autocracias. Essa é sua estratégia para mobilizar o Ocidente Coletivo contra China, Rússia, Irã e Coreia do Norte. Por isso ele não se furtou a responder à repórter.

Diante de tudo isso, um conflito entre os dois países pode ser adiado, mas dificilmente evitado.

Depois de se reunir com Xi Jinping, Joe Biden foi indagado por uma repórter da CNN se o presidente americano ainda considerava o líder chinês um ditador. Ele respondeu que sim. A chancelaria chinesa repudiou a declaração. O episódio revela os imensos obstáculos a uma distensão entre as duas superpotências.

Em seguida ao encontro de quatro horas, Biden anunciou uma série de passos positivos. Ele disse que a partir de então os dois líderes poderiam telefonar um para o outro sempre que necessário. O mesmo se aplicaria aos militares.

Desde o início do ano, os militares chineses não estavam atendendo às chamadas dos americanos. Isso causa ansiedade em todo o mundo. Aviões e navios americanos e chineses têm contatos recorrentes na costa da Ásia. Um incidente pode escalar para uma guerra na falta de uma conversa que indique não ser essa a intenção.

O presidente Biden e o líder da China, Xi Jinping, nos jardins do Filoli Estate em Woodside, Califórnia, à margem da conferência da Cooperativa Econômica Ásia-Pacífico na quarta-feira, 15 de novembro de 2023.  Foto: Doug Mills / NYT

O último encontro de Biden e Xi tinha ocorrido um ano atrás na cúpula do G20 em Bali. A derrubada de um balão meteorológico chinês suspeito de espionagem na costa da Carolina do Sul por um caça F-22 americano em fevereiro levou ao cancelamento dos contatos em alto nível por parte da China.

Biden anunciou também retomada da cooperação na questão das drogas. A China é a maior fabricante de insumos para a droga fentanil, causadora de uma epidemia de abuso de psicotrópicos que segundo o presidente mata mais americanos de 18 a 49 anos de idade do que acidentes de automóveis. Ele pediu que o governo chinês coibisse esse comércio.

O presidente americano também disse que os dois países reuniriam especialistas para discutir as ameaças representadas pela inteligência artificial. Por outro lado, Biden reconheceu que não há acordo sobre a guerra na Ucrânia e na Faixa de Gaza. A China é aliada da Rússia e do Irã, patrocinador do Hamas e do Hezbollah e principal inimigo de Israel.

O mesmo quanto à projeção chinesa sobre o Mar do Sul da China e suas intenções de anexação forçada de Taiwan. A ilha tem eleições em janeiro. O favorito, segundo as pesquisas, é William Lai, vice da atual presidente Tsai Ing-wen, que mantém posição firme de defesa de sua independência.

Biden reafirmou a política de uma China, adotada em 1979 quando os Estados Unidos trocaram o reconhecimento diplomático formal de Taiwan pelo da China. Essa política, aprovada pelo Congresso americano na época, inclui rejeição pelos EUA da anexação forçada de Taiwan à China. Biden disse algumas vezes no passado que os EUA honrariam esse compromisso com ação armada se necessário, o que entra em conflito com a prática da ambiguidade estratégica que acompanha historicamente essa política. Ou seja, não revelar em público como os EUA reagiriam.

Segundo Biden, ele e Xi já tinham se reunido no total por 64 horas antes desse encontro. Ambos foram vice-presidentes simultaneamente e o então presidente Barack Obama encarregou Biden de se aproximar de Xi quando ficou claro que ele seria o sucessor de Hu Jintao.

“Nós nos conhecemos há muito tempo”, disse Biden a Xi diante da imprensa, antes da reunião. “Não concordamos sempre, o que não surpreenderia a ninguém, mas nossos encontros sempre foram francos, diretos e úteis.”

Xi retribuiu: “Vindo aqui, penso na sua viagem à China quando eu era vice-presidente da China. Tivemos uma reunião. Foi 12 anos atrás. Ainda me lembro de nossas interações muito vividamente e sempre me provoca muitos sentimentos”. O que pode significar algo positivo ou negativo. Na melhor tradição chinesa, Xi guarda suas intenções para si.

Biden usou sua fórmula segundo a qual a competição não deveria conduzir ao conflito. Durante a reunião a portas fechadas, segundo a agência oficial chinesa Xinhua, Xi argumentou: “A China não tem planos de ultrapassar ou desbancar os EUA, e os EUA não deveriam tramar para suprimir ou conter a China”.

O governo Biden adotou sanções contra o acesso da China a chips de alta tecnologia e a programas de desenho de máquinas que fabricam esses dispositivos. Uma fonte do governo americano disse à CNN que Xi acusou os EUA de “contenção tecnológica”. Ao que Biden teria respondido que os EUA não vão fornecer à China tecnologia que pode ser usada militarmente contra eles.

A palavra contenção, aqui, tem um sentido militar. Os ocidentais veem a contenção no âmbito da dissuasão; os chineses, como ameaça. A China acredita ter vocação milenar para ocupar o centro do mundo. O nome oficial do país em chinês, Zhōng guó, significa “o reino do centro”. Os EUA veem a ascensão chinesa como um jogo de soma zero, no qual os ganhos chineses representam perdas dos americanos.

Biden caracteriza essa competição como disputa entre democracias e autocracias. Essa é sua estratégia para mobilizar o Ocidente Coletivo contra China, Rússia, Irã e Coreia do Norte. Por isso ele não se furtou a responder à repórter.

Diante de tudo isso, um conflito entre os dois países pode ser adiado, mas dificilmente evitado.

Depois de se reunir com Xi Jinping, Joe Biden foi indagado por uma repórter da CNN se o presidente americano ainda considerava o líder chinês um ditador. Ele respondeu que sim. A chancelaria chinesa repudiou a declaração. O episódio revela os imensos obstáculos a uma distensão entre as duas superpotências.

Em seguida ao encontro de quatro horas, Biden anunciou uma série de passos positivos. Ele disse que a partir de então os dois líderes poderiam telefonar um para o outro sempre que necessário. O mesmo se aplicaria aos militares.

Desde o início do ano, os militares chineses não estavam atendendo às chamadas dos americanos. Isso causa ansiedade em todo o mundo. Aviões e navios americanos e chineses têm contatos recorrentes na costa da Ásia. Um incidente pode escalar para uma guerra na falta de uma conversa que indique não ser essa a intenção.

O presidente Biden e o líder da China, Xi Jinping, nos jardins do Filoli Estate em Woodside, Califórnia, à margem da conferência da Cooperativa Econômica Ásia-Pacífico na quarta-feira, 15 de novembro de 2023.  Foto: Doug Mills / NYT

O último encontro de Biden e Xi tinha ocorrido um ano atrás na cúpula do G20 em Bali. A derrubada de um balão meteorológico chinês suspeito de espionagem na costa da Carolina do Sul por um caça F-22 americano em fevereiro levou ao cancelamento dos contatos em alto nível por parte da China.

Biden anunciou também retomada da cooperação na questão das drogas. A China é a maior fabricante de insumos para a droga fentanil, causadora de uma epidemia de abuso de psicotrópicos que segundo o presidente mata mais americanos de 18 a 49 anos de idade do que acidentes de automóveis. Ele pediu que o governo chinês coibisse esse comércio.

O presidente americano também disse que os dois países reuniriam especialistas para discutir as ameaças representadas pela inteligência artificial. Por outro lado, Biden reconheceu que não há acordo sobre a guerra na Ucrânia e na Faixa de Gaza. A China é aliada da Rússia e do Irã, patrocinador do Hamas e do Hezbollah e principal inimigo de Israel.

O mesmo quanto à projeção chinesa sobre o Mar do Sul da China e suas intenções de anexação forçada de Taiwan. A ilha tem eleições em janeiro. O favorito, segundo as pesquisas, é William Lai, vice da atual presidente Tsai Ing-wen, que mantém posição firme de defesa de sua independência.

Biden reafirmou a política de uma China, adotada em 1979 quando os Estados Unidos trocaram o reconhecimento diplomático formal de Taiwan pelo da China. Essa política, aprovada pelo Congresso americano na época, inclui rejeição pelos EUA da anexação forçada de Taiwan à China. Biden disse algumas vezes no passado que os EUA honrariam esse compromisso com ação armada se necessário, o que entra em conflito com a prática da ambiguidade estratégica que acompanha historicamente essa política. Ou seja, não revelar em público como os EUA reagiriam.

Segundo Biden, ele e Xi já tinham se reunido no total por 64 horas antes desse encontro. Ambos foram vice-presidentes simultaneamente e o então presidente Barack Obama encarregou Biden de se aproximar de Xi quando ficou claro que ele seria o sucessor de Hu Jintao.

“Nós nos conhecemos há muito tempo”, disse Biden a Xi diante da imprensa, antes da reunião. “Não concordamos sempre, o que não surpreenderia a ninguém, mas nossos encontros sempre foram francos, diretos e úteis.”

Xi retribuiu: “Vindo aqui, penso na sua viagem à China quando eu era vice-presidente da China. Tivemos uma reunião. Foi 12 anos atrás. Ainda me lembro de nossas interações muito vividamente e sempre me provoca muitos sentimentos”. O que pode significar algo positivo ou negativo. Na melhor tradição chinesa, Xi guarda suas intenções para si.

Biden usou sua fórmula segundo a qual a competição não deveria conduzir ao conflito. Durante a reunião a portas fechadas, segundo a agência oficial chinesa Xinhua, Xi argumentou: “A China não tem planos de ultrapassar ou desbancar os EUA, e os EUA não deveriam tramar para suprimir ou conter a China”.

O governo Biden adotou sanções contra o acesso da China a chips de alta tecnologia e a programas de desenho de máquinas que fabricam esses dispositivos. Uma fonte do governo americano disse à CNN que Xi acusou os EUA de “contenção tecnológica”. Ao que Biden teria respondido que os EUA não vão fornecer à China tecnologia que pode ser usada militarmente contra eles.

A palavra contenção, aqui, tem um sentido militar. Os ocidentais veem a contenção no âmbito da dissuasão; os chineses, como ameaça. A China acredita ter vocação milenar para ocupar o centro do mundo. O nome oficial do país em chinês, Zhōng guó, significa “o reino do centro”. Os EUA veem a ascensão chinesa como um jogo de soma zero, no qual os ganhos chineses representam perdas dos americanos.

Biden caracteriza essa competição como disputa entre democracias e autocracias. Essa é sua estratégia para mobilizar o Ocidente Coletivo contra China, Rússia, Irã e Coreia do Norte. Por isso ele não se furtou a responder à repórter.

Diante de tudo isso, um conflito entre os dois países pode ser adiado, mas dificilmente evitado.

Depois de se reunir com Xi Jinping, Joe Biden foi indagado por uma repórter da CNN se o presidente americano ainda considerava o líder chinês um ditador. Ele respondeu que sim. A chancelaria chinesa repudiou a declaração. O episódio revela os imensos obstáculos a uma distensão entre as duas superpotências.

Em seguida ao encontro de quatro horas, Biden anunciou uma série de passos positivos. Ele disse que a partir de então os dois líderes poderiam telefonar um para o outro sempre que necessário. O mesmo se aplicaria aos militares.

Desde o início do ano, os militares chineses não estavam atendendo às chamadas dos americanos. Isso causa ansiedade em todo o mundo. Aviões e navios americanos e chineses têm contatos recorrentes na costa da Ásia. Um incidente pode escalar para uma guerra na falta de uma conversa que indique não ser essa a intenção.

O presidente Biden e o líder da China, Xi Jinping, nos jardins do Filoli Estate em Woodside, Califórnia, à margem da conferência da Cooperativa Econômica Ásia-Pacífico na quarta-feira, 15 de novembro de 2023.  Foto: Doug Mills / NYT

O último encontro de Biden e Xi tinha ocorrido um ano atrás na cúpula do G20 em Bali. A derrubada de um balão meteorológico chinês suspeito de espionagem na costa da Carolina do Sul por um caça F-22 americano em fevereiro levou ao cancelamento dos contatos em alto nível por parte da China.

Biden anunciou também retomada da cooperação na questão das drogas. A China é a maior fabricante de insumos para a droga fentanil, causadora de uma epidemia de abuso de psicotrópicos que segundo o presidente mata mais americanos de 18 a 49 anos de idade do que acidentes de automóveis. Ele pediu que o governo chinês coibisse esse comércio.

O presidente americano também disse que os dois países reuniriam especialistas para discutir as ameaças representadas pela inteligência artificial. Por outro lado, Biden reconheceu que não há acordo sobre a guerra na Ucrânia e na Faixa de Gaza. A China é aliada da Rússia e do Irã, patrocinador do Hamas e do Hezbollah e principal inimigo de Israel.

O mesmo quanto à projeção chinesa sobre o Mar do Sul da China e suas intenções de anexação forçada de Taiwan. A ilha tem eleições em janeiro. O favorito, segundo as pesquisas, é William Lai, vice da atual presidente Tsai Ing-wen, que mantém posição firme de defesa de sua independência.

Biden reafirmou a política de uma China, adotada em 1979 quando os Estados Unidos trocaram o reconhecimento diplomático formal de Taiwan pelo da China. Essa política, aprovada pelo Congresso americano na época, inclui rejeição pelos EUA da anexação forçada de Taiwan à China. Biden disse algumas vezes no passado que os EUA honrariam esse compromisso com ação armada se necessário, o que entra em conflito com a prática da ambiguidade estratégica que acompanha historicamente essa política. Ou seja, não revelar em público como os EUA reagiriam.

Segundo Biden, ele e Xi já tinham se reunido no total por 64 horas antes desse encontro. Ambos foram vice-presidentes simultaneamente e o então presidente Barack Obama encarregou Biden de se aproximar de Xi quando ficou claro que ele seria o sucessor de Hu Jintao.

“Nós nos conhecemos há muito tempo”, disse Biden a Xi diante da imprensa, antes da reunião. “Não concordamos sempre, o que não surpreenderia a ninguém, mas nossos encontros sempre foram francos, diretos e úteis.”

Xi retribuiu: “Vindo aqui, penso na sua viagem à China quando eu era vice-presidente da China. Tivemos uma reunião. Foi 12 anos atrás. Ainda me lembro de nossas interações muito vividamente e sempre me provoca muitos sentimentos”. O que pode significar algo positivo ou negativo. Na melhor tradição chinesa, Xi guarda suas intenções para si.

Biden usou sua fórmula segundo a qual a competição não deveria conduzir ao conflito. Durante a reunião a portas fechadas, segundo a agência oficial chinesa Xinhua, Xi argumentou: “A China não tem planos de ultrapassar ou desbancar os EUA, e os EUA não deveriam tramar para suprimir ou conter a China”.

O governo Biden adotou sanções contra o acesso da China a chips de alta tecnologia e a programas de desenho de máquinas que fabricam esses dispositivos. Uma fonte do governo americano disse à CNN que Xi acusou os EUA de “contenção tecnológica”. Ao que Biden teria respondido que os EUA não vão fornecer à China tecnologia que pode ser usada militarmente contra eles.

A palavra contenção, aqui, tem um sentido militar. Os ocidentais veem a contenção no âmbito da dissuasão; os chineses, como ameaça. A China acredita ter vocação milenar para ocupar o centro do mundo. O nome oficial do país em chinês, Zhōng guó, significa “o reino do centro”. Os EUA veem a ascensão chinesa como um jogo de soma zero, no qual os ganhos chineses representam perdas dos americanos.

Biden caracteriza essa competição como disputa entre democracias e autocracias. Essa é sua estratégia para mobilizar o Ocidente Coletivo contra China, Rússia, Irã e Coreia do Norte. Por isso ele não se furtou a responder à repórter.

Diante de tudo isso, um conflito entre os dois países pode ser adiado, mas dificilmente evitado.

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