Após sobreviver às máscaras e ao distanciamento, tango está de volta à Argentina


Clubes de tango voltam a reabrir em Buenos Aires após a suspensão das restrições e o retorno dos turistas

Por David Feliba

BUENOS AIRES — Tissiana Correia desfila seus passos pelo salão do clube de tango Nuevo Gricel, em Buenos Aires, com a saia de seu vestido esvoaçando quando ela gira para abraçar seu parceiro de dança, Rodrigo Yaltone. Correia, uma cinesiologista brasileira, de 47 anos, teve sua primeira aula de tango no Rio de Janeiro, duas décadas atrás. Eventualmente, ela foi para a Argentina aperfeiçoar a arte — e nunca mais voltou.

Após as autoridades argentinas ordenarem um dos lockdowns mais rígidos na América Latina, ela fez o que pôde para manter viva sua dança — fazendo aulas online e praticando em seu apartamento. Agora ela está animada por voltar ao salão com os colegas dançarinos. “Para mim, é como a própria vida”, afirmou ela durante uma sessão noturna de domingo no Gricel, novamente lotado de tangueros. “Estou borbulhando de alegria.”

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Com as regras de uso de máscaras e distanciamento social suspensas, os argentinos estão retornando para os clubes de tango da capital na esperança de reviver o espírito pré-pandêmico da dança que é ícone nacional. Clubes que recebem turistas organizam apresentações diariamente.

A pista de dança se enche de casais prontos para mais uma rodada de tango no Club Gricel Foto: Anita Pouchard Serra/The Washington Post

Mas a recuperação total é incerta. O setor já enfrentava dificuldades antes da pandemia. Todas as aproximadamente 200 milongas de Buenos Aires — sessões de tango para os habitantes locais — fecharam em 2020, mais de 50 definitivamente. Somente agora os turistas, força vital da economia do tango, estão voltando a visitar o país. A inflação, enquanto isso, está nas alturas, e a crise econômica se assoma.

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“Estamos definitivamente de volta, mas a indústria ainda não se levantou”, afirmou Julio Bassan, presidente da Associação de Organizadores de Milongas.

Quando a pandemia chegou a este país sul-americano, a indústria não teve outra escolha a não ser fechar as portas. As autoridades argentinas ordenaram toques de recolher rígidos, e o tango, uma dança de abrazos, não se presta ao distanciamento social.

O Gricel, um clube de tango frequentado por cerca de 250 dançarinos, decidiu em março de 2020 que era hora de fechar. “Foi muito triste ver o salão vazio”, afirmou o dono do local, Daniel Rezk, de 76 anos. Aulas online, rifas e ajuda de entusiastas estrangeiros salvaram da extinção o estabelecimento de 28 anos.

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Apesar do lockdown, a Argentina foi um dos países latino-americanos mais castigados pelo coronavírus. O país registrou mais de 9,7 milhões de casos, atrás apenas do Brasil, e 130 mil mortes.

Tissiana Correia, cinesiologista brasileira de 47 anos, fez sua primeira aula de tango no Rio de Janeiro há duas décadas  Foto: For The Washington Post / For The Washington Post

Para muitos portenhos, os moradores de Buenos Aires, as milongas são mais do que simplesmente um lugar para dançar. Elas constituem comunidades nas quais pessoas de todas as idades e origens se encontram e estabelecem laços. “Quando elas reabriram, para muitos de nós foi como se sentir vivos novamente”, afirmou Marina Améndola, de 57 anos.

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Rezk descreveu a emoção de ouvir tangos nas caixas de som de seu clube novamente. “Eu disse a mim mesmo: ‘Era exatamente isso o que estava faltando na minha vida! Não surpreende que eu ficava baixo astral sem nenhuma razão aparente!”.

Améndola, que vai ao Gricel quatro noites por semana, afirma que o tango a ajudou a recuperar uma vida social depois que ela ficou viúva. “Eu não tinha contato com nenhum outro homem a não ser meu marido — e certamente não abraçava ninguém”, afirmou ela. “Com o tango, fui capaz de romper com isso.”

A dança sensual, inicialmente proibida, emergiu no fim do século 19, entre imigrantes e pessoas anteriormente escravizadas que viviam nos bairros mais pobres de Buenos Aires e Montevidéu, no Uruguai, nas margens do Rio da Prata. No início do século 20, o baile migrou de bares e bordéis para o reconhecimento internacional. Agora, o tango está na Lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Unesco.

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Camilo Benedix e sua parceira de dança no Nuevo Gricel  Foto: Photos for The Washington Post by Anita Pouchard Serra

O tango também conforma uma indústria substancial na Argentina, dando emprego a cerca de 10 mil pessoas, incluindo dançarinos, músicos e produtores.

Quando os clubes de tango fecharam, os profissionais apelaram para outros trabalhos: entrega de comida, dirigir para o Uber ou venda ambulante. Alguns penhoraram violinos e bandoneones — instrumentos da família dos acordeões populares no Cone Sul da América do Sul.

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“A pandemia foi devastadora para nós. Tudo fechou, e não havia nenhum turismo”, afirmou o dançarino Iván Romero. Ele sobreviveu dando aulas online. “Não ganhei dinheiro, mas pelo menos consegui sobreviver.”

Por mais prejudicial que a pandemia tenha sido, uma crescente crise econômica pressagia mais dificuldades. A inflação anual na Argentina beira 100%, e os salários não estão acompanhando. Muitas milongas, incapazes de aumentar o preço dos ingressos, estão com problemas para pagar o aluguel dos estabelecimentos.

“Está cada vez mais difícil manter os salões exclusivamente para o tango”, afirmou Bassan.

A famosa dançarina Mora Godoy — que em certa ocasião ensinou passos de tango para Barack Obama — afirmou que é necessária ajuda do governo. “A parada abrupta foi um choque de realidade e uma tragédia”, afirmou ela. “Nós, tangueros, fomos deixados completamente à deriva, sem nenhum tipo de apoio.”

A pandemia expôs a natureza precária do setor. De acordo com a Assembleia Federal de Trabalhadores do Tango, metade dos profissionais da indústria tem empregos informais.

Mesmo com os clubes abertos novamente, afirma o bandoneonista Diego Benbassat, tocar certas vezes não gera renda: “O que a gente ganha mal dá para a condução para ir e voltar do salão”.

Em um pequeno camarim nos bastidores do Madero Tango, dois dançarinos — um casal de 22 anos, tanto no tango quanto na vida — preparam-se para uma apresentação. Eles escutam tango em uma pequena caixa de som enquanto se maquiam. Outros dançarinos se alongam no chão de um estreito corredor. O grupo está prestes a se apresentar para uma plateia de 450 pessoas.

Para os artistas, as casas de tango podem ser fontes estáveis de renda. Buenos Aires abriga 15 estabelecimentos, que atraem turistas com as atrações mais conhecidas da Argentina: carnes vermelhas, tintos malbec e tango.

O Madero Tango, como muitos outros estabelecimentos, mal conseguiu sobreviver à pandemia. “Foi uma economia de guerra”, afirmou o proprietário, Cristian Caram. “Exaurimos mais de cinco anos de economias, e não ficou claro se resistiríamos. Este negócio é lucrativo desde que você não afunde no meio do rio. Esse foi meu pesadelo. E se não chegássemos à outra margem?”

Os tangueros estão aliviados porque o turismo está voltando a fluir. No Gricel, uma orquestra foi contratada. A noite será longa, como as milongas costumam ser, e Rezk está com dificuldades para acomodar todos os frequentadores.

O proprietário do clube demorou para chegar ao mundo do tango, aos 60 anos. Sua história, afirma ele, é prova de que nunca é tarde para aprender. “É impossível descrever a sensação de abraçar alguém durante a dança”, afirmou ele. “O tango tem essa coisinha… que é a própria Argentina. Quando você dança, sente que ela pertence a você. Maradona, Messi, talvez Fangio… e o tango.”/ THE WASHINGTON POST

BUENOS AIRES — Tissiana Correia desfila seus passos pelo salão do clube de tango Nuevo Gricel, em Buenos Aires, com a saia de seu vestido esvoaçando quando ela gira para abraçar seu parceiro de dança, Rodrigo Yaltone. Correia, uma cinesiologista brasileira, de 47 anos, teve sua primeira aula de tango no Rio de Janeiro, duas décadas atrás. Eventualmente, ela foi para a Argentina aperfeiçoar a arte — e nunca mais voltou.

Após as autoridades argentinas ordenarem um dos lockdowns mais rígidos na América Latina, ela fez o que pôde para manter viva sua dança — fazendo aulas online e praticando em seu apartamento. Agora ela está animada por voltar ao salão com os colegas dançarinos. “Para mim, é como a própria vida”, afirmou ela durante uma sessão noturna de domingo no Gricel, novamente lotado de tangueros. “Estou borbulhando de alegria.”

Com as regras de uso de máscaras e distanciamento social suspensas, os argentinos estão retornando para os clubes de tango da capital na esperança de reviver o espírito pré-pandêmico da dança que é ícone nacional. Clubes que recebem turistas organizam apresentações diariamente.

A pista de dança se enche de casais prontos para mais uma rodada de tango no Club Gricel Foto: Anita Pouchard Serra/The Washington Post

Mas a recuperação total é incerta. O setor já enfrentava dificuldades antes da pandemia. Todas as aproximadamente 200 milongas de Buenos Aires — sessões de tango para os habitantes locais — fecharam em 2020, mais de 50 definitivamente. Somente agora os turistas, força vital da economia do tango, estão voltando a visitar o país. A inflação, enquanto isso, está nas alturas, e a crise econômica se assoma.

“Estamos definitivamente de volta, mas a indústria ainda não se levantou”, afirmou Julio Bassan, presidente da Associação de Organizadores de Milongas.

Quando a pandemia chegou a este país sul-americano, a indústria não teve outra escolha a não ser fechar as portas. As autoridades argentinas ordenaram toques de recolher rígidos, e o tango, uma dança de abrazos, não se presta ao distanciamento social.

O Gricel, um clube de tango frequentado por cerca de 250 dançarinos, decidiu em março de 2020 que era hora de fechar. “Foi muito triste ver o salão vazio”, afirmou o dono do local, Daniel Rezk, de 76 anos. Aulas online, rifas e ajuda de entusiastas estrangeiros salvaram da extinção o estabelecimento de 28 anos.

Apesar do lockdown, a Argentina foi um dos países latino-americanos mais castigados pelo coronavírus. O país registrou mais de 9,7 milhões de casos, atrás apenas do Brasil, e 130 mil mortes.

Tissiana Correia, cinesiologista brasileira de 47 anos, fez sua primeira aula de tango no Rio de Janeiro há duas décadas  Foto: For The Washington Post / For The Washington Post

Para muitos portenhos, os moradores de Buenos Aires, as milongas são mais do que simplesmente um lugar para dançar. Elas constituem comunidades nas quais pessoas de todas as idades e origens se encontram e estabelecem laços. “Quando elas reabriram, para muitos de nós foi como se sentir vivos novamente”, afirmou Marina Améndola, de 57 anos.

Rezk descreveu a emoção de ouvir tangos nas caixas de som de seu clube novamente. “Eu disse a mim mesmo: ‘Era exatamente isso o que estava faltando na minha vida! Não surpreende que eu ficava baixo astral sem nenhuma razão aparente!”.

Améndola, que vai ao Gricel quatro noites por semana, afirma que o tango a ajudou a recuperar uma vida social depois que ela ficou viúva. “Eu não tinha contato com nenhum outro homem a não ser meu marido — e certamente não abraçava ninguém”, afirmou ela. “Com o tango, fui capaz de romper com isso.”

A dança sensual, inicialmente proibida, emergiu no fim do século 19, entre imigrantes e pessoas anteriormente escravizadas que viviam nos bairros mais pobres de Buenos Aires e Montevidéu, no Uruguai, nas margens do Rio da Prata. No início do século 20, o baile migrou de bares e bordéis para o reconhecimento internacional. Agora, o tango está na Lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Unesco.

Camilo Benedix e sua parceira de dança no Nuevo Gricel  Foto: Photos for The Washington Post by Anita Pouchard Serra

O tango também conforma uma indústria substancial na Argentina, dando emprego a cerca de 10 mil pessoas, incluindo dançarinos, músicos e produtores.

Quando os clubes de tango fecharam, os profissionais apelaram para outros trabalhos: entrega de comida, dirigir para o Uber ou venda ambulante. Alguns penhoraram violinos e bandoneones — instrumentos da família dos acordeões populares no Cone Sul da América do Sul.

“A pandemia foi devastadora para nós. Tudo fechou, e não havia nenhum turismo”, afirmou o dançarino Iván Romero. Ele sobreviveu dando aulas online. “Não ganhei dinheiro, mas pelo menos consegui sobreviver.”

Por mais prejudicial que a pandemia tenha sido, uma crescente crise econômica pressagia mais dificuldades. A inflação anual na Argentina beira 100%, e os salários não estão acompanhando. Muitas milongas, incapazes de aumentar o preço dos ingressos, estão com problemas para pagar o aluguel dos estabelecimentos.

“Está cada vez mais difícil manter os salões exclusivamente para o tango”, afirmou Bassan.

A famosa dançarina Mora Godoy — que em certa ocasião ensinou passos de tango para Barack Obama — afirmou que é necessária ajuda do governo. “A parada abrupta foi um choque de realidade e uma tragédia”, afirmou ela. “Nós, tangueros, fomos deixados completamente à deriva, sem nenhum tipo de apoio.”

A pandemia expôs a natureza precária do setor. De acordo com a Assembleia Federal de Trabalhadores do Tango, metade dos profissionais da indústria tem empregos informais.

Mesmo com os clubes abertos novamente, afirma o bandoneonista Diego Benbassat, tocar certas vezes não gera renda: “O que a gente ganha mal dá para a condução para ir e voltar do salão”.

Em um pequeno camarim nos bastidores do Madero Tango, dois dançarinos — um casal de 22 anos, tanto no tango quanto na vida — preparam-se para uma apresentação. Eles escutam tango em uma pequena caixa de som enquanto se maquiam. Outros dançarinos se alongam no chão de um estreito corredor. O grupo está prestes a se apresentar para uma plateia de 450 pessoas.

Para os artistas, as casas de tango podem ser fontes estáveis de renda. Buenos Aires abriga 15 estabelecimentos, que atraem turistas com as atrações mais conhecidas da Argentina: carnes vermelhas, tintos malbec e tango.

O Madero Tango, como muitos outros estabelecimentos, mal conseguiu sobreviver à pandemia. “Foi uma economia de guerra”, afirmou o proprietário, Cristian Caram. “Exaurimos mais de cinco anos de economias, e não ficou claro se resistiríamos. Este negócio é lucrativo desde que você não afunde no meio do rio. Esse foi meu pesadelo. E se não chegássemos à outra margem?”

Os tangueros estão aliviados porque o turismo está voltando a fluir. No Gricel, uma orquestra foi contratada. A noite será longa, como as milongas costumam ser, e Rezk está com dificuldades para acomodar todos os frequentadores.

O proprietário do clube demorou para chegar ao mundo do tango, aos 60 anos. Sua história, afirma ele, é prova de que nunca é tarde para aprender. “É impossível descrever a sensação de abraçar alguém durante a dança”, afirmou ele. “O tango tem essa coisinha… que é a própria Argentina. Quando você dança, sente que ela pertence a você. Maradona, Messi, talvez Fangio… e o tango.”/ THE WASHINGTON POST

BUENOS AIRES — Tissiana Correia desfila seus passos pelo salão do clube de tango Nuevo Gricel, em Buenos Aires, com a saia de seu vestido esvoaçando quando ela gira para abraçar seu parceiro de dança, Rodrigo Yaltone. Correia, uma cinesiologista brasileira, de 47 anos, teve sua primeira aula de tango no Rio de Janeiro, duas décadas atrás. Eventualmente, ela foi para a Argentina aperfeiçoar a arte — e nunca mais voltou.

Após as autoridades argentinas ordenarem um dos lockdowns mais rígidos na América Latina, ela fez o que pôde para manter viva sua dança — fazendo aulas online e praticando em seu apartamento. Agora ela está animada por voltar ao salão com os colegas dançarinos. “Para mim, é como a própria vida”, afirmou ela durante uma sessão noturna de domingo no Gricel, novamente lotado de tangueros. “Estou borbulhando de alegria.”

Com as regras de uso de máscaras e distanciamento social suspensas, os argentinos estão retornando para os clubes de tango da capital na esperança de reviver o espírito pré-pandêmico da dança que é ícone nacional. Clubes que recebem turistas organizam apresentações diariamente.

A pista de dança se enche de casais prontos para mais uma rodada de tango no Club Gricel Foto: Anita Pouchard Serra/The Washington Post

Mas a recuperação total é incerta. O setor já enfrentava dificuldades antes da pandemia. Todas as aproximadamente 200 milongas de Buenos Aires — sessões de tango para os habitantes locais — fecharam em 2020, mais de 50 definitivamente. Somente agora os turistas, força vital da economia do tango, estão voltando a visitar o país. A inflação, enquanto isso, está nas alturas, e a crise econômica se assoma.

“Estamos definitivamente de volta, mas a indústria ainda não se levantou”, afirmou Julio Bassan, presidente da Associação de Organizadores de Milongas.

Quando a pandemia chegou a este país sul-americano, a indústria não teve outra escolha a não ser fechar as portas. As autoridades argentinas ordenaram toques de recolher rígidos, e o tango, uma dança de abrazos, não se presta ao distanciamento social.

O Gricel, um clube de tango frequentado por cerca de 250 dançarinos, decidiu em março de 2020 que era hora de fechar. “Foi muito triste ver o salão vazio”, afirmou o dono do local, Daniel Rezk, de 76 anos. Aulas online, rifas e ajuda de entusiastas estrangeiros salvaram da extinção o estabelecimento de 28 anos.

Apesar do lockdown, a Argentina foi um dos países latino-americanos mais castigados pelo coronavírus. O país registrou mais de 9,7 milhões de casos, atrás apenas do Brasil, e 130 mil mortes.

Tissiana Correia, cinesiologista brasileira de 47 anos, fez sua primeira aula de tango no Rio de Janeiro há duas décadas  Foto: For The Washington Post / For The Washington Post

Para muitos portenhos, os moradores de Buenos Aires, as milongas são mais do que simplesmente um lugar para dançar. Elas constituem comunidades nas quais pessoas de todas as idades e origens se encontram e estabelecem laços. “Quando elas reabriram, para muitos de nós foi como se sentir vivos novamente”, afirmou Marina Améndola, de 57 anos.

Rezk descreveu a emoção de ouvir tangos nas caixas de som de seu clube novamente. “Eu disse a mim mesmo: ‘Era exatamente isso o que estava faltando na minha vida! Não surpreende que eu ficava baixo astral sem nenhuma razão aparente!”.

Améndola, que vai ao Gricel quatro noites por semana, afirma que o tango a ajudou a recuperar uma vida social depois que ela ficou viúva. “Eu não tinha contato com nenhum outro homem a não ser meu marido — e certamente não abraçava ninguém”, afirmou ela. “Com o tango, fui capaz de romper com isso.”

A dança sensual, inicialmente proibida, emergiu no fim do século 19, entre imigrantes e pessoas anteriormente escravizadas que viviam nos bairros mais pobres de Buenos Aires e Montevidéu, no Uruguai, nas margens do Rio da Prata. No início do século 20, o baile migrou de bares e bordéis para o reconhecimento internacional. Agora, o tango está na Lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Unesco.

Camilo Benedix e sua parceira de dança no Nuevo Gricel  Foto: Photos for The Washington Post by Anita Pouchard Serra

O tango também conforma uma indústria substancial na Argentina, dando emprego a cerca de 10 mil pessoas, incluindo dançarinos, músicos e produtores.

Quando os clubes de tango fecharam, os profissionais apelaram para outros trabalhos: entrega de comida, dirigir para o Uber ou venda ambulante. Alguns penhoraram violinos e bandoneones — instrumentos da família dos acordeões populares no Cone Sul da América do Sul.

“A pandemia foi devastadora para nós. Tudo fechou, e não havia nenhum turismo”, afirmou o dançarino Iván Romero. Ele sobreviveu dando aulas online. “Não ganhei dinheiro, mas pelo menos consegui sobreviver.”

Por mais prejudicial que a pandemia tenha sido, uma crescente crise econômica pressagia mais dificuldades. A inflação anual na Argentina beira 100%, e os salários não estão acompanhando. Muitas milongas, incapazes de aumentar o preço dos ingressos, estão com problemas para pagar o aluguel dos estabelecimentos.

“Está cada vez mais difícil manter os salões exclusivamente para o tango”, afirmou Bassan.

A famosa dançarina Mora Godoy — que em certa ocasião ensinou passos de tango para Barack Obama — afirmou que é necessária ajuda do governo. “A parada abrupta foi um choque de realidade e uma tragédia”, afirmou ela. “Nós, tangueros, fomos deixados completamente à deriva, sem nenhum tipo de apoio.”

A pandemia expôs a natureza precária do setor. De acordo com a Assembleia Federal de Trabalhadores do Tango, metade dos profissionais da indústria tem empregos informais.

Mesmo com os clubes abertos novamente, afirma o bandoneonista Diego Benbassat, tocar certas vezes não gera renda: “O que a gente ganha mal dá para a condução para ir e voltar do salão”.

Em um pequeno camarim nos bastidores do Madero Tango, dois dançarinos — um casal de 22 anos, tanto no tango quanto na vida — preparam-se para uma apresentação. Eles escutam tango em uma pequena caixa de som enquanto se maquiam. Outros dançarinos se alongam no chão de um estreito corredor. O grupo está prestes a se apresentar para uma plateia de 450 pessoas.

Para os artistas, as casas de tango podem ser fontes estáveis de renda. Buenos Aires abriga 15 estabelecimentos, que atraem turistas com as atrações mais conhecidas da Argentina: carnes vermelhas, tintos malbec e tango.

O Madero Tango, como muitos outros estabelecimentos, mal conseguiu sobreviver à pandemia. “Foi uma economia de guerra”, afirmou o proprietário, Cristian Caram. “Exaurimos mais de cinco anos de economias, e não ficou claro se resistiríamos. Este negócio é lucrativo desde que você não afunde no meio do rio. Esse foi meu pesadelo. E se não chegássemos à outra margem?”

Os tangueros estão aliviados porque o turismo está voltando a fluir. No Gricel, uma orquestra foi contratada. A noite será longa, como as milongas costumam ser, e Rezk está com dificuldades para acomodar todos os frequentadores.

O proprietário do clube demorou para chegar ao mundo do tango, aos 60 anos. Sua história, afirma ele, é prova de que nunca é tarde para aprender. “É impossível descrever a sensação de abraçar alguém durante a dança”, afirmou ele. “O tango tem essa coisinha… que é a própria Argentina. Quando você dança, sente que ela pertence a você. Maradona, Messi, talvez Fangio… e o tango.”/ THE WASHINGTON POST

BUENOS AIRES — Tissiana Correia desfila seus passos pelo salão do clube de tango Nuevo Gricel, em Buenos Aires, com a saia de seu vestido esvoaçando quando ela gira para abraçar seu parceiro de dança, Rodrigo Yaltone. Correia, uma cinesiologista brasileira, de 47 anos, teve sua primeira aula de tango no Rio de Janeiro, duas décadas atrás. Eventualmente, ela foi para a Argentina aperfeiçoar a arte — e nunca mais voltou.

Após as autoridades argentinas ordenarem um dos lockdowns mais rígidos na América Latina, ela fez o que pôde para manter viva sua dança — fazendo aulas online e praticando em seu apartamento. Agora ela está animada por voltar ao salão com os colegas dançarinos. “Para mim, é como a própria vida”, afirmou ela durante uma sessão noturna de domingo no Gricel, novamente lotado de tangueros. “Estou borbulhando de alegria.”

Com as regras de uso de máscaras e distanciamento social suspensas, os argentinos estão retornando para os clubes de tango da capital na esperança de reviver o espírito pré-pandêmico da dança que é ícone nacional. Clubes que recebem turistas organizam apresentações diariamente.

A pista de dança se enche de casais prontos para mais uma rodada de tango no Club Gricel Foto: Anita Pouchard Serra/The Washington Post

Mas a recuperação total é incerta. O setor já enfrentava dificuldades antes da pandemia. Todas as aproximadamente 200 milongas de Buenos Aires — sessões de tango para os habitantes locais — fecharam em 2020, mais de 50 definitivamente. Somente agora os turistas, força vital da economia do tango, estão voltando a visitar o país. A inflação, enquanto isso, está nas alturas, e a crise econômica se assoma.

“Estamos definitivamente de volta, mas a indústria ainda não se levantou”, afirmou Julio Bassan, presidente da Associação de Organizadores de Milongas.

Quando a pandemia chegou a este país sul-americano, a indústria não teve outra escolha a não ser fechar as portas. As autoridades argentinas ordenaram toques de recolher rígidos, e o tango, uma dança de abrazos, não se presta ao distanciamento social.

O Gricel, um clube de tango frequentado por cerca de 250 dançarinos, decidiu em março de 2020 que era hora de fechar. “Foi muito triste ver o salão vazio”, afirmou o dono do local, Daniel Rezk, de 76 anos. Aulas online, rifas e ajuda de entusiastas estrangeiros salvaram da extinção o estabelecimento de 28 anos.

Apesar do lockdown, a Argentina foi um dos países latino-americanos mais castigados pelo coronavírus. O país registrou mais de 9,7 milhões de casos, atrás apenas do Brasil, e 130 mil mortes.

Tissiana Correia, cinesiologista brasileira de 47 anos, fez sua primeira aula de tango no Rio de Janeiro há duas décadas  Foto: For The Washington Post / For The Washington Post

Para muitos portenhos, os moradores de Buenos Aires, as milongas são mais do que simplesmente um lugar para dançar. Elas constituem comunidades nas quais pessoas de todas as idades e origens se encontram e estabelecem laços. “Quando elas reabriram, para muitos de nós foi como se sentir vivos novamente”, afirmou Marina Améndola, de 57 anos.

Rezk descreveu a emoção de ouvir tangos nas caixas de som de seu clube novamente. “Eu disse a mim mesmo: ‘Era exatamente isso o que estava faltando na minha vida! Não surpreende que eu ficava baixo astral sem nenhuma razão aparente!”.

Améndola, que vai ao Gricel quatro noites por semana, afirma que o tango a ajudou a recuperar uma vida social depois que ela ficou viúva. “Eu não tinha contato com nenhum outro homem a não ser meu marido — e certamente não abraçava ninguém”, afirmou ela. “Com o tango, fui capaz de romper com isso.”

A dança sensual, inicialmente proibida, emergiu no fim do século 19, entre imigrantes e pessoas anteriormente escravizadas que viviam nos bairros mais pobres de Buenos Aires e Montevidéu, no Uruguai, nas margens do Rio da Prata. No início do século 20, o baile migrou de bares e bordéis para o reconhecimento internacional. Agora, o tango está na Lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Unesco.

Camilo Benedix e sua parceira de dança no Nuevo Gricel  Foto: Photos for The Washington Post by Anita Pouchard Serra

O tango também conforma uma indústria substancial na Argentina, dando emprego a cerca de 10 mil pessoas, incluindo dançarinos, músicos e produtores.

Quando os clubes de tango fecharam, os profissionais apelaram para outros trabalhos: entrega de comida, dirigir para o Uber ou venda ambulante. Alguns penhoraram violinos e bandoneones — instrumentos da família dos acordeões populares no Cone Sul da América do Sul.

“A pandemia foi devastadora para nós. Tudo fechou, e não havia nenhum turismo”, afirmou o dançarino Iván Romero. Ele sobreviveu dando aulas online. “Não ganhei dinheiro, mas pelo menos consegui sobreviver.”

Por mais prejudicial que a pandemia tenha sido, uma crescente crise econômica pressagia mais dificuldades. A inflação anual na Argentina beira 100%, e os salários não estão acompanhando. Muitas milongas, incapazes de aumentar o preço dos ingressos, estão com problemas para pagar o aluguel dos estabelecimentos.

“Está cada vez mais difícil manter os salões exclusivamente para o tango”, afirmou Bassan.

A famosa dançarina Mora Godoy — que em certa ocasião ensinou passos de tango para Barack Obama — afirmou que é necessária ajuda do governo. “A parada abrupta foi um choque de realidade e uma tragédia”, afirmou ela. “Nós, tangueros, fomos deixados completamente à deriva, sem nenhum tipo de apoio.”

A pandemia expôs a natureza precária do setor. De acordo com a Assembleia Federal de Trabalhadores do Tango, metade dos profissionais da indústria tem empregos informais.

Mesmo com os clubes abertos novamente, afirma o bandoneonista Diego Benbassat, tocar certas vezes não gera renda: “O que a gente ganha mal dá para a condução para ir e voltar do salão”.

Em um pequeno camarim nos bastidores do Madero Tango, dois dançarinos — um casal de 22 anos, tanto no tango quanto na vida — preparam-se para uma apresentação. Eles escutam tango em uma pequena caixa de som enquanto se maquiam. Outros dançarinos se alongam no chão de um estreito corredor. O grupo está prestes a se apresentar para uma plateia de 450 pessoas.

Para os artistas, as casas de tango podem ser fontes estáveis de renda. Buenos Aires abriga 15 estabelecimentos, que atraem turistas com as atrações mais conhecidas da Argentina: carnes vermelhas, tintos malbec e tango.

O Madero Tango, como muitos outros estabelecimentos, mal conseguiu sobreviver à pandemia. “Foi uma economia de guerra”, afirmou o proprietário, Cristian Caram. “Exaurimos mais de cinco anos de economias, e não ficou claro se resistiríamos. Este negócio é lucrativo desde que você não afunde no meio do rio. Esse foi meu pesadelo. E se não chegássemos à outra margem?”

Os tangueros estão aliviados porque o turismo está voltando a fluir. No Gricel, uma orquestra foi contratada. A noite será longa, como as milongas costumam ser, e Rezk está com dificuldades para acomodar todos os frequentadores.

O proprietário do clube demorou para chegar ao mundo do tango, aos 60 anos. Sua história, afirma ele, é prova de que nunca é tarde para aprender. “É impossível descrever a sensação de abraçar alguém durante a dança”, afirmou ele. “O tango tem essa coisinha… que é a própria Argentina. Quando você dança, sente que ela pertence a você. Maradona, Messi, talvez Fangio… e o tango.”/ THE WASHINGTON POST

BUENOS AIRES — Tissiana Correia desfila seus passos pelo salão do clube de tango Nuevo Gricel, em Buenos Aires, com a saia de seu vestido esvoaçando quando ela gira para abraçar seu parceiro de dança, Rodrigo Yaltone. Correia, uma cinesiologista brasileira, de 47 anos, teve sua primeira aula de tango no Rio de Janeiro, duas décadas atrás. Eventualmente, ela foi para a Argentina aperfeiçoar a arte — e nunca mais voltou.

Após as autoridades argentinas ordenarem um dos lockdowns mais rígidos na América Latina, ela fez o que pôde para manter viva sua dança — fazendo aulas online e praticando em seu apartamento. Agora ela está animada por voltar ao salão com os colegas dançarinos. “Para mim, é como a própria vida”, afirmou ela durante uma sessão noturna de domingo no Gricel, novamente lotado de tangueros. “Estou borbulhando de alegria.”

Com as regras de uso de máscaras e distanciamento social suspensas, os argentinos estão retornando para os clubes de tango da capital na esperança de reviver o espírito pré-pandêmico da dança que é ícone nacional. Clubes que recebem turistas organizam apresentações diariamente.

A pista de dança se enche de casais prontos para mais uma rodada de tango no Club Gricel Foto: Anita Pouchard Serra/The Washington Post

Mas a recuperação total é incerta. O setor já enfrentava dificuldades antes da pandemia. Todas as aproximadamente 200 milongas de Buenos Aires — sessões de tango para os habitantes locais — fecharam em 2020, mais de 50 definitivamente. Somente agora os turistas, força vital da economia do tango, estão voltando a visitar o país. A inflação, enquanto isso, está nas alturas, e a crise econômica se assoma.

“Estamos definitivamente de volta, mas a indústria ainda não se levantou”, afirmou Julio Bassan, presidente da Associação de Organizadores de Milongas.

Quando a pandemia chegou a este país sul-americano, a indústria não teve outra escolha a não ser fechar as portas. As autoridades argentinas ordenaram toques de recolher rígidos, e o tango, uma dança de abrazos, não se presta ao distanciamento social.

O Gricel, um clube de tango frequentado por cerca de 250 dançarinos, decidiu em março de 2020 que era hora de fechar. “Foi muito triste ver o salão vazio”, afirmou o dono do local, Daniel Rezk, de 76 anos. Aulas online, rifas e ajuda de entusiastas estrangeiros salvaram da extinção o estabelecimento de 28 anos.

Apesar do lockdown, a Argentina foi um dos países latino-americanos mais castigados pelo coronavírus. O país registrou mais de 9,7 milhões de casos, atrás apenas do Brasil, e 130 mil mortes.

Tissiana Correia, cinesiologista brasileira de 47 anos, fez sua primeira aula de tango no Rio de Janeiro há duas décadas  Foto: For The Washington Post / For The Washington Post

Para muitos portenhos, os moradores de Buenos Aires, as milongas são mais do que simplesmente um lugar para dançar. Elas constituem comunidades nas quais pessoas de todas as idades e origens se encontram e estabelecem laços. “Quando elas reabriram, para muitos de nós foi como se sentir vivos novamente”, afirmou Marina Améndola, de 57 anos.

Rezk descreveu a emoção de ouvir tangos nas caixas de som de seu clube novamente. “Eu disse a mim mesmo: ‘Era exatamente isso o que estava faltando na minha vida! Não surpreende que eu ficava baixo astral sem nenhuma razão aparente!”.

Améndola, que vai ao Gricel quatro noites por semana, afirma que o tango a ajudou a recuperar uma vida social depois que ela ficou viúva. “Eu não tinha contato com nenhum outro homem a não ser meu marido — e certamente não abraçava ninguém”, afirmou ela. “Com o tango, fui capaz de romper com isso.”

A dança sensual, inicialmente proibida, emergiu no fim do século 19, entre imigrantes e pessoas anteriormente escravizadas que viviam nos bairros mais pobres de Buenos Aires e Montevidéu, no Uruguai, nas margens do Rio da Prata. No início do século 20, o baile migrou de bares e bordéis para o reconhecimento internacional. Agora, o tango está na Lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Unesco.

Camilo Benedix e sua parceira de dança no Nuevo Gricel  Foto: Photos for The Washington Post by Anita Pouchard Serra

O tango também conforma uma indústria substancial na Argentina, dando emprego a cerca de 10 mil pessoas, incluindo dançarinos, músicos e produtores.

Quando os clubes de tango fecharam, os profissionais apelaram para outros trabalhos: entrega de comida, dirigir para o Uber ou venda ambulante. Alguns penhoraram violinos e bandoneones — instrumentos da família dos acordeões populares no Cone Sul da América do Sul.

“A pandemia foi devastadora para nós. Tudo fechou, e não havia nenhum turismo”, afirmou o dançarino Iván Romero. Ele sobreviveu dando aulas online. “Não ganhei dinheiro, mas pelo menos consegui sobreviver.”

Por mais prejudicial que a pandemia tenha sido, uma crescente crise econômica pressagia mais dificuldades. A inflação anual na Argentina beira 100%, e os salários não estão acompanhando. Muitas milongas, incapazes de aumentar o preço dos ingressos, estão com problemas para pagar o aluguel dos estabelecimentos.

“Está cada vez mais difícil manter os salões exclusivamente para o tango”, afirmou Bassan.

A famosa dançarina Mora Godoy — que em certa ocasião ensinou passos de tango para Barack Obama — afirmou que é necessária ajuda do governo. “A parada abrupta foi um choque de realidade e uma tragédia”, afirmou ela. “Nós, tangueros, fomos deixados completamente à deriva, sem nenhum tipo de apoio.”

A pandemia expôs a natureza precária do setor. De acordo com a Assembleia Federal de Trabalhadores do Tango, metade dos profissionais da indústria tem empregos informais.

Mesmo com os clubes abertos novamente, afirma o bandoneonista Diego Benbassat, tocar certas vezes não gera renda: “O que a gente ganha mal dá para a condução para ir e voltar do salão”.

Em um pequeno camarim nos bastidores do Madero Tango, dois dançarinos — um casal de 22 anos, tanto no tango quanto na vida — preparam-se para uma apresentação. Eles escutam tango em uma pequena caixa de som enquanto se maquiam. Outros dançarinos se alongam no chão de um estreito corredor. O grupo está prestes a se apresentar para uma plateia de 450 pessoas.

Para os artistas, as casas de tango podem ser fontes estáveis de renda. Buenos Aires abriga 15 estabelecimentos, que atraem turistas com as atrações mais conhecidas da Argentina: carnes vermelhas, tintos malbec e tango.

O Madero Tango, como muitos outros estabelecimentos, mal conseguiu sobreviver à pandemia. “Foi uma economia de guerra”, afirmou o proprietário, Cristian Caram. “Exaurimos mais de cinco anos de economias, e não ficou claro se resistiríamos. Este negócio é lucrativo desde que você não afunde no meio do rio. Esse foi meu pesadelo. E se não chegássemos à outra margem?”

Os tangueros estão aliviados porque o turismo está voltando a fluir. No Gricel, uma orquestra foi contratada. A noite será longa, como as milongas costumam ser, e Rezk está com dificuldades para acomodar todos os frequentadores.

O proprietário do clube demorou para chegar ao mundo do tango, aos 60 anos. Sua história, afirma ele, é prova de que nunca é tarde para aprender. “É impossível descrever a sensação de abraçar alguém durante a dança”, afirmou ele. “O tango tem essa coisinha… que é a própria Argentina. Quando você dança, sente que ela pertence a você. Maradona, Messi, talvez Fangio… e o tango.”/ THE WASHINGTON POST

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