Argentina no cheque especial: dívida de US$ 2 bi e reservas negativas pressionam candidato peronista


Governo, que acabou de definir Sergio Massa como seu candidato, tenta evitar um calote ao FMI até as eleições presidenciais de outubro

Por Carolina Marins
Atualização:

A Argentina se vê novamente diante de desafio conforme se aproxima o vencimento de mais uma parte do empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI), além de investidores privados, em um cenário em que o país tenta conter a fuga de dólares. Com as reservas líquidas de dólares já negativas, o ministro da Economia e agora candidato a presidente, Sergio Massa, tenta equilibrar as contas até as eleições em outubro.

O governo de Alberto Fernández tem que pagar US$ 1,3 bilhão ao FMI até esta sexta-feira, 7, e mais US$ 700 milhões até domingo a quem possui títulos privados. O montante, que em reais se aproximaria de R$ 9,6 bilhões), jogará as reservas do país para um histórico negativo de quase US$ 7 bilhões (R$ 33 bilhões) se somados aos US$ -5 bilhões atuais (R$ 24 bilhões). Um valor que, segundo consultorias e economistas, é recorde.

As reservas líquidas do Banco Central são o montante de dinheiro em mãos que o país tem para utilizar imediatamente caso seja necessário. Mas também existem as reservas brutas, que contam com passivos de valores que no caso argentino são compostos por ouro, yuan chinês, depósitos em dólares de bancos privados e outras dívidas.

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Pedestres caminham em frente ao Banco Central em Bueno Aires Foto: Agustin Marcarian/Reuters

O banco argentino defende que não existe essa separação entre líquidas e brutas e divulga apenas os valores totais de reservas. Economistas, por outro lado, defendem a separação, pois são os valores líquidos que dão o poder real de fogo do país e é uma variável considerada pelo FMI. Atualmente, as reservas brutas do Banco Central da República Argentina (BCRA) estão em US$ 28 bilhões.

É com este passivo bruto que a Argentina tem articulado para pagar sua dívida com o FMI e outros credores, já que seu poder em dólares de pagamento está no vermelho. Da última vez, o governo pagou sua dívida com yuan, a moeda chinesa, pela primeira vez, em um valor equivalente a US$ 1 bilhão. O restante foi complementado por Direitos Especiais de Saque, uma espécie de moeda do FMI.

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A ação, porém, é insustentável no futuro, já que cria um ciclo de empréstimos que só cresce em uma realidade em que não há mais dólares entrando. “Ninguém quer que a Argentina caia em falência faltando tão pouco para o governo mudar, então o FMI meio que olha pro outro lado e se faz de bobo, e vão acabar emprestando o dinheiro [para pagar a própria dívida] porque o contrário é mais custoso”, explica Juan Carlos Rosiello, professor e pesquisador do Centro de Análise Econômica da Universidade Católica Argentina (UCA).

“Existe um ditado muito famoso nas finanças que diz que se você deve 100 pesos ao banco, você tem um problema. Mas se você deve 100 milhões de pesos, o problema quem tem é o banco. É muito custoso ao FMI, que nos emprestou muito dinheiro, que a Argentine entre em calote, porque durante 15 anos não vai receber nada”, completa.

Frente a um cenário de inflação acima de 110%, uma seca histórica que retirou US$ 20 bilhões da produção agrícola do país e com menos receita de exportação, a Argentina tenta com o FMI uma mudança nas metas acordadas em março de 2022 para refinanciar a dívida contraída. Especulações na imprensa argentina sugerem que Massa dever enviar uma equipe para Washington esta terça ou quarta-feira para tentar liberar mais dólares do FMI.

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“É improvável que o FMI deixe a Argentina sem soluções”, afirma María Lourdes Puente, cientista política Diretora da Escola de Política e Governo da UCA. “Seria de alto custo institucional e político. Estamos em meio a uma negociação naturalmente tensa, isso não quer dizer que ela não será resolvida. De uma forma ou de outra, o FMI permitirá que a economia argentina enfrente o processo eleitoral, sem melhoras, mas sem surto de hiperinflação.”

A bola de neve que cresce na dívida argentina, explica o economista, tende a ser empurrada pelo FMI até dezembro, quando se acredita que um novo governo tomará posse no país. “O que o FMI espera é ter um interlocutor mais razoável que tenha um plano econômico que permita a promoção de exportações que gerem dólares para que com esses dólares no futuro se pague a dívida e se proponha um plano de mais longo prazo”, explica Rosiello.

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A expectativa é de que o pagamento desta sexta seja adiado, como aconteceu no mês anterior, já que as reservas em dólares devem continuar caindo para pagamentos de títulos.

A Argentina fechou um acordo com o FMI ainda no governo de Mauricio Macri, em 2018, no valor de US$ 50 bilhões, em razão de dificuldades fiscais. Em março de 2022, o presidente Alberto Fernández fez uma renegociação deste acordo com o fundo, no valor de US$ 45 bilhões.

O ministro da Economia e candidato à presidência da Argentina, Sergio Massa, abraça o presidente Alberto Fernández durante cúpula do Mercosul Foto: Juan Ignacio Roncoroni/EFE
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Impacto nas eleições

Com a definição de Massa como candidato pela coalizão União pela Pátria (antiga Frente de Todos), as listas estão fechadas para as PASO (Primárias, abertas, simultâneas e obrigatórias) de agosto. Na oposição estão Horacio Larreta e Patricia Bullrich disputando a vaga do Juntos pela Mudança, coalizão fundada por Maurício Macri. Além de Javier Milei, o libertário que é a novidade desta eleição.

Nas primeiras sondagens feitas após o fechamento das listas, e definição de Massa, o ministro da Economia aparece bem pontuado em grande parte das províncias argentinas. A exceção é Buenos Aires, província com maior número de eleitores, onde Bullrich tem levado a melhor. Mas ao reunir as sondagens por coalizão, o Juntos pela Mudança sai a frente do União pela Pátria.

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“Ele é o candidato mais competitivo do partido governista, mas não muda significativamente o cenário eleitoral”, explica María Lourdes Puente. “A oferta eleitoral melhorou com três candidatos importantes disputando o centro, dois candidatos importantes à direita e várias minorias do espectro à esquerda.”

Enquanto isso, Milei, que vinha em uma crescente desde o começo do ano em meio às disputas internas de seus rivais, parece estar atingindo um teto de votos. “Ele representa claramente o setor que acredita que o melhor a fazer é plantar uma bomba e começar a reconstruir tudo. Ninguém faria isso com sua casa, com sua família, nem nós, argentinos. Parou de crescer e não parece estar em condições de continuar, até porque os seus candidatos também não deslancham nas eleições provinciais”, completa a cientista política.

Para o FMI, está claro que haverá mudanças no governo da Casa Rosada, mesmo se Massa ganhar as eleições. “Se ganha Massa, seu governo em termos econômicos vai ser mais parecido com o que seria o Juntos pela Mudança do que com o que é atualmente [com o governo Fernández]”, afirma o economista.

Mas a realidade é que independentemente de quem ganhar em outubro, o cenário para a economia argentina será sombrio. Segundo consultorias argentinas, a gestão de Alberto Fernández deve terminar com as reservas líquidas negativas em US$ 15 bilhões.

“Não importa quem vem ano que vem, será um ano econômico muito complicado porque vão vir todos os ajustes que não são feitos há quatro anos, qualquer plano econômico vai ter um componente de ajuste muito forte, por isso o grande desafio para o próximo governo será como se ajustar e sobreviver.”

A Argentina se vê novamente diante de desafio conforme se aproxima o vencimento de mais uma parte do empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI), além de investidores privados, em um cenário em que o país tenta conter a fuga de dólares. Com as reservas líquidas de dólares já negativas, o ministro da Economia e agora candidato a presidente, Sergio Massa, tenta equilibrar as contas até as eleições em outubro.

O governo de Alberto Fernández tem que pagar US$ 1,3 bilhão ao FMI até esta sexta-feira, 7, e mais US$ 700 milhões até domingo a quem possui títulos privados. O montante, que em reais se aproximaria de R$ 9,6 bilhões), jogará as reservas do país para um histórico negativo de quase US$ 7 bilhões (R$ 33 bilhões) se somados aos US$ -5 bilhões atuais (R$ 24 bilhões). Um valor que, segundo consultorias e economistas, é recorde.

As reservas líquidas do Banco Central são o montante de dinheiro em mãos que o país tem para utilizar imediatamente caso seja necessário. Mas também existem as reservas brutas, que contam com passivos de valores que no caso argentino são compostos por ouro, yuan chinês, depósitos em dólares de bancos privados e outras dívidas.

Pedestres caminham em frente ao Banco Central em Bueno Aires Foto: Agustin Marcarian/Reuters

O banco argentino defende que não existe essa separação entre líquidas e brutas e divulga apenas os valores totais de reservas. Economistas, por outro lado, defendem a separação, pois são os valores líquidos que dão o poder real de fogo do país e é uma variável considerada pelo FMI. Atualmente, as reservas brutas do Banco Central da República Argentina (BCRA) estão em US$ 28 bilhões.

É com este passivo bruto que a Argentina tem articulado para pagar sua dívida com o FMI e outros credores, já que seu poder em dólares de pagamento está no vermelho. Da última vez, o governo pagou sua dívida com yuan, a moeda chinesa, pela primeira vez, em um valor equivalente a US$ 1 bilhão. O restante foi complementado por Direitos Especiais de Saque, uma espécie de moeda do FMI.

A ação, porém, é insustentável no futuro, já que cria um ciclo de empréstimos que só cresce em uma realidade em que não há mais dólares entrando. “Ninguém quer que a Argentina caia em falência faltando tão pouco para o governo mudar, então o FMI meio que olha pro outro lado e se faz de bobo, e vão acabar emprestando o dinheiro [para pagar a própria dívida] porque o contrário é mais custoso”, explica Juan Carlos Rosiello, professor e pesquisador do Centro de Análise Econômica da Universidade Católica Argentina (UCA).

“Existe um ditado muito famoso nas finanças que diz que se você deve 100 pesos ao banco, você tem um problema. Mas se você deve 100 milhões de pesos, o problema quem tem é o banco. É muito custoso ao FMI, que nos emprestou muito dinheiro, que a Argentine entre em calote, porque durante 15 anos não vai receber nada”, completa.

Frente a um cenário de inflação acima de 110%, uma seca histórica que retirou US$ 20 bilhões da produção agrícola do país e com menos receita de exportação, a Argentina tenta com o FMI uma mudança nas metas acordadas em março de 2022 para refinanciar a dívida contraída. Especulações na imprensa argentina sugerem que Massa dever enviar uma equipe para Washington esta terça ou quarta-feira para tentar liberar mais dólares do FMI.

“É improvável que o FMI deixe a Argentina sem soluções”, afirma María Lourdes Puente, cientista política Diretora da Escola de Política e Governo da UCA. “Seria de alto custo institucional e político. Estamos em meio a uma negociação naturalmente tensa, isso não quer dizer que ela não será resolvida. De uma forma ou de outra, o FMI permitirá que a economia argentina enfrente o processo eleitoral, sem melhoras, mas sem surto de hiperinflação.”

A bola de neve que cresce na dívida argentina, explica o economista, tende a ser empurrada pelo FMI até dezembro, quando se acredita que um novo governo tomará posse no país. “O que o FMI espera é ter um interlocutor mais razoável que tenha um plano econômico que permita a promoção de exportações que gerem dólares para que com esses dólares no futuro se pague a dívida e se proponha um plano de mais longo prazo”, explica Rosiello.

A expectativa é de que o pagamento desta sexta seja adiado, como aconteceu no mês anterior, já que as reservas em dólares devem continuar caindo para pagamentos de títulos.

A Argentina fechou um acordo com o FMI ainda no governo de Mauricio Macri, em 2018, no valor de US$ 50 bilhões, em razão de dificuldades fiscais. Em março de 2022, o presidente Alberto Fernández fez uma renegociação deste acordo com o fundo, no valor de US$ 45 bilhões.

O ministro da Economia e candidato à presidência da Argentina, Sergio Massa, abraça o presidente Alberto Fernández durante cúpula do Mercosul Foto: Juan Ignacio Roncoroni/EFE

Impacto nas eleições

Com a definição de Massa como candidato pela coalizão União pela Pátria (antiga Frente de Todos), as listas estão fechadas para as PASO (Primárias, abertas, simultâneas e obrigatórias) de agosto. Na oposição estão Horacio Larreta e Patricia Bullrich disputando a vaga do Juntos pela Mudança, coalizão fundada por Maurício Macri. Além de Javier Milei, o libertário que é a novidade desta eleição.

Nas primeiras sondagens feitas após o fechamento das listas, e definição de Massa, o ministro da Economia aparece bem pontuado em grande parte das províncias argentinas. A exceção é Buenos Aires, província com maior número de eleitores, onde Bullrich tem levado a melhor. Mas ao reunir as sondagens por coalizão, o Juntos pela Mudança sai a frente do União pela Pátria.

“Ele é o candidato mais competitivo do partido governista, mas não muda significativamente o cenário eleitoral”, explica María Lourdes Puente. “A oferta eleitoral melhorou com três candidatos importantes disputando o centro, dois candidatos importantes à direita e várias minorias do espectro à esquerda.”

Enquanto isso, Milei, que vinha em uma crescente desde o começo do ano em meio às disputas internas de seus rivais, parece estar atingindo um teto de votos. “Ele representa claramente o setor que acredita que o melhor a fazer é plantar uma bomba e começar a reconstruir tudo. Ninguém faria isso com sua casa, com sua família, nem nós, argentinos. Parou de crescer e não parece estar em condições de continuar, até porque os seus candidatos também não deslancham nas eleições provinciais”, completa a cientista política.

Para o FMI, está claro que haverá mudanças no governo da Casa Rosada, mesmo se Massa ganhar as eleições. “Se ganha Massa, seu governo em termos econômicos vai ser mais parecido com o que seria o Juntos pela Mudança do que com o que é atualmente [com o governo Fernández]”, afirma o economista.

Mas a realidade é que independentemente de quem ganhar em outubro, o cenário para a economia argentina será sombrio. Segundo consultorias argentinas, a gestão de Alberto Fernández deve terminar com as reservas líquidas negativas em US$ 15 bilhões.

“Não importa quem vem ano que vem, será um ano econômico muito complicado porque vão vir todos os ajustes que não são feitos há quatro anos, qualquer plano econômico vai ter um componente de ajuste muito forte, por isso o grande desafio para o próximo governo será como se ajustar e sobreviver.”

A Argentina se vê novamente diante de desafio conforme se aproxima o vencimento de mais uma parte do empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI), além de investidores privados, em um cenário em que o país tenta conter a fuga de dólares. Com as reservas líquidas de dólares já negativas, o ministro da Economia e agora candidato a presidente, Sergio Massa, tenta equilibrar as contas até as eleições em outubro.

O governo de Alberto Fernández tem que pagar US$ 1,3 bilhão ao FMI até esta sexta-feira, 7, e mais US$ 700 milhões até domingo a quem possui títulos privados. O montante, que em reais se aproximaria de R$ 9,6 bilhões), jogará as reservas do país para um histórico negativo de quase US$ 7 bilhões (R$ 33 bilhões) se somados aos US$ -5 bilhões atuais (R$ 24 bilhões). Um valor que, segundo consultorias e economistas, é recorde.

As reservas líquidas do Banco Central são o montante de dinheiro em mãos que o país tem para utilizar imediatamente caso seja necessário. Mas também existem as reservas brutas, que contam com passivos de valores que no caso argentino são compostos por ouro, yuan chinês, depósitos em dólares de bancos privados e outras dívidas.

Pedestres caminham em frente ao Banco Central em Bueno Aires Foto: Agustin Marcarian/Reuters

O banco argentino defende que não existe essa separação entre líquidas e brutas e divulga apenas os valores totais de reservas. Economistas, por outro lado, defendem a separação, pois são os valores líquidos que dão o poder real de fogo do país e é uma variável considerada pelo FMI. Atualmente, as reservas brutas do Banco Central da República Argentina (BCRA) estão em US$ 28 bilhões.

É com este passivo bruto que a Argentina tem articulado para pagar sua dívida com o FMI e outros credores, já que seu poder em dólares de pagamento está no vermelho. Da última vez, o governo pagou sua dívida com yuan, a moeda chinesa, pela primeira vez, em um valor equivalente a US$ 1 bilhão. O restante foi complementado por Direitos Especiais de Saque, uma espécie de moeda do FMI.

A ação, porém, é insustentável no futuro, já que cria um ciclo de empréstimos que só cresce em uma realidade em que não há mais dólares entrando. “Ninguém quer que a Argentina caia em falência faltando tão pouco para o governo mudar, então o FMI meio que olha pro outro lado e se faz de bobo, e vão acabar emprestando o dinheiro [para pagar a própria dívida] porque o contrário é mais custoso”, explica Juan Carlos Rosiello, professor e pesquisador do Centro de Análise Econômica da Universidade Católica Argentina (UCA).

“Existe um ditado muito famoso nas finanças que diz que se você deve 100 pesos ao banco, você tem um problema. Mas se você deve 100 milhões de pesos, o problema quem tem é o banco. É muito custoso ao FMI, que nos emprestou muito dinheiro, que a Argentine entre em calote, porque durante 15 anos não vai receber nada”, completa.

Frente a um cenário de inflação acima de 110%, uma seca histórica que retirou US$ 20 bilhões da produção agrícola do país e com menos receita de exportação, a Argentina tenta com o FMI uma mudança nas metas acordadas em março de 2022 para refinanciar a dívida contraída. Especulações na imprensa argentina sugerem que Massa dever enviar uma equipe para Washington esta terça ou quarta-feira para tentar liberar mais dólares do FMI.

“É improvável que o FMI deixe a Argentina sem soluções”, afirma María Lourdes Puente, cientista política Diretora da Escola de Política e Governo da UCA. “Seria de alto custo institucional e político. Estamos em meio a uma negociação naturalmente tensa, isso não quer dizer que ela não será resolvida. De uma forma ou de outra, o FMI permitirá que a economia argentina enfrente o processo eleitoral, sem melhoras, mas sem surto de hiperinflação.”

A bola de neve que cresce na dívida argentina, explica o economista, tende a ser empurrada pelo FMI até dezembro, quando se acredita que um novo governo tomará posse no país. “O que o FMI espera é ter um interlocutor mais razoável que tenha um plano econômico que permita a promoção de exportações que gerem dólares para que com esses dólares no futuro se pague a dívida e se proponha um plano de mais longo prazo”, explica Rosiello.

A expectativa é de que o pagamento desta sexta seja adiado, como aconteceu no mês anterior, já que as reservas em dólares devem continuar caindo para pagamentos de títulos.

A Argentina fechou um acordo com o FMI ainda no governo de Mauricio Macri, em 2018, no valor de US$ 50 bilhões, em razão de dificuldades fiscais. Em março de 2022, o presidente Alberto Fernández fez uma renegociação deste acordo com o fundo, no valor de US$ 45 bilhões.

O ministro da Economia e candidato à presidência da Argentina, Sergio Massa, abraça o presidente Alberto Fernández durante cúpula do Mercosul Foto: Juan Ignacio Roncoroni/EFE

Impacto nas eleições

Com a definição de Massa como candidato pela coalizão União pela Pátria (antiga Frente de Todos), as listas estão fechadas para as PASO (Primárias, abertas, simultâneas e obrigatórias) de agosto. Na oposição estão Horacio Larreta e Patricia Bullrich disputando a vaga do Juntos pela Mudança, coalizão fundada por Maurício Macri. Além de Javier Milei, o libertário que é a novidade desta eleição.

Nas primeiras sondagens feitas após o fechamento das listas, e definição de Massa, o ministro da Economia aparece bem pontuado em grande parte das províncias argentinas. A exceção é Buenos Aires, província com maior número de eleitores, onde Bullrich tem levado a melhor. Mas ao reunir as sondagens por coalizão, o Juntos pela Mudança sai a frente do União pela Pátria.

“Ele é o candidato mais competitivo do partido governista, mas não muda significativamente o cenário eleitoral”, explica María Lourdes Puente. “A oferta eleitoral melhorou com três candidatos importantes disputando o centro, dois candidatos importantes à direita e várias minorias do espectro à esquerda.”

Enquanto isso, Milei, que vinha em uma crescente desde o começo do ano em meio às disputas internas de seus rivais, parece estar atingindo um teto de votos. “Ele representa claramente o setor que acredita que o melhor a fazer é plantar uma bomba e começar a reconstruir tudo. Ninguém faria isso com sua casa, com sua família, nem nós, argentinos. Parou de crescer e não parece estar em condições de continuar, até porque os seus candidatos também não deslancham nas eleições provinciais”, completa a cientista política.

Para o FMI, está claro que haverá mudanças no governo da Casa Rosada, mesmo se Massa ganhar as eleições. “Se ganha Massa, seu governo em termos econômicos vai ser mais parecido com o que seria o Juntos pela Mudança do que com o que é atualmente [com o governo Fernández]”, afirma o economista.

Mas a realidade é que independentemente de quem ganhar em outubro, o cenário para a economia argentina será sombrio. Segundo consultorias argentinas, a gestão de Alberto Fernández deve terminar com as reservas líquidas negativas em US$ 15 bilhões.

“Não importa quem vem ano que vem, será um ano econômico muito complicado porque vão vir todos os ajustes que não são feitos há quatro anos, qualquer plano econômico vai ter um componente de ajuste muito forte, por isso o grande desafio para o próximo governo será como se ajustar e sobreviver.”

A Argentina se vê novamente diante de desafio conforme se aproxima o vencimento de mais uma parte do empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI), além de investidores privados, em um cenário em que o país tenta conter a fuga de dólares. Com as reservas líquidas de dólares já negativas, o ministro da Economia e agora candidato a presidente, Sergio Massa, tenta equilibrar as contas até as eleições em outubro.

O governo de Alberto Fernández tem que pagar US$ 1,3 bilhão ao FMI até esta sexta-feira, 7, e mais US$ 700 milhões até domingo a quem possui títulos privados. O montante, que em reais se aproximaria de R$ 9,6 bilhões), jogará as reservas do país para um histórico negativo de quase US$ 7 bilhões (R$ 33 bilhões) se somados aos US$ -5 bilhões atuais (R$ 24 bilhões). Um valor que, segundo consultorias e economistas, é recorde.

As reservas líquidas do Banco Central são o montante de dinheiro em mãos que o país tem para utilizar imediatamente caso seja necessário. Mas também existem as reservas brutas, que contam com passivos de valores que no caso argentino são compostos por ouro, yuan chinês, depósitos em dólares de bancos privados e outras dívidas.

Pedestres caminham em frente ao Banco Central em Bueno Aires Foto: Agustin Marcarian/Reuters

O banco argentino defende que não existe essa separação entre líquidas e brutas e divulga apenas os valores totais de reservas. Economistas, por outro lado, defendem a separação, pois são os valores líquidos que dão o poder real de fogo do país e é uma variável considerada pelo FMI. Atualmente, as reservas brutas do Banco Central da República Argentina (BCRA) estão em US$ 28 bilhões.

É com este passivo bruto que a Argentina tem articulado para pagar sua dívida com o FMI e outros credores, já que seu poder em dólares de pagamento está no vermelho. Da última vez, o governo pagou sua dívida com yuan, a moeda chinesa, pela primeira vez, em um valor equivalente a US$ 1 bilhão. O restante foi complementado por Direitos Especiais de Saque, uma espécie de moeda do FMI.

A ação, porém, é insustentável no futuro, já que cria um ciclo de empréstimos que só cresce em uma realidade em que não há mais dólares entrando. “Ninguém quer que a Argentina caia em falência faltando tão pouco para o governo mudar, então o FMI meio que olha pro outro lado e se faz de bobo, e vão acabar emprestando o dinheiro [para pagar a própria dívida] porque o contrário é mais custoso”, explica Juan Carlos Rosiello, professor e pesquisador do Centro de Análise Econômica da Universidade Católica Argentina (UCA).

“Existe um ditado muito famoso nas finanças que diz que se você deve 100 pesos ao banco, você tem um problema. Mas se você deve 100 milhões de pesos, o problema quem tem é o banco. É muito custoso ao FMI, que nos emprestou muito dinheiro, que a Argentine entre em calote, porque durante 15 anos não vai receber nada”, completa.

Frente a um cenário de inflação acima de 110%, uma seca histórica que retirou US$ 20 bilhões da produção agrícola do país e com menos receita de exportação, a Argentina tenta com o FMI uma mudança nas metas acordadas em março de 2022 para refinanciar a dívida contraída. Especulações na imprensa argentina sugerem que Massa dever enviar uma equipe para Washington esta terça ou quarta-feira para tentar liberar mais dólares do FMI.

“É improvável que o FMI deixe a Argentina sem soluções”, afirma María Lourdes Puente, cientista política Diretora da Escola de Política e Governo da UCA. “Seria de alto custo institucional e político. Estamos em meio a uma negociação naturalmente tensa, isso não quer dizer que ela não será resolvida. De uma forma ou de outra, o FMI permitirá que a economia argentina enfrente o processo eleitoral, sem melhoras, mas sem surto de hiperinflação.”

A bola de neve que cresce na dívida argentina, explica o economista, tende a ser empurrada pelo FMI até dezembro, quando se acredita que um novo governo tomará posse no país. “O que o FMI espera é ter um interlocutor mais razoável que tenha um plano econômico que permita a promoção de exportações que gerem dólares para que com esses dólares no futuro se pague a dívida e se proponha um plano de mais longo prazo”, explica Rosiello.

A expectativa é de que o pagamento desta sexta seja adiado, como aconteceu no mês anterior, já que as reservas em dólares devem continuar caindo para pagamentos de títulos.

A Argentina fechou um acordo com o FMI ainda no governo de Mauricio Macri, em 2018, no valor de US$ 50 bilhões, em razão de dificuldades fiscais. Em março de 2022, o presidente Alberto Fernández fez uma renegociação deste acordo com o fundo, no valor de US$ 45 bilhões.

O ministro da Economia e candidato à presidência da Argentina, Sergio Massa, abraça o presidente Alberto Fernández durante cúpula do Mercosul Foto: Juan Ignacio Roncoroni/EFE

Impacto nas eleições

Com a definição de Massa como candidato pela coalizão União pela Pátria (antiga Frente de Todos), as listas estão fechadas para as PASO (Primárias, abertas, simultâneas e obrigatórias) de agosto. Na oposição estão Horacio Larreta e Patricia Bullrich disputando a vaga do Juntos pela Mudança, coalizão fundada por Maurício Macri. Além de Javier Milei, o libertário que é a novidade desta eleição.

Nas primeiras sondagens feitas após o fechamento das listas, e definição de Massa, o ministro da Economia aparece bem pontuado em grande parte das províncias argentinas. A exceção é Buenos Aires, província com maior número de eleitores, onde Bullrich tem levado a melhor. Mas ao reunir as sondagens por coalizão, o Juntos pela Mudança sai a frente do União pela Pátria.

“Ele é o candidato mais competitivo do partido governista, mas não muda significativamente o cenário eleitoral”, explica María Lourdes Puente. “A oferta eleitoral melhorou com três candidatos importantes disputando o centro, dois candidatos importantes à direita e várias minorias do espectro à esquerda.”

Enquanto isso, Milei, que vinha em uma crescente desde o começo do ano em meio às disputas internas de seus rivais, parece estar atingindo um teto de votos. “Ele representa claramente o setor que acredita que o melhor a fazer é plantar uma bomba e começar a reconstruir tudo. Ninguém faria isso com sua casa, com sua família, nem nós, argentinos. Parou de crescer e não parece estar em condições de continuar, até porque os seus candidatos também não deslancham nas eleições provinciais”, completa a cientista política.

Para o FMI, está claro que haverá mudanças no governo da Casa Rosada, mesmo se Massa ganhar as eleições. “Se ganha Massa, seu governo em termos econômicos vai ser mais parecido com o que seria o Juntos pela Mudança do que com o que é atualmente [com o governo Fernández]”, afirma o economista.

Mas a realidade é que independentemente de quem ganhar em outubro, o cenário para a economia argentina será sombrio. Segundo consultorias argentinas, a gestão de Alberto Fernández deve terminar com as reservas líquidas negativas em US$ 15 bilhões.

“Não importa quem vem ano que vem, será um ano econômico muito complicado porque vão vir todos os ajustes que não são feitos há quatro anos, qualquer plano econômico vai ter um componente de ajuste muito forte, por isso o grande desafio para o próximo governo será como se ajustar e sobreviver.”

A Argentina se vê novamente diante de desafio conforme se aproxima o vencimento de mais uma parte do empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI), além de investidores privados, em um cenário em que o país tenta conter a fuga de dólares. Com as reservas líquidas de dólares já negativas, o ministro da Economia e agora candidato a presidente, Sergio Massa, tenta equilibrar as contas até as eleições em outubro.

O governo de Alberto Fernández tem que pagar US$ 1,3 bilhão ao FMI até esta sexta-feira, 7, e mais US$ 700 milhões até domingo a quem possui títulos privados. O montante, que em reais se aproximaria de R$ 9,6 bilhões), jogará as reservas do país para um histórico negativo de quase US$ 7 bilhões (R$ 33 bilhões) se somados aos US$ -5 bilhões atuais (R$ 24 bilhões). Um valor que, segundo consultorias e economistas, é recorde.

As reservas líquidas do Banco Central são o montante de dinheiro em mãos que o país tem para utilizar imediatamente caso seja necessário. Mas também existem as reservas brutas, que contam com passivos de valores que no caso argentino são compostos por ouro, yuan chinês, depósitos em dólares de bancos privados e outras dívidas.

Pedestres caminham em frente ao Banco Central em Bueno Aires Foto: Agustin Marcarian/Reuters

O banco argentino defende que não existe essa separação entre líquidas e brutas e divulga apenas os valores totais de reservas. Economistas, por outro lado, defendem a separação, pois são os valores líquidos que dão o poder real de fogo do país e é uma variável considerada pelo FMI. Atualmente, as reservas brutas do Banco Central da República Argentina (BCRA) estão em US$ 28 bilhões.

É com este passivo bruto que a Argentina tem articulado para pagar sua dívida com o FMI e outros credores, já que seu poder em dólares de pagamento está no vermelho. Da última vez, o governo pagou sua dívida com yuan, a moeda chinesa, pela primeira vez, em um valor equivalente a US$ 1 bilhão. O restante foi complementado por Direitos Especiais de Saque, uma espécie de moeda do FMI.

A ação, porém, é insustentável no futuro, já que cria um ciclo de empréstimos que só cresce em uma realidade em que não há mais dólares entrando. “Ninguém quer que a Argentina caia em falência faltando tão pouco para o governo mudar, então o FMI meio que olha pro outro lado e se faz de bobo, e vão acabar emprestando o dinheiro [para pagar a própria dívida] porque o contrário é mais custoso”, explica Juan Carlos Rosiello, professor e pesquisador do Centro de Análise Econômica da Universidade Católica Argentina (UCA).

“Existe um ditado muito famoso nas finanças que diz que se você deve 100 pesos ao banco, você tem um problema. Mas se você deve 100 milhões de pesos, o problema quem tem é o banco. É muito custoso ao FMI, que nos emprestou muito dinheiro, que a Argentine entre em calote, porque durante 15 anos não vai receber nada”, completa.

Frente a um cenário de inflação acima de 110%, uma seca histórica que retirou US$ 20 bilhões da produção agrícola do país e com menos receita de exportação, a Argentina tenta com o FMI uma mudança nas metas acordadas em março de 2022 para refinanciar a dívida contraída. Especulações na imprensa argentina sugerem que Massa dever enviar uma equipe para Washington esta terça ou quarta-feira para tentar liberar mais dólares do FMI.

“É improvável que o FMI deixe a Argentina sem soluções”, afirma María Lourdes Puente, cientista política Diretora da Escola de Política e Governo da UCA. “Seria de alto custo institucional e político. Estamos em meio a uma negociação naturalmente tensa, isso não quer dizer que ela não será resolvida. De uma forma ou de outra, o FMI permitirá que a economia argentina enfrente o processo eleitoral, sem melhoras, mas sem surto de hiperinflação.”

A bola de neve que cresce na dívida argentina, explica o economista, tende a ser empurrada pelo FMI até dezembro, quando se acredita que um novo governo tomará posse no país. “O que o FMI espera é ter um interlocutor mais razoável que tenha um plano econômico que permita a promoção de exportações que gerem dólares para que com esses dólares no futuro se pague a dívida e se proponha um plano de mais longo prazo”, explica Rosiello.

A expectativa é de que o pagamento desta sexta seja adiado, como aconteceu no mês anterior, já que as reservas em dólares devem continuar caindo para pagamentos de títulos.

A Argentina fechou um acordo com o FMI ainda no governo de Mauricio Macri, em 2018, no valor de US$ 50 bilhões, em razão de dificuldades fiscais. Em março de 2022, o presidente Alberto Fernández fez uma renegociação deste acordo com o fundo, no valor de US$ 45 bilhões.

O ministro da Economia e candidato à presidência da Argentina, Sergio Massa, abraça o presidente Alberto Fernández durante cúpula do Mercosul Foto: Juan Ignacio Roncoroni/EFE

Impacto nas eleições

Com a definição de Massa como candidato pela coalizão União pela Pátria (antiga Frente de Todos), as listas estão fechadas para as PASO (Primárias, abertas, simultâneas e obrigatórias) de agosto. Na oposição estão Horacio Larreta e Patricia Bullrich disputando a vaga do Juntos pela Mudança, coalizão fundada por Maurício Macri. Além de Javier Milei, o libertário que é a novidade desta eleição.

Nas primeiras sondagens feitas após o fechamento das listas, e definição de Massa, o ministro da Economia aparece bem pontuado em grande parte das províncias argentinas. A exceção é Buenos Aires, província com maior número de eleitores, onde Bullrich tem levado a melhor. Mas ao reunir as sondagens por coalizão, o Juntos pela Mudança sai a frente do União pela Pátria.

“Ele é o candidato mais competitivo do partido governista, mas não muda significativamente o cenário eleitoral”, explica María Lourdes Puente. “A oferta eleitoral melhorou com três candidatos importantes disputando o centro, dois candidatos importantes à direita e várias minorias do espectro à esquerda.”

Enquanto isso, Milei, que vinha em uma crescente desde o começo do ano em meio às disputas internas de seus rivais, parece estar atingindo um teto de votos. “Ele representa claramente o setor que acredita que o melhor a fazer é plantar uma bomba e começar a reconstruir tudo. Ninguém faria isso com sua casa, com sua família, nem nós, argentinos. Parou de crescer e não parece estar em condições de continuar, até porque os seus candidatos também não deslancham nas eleições provinciais”, completa a cientista política.

Para o FMI, está claro que haverá mudanças no governo da Casa Rosada, mesmo se Massa ganhar as eleições. “Se ganha Massa, seu governo em termos econômicos vai ser mais parecido com o que seria o Juntos pela Mudança do que com o que é atualmente [com o governo Fernández]”, afirma o economista.

Mas a realidade é que independentemente de quem ganhar em outubro, o cenário para a economia argentina será sombrio. Segundo consultorias argentinas, a gestão de Alberto Fernández deve terminar com as reservas líquidas negativas em US$ 15 bilhões.

“Não importa quem vem ano que vem, será um ano econômico muito complicado porque vão vir todos os ajustes que não são feitos há quatro anos, qualquer plano econômico vai ter um componente de ajuste muito forte, por isso o grande desafio para o próximo governo será como se ajustar e sobreviver.”

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