‘Aqui estão as atas para Celso Amorim conferir’, diz observador venezuelano que veio a Brasília


Gustavo Silva, 38, coordenou campanha da oposição venezuelana para reunir atas eleitorais. Ele está em Brasília com parte dos documentos para mostrar ao Itamaraty e a congressistas

Por André Shalders
Atualização:

BRASÍLIA - Nas eleições presidenciais venezuelanas de julho deste ano, o observador internacional Gustavo Silva, de 38 anos, foi um dos responsáveis por organizar o esforço da oposição para coletar, reunir e analisar dezenas de milhares de atas eleitorais. Nesta segunda-feira, 25, ele chegou a Brasília trazendo consigo uma amostra das atas originais. Os documentos serão apresentados a congressistas e a integrantes do Ministério das Relações Exteriores (MRE) nos próximos dias, diz ele.

Gustavo Silva, 38 anos, com as atas originais das eleições de julho deste ano na Venezuela Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

Ao todo, o grupo coordenado por Gustavo reuniu cerca de 25 mil atas eleitorais, suficientes para preencher várias maletas de documentos. A reportagem do Estadão teve a oportunidade de manusear alguns deles, trazidos por Gustavo, e conferir os códigos QR no pé de cada um dos boletins, nos quais estão registrados os votos dos candidatos. “Aqui estão as atas para o Celso Amorim (assessor internacional da Presidência) conferir”, disse ele.

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Os boletins de urna reunidos pela oposição cobrem cerca de 85% dos locais de votação, diz Silva, que é venezuelano e descendente de portugueses da Ilha da Madeira. Com base neles, o grupo calcula que o candidato oposicionista, o diplomata de carreira Edmundo González Urrutia, teve cerca de 67% dos votos. Mesmo assim, a autoridade eleitoral venezuelana, controlada por partidários de Maduro, declarou o ditador venezuelano vencedor. O regime disse que apresentaria todas as atas eleitorais, o que não foi feito até agora.

Em agosto, Celso Amorim disse ao Congresso que o governo brasileiro não reconheceria a eleição de Maduro se as atas não fossem apresentadas. Nos últimos meses, as relações entre Brasília e Caracas se deterioraram. No começo deste mês, o Itamaraty se disse surpreso com o “tom ofensivo” adotado pelas autoridades venezuelanas em relação ao Brasil.

Uma das atas eleitorais da disputa venezuelana de julho, quando Nicolas Maduro foi proclamado vencedor pelas autoridades locais Foto: WILTON JUNIOR/Estadão
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A nota veio depois que a Polícia Bolivariana do país publicou uma foto com a silhueta de Lula e a frase “Quem se mete com a Venezuela se dá mal”. Em resposta, Caracas acusou o Itamaraty de tentar “enganar” a comunidade internacional.

“Nós temos as atas, publicadas no nosso website, de 83,5% das mesas de votação. Recentemente, voltamos a processar os documentos e chegamos a 85%. Se você toma esses 15% que faltam, e 100% dos votos forem para Maduro, mesmo assim Edmundo González Urrutia tem 700 mil votos a mais. Uma grande vantagem”, diz Gustavo Silva ao Estadão.

Gustavo teve de deixar a Venezuela há cerca de um ano, com apenas uma mala de mão, por meio da fronteira com a Colômbia. Hoje, vive nos Estados Unidos. Embora tenha trabalhado no processo de coleta das atas organizado pela oposição, ele não é filiado a nenhum partido político.

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Assim como Gustavo, vários outros representantes da oposição tiveram de deixar a Venezuela – como Edmundo González Urrutia – ou estão vivendo no país de forma precária. É o caso de Maria Corina Machado, a candidata original da Mesa da Unidade Democrática (MUD) venezuelana, impedida de concorrer pelas autoridades eleitorais. Em agosto, Maduro disse que Machado vivia na Venezuela como “foragida”. Na semana passada, o Ministério Público do país abriu investigação contra ela por “traição”.

“E é impossível que nesses 15% de atas aos quais não tivemos acesso, porque o governo e a Força Militar não quiseram dar, os eleitores tenham votado 100% em Maduro. O mais provável é que o comportamento fosse igual aos outros. Na relatoria, explicamos e mostramos como Urrutia ganhou em todos os Estados. Eu não vi isso em nenhum outro país da região. Não é normal que um candidato ganhe em todos os Estados do país”, afirma ele.

“Atas eleitorais são os documentos oficiais que emitem as máquinas (de votação). Nós temos um sistema eleitoral do Brasil, que é eletrônico. A urna eletrônica, ao final do processo, emite um documento com todos os resultados. É igual ao vosso boletim de urna. Igual. Apanhamos todos os boletins de urna, que por direito as nossas testemunhas podem pegar na mesa. Subimos para a nuvem e publicamos. Eu trabalhei no desenho e no acompanhamento desse processo”, diz ele.

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O representante da oposição venezuelana em frente ao Palácio do Planalto, nesta segunda-feira (25) Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

“Nós nos inspiramos no plebiscito do Chile de 1988 (quando os chilenos decidiram encerrar o governo ditatorial de Augusto Pinochet e realizar eleições livres no ano seguinte). Naquela ocasião, um dos elementos de pressão da sociedade civil foi ter uma contagem paralela dos votos. Existia o temor de Pinochet fazer algum tipo de fraude. Tentamos então replicar isso aqui”, detalha Silva, que já trabalhou como observador internacional em vários países da América Latina.

“O que aconteceu? Maduro não quis reconhecer o resultado. Você acaba de ver uma ata original. Maduro não mostrou uma ata sequer. Nem um só boletim de urna. Qual foi a resposta de Maduro? Antes das eleições, nós tínhamos 300 presos políticos. Agora, são 2 mil”, diz ele.

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“Nós temos aqui a verdade para mostrar a quem queira ver. E portanto vamos mostrar essas atas a autoridades do Executivo brasileiro, que têm acompanhado muito de perto a situação da Venezuela. Vamos nos reunir também com representantes do Congresso. Vamos ao Itamaraty e ao Congresso”, afirma.

Nos últimos dias, integrantes das forças de segurança da Venezuela passaram a cercar a residência oficial do embaixador argentino no país, onde ao menos seis pessoas da oposição venezuelana permanecem.

“É muito interessante que ocorra isso quando temos o (libertário Javier) Milei como presidente da Argentina, e o Lula no Brasil. Porque não é uma causa de direita x esquerda, e sim de direitos humanos. Estamos muito gratos pelo que fez o governo do Brasil, e que continua a fazer a cada dia. A bandeira do Brasil é a única coisa que protege neste momento as pessoas que estão asiladas nesta embaixada”, diz Gustavo.

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BRASÍLIA - Nas eleições presidenciais venezuelanas de julho deste ano, o observador internacional Gustavo Silva, de 38 anos, foi um dos responsáveis por organizar o esforço da oposição para coletar, reunir e analisar dezenas de milhares de atas eleitorais. Nesta segunda-feira, 25, ele chegou a Brasília trazendo consigo uma amostra das atas originais. Os documentos serão apresentados a congressistas e a integrantes do Ministério das Relações Exteriores (MRE) nos próximos dias, diz ele.

Gustavo Silva, 38 anos, com as atas originais das eleições de julho deste ano na Venezuela Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

Ao todo, o grupo coordenado por Gustavo reuniu cerca de 25 mil atas eleitorais, suficientes para preencher várias maletas de documentos. A reportagem do Estadão teve a oportunidade de manusear alguns deles, trazidos por Gustavo, e conferir os códigos QR no pé de cada um dos boletins, nos quais estão registrados os votos dos candidatos. “Aqui estão as atas para o Celso Amorim (assessor internacional da Presidência) conferir”, disse ele.

Os boletins de urna reunidos pela oposição cobrem cerca de 85% dos locais de votação, diz Silva, que é venezuelano e descendente de portugueses da Ilha da Madeira. Com base neles, o grupo calcula que o candidato oposicionista, o diplomata de carreira Edmundo González Urrutia, teve cerca de 67% dos votos. Mesmo assim, a autoridade eleitoral venezuelana, controlada por partidários de Maduro, declarou o ditador venezuelano vencedor. O regime disse que apresentaria todas as atas eleitorais, o que não foi feito até agora.

Em agosto, Celso Amorim disse ao Congresso que o governo brasileiro não reconheceria a eleição de Maduro se as atas não fossem apresentadas. Nos últimos meses, as relações entre Brasília e Caracas se deterioraram. No começo deste mês, o Itamaraty se disse surpreso com o “tom ofensivo” adotado pelas autoridades venezuelanas em relação ao Brasil.

Uma das atas eleitorais da disputa venezuelana de julho, quando Nicolas Maduro foi proclamado vencedor pelas autoridades locais Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

A nota veio depois que a Polícia Bolivariana do país publicou uma foto com a silhueta de Lula e a frase “Quem se mete com a Venezuela se dá mal”. Em resposta, Caracas acusou o Itamaraty de tentar “enganar” a comunidade internacional.

“Nós temos as atas, publicadas no nosso website, de 83,5% das mesas de votação. Recentemente, voltamos a processar os documentos e chegamos a 85%. Se você toma esses 15% que faltam, e 100% dos votos forem para Maduro, mesmo assim Edmundo González Urrutia tem 700 mil votos a mais. Uma grande vantagem”, diz Gustavo Silva ao Estadão.

Gustavo teve de deixar a Venezuela há cerca de um ano, com apenas uma mala de mão, por meio da fronteira com a Colômbia. Hoje, vive nos Estados Unidos. Embora tenha trabalhado no processo de coleta das atas organizado pela oposição, ele não é filiado a nenhum partido político.

Assim como Gustavo, vários outros representantes da oposição tiveram de deixar a Venezuela – como Edmundo González Urrutia – ou estão vivendo no país de forma precária. É o caso de Maria Corina Machado, a candidata original da Mesa da Unidade Democrática (MUD) venezuelana, impedida de concorrer pelas autoridades eleitorais. Em agosto, Maduro disse que Machado vivia na Venezuela como “foragida”. Na semana passada, o Ministério Público do país abriu investigação contra ela por “traição”.

“E é impossível que nesses 15% de atas aos quais não tivemos acesso, porque o governo e a Força Militar não quiseram dar, os eleitores tenham votado 100% em Maduro. O mais provável é que o comportamento fosse igual aos outros. Na relatoria, explicamos e mostramos como Urrutia ganhou em todos os Estados. Eu não vi isso em nenhum outro país da região. Não é normal que um candidato ganhe em todos os Estados do país”, afirma ele.

“Atas eleitorais são os documentos oficiais que emitem as máquinas (de votação). Nós temos um sistema eleitoral do Brasil, que é eletrônico. A urna eletrônica, ao final do processo, emite um documento com todos os resultados. É igual ao vosso boletim de urna. Igual. Apanhamos todos os boletins de urna, que por direito as nossas testemunhas podem pegar na mesa. Subimos para a nuvem e publicamos. Eu trabalhei no desenho e no acompanhamento desse processo”, diz ele.

O representante da oposição venezuelana em frente ao Palácio do Planalto, nesta segunda-feira (25) Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

“Nós nos inspiramos no plebiscito do Chile de 1988 (quando os chilenos decidiram encerrar o governo ditatorial de Augusto Pinochet e realizar eleições livres no ano seguinte). Naquela ocasião, um dos elementos de pressão da sociedade civil foi ter uma contagem paralela dos votos. Existia o temor de Pinochet fazer algum tipo de fraude. Tentamos então replicar isso aqui”, detalha Silva, que já trabalhou como observador internacional em vários países da América Latina.

“O que aconteceu? Maduro não quis reconhecer o resultado. Você acaba de ver uma ata original. Maduro não mostrou uma ata sequer. Nem um só boletim de urna. Qual foi a resposta de Maduro? Antes das eleições, nós tínhamos 300 presos políticos. Agora, são 2 mil”, diz ele.

“Nós temos aqui a verdade para mostrar a quem queira ver. E portanto vamos mostrar essas atas a autoridades do Executivo brasileiro, que têm acompanhado muito de perto a situação da Venezuela. Vamos nos reunir também com representantes do Congresso. Vamos ao Itamaraty e ao Congresso”, afirma.

Nos últimos dias, integrantes das forças de segurança da Venezuela passaram a cercar a residência oficial do embaixador argentino no país, onde ao menos seis pessoas da oposição venezuelana permanecem.

“É muito interessante que ocorra isso quando temos o (libertário Javier) Milei como presidente da Argentina, e o Lula no Brasil. Porque não é uma causa de direita x esquerda, e sim de direitos humanos. Estamos muito gratos pelo que fez o governo do Brasil, e que continua a fazer a cada dia. A bandeira do Brasil é a única coisa que protege neste momento as pessoas que estão asiladas nesta embaixada”, diz Gustavo.

BRASÍLIA - Nas eleições presidenciais venezuelanas de julho deste ano, o observador internacional Gustavo Silva, de 38 anos, foi um dos responsáveis por organizar o esforço da oposição para coletar, reunir e analisar dezenas de milhares de atas eleitorais. Nesta segunda-feira, 25, ele chegou a Brasília trazendo consigo uma amostra das atas originais. Os documentos serão apresentados a congressistas e a integrantes do Ministério das Relações Exteriores (MRE) nos próximos dias, diz ele.

Gustavo Silva, 38 anos, com as atas originais das eleições de julho deste ano na Venezuela Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

Ao todo, o grupo coordenado por Gustavo reuniu cerca de 25 mil atas eleitorais, suficientes para preencher várias maletas de documentos. A reportagem do Estadão teve a oportunidade de manusear alguns deles, trazidos por Gustavo, e conferir os códigos QR no pé de cada um dos boletins, nos quais estão registrados os votos dos candidatos. “Aqui estão as atas para o Celso Amorim (assessor internacional da Presidência) conferir”, disse ele.

Os boletins de urna reunidos pela oposição cobrem cerca de 85% dos locais de votação, diz Silva, que é venezuelano e descendente de portugueses da Ilha da Madeira. Com base neles, o grupo calcula que o candidato oposicionista, o diplomata de carreira Edmundo González Urrutia, teve cerca de 67% dos votos. Mesmo assim, a autoridade eleitoral venezuelana, controlada por partidários de Maduro, declarou o ditador venezuelano vencedor. O regime disse que apresentaria todas as atas eleitorais, o que não foi feito até agora.

Em agosto, Celso Amorim disse ao Congresso que o governo brasileiro não reconheceria a eleição de Maduro se as atas não fossem apresentadas. Nos últimos meses, as relações entre Brasília e Caracas se deterioraram. No começo deste mês, o Itamaraty se disse surpreso com o “tom ofensivo” adotado pelas autoridades venezuelanas em relação ao Brasil.

Uma das atas eleitorais da disputa venezuelana de julho, quando Nicolas Maduro foi proclamado vencedor pelas autoridades locais Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

A nota veio depois que a Polícia Bolivariana do país publicou uma foto com a silhueta de Lula e a frase “Quem se mete com a Venezuela se dá mal”. Em resposta, Caracas acusou o Itamaraty de tentar “enganar” a comunidade internacional.

“Nós temos as atas, publicadas no nosso website, de 83,5% das mesas de votação. Recentemente, voltamos a processar os documentos e chegamos a 85%. Se você toma esses 15% que faltam, e 100% dos votos forem para Maduro, mesmo assim Edmundo González Urrutia tem 700 mil votos a mais. Uma grande vantagem”, diz Gustavo Silva ao Estadão.

Gustavo teve de deixar a Venezuela há cerca de um ano, com apenas uma mala de mão, por meio da fronteira com a Colômbia. Hoje, vive nos Estados Unidos. Embora tenha trabalhado no processo de coleta das atas organizado pela oposição, ele não é filiado a nenhum partido político.

Assim como Gustavo, vários outros representantes da oposição tiveram de deixar a Venezuela – como Edmundo González Urrutia – ou estão vivendo no país de forma precária. É o caso de Maria Corina Machado, a candidata original da Mesa da Unidade Democrática (MUD) venezuelana, impedida de concorrer pelas autoridades eleitorais. Em agosto, Maduro disse que Machado vivia na Venezuela como “foragida”. Na semana passada, o Ministério Público do país abriu investigação contra ela por “traição”.

“E é impossível que nesses 15% de atas aos quais não tivemos acesso, porque o governo e a Força Militar não quiseram dar, os eleitores tenham votado 100% em Maduro. O mais provável é que o comportamento fosse igual aos outros. Na relatoria, explicamos e mostramos como Urrutia ganhou em todos os Estados. Eu não vi isso em nenhum outro país da região. Não é normal que um candidato ganhe em todos os Estados do país”, afirma ele.

“Atas eleitorais são os documentos oficiais que emitem as máquinas (de votação). Nós temos um sistema eleitoral do Brasil, que é eletrônico. A urna eletrônica, ao final do processo, emite um documento com todos os resultados. É igual ao vosso boletim de urna. Igual. Apanhamos todos os boletins de urna, que por direito as nossas testemunhas podem pegar na mesa. Subimos para a nuvem e publicamos. Eu trabalhei no desenho e no acompanhamento desse processo”, diz ele.

O representante da oposição venezuelana em frente ao Palácio do Planalto, nesta segunda-feira (25) Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

“Nós nos inspiramos no plebiscito do Chile de 1988 (quando os chilenos decidiram encerrar o governo ditatorial de Augusto Pinochet e realizar eleições livres no ano seguinte). Naquela ocasião, um dos elementos de pressão da sociedade civil foi ter uma contagem paralela dos votos. Existia o temor de Pinochet fazer algum tipo de fraude. Tentamos então replicar isso aqui”, detalha Silva, que já trabalhou como observador internacional em vários países da América Latina.

“O que aconteceu? Maduro não quis reconhecer o resultado. Você acaba de ver uma ata original. Maduro não mostrou uma ata sequer. Nem um só boletim de urna. Qual foi a resposta de Maduro? Antes das eleições, nós tínhamos 300 presos políticos. Agora, são 2 mil”, diz ele.

“Nós temos aqui a verdade para mostrar a quem queira ver. E portanto vamos mostrar essas atas a autoridades do Executivo brasileiro, que têm acompanhado muito de perto a situação da Venezuela. Vamos nos reunir também com representantes do Congresso. Vamos ao Itamaraty e ao Congresso”, afirma.

Nos últimos dias, integrantes das forças de segurança da Venezuela passaram a cercar a residência oficial do embaixador argentino no país, onde ao menos seis pessoas da oposição venezuelana permanecem.

“É muito interessante que ocorra isso quando temos o (libertário Javier) Milei como presidente da Argentina, e o Lula no Brasil. Porque não é uma causa de direita x esquerda, e sim de direitos humanos. Estamos muito gratos pelo que fez o governo do Brasil, e que continua a fazer a cada dia. A bandeira do Brasil é a única coisa que protege neste momento as pessoas que estão asiladas nesta embaixada”, diz Gustavo.

BRASÍLIA - Nas eleições presidenciais venezuelanas de julho deste ano, o observador internacional Gustavo Silva, de 38 anos, foi um dos responsáveis por organizar o esforço da oposição para coletar, reunir e analisar dezenas de milhares de atas eleitorais. Nesta segunda-feira, 25, ele chegou a Brasília trazendo consigo uma amostra das atas originais. Os documentos serão apresentados a congressistas e a integrantes do Ministério das Relações Exteriores (MRE) nos próximos dias, diz ele.

Gustavo Silva, 38 anos, com as atas originais das eleições de julho deste ano na Venezuela Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

Ao todo, o grupo coordenado por Gustavo reuniu cerca de 25 mil atas eleitorais, suficientes para preencher várias maletas de documentos. A reportagem do Estadão teve a oportunidade de manusear alguns deles, trazidos por Gustavo, e conferir os códigos QR no pé de cada um dos boletins, nos quais estão registrados os votos dos candidatos. “Aqui estão as atas para o Celso Amorim (assessor internacional da Presidência) conferir”, disse ele.

Os boletins de urna reunidos pela oposição cobrem cerca de 85% dos locais de votação, diz Silva, que é venezuelano e descendente de portugueses da Ilha da Madeira. Com base neles, o grupo calcula que o candidato oposicionista, o diplomata de carreira Edmundo González Urrutia, teve cerca de 67% dos votos. Mesmo assim, a autoridade eleitoral venezuelana, controlada por partidários de Maduro, declarou o ditador venezuelano vencedor. O regime disse que apresentaria todas as atas eleitorais, o que não foi feito até agora.

Em agosto, Celso Amorim disse ao Congresso que o governo brasileiro não reconheceria a eleição de Maduro se as atas não fossem apresentadas. Nos últimos meses, as relações entre Brasília e Caracas se deterioraram. No começo deste mês, o Itamaraty se disse surpreso com o “tom ofensivo” adotado pelas autoridades venezuelanas em relação ao Brasil.

Uma das atas eleitorais da disputa venezuelana de julho, quando Nicolas Maduro foi proclamado vencedor pelas autoridades locais Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

A nota veio depois que a Polícia Bolivariana do país publicou uma foto com a silhueta de Lula e a frase “Quem se mete com a Venezuela se dá mal”. Em resposta, Caracas acusou o Itamaraty de tentar “enganar” a comunidade internacional.

“Nós temos as atas, publicadas no nosso website, de 83,5% das mesas de votação. Recentemente, voltamos a processar os documentos e chegamos a 85%. Se você toma esses 15% que faltam, e 100% dos votos forem para Maduro, mesmo assim Edmundo González Urrutia tem 700 mil votos a mais. Uma grande vantagem”, diz Gustavo Silva ao Estadão.

Gustavo teve de deixar a Venezuela há cerca de um ano, com apenas uma mala de mão, por meio da fronteira com a Colômbia. Hoje, vive nos Estados Unidos. Embora tenha trabalhado no processo de coleta das atas organizado pela oposição, ele não é filiado a nenhum partido político.

Assim como Gustavo, vários outros representantes da oposição tiveram de deixar a Venezuela – como Edmundo González Urrutia – ou estão vivendo no país de forma precária. É o caso de Maria Corina Machado, a candidata original da Mesa da Unidade Democrática (MUD) venezuelana, impedida de concorrer pelas autoridades eleitorais. Em agosto, Maduro disse que Machado vivia na Venezuela como “foragida”. Na semana passada, o Ministério Público do país abriu investigação contra ela por “traição”.

“E é impossível que nesses 15% de atas aos quais não tivemos acesso, porque o governo e a Força Militar não quiseram dar, os eleitores tenham votado 100% em Maduro. O mais provável é que o comportamento fosse igual aos outros. Na relatoria, explicamos e mostramos como Urrutia ganhou em todos os Estados. Eu não vi isso em nenhum outro país da região. Não é normal que um candidato ganhe em todos os Estados do país”, afirma ele.

“Atas eleitorais são os documentos oficiais que emitem as máquinas (de votação). Nós temos um sistema eleitoral do Brasil, que é eletrônico. A urna eletrônica, ao final do processo, emite um documento com todos os resultados. É igual ao vosso boletim de urna. Igual. Apanhamos todos os boletins de urna, que por direito as nossas testemunhas podem pegar na mesa. Subimos para a nuvem e publicamos. Eu trabalhei no desenho e no acompanhamento desse processo”, diz ele.

O representante da oposição venezuelana em frente ao Palácio do Planalto, nesta segunda-feira (25) Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

“Nós nos inspiramos no plebiscito do Chile de 1988 (quando os chilenos decidiram encerrar o governo ditatorial de Augusto Pinochet e realizar eleições livres no ano seguinte). Naquela ocasião, um dos elementos de pressão da sociedade civil foi ter uma contagem paralela dos votos. Existia o temor de Pinochet fazer algum tipo de fraude. Tentamos então replicar isso aqui”, detalha Silva, que já trabalhou como observador internacional em vários países da América Latina.

“O que aconteceu? Maduro não quis reconhecer o resultado. Você acaba de ver uma ata original. Maduro não mostrou uma ata sequer. Nem um só boletim de urna. Qual foi a resposta de Maduro? Antes das eleições, nós tínhamos 300 presos políticos. Agora, são 2 mil”, diz ele.

“Nós temos aqui a verdade para mostrar a quem queira ver. E portanto vamos mostrar essas atas a autoridades do Executivo brasileiro, que têm acompanhado muito de perto a situação da Venezuela. Vamos nos reunir também com representantes do Congresso. Vamos ao Itamaraty e ao Congresso”, afirma.

Nos últimos dias, integrantes das forças de segurança da Venezuela passaram a cercar a residência oficial do embaixador argentino no país, onde ao menos seis pessoas da oposição venezuelana permanecem.

“É muito interessante que ocorra isso quando temos o (libertário Javier) Milei como presidente da Argentina, e o Lula no Brasil. Porque não é uma causa de direita x esquerda, e sim de direitos humanos. Estamos muito gratos pelo que fez o governo do Brasil, e que continua a fazer a cada dia. A bandeira do Brasil é a única coisa que protege neste momento as pessoas que estão asiladas nesta embaixada”, diz Gustavo.

BRASÍLIA - Nas eleições presidenciais venezuelanas de julho deste ano, o observador internacional Gustavo Silva, de 38 anos, foi um dos responsáveis por organizar o esforço da oposição para coletar, reunir e analisar dezenas de milhares de atas eleitorais. Nesta segunda-feira, 25, ele chegou a Brasília trazendo consigo uma amostra das atas originais. Os documentos serão apresentados a congressistas e a integrantes do Ministério das Relações Exteriores (MRE) nos próximos dias, diz ele.

Gustavo Silva, 38 anos, com as atas originais das eleições de julho deste ano na Venezuela Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

Ao todo, o grupo coordenado por Gustavo reuniu cerca de 25 mil atas eleitorais, suficientes para preencher várias maletas de documentos. A reportagem do Estadão teve a oportunidade de manusear alguns deles, trazidos por Gustavo, e conferir os códigos QR no pé de cada um dos boletins, nos quais estão registrados os votos dos candidatos. “Aqui estão as atas para o Celso Amorim (assessor internacional da Presidência) conferir”, disse ele.

Os boletins de urna reunidos pela oposição cobrem cerca de 85% dos locais de votação, diz Silva, que é venezuelano e descendente de portugueses da Ilha da Madeira. Com base neles, o grupo calcula que o candidato oposicionista, o diplomata de carreira Edmundo González Urrutia, teve cerca de 67% dos votos. Mesmo assim, a autoridade eleitoral venezuelana, controlada por partidários de Maduro, declarou o ditador venezuelano vencedor. O regime disse que apresentaria todas as atas eleitorais, o que não foi feito até agora.

Em agosto, Celso Amorim disse ao Congresso que o governo brasileiro não reconheceria a eleição de Maduro se as atas não fossem apresentadas. Nos últimos meses, as relações entre Brasília e Caracas se deterioraram. No começo deste mês, o Itamaraty se disse surpreso com o “tom ofensivo” adotado pelas autoridades venezuelanas em relação ao Brasil.

Uma das atas eleitorais da disputa venezuelana de julho, quando Nicolas Maduro foi proclamado vencedor pelas autoridades locais Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

A nota veio depois que a Polícia Bolivariana do país publicou uma foto com a silhueta de Lula e a frase “Quem se mete com a Venezuela se dá mal”. Em resposta, Caracas acusou o Itamaraty de tentar “enganar” a comunidade internacional.

“Nós temos as atas, publicadas no nosso website, de 83,5% das mesas de votação. Recentemente, voltamos a processar os documentos e chegamos a 85%. Se você toma esses 15% que faltam, e 100% dos votos forem para Maduro, mesmo assim Edmundo González Urrutia tem 700 mil votos a mais. Uma grande vantagem”, diz Gustavo Silva ao Estadão.

Gustavo teve de deixar a Venezuela há cerca de um ano, com apenas uma mala de mão, por meio da fronteira com a Colômbia. Hoje, vive nos Estados Unidos. Embora tenha trabalhado no processo de coleta das atas organizado pela oposição, ele não é filiado a nenhum partido político.

Assim como Gustavo, vários outros representantes da oposição tiveram de deixar a Venezuela – como Edmundo González Urrutia – ou estão vivendo no país de forma precária. É o caso de Maria Corina Machado, a candidata original da Mesa da Unidade Democrática (MUD) venezuelana, impedida de concorrer pelas autoridades eleitorais. Em agosto, Maduro disse que Machado vivia na Venezuela como “foragida”. Na semana passada, o Ministério Público do país abriu investigação contra ela por “traição”.

“E é impossível que nesses 15% de atas aos quais não tivemos acesso, porque o governo e a Força Militar não quiseram dar, os eleitores tenham votado 100% em Maduro. O mais provável é que o comportamento fosse igual aos outros. Na relatoria, explicamos e mostramos como Urrutia ganhou em todos os Estados. Eu não vi isso em nenhum outro país da região. Não é normal que um candidato ganhe em todos os Estados do país”, afirma ele.

“Atas eleitorais são os documentos oficiais que emitem as máquinas (de votação). Nós temos um sistema eleitoral do Brasil, que é eletrônico. A urna eletrônica, ao final do processo, emite um documento com todos os resultados. É igual ao vosso boletim de urna. Igual. Apanhamos todos os boletins de urna, que por direito as nossas testemunhas podem pegar na mesa. Subimos para a nuvem e publicamos. Eu trabalhei no desenho e no acompanhamento desse processo”, diz ele.

O representante da oposição venezuelana em frente ao Palácio do Planalto, nesta segunda-feira (25) Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

“Nós nos inspiramos no plebiscito do Chile de 1988 (quando os chilenos decidiram encerrar o governo ditatorial de Augusto Pinochet e realizar eleições livres no ano seguinte). Naquela ocasião, um dos elementos de pressão da sociedade civil foi ter uma contagem paralela dos votos. Existia o temor de Pinochet fazer algum tipo de fraude. Tentamos então replicar isso aqui”, detalha Silva, que já trabalhou como observador internacional em vários países da América Latina.

“O que aconteceu? Maduro não quis reconhecer o resultado. Você acaba de ver uma ata original. Maduro não mostrou uma ata sequer. Nem um só boletim de urna. Qual foi a resposta de Maduro? Antes das eleições, nós tínhamos 300 presos políticos. Agora, são 2 mil”, diz ele.

“Nós temos aqui a verdade para mostrar a quem queira ver. E portanto vamos mostrar essas atas a autoridades do Executivo brasileiro, que têm acompanhado muito de perto a situação da Venezuela. Vamos nos reunir também com representantes do Congresso. Vamos ao Itamaraty e ao Congresso”, afirma.

Nos últimos dias, integrantes das forças de segurança da Venezuela passaram a cercar a residência oficial do embaixador argentino no país, onde ao menos seis pessoas da oposição venezuelana permanecem.

“É muito interessante que ocorra isso quando temos o (libertário Javier) Milei como presidente da Argentina, e o Lula no Brasil. Porque não é uma causa de direita x esquerda, e sim de direitos humanos. Estamos muito gratos pelo que fez o governo do Brasil, e que continua a fazer a cada dia. A bandeira do Brasil é a única coisa que protege neste momento as pessoas que estão asiladas nesta embaixada”, diz Gustavo.

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