RIAD - A Arábia Saudita rejeitou neste domingo, 14, qualquer ameaça de sanções ligadas ao desaparecimento do jornalista saudita Jamal Khashoggi, e ameaçou contra-atacar em caso de medidas hostis, um dia depois de o presidente americano, Donald Trump, prometer um “castigo severo” caso Riad esteja por trás desse caso. A Comissão de Relações Exteriores do Senado pediu uma investigação que poderia levar a aplicação de sanções.
“O reino rejeita qualquer ameaça ou tentativa de enfraquecê-lo, por ameaças de sanções econômicas ou por pressão política”, afirmou um funcionário que pediu anonimato, citado pela agência oficial SPA.
A fonte disse que Riad responderá a qualquer medida com uma reação ainda maior, e lembrou que a superpotência petrolífera saudita “desempenha um papel vital e efetivo na economia mundial”.
Trump ameaçou no sábado dar a Riad uma “severa punição” caso o reino esteja envolvido no caso Khashoggi, que supostamente teria sido morto por agentes sauditas dentro do consulado em Istambul.
O americano não descreveu, porém, quais punições a Arábia Saudita pode enfrentar. Ele indicou que Washington não quer prejudicar os estreitos laços de defesa, dizendo que os EUA estariam punindo a si próprios se suspendessem as vendas de equipamento militar para Riad.
Jamal Khashoggi, um jornalista crítico do poder de Riad e colaborador, entre outros, do jornal americano Washington Post, foi, no dia 2, ao consulado saudita em Istambul para obter um documento necessário para seu futuro casamento.
Desde então desapareceu e seu paradeiro é um mistério. Riad, que é suspeita de ter prendido, torturado e assassinado o jornalista, nega categoricamente qualquer envolvimento.
A Turquia, por sua vez, também acusou a Arábia Saudita de não cooperar nas investigações em torno do desaparecimento e, especialmente, de não deixar os investigadores turcos entrarem no consulado. Uma delegação saudita deve se reunir em Ancara com autoridades turcas para tratar da investigação.
O sumiço do jornalista saudita, que causou grande preocupação global, pode ter consequências significativas para o programa de reformas, especialmente as reformas econômicas, promovidas pelo príncipe herdeiro saudita Mohamed bin Salmán.
A ameaça fez com que o mercado acionário do maior exportador de petróleo do mundo perdesse US$ 33 bilhões de seu valor neste domingo, em um dos primeiros sinais dos problemas econômicos que Riad pode ter em decorrência da questão.
O índice acionário saudita caiu até 7%, na maior queda desde dezembro de 2014, quando os preços do petróleo estavam desabando. Posteriormente, ele se recuperou parcialmente, para fechar em queda de 3,5%. Os investidores sauditas reagiram principalmente às declarações de Trump.
Investigação
Reino Unido, França e Alemanha expressaram hoje a “grave preocupação” com o destino do jornalista e pediram uma “investigação crível” sobre o ocorrido.
Em comunicado conjunto, os ministros das Relações Exteriores dos três países, o britânico Jeremy Hunt, o francês Jean-Yves Le Drian e o alemão Heiko Maas afirmaram que tratam o incidente com a maior gravidade e cobram uma investigação.
Seu navegador não suporta esse video.
O rei Salman da Arábia Saudita nomeou por decreto nesta quarta-feira seu filho Mohamed como novo príncipe herdeiro do país, em substituição ao sobrinho Mohamed Bin Nayef, que foi destituído.
“Defender a liberdade de expressão, uma imprensa livre e garantir a proteção dos jornalistas são prioridades para a Alemanha, o Reino Unido e a França. É por isso que se deve esclarecer o desaparecimento do jornalista saudita Jamal Khashoggi”, afirma a nota.
Os três ministros compartilham as preocupações manifestadas por outros representantes internacionais, como o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.
Decepção
O caso Khashoggi diminuiu o entusiasmo que os investidores mostraram até uma semana atrás pelos projetos econômicos faraônicos do príncipe herdeiro.
“Há um tipo de incerteza sobre a situação do desaparecimento de Khashoggi, que faz com que o mercado caia”, explicou Mohamed Zidan, analista de estratégia da Thinkmarket em Dubai.
O bilionário britânico Richard Branson anunciou a suspensão de vários projetos no reino. Além disso, vários parceiros de renome anunciaram que não participarão do “Davos do deserto”, a segunda edição da conferência Future Investement Initiative, programada para ocorrer em Riad entre os dias 23 e 25./ AFP, REUTERS e EFE