CARACAS - O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, deu 72 horas à chefe da delegação da União Europeia em Caracas, Isabel Brilhante Pedrosa, para deixar a Venezuela, após o bloco anunciar sanções nesta segunda-feira, 29, contra 11 funcionários venezuelanos.
"Quem são eles para tentar se impor com a ameaça? Quem são? Chega! Por isso, decidi dar 72 horas à embaixadora da União Europeia para que abandone o nosso país", disse Maduro durante ato no palácio presidencial de Miraflores.
Entre os sancionados está o deputado Luis Parra, que disputa a presidência do Parlamento de maioria opositora com Juan Guaidó, com quem rompeu.
Como presidente da unicameral Assembleia Nacional, Guaidó reivindicou em 2019 a presidência encarregada da Venezuela, com o reconhecimento de meia centena de países.
"Vamos nos entender em 72 horas (...) Emprestamos um avião para que vá embora, mas vamos acertar nossas coisas com a União Europeia", acrescentou Maduro.
A Venezuela mantém uma proibição de voos comerciais, devido à quarentena vigente desde meados de março pela pandemia do novo coronavírus.
Parra, legislador opositor acusado de corrupção vinculada com um programa de distribuição de alimentos do governo Maduro, se proclamou em janeiro passado presidente da unicameral Assembleia Nacional, em paralelo com a reeleição de Guaidó.
Sanções contra ações antidemocráticas
As sanções desta segunda são, em sua maioria, por ações contra a oposição ao governo Maduro.
A decisão, publicada no Diário Oficial da UE, elevou para 36 o número de pessoas sancionadas por, segundo o bloco, afetar a democracia, o Estado de Direito e os direitos humanos na Venezuela, país que enfrenta uma grave crise política e econômica.
Em janeiro, Parra, um opositor acusado de corrupção vinculada a um programa de distribuição de alimentos do governo de Maduro, se proclamou chefe da unicameral Assembleia Nacional, paralelamente à reeleição de Guaidó.
A UE rejeitou em junho sua ratificação como presidente do Parlamento por parte do Tribunal Supremo da Justiça (TSJ), de linha chavista, ao considerar que "a sessão de votação que levou à 'eleição' de Luis Parra não foi legítima".
Os europeus também proibiram a viagem ao bloco e congelaram os bens de Franklyn Duarte e José Noriega, deputados que enfrentaram Guaidó na polêmica votação como primeiro e segundo vice-presidentes.
Da liderança do Congresso, Guaidó assumiu a presidência interina da Venezuela em janeiro de 2019 com o reconhecimento de cinquenta países.
Os europeus também sancionaram Gladys del Valle Requena e Tania Valentina Díaz González, responsáveis da Assembleia Nacional Constituinte (ANC), por "privar" Guaidó de sua "imunidade parlamentar".
Por ações contra Guaidó, a UE impôs as mesmas medidas ao controlador geral do país, Elvis Amoroso.
O segundo vice-presidente do TSJ, Juan José Mendoza, e os promotores do primeiro tribunal especial de primeira instância da Venezuela, Farik Karin Mora e Dinorah Yoselin Bustamante, também são alvo de sanções por medidas contra a oposição.
A lista se completa com o general José Ornelas Ferreira, secretário do Conselho de Defesa da Nação, a quem a UE acusa de repressão, e com Jorge Márquez, diretor da Comissão Nacional de Telecomunicações, sancionado por limitar o direito à informação.
"A ditadura nem sequer cumpriu sua farsa e o mundo já está a rejeitando", reagiu Guaidó no Twitter, referindo-se às eleições para renovar a Assembleia Nacional, previstas para este ano, embora sem data. Os principais partidos da oposição anunciaram um boicote, depois que o funcionário do TSJ nomeou novas autoridades eleitorais, atribuição do poder legislativo.
O chanceler de Maduro, Jorge Arreaza, acusou a UE na mesma rede social de "política intervencionista" e garantiu que a Venezuela "reserva uma resposta devida e vigorosa".
A Venezuela se tornou em 2017 o primeiro país latino-americano sancionado pela UE que, desde então, impôs também um embargo de armas.
Os 27 países do bloco, cuja política externa é decidida por unanimidade, relutam em elevar a pressão ao máximo, com sanções contra Maduro, para não fechar canais diplomáticos, apesar dos pedidos dos Estados Unidos e opositores. /AFP