BUENOS AIRES - O governo argentino anunciou nesta quarta-feira, 7, duras medidas restritivas, entre elas um toque de recolher, como resposta ao aumento do número de infecções por covid no país. Na semana em que a América Latina chegou à marca de 800 mil mortes, com a vacinação avançando de forma desigual, outros países da região também estão endurecendo o isolamento para conter a pandemia.
Na quarta-feira, a Argentina registrou um novo recorde diário de 22 mil novos casos de covid. Até então, o número mais alto de infecções havia sido registrado em 21 de outubro: 18,3 mil. A Argentina é o 15.º país do mundo com maior número de casos (2,4 milhões) e o 13.º com mais mortes (56 mil), segundo a Universidade Johns Hopkins.
A América Latina é hoje a região do mundo onde mais se morre de covid. Na terça-feira, 44% das mortes do mundo ocorreram na região – um terço delas no Brasil. Na Argentina, a nova onda de infecções levou o presidente, Alberto Fernández, que se recupera após ser diagnosticado com a covid, a impor medidas mais duras.
Na quarta-feira, ele gravou uma mensagem de vídeo de dez minutos anunciando o toque de recolher entre meia-noite e 6 horas, a partir desta quinta-feira, 8, até o dia 30 de abril. Entre as medidas constam também o fechamento de bares e restaurantes às 23 horas, a proibição de reuniões ao ar livre, em espaço público, com mais de 20 pessoas e da prática de esportes em locais fechados – Fernández, no entanto, liberou o futebol, segundo o governo, porque é praticado em local aberto.
Na Colômbia, quase 8 milhões de habitantes de Bogotá ficarão sob confinamento estrito a partir deste sábado diante do aumento de casos. “A terceira onda de contágio já começou, um terceiro pico vai acontecer, mas depende do nosso comportamento para que possamos controlar seus efeitos”, disse a prefeita, Claudia López.
No Chile, ao mesmo tempo que a vacinação avança rapidamente, o número de casos vem aumentando e o Senado aprovou o adiamento por cinco semanas da eleição de prefeitos, governadores e constituintes prevista para domingo.
No Brasil, país mais afetado da região, alguns Estados intensificaram as medidas restritivas nas últimas semanas para tentar impedir o colapso do sistema de saúde. Na terça-feira, o país registrou o recorde de 4.211 mortos pela doença em 24 horas.
Impasse
O governador da Província de Buenos Aires, Axel Kicillof, apoia as medidas restritivas do governo federal, mas a prefeitura da capital argentina, que é liderada por Horacio Rodríguez Larreta, discorda e pede medidas ainda mais duras. O ministro de Saúde da Argentina, Fernán Quirós, disse que as próximas “três ou quatro semanas” serão críticas para superar o novo surto de covid.
A Província de Buenos Aires concentra metade dos novos casos registrados e o maior número de infectados desde o início da pandemia: mais de 10 mil. O dado reforça o que disse Fernández no sábado pelo Twitter. Segundo ele, o trabalho coordenado entre os governos da capital, da Província de Buenos Aires e do governo nacional é “indispensável”, pois os casos se concentram primeiro na região metropolitana de Buenos Aires e, depois, se espalham para o interior.
Vacinação
Em reunião na terça-feira, o braço direito do governador da Província de Buenos Aires, Carlos Bianco, e o vice-ministro da Saúde da província, Nicolás Kreplak, propuseram um pacote de medidas duras por duas semanas, que inclui a proibição das atividades noturnas, a redução do transporte e das atividades recreativas. Segundo o plano, a ideia é vacinar, nesse período, 2,25 milhões de pessoas pertencentes a grupos de risco que vivem na capital.
Parte da desconfiança do governo da cidade de Buenos Aires com relação ao governo federal passa por críticas à lentidão no processo de vacinação no país. A Argentina aplicou 4,4 milhões de vacinas contra o novo coronavírus, segundo o Our World in Data, sendo que apenas 692 mil pessoas receberam as duas doses. O número total equivale a 9,74 doses por cada 100 habitantes, um pouco superior à média mundial (8,90), mas inferior a Brasil (10,75), Uruguai (24,95) e Chile (59,13). / AFP