Argentina vê salto no número de imigrantes mesmo com crise econômica


Imigrantes da América do Sul, como o Brasil, são maioria; país é considerado pela ONU o mais receptivo da região

Por Amanda Cotrim / Especial para o Estadão

BUENOS AIRES - Mesmo em crise econômica, a Argentina se tornou um dos destinos mais procurados por imigrantes da América do Sul. Atualmente, são 2,2 milhões de estrangeiros, os quais representam 5% da população do país, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas. Desse número, 95% são imigrantes de países como Brasil, Venezuela, Paraguai, Peru, Bolívia e Chile.

A comunidade venezuelana foi a que mais cresceu na Argentina nos últimos três anos, com 300 mil residências outorgadas. Outro grupo que aumentou no país foram os brasileiros, com 20 mil novos imigrantes de 2018 a 2021, segundo a ONU. Os últimos dados do Itamaraty apontam que 70 mil brasileiros vivem na Argentina. A maioria busca escolher o país pela qualidade de vida e acadêmica das universidades.

A brasileira Maria Zilda Gramacho, 35 anos, migrou com o marido e a filha de 14 anos, em dezembro de 2021. Com a vantagem do trabalho remoto do casal, a família não teve dúvidas na hora de fazer as malas e deixar Salvador, na Bahia. Maria conta que a maior motivação para migrar foi a busca por qualidade de vida.

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Família troca Brasil por Argentina em busca de qualidade de vida Foto: Arquivo Pessoal

“O Brasil se tornou insustentável. Aumento da violência e do custo de vida foram determinantes para buscarmos outro país. A Argentina, mesmo em crise, nos proporciona qualidade de vida. Buenos Aires é uma cidade segura, com diversas ofertas culturais e custo de vida baixo em relação ao Brasil”, comparou.

Maria trabalha com atendimento ao cliente em uma empresa uruguaia e ganha em dólar. O marido também trabalha remotamente para um escritório de advocacia no Brasil e ganha em reais. Ela reconhece que o fator “moeda estrangeira” proporciona uma vida mais confortável na Argentina, onde a moeda nacional está cada dia mais desvalorizada.

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Moeda fraca atrai brasileiros

Depois de se planejar por um ano, pesquisando tudo sobre a Argentina, a psicóloga Iasmin Souza, de 30 anos, migrou sozinha, em fevereiro de 2022. Ela saiu de Salvador com a intenção de fazer pós-graduação na área de psicologia e conquistar melhor qualidade de vida. Buenos Aires se tornou atrativa pela proximidade com o Brasil, pela qualidade das universidades públicas e pela moeda.

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“Parte do meu trabalho é remoto para o Brasil, e parte é feito aqui na Argentina. Percebo que meu trabalho é muito desvalorizado quando cobrado na moeda local. Ganhando em real, no entanto, o poder de compra é muito maior do que eu tinha no Brasil, além da qualidade de vida. Me sinto segura na rua, o transporte público funciona 24 horas por dia e eu ando com celular na mão sem medo”, revelou.

Quem ganha em dólar ou real, por exemplo, tem vantagem na hora de fazer o câmbio. No mercado paralelo, onde a maioria da população imigrante que ganha em moeda estrangeira troca o dinheiro, 1 real vale 54 pesos, pela cotação do Wester Union. Já a cotação atual do dólar blue está em 290.

Venezuelanos na Argentina

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Os venezuelanos são os que mais migraram para a Argentina nos últimos anos. Em 2018, ano em que a economia se deteriorou na Venezuela, Luís Freitas tinha apenas 18 anos quando, junto com a mãe e o primo, atravessou a fronteira para o Brasil, depois de vender um carro que pagou os custos da viagem. Ele seguiu seu caminho rumo à Argentina, com destino a Buenos Aires, onde um primo os esperava.

“Não troco a segurança urbana de Buenos Aires pela de Caracas, ainda que a crise aqui não permita guardar dinheiro, comprar roupa ou viajar sempre que a gente deseja. O que eu ganho é suficiente para ajudar minha família, comer e pagar aluguel”, explicou Freitas, hoje, com 24 anos, e que trabalha- informal- em uma loja de celulares, na capital, e mora com a mãe e o primo em um bairro de classe média portenho.

Maria e a família se mudaram para Argentina em dezembro de 2021 Foto: Arquivo Pessoal
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Apesar de reconhecer que a situação econômica da Argentina e da Venezuela não são parecidas, Freitas teme que o empobrecimento da população e o aumento da desigualdade social no país levem as pessoas a atitudes extremas. “Quando a fome chega, quem não tem oportunidade pode fazer coisas terríveis. Temo que a crise produza violência, delinquência e insegurança, como aconteceu no meu país”, refletiu.

Argentina recebe uma refeição em uma instituição de caridade de Buenos Aires; mesmo com crise econômica, país atrai imigrantes da região Foto: Rodrigo Abd/AP - 15/11/2022

Petter Rondon, de 34 anos, migrou para a Argentina com a esposa em 2017. Eles também cruzaram a fronteira com o Brasil, tomaram um avião de Boa Vista a Foz do Iguaçu e da cidade brasileira chegaram a Buenos Aires de ônibus. A escolha do casal pelo país de Maradona se deu por causa de um amigo argentino que morou em Caracas e os ajudou a migrar.

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Ele é desenhador industrial e a companheira arquiteta. Hoje, os dois trabalham em um escritório de projetos de móveis, em Buenos Aires. “Por sorte, temos trabalho e nossa vida está muito melhor do que quando vivíamos na Venezuela. Conseguimos ajudar nossa família e podemos viver tranquilos, sem excessos”, contextualizou. A alta inflação argentina, no entanto, o preocupa: “A situação econômica aqui começou a piorar em 2019, quando o dólar que estava em 20 subiu para 40 e o peso argentino se desvalorizou muito rapidamente. Daí em diante, a economia só degringolou.

Perguntado se a Argentina poderia viver uma crise social como a Venezuela, Rondon é enfático: “Não acredito. Só tínhamos o petróleo. A Argentina tem o campo e muitas empresas. Além disso, Chávez expropriou os ingressos de dólar no país, tinha o apoio dos militares. O contexto argentino é absolutamente diferente. É uma bobagem a comparação”, opinou.

Receptividade atrai imigrantes

Outro fator que pode explicar a predileção de imigrantes sul americanos pela Argentina é que o país é considerado pela ONU um dos mais receptivos na América do Sul para imigrantes, ocupando o 84º lugar no mundo em porcentagem de estrangeiros em relação ao total da população.

Ciclista trabalha como entregadora em Buenos Aires; qualidade de vida na capital argentina é um dos motivos que atraem imigrantes da região Foto: Andres Martinez Casares/Reuters - 1/12/2018

Para os imigrantes de países do Mercosul e de aliados ao bloco, o processo de residência é menos burocrático, já que não precisam apresentar vínculo de trabalho, estudo ou vínculo familiar direto, como é exigido das pessoas de outras nacionalidades. Para brasileiros, os trâmites são ainda mais facilitados, graças a um acordo bilateral, imigrantes dos dois países conseguem a residência permanente de modo direto, sem a necessidade de receber a residência provisória antes. Todo o processo pode ser feito online.

BUENOS AIRES - Mesmo em crise econômica, a Argentina se tornou um dos destinos mais procurados por imigrantes da América do Sul. Atualmente, são 2,2 milhões de estrangeiros, os quais representam 5% da população do país, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas. Desse número, 95% são imigrantes de países como Brasil, Venezuela, Paraguai, Peru, Bolívia e Chile.

A comunidade venezuelana foi a que mais cresceu na Argentina nos últimos três anos, com 300 mil residências outorgadas. Outro grupo que aumentou no país foram os brasileiros, com 20 mil novos imigrantes de 2018 a 2021, segundo a ONU. Os últimos dados do Itamaraty apontam que 70 mil brasileiros vivem na Argentina. A maioria busca escolher o país pela qualidade de vida e acadêmica das universidades.

A brasileira Maria Zilda Gramacho, 35 anos, migrou com o marido e a filha de 14 anos, em dezembro de 2021. Com a vantagem do trabalho remoto do casal, a família não teve dúvidas na hora de fazer as malas e deixar Salvador, na Bahia. Maria conta que a maior motivação para migrar foi a busca por qualidade de vida.

Família troca Brasil por Argentina em busca de qualidade de vida Foto: Arquivo Pessoal

“O Brasil se tornou insustentável. Aumento da violência e do custo de vida foram determinantes para buscarmos outro país. A Argentina, mesmo em crise, nos proporciona qualidade de vida. Buenos Aires é uma cidade segura, com diversas ofertas culturais e custo de vida baixo em relação ao Brasil”, comparou.

Maria trabalha com atendimento ao cliente em uma empresa uruguaia e ganha em dólar. O marido também trabalha remotamente para um escritório de advocacia no Brasil e ganha em reais. Ela reconhece que o fator “moeda estrangeira” proporciona uma vida mais confortável na Argentina, onde a moeda nacional está cada dia mais desvalorizada.

Moeda fraca atrai brasileiros

Depois de se planejar por um ano, pesquisando tudo sobre a Argentina, a psicóloga Iasmin Souza, de 30 anos, migrou sozinha, em fevereiro de 2022. Ela saiu de Salvador com a intenção de fazer pós-graduação na área de psicologia e conquistar melhor qualidade de vida. Buenos Aires se tornou atrativa pela proximidade com o Brasil, pela qualidade das universidades públicas e pela moeda.

“Parte do meu trabalho é remoto para o Brasil, e parte é feito aqui na Argentina. Percebo que meu trabalho é muito desvalorizado quando cobrado na moeda local. Ganhando em real, no entanto, o poder de compra é muito maior do que eu tinha no Brasil, além da qualidade de vida. Me sinto segura na rua, o transporte público funciona 24 horas por dia e eu ando com celular na mão sem medo”, revelou.

Quem ganha em dólar ou real, por exemplo, tem vantagem na hora de fazer o câmbio. No mercado paralelo, onde a maioria da população imigrante que ganha em moeda estrangeira troca o dinheiro, 1 real vale 54 pesos, pela cotação do Wester Union. Já a cotação atual do dólar blue está em 290.

Venezuelanos na Argentina

Os venezuelanos são os que mais migraram para a Argentina nos últimos anos. Em 2018, ano em que a economia se deteriorou na Venezuela, Luís Freitas tinha apenas 18 anos quando, junto com a mãe e o primo, atravessou a fronteira para o Brasil, depois de vender um carro que pagou os custos da viagem. Ele seguiu seu caminho rumo à Argentina, com destino a Buenos Aires, onde um primo os esperava.

“Não troco a segurança urbana de Buenos Aires pela de Caracas, ainda que a crise aqui não permita guardar dinheiro, comprar roupa ou viajar sempre que a gente deseja. O que eu ganho é suficiente para ajudar minha família, comer e pagar aluguel”, explicou Freitas, hoje, com 24 anos, e que trabalha- informal- em uma loja de celulares, na capital, e mora com a mãe e o primo em um bairro de classe média portenho.

Maria e a família se mudaram para Argentina em dezembro de 2021 Foto: Arquivo Pessoal

Apesar de reconhecer que a situação econômica da Argentina e da Venezuela não são parecidas, Freitas teme que o empobrecimento da população e o aumento da desigualdade social no país levem as pessoas a atitudes extremas. “Quando a fome chega, quem não tem oportunidade pode fazer coisas terríveis. Temo que a crise produza violência, delinquência e insegurança, como aconteceu no meu país”, refletiu.

Argentina recebe uma refeição em uma instituição de caridade de Buenos Aires; mesmo com crise econômica, país atrai imigrantes da região Foto: Rodrigo Abd/AP - 15/11/2022

Petter Rondon, de 34 anos, migrou para a Argentina com a esposa em 2017. Eles também cruzaram a fronteira com o Brasil, tomaram um avião de Boa Vista a Foz do Iguaçu e da cidade brasileira chegaram a Buenos Aires de ônibus. A escolha do casal pelo país de Maradona se deu por causa de um amigo argentino que morou em Caracas e os ajudou a migrar.

Ele é desenhador industrial e a companheira arquiteta. Hoje, os dois trabalham em um escritório de projetos de móveis, em Buenos Aires. “Por sorte, temos trabalho e nossa vida está muito melhor do que quando vivíamos na Venezuela. Conseguimos ajudar nossa família e podemos viver tranquilos, sem excessos”, contextualizou. A alta inflação argentina, no entanto, o preocupa: “A situação econômica aqui começou a piorar em 2019, quando o dólar que estava em 20 subiu para 40 e o peso argentino se desvalorizou muito rapidamente. Daí em diante, a economia só degringolou.

Perguntado se a Argentina poderia viver uma crise social como a Venezuela, Rondon é enfático: “Não acredito. Só tínhamos o petróleo. A Argentina tem o campo e muitas empresas. Além disso, Chávez expropriou os ingressos de dólar no país, tinha o apoio dos militares. O contexto argentino é absolutamente diferente. É uma bobagem a comparação”, opinou.

Receptividade atrai imigrantes

Outro fator que pode explicar a predileção de imigrantes sul americanos pela Argentina é que o país é considerado pela ONU um dos mais receptivos na América do Sul para imigrantes, ocupando o 84º lugar no mundo em porcentagem de estrangeiros em relação ao total da população.

Ciclista trabalha como entregadora em Buenos Aires; qualidade de vida na capital argentina é um dos motivos que atraem imigrantes da região Foto: Andres Martinez Casares/Reuters - 1/12/2018

Para os imigrantes de países do Mercosul e de aliados ao bloco, o processo de residência é menos burocrático, já que não precisam apresentar vínculo de trabalho, estudo ou vínculo familiar direto, como é exigido das pessoas de outras nacionalidades. Para brasileiros, os trâmites são ainda mais facilitados, graças a um acordo bilateral, imigrantes dos dois países conseguem a residência permanente de modo direto, sem a necessidade de receber a residência provisória antes. Todo o processo pode ser feito online.

BUENOS AIRES - Mesmo em crise econômica, a Argentina se tornou um dos destinos mais procurados por imigrantes da América do Sul. Atualmente, são 2,2 milhões de estrangeiros, os quais representam 5% da população do país, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas. Desse número, 95% são imigrantes de países como Brasil, Venezuela, Paraguai, Peru, Bolívia e Chile.

A comunidade venezuelana foi a que mais cresceu na Argentina nos últimos três anos, com 300 mil residências outorgadas. Outro grupo que aumentou no país foram os brasileiros, com 20 mil novos imigrantes de 2018 a 2021, segundo a ONU. Os últimos dados do Itamaraty apontam que 70 mil brasileiros vivem na Argentina. A maioria busca escolher o país pela qualidade de vida e acadêmica das universidades.

A brasileira Maria Zilda Gramacho, 35 anos, migrou com o marido e a filha de 14 anos, em dezembro de 2021. Com a vantagem do trabalho remoto do casal, a família não teve dúvidas na hora de fazer as malas e deixar Salvador, na Bahia. Maria conta que a maior motivação para migrar foi a busca por qualidade de vida.

Família troca Brasil por Argentina em busca de qualidade de vida Foto: Arquivo Pessoal

“O Brasil se tornou insustentável. Aumento da violência e do custo de vida foram determinantes para buscarmos outro país. A Argentina, mesmo em crise, nos proporciona qualidade de vida. Buenos Aires é uma cidade segura, com diversas ofertas culturais e custo de vida baixo em relação ao Brasil”, comparou.

Maria trabalha com atendimento ao cliente em uma empresa uruguaia e ganha em dólar. O marido também trabalha remotamente para um escritório de advocacia no Brasil e ganha em reais. Ela reconhece que o fator “moeda estrangeira” proporciona uma vida mais confortável na Argentina, onde a moeda nacional está cada dia mais desvalorizada.

Moeda fraca atrai brasileiros

Depois de se planejar por um ano, pesquisando tudo sobre a Argentina, a psicóloga Iasmin Souza, de 30 anos, migrou sozinha, em fevereiro de 2022. Ela saiu de Salvador com a intenção de fazer pós-graduação na área de psicologia e conquistar melhor qualidade de vida. Buenos Aires se tornou atrativa pela proximidade com o Brasil, pela qualidade das universidades públicas e pela moeda.

“Parte do meu trabalho é remoto para o Brasil, e parte é feito aqui na Argentina. Percebo que meu trabalho é muito desvalorizado quando cobrado na moeda local. Ganhando em real, no entanto, o poder de compra é muito maior do que eu tinha no Brasil, além da qualidade de vida. Me sinto segura na rua, o transporte público funciona 24 horas por dia e eu ando com celular na mão sem medo”, revelou.

Quem ganha em dólar ou real, por exemplo, tem vantagem na hora de fazer o câmbio. No mercado paralelo, onde a maioria da população imigrante que ganha em moeda estrangeira troca o dinheiro, 1 real vale 54 pesos, pela cotação do Wester Union. Já a cotação atual do dólar blue está em 290.

Venezuelanos na Argentina

Os venezuelanos são os que mais migraram para a Argentina nos últimos anos. Em 2018, ano em que a economia se deteriorou na Venezuela, Luís Freitas tinha apenas 18 anos quando, junto com a mãe e o primo, atravessou a fronteira para o Brasil, depois de vender um carro que pagou os custos da viagem. Ele seguiu seu caminho rumo à Argentina, com destino a Buenos Aires, onde um primo os esperava.

“Não troco a segurança urbana de Buenos Aires pela de Caracas, ainda que a crise aqui não permita guardar dinheiro, comprar roupa ou viajar sempre que a gente deseja. O que eu ganho é suficiente para ajudar minha família, comer e pagar aluguel”, explicou Freitas, hoje, com 24 anos, e que trabalha- informal- em uma loja de celulares, na capital, e mora com a mãe e o primo em um bairro de classe média portenho.

Maria e a família se mudaram para Argentina em dezembro de 2021 Foto: Arquivo Pessoal

Apesar de reconhecer que a situação econômica da Argentina e da Venezuela não são parecidas, Freitas teme que o empobrecimento da população e o aumento da desigualdade social no país levem as pessoas a atitudes extremas. “Quando a fome chega, quem não tem oportunidade pode fazer coisas terríveis. Temo que a crise produza violência, delinquência e insegurança, como aconteceu no meu país”, refletiu.

Argentina recebe uma refeição em uma instituição de caridade de Buenos Aires; mesmo com crise econômica, país atrai imigrantes da região Foto: Rodrigo Abd/AP - 15/11/2022

Petter Rondon, de 34 anos, migrou para a Argentina com a esposa em 2017. Eles também cruzaram a fronteira com o Brasil, tomaram um avião de Boa Vista a Foz do Iguaçu e da cidade brasileira chegaram a Buenos Aires de ônibus. A escolha do casal pelo país de Maradona se deu por causa de um amigo argentino que morou em Caracas e os ajudou a migrar.

Ele é desenhador industrial e a companheira arquiteta. Hoje, os dois trabalham em um escritório de projetos de móveis, em Buenos Aires. “Por sorte, temos trabalho e nossa vida está muito melhor do que quando vivíamos na Venezuela. Conseguimos ajudar nossa família e podemos viver tranquilos, sem excessos”, contextualizou. A alta inflação argentina, no entanto, o preocupa: “A situação econômica aqui começou a piorar em 2019, quando o dólar que estava em 20 subiu para 40 e o peso argentino se desvalorizou muito rapidamente. Daí em diante, a economia só degringolou.

Perguntado se a Argentina poderia viver uma crise social como a Venezuela, Rondon é enfático: “Não acredito. Só tínhamos o petróleo. A Argentina tem o campo e muitas empresas. Além disso, Chávez expropriou os ingressos de dólar no país, tinha o apoio dos militares. O contexto argentino é absolutamente diferente. É uma bobagem a comparação”, opinou.

Receptividade atrai imigrantes

Outro fator que pode explicar a predileção de imigrantes sul americanos pela Argentina é que o país é considerado pela ONU um dos mais receptivos na América do Sul para imigrantes, ocupando o 84º lugar no mundo em porcentagem de estrangeiros em relação ao total da população.

Ciclista trabalha como entregadora em Buenos Aires; qualidade de vida na capital argentina é um dos motivos que atraem imigrantes da região Foto: Andres Martinez Casares/Reuters - 1/12/2018

Para os imigrantes de países do Mercosul e de aliados ao bloco, o processo de residência é menos burocrático, já que não precisam apresentar vínculo de trabalho, estudo ou vínculo familiar direto, como é exigido das pessoas de outras nacionalidades. Para brasileiros, os trâmites são ainda mais facilitados, graças a um acordo bilateral, imigrantes dos dois países conseguem a residência permanente de modo direto, sem a necessidade de receber a residência provisória antes. Todo o processo pode ser feito online.

BUENOS AIRES - Mesmo em crise econômica, a Argentina se tornou um dos destinos mais procurados por imigrantes da América do Sul. Atualmente, são 2,2 milhões de estrangeiros, os quais representam 5% da população do país, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas. Desse número, 95% são imigrantes de países como Brasil, Venezuela, Paraguai, Peru, Bolívia e Chile.

A comunidade venezuelana foi a que mais cresceu na Argentina nos últimos três anos, com 300 mil residências outorgadas. Outro grupo que aumentou no país foram os brasileiros, com 20 mil novos imigrantes de 2018 a 2021, segundo a ONU. Os últimos dados do Itamaraty apontam que 70 mil brasileiros vivem na Argentina. A maioria busca escolher o país pela qualidade de vida e acadêmica das universidades.

A brasileira Maria Zilda Gramacho, 35 anos, migrou com o marido e a filha de 14 anos, em dezembro de 2021. Com a vantagem do trabalho remoto do casal, a família não teve dúvidas na hora de fazer as malas e deixar Salvador, na Bahia. Maria conta que a maior motivação para migrar foi a busca por qualidade de vida.

Família troca Brasil por Argentina em busca de qualidade de vida Foto: Arquivo Pessoal

“O Brasil se tornou insustentável. Aumento da violência e do custo de vida foram determinantes para buscarmos outro país. A Argentina, mesmo em crise, nos proporciona qualidade de vida. Buenos Aires é uma cidade segura, com diversas ofertas culturais e custo de vida baixo em relação ao Brasil”, comparou.

Maria trabalha com atendimento ao cliente em uma empresa uruguaia e ganha em dólar. O marido também trabalha remotamente para um escritório de advocacia no Brasil e ganha em reais. Ela reconhece que o fator “moeda estrangeira” proporciona uma vida mais confortável na Argentina, onde a moeda nacional está cada dia mais desvalorizada.

Moeda fraca atrai brasileiros

Depois de se planejar por um ano, pesquisando tudo sobre a Argentina, a psicóloga Iasmin Souza, de 30 anos, migrou sozinha, em fevereiro de 2022. Ela saiu de Salvador com a intenção de fazer pós-graduação na área de psicologia e conquistar melhor qualidade de vida. Buenos Aires se tornou atrativa pela proximidade com o Brasil, pela qualidade das universidades públicas e pela moeda.

“Parte do meu trabalho é remoto para o Brasil, e parte é feito aqui na Argentina. Percebo que meu trabalho é muito desvalorizado quando cobrado na moeda local. Ganhando em real, no entanto, o poder de compra é muito maior do que eu tinha no Brasil, além da qualidade de vida. Me sinto segura na rua, o transporte público funciona 24 horas por dia e eu ando com celular na mão sem medo”, revelou.

Quem ganha em dólar ou real, por exemplo, tem vantagem na hora de fazer o câmbio. No mercado paralelo, onde a maioria da população imigrante que ganha em moeda estrangeira troca o dinheiro, 1 real vale 54 pesos, pela cotação do Wester Union. Já a cotação atual do dólar blue está em 290.

Venezuelanos na Argentina

Os venezuelanos são os que mais migraram para a Argentina nos últimos anos. Em 2018, ano em que a economia se deteriorou na Venezuela, Luís Freitas tinha apenas 18 anos quando, junto com a mãe e o primo, atravessou a fronteira para o Brasil, depois de vender um carro que pagou os custos da viagem. Ele seguiu seu caminho rumo à Argentina, com destino a Buenos Aires, onde um primo os esperava.

“Não troco a segurança urbana de Buenos Aires pela de Caracas, ainda que a crise aqui não permita guardar dinheiro, comprar roupa ou viajar sempre que a gente deseja. O que eu ganho é suficiente para ajudar minha família, comer e pagar aluguel”, explicou Freitas, hoje, com 24 anos, e que trabalha- informal- em uma loja de celulares, na capital, e mora com a mãe e o primo em um bairro de classe média portenho.

Maria e a família se mudaram para Argentina em dezembro de 2021 Foto: Arquivo Pessoal

Apesar de reconhecer que a situação econômica da Argentina e da Venezuela não são parecidas, Freitas teme que o empobrecimento da população e o aumento da desigualdade social no país levem as pessoas a atitudes extremas. “Quando a fome chega, quem não tem oportunidade pode fazer coisas terríveis. Temo que a crise produza violência, delinquência e insegurança, como aconteceu no meu país”, refletiu.

Argentina recebe uma refeição em uma instituição de caridade de Buenos Aires; mesmo com crise econômica, país atrai imigrantes da região Foto: Rodrigo Abd/AP - 15/11/2022

Petter Rondon, de 34 anos, migrou para a Argentina com a esposa em 2017. Eles também cruzaram a fronteira com o Brasil, tomaram um avião de Boa Vista a Foz do Iguaçu e da cidade brasileira chegaram a Buenos Aires de ônibus. A escolha do casal pelo país de Maradona se deu por causa de um amigo argentino que morou em Caracas e os ajudou a migrar.

Ele é desenhador industrial e a companheira arquiteta. Hoje, os dois trabalham em um escritório de projetos de móveis, em Buenos Aires. “Por sorte, temos trabalho e nossa vida está muito melhor do que quando vivíamos na Venezuela. Conseguimos ajudar nossa família e podemos viver tranquilos, sem excessos”, contextualizou. A alta inflação argentina, no entanto, o preocupa: “A situação econômica aqui começou a piorar em 2019, quando o dólar que estava em 20 subiu para 40 e o peso argentino se desvalorizou muito rapidamente. Daí em diante, a economia só degringolou.

Perguntado se a Argentina poderia viver uma crise social como a Venezuela, Rondon é enfático: “Não acredito. Só tínhamos o petróleo. A Argentina tem o campo e muitas empresas. Além disso, Chávez expropriou os ingressos de dólar no país, tinha o apoio dos militares. O contexto argentino é absolutamente diferente. É uma bobagem a comparação”, opinou.

Receptividade atrai imigrantes

Outro fator que pode explicar a predileção de imigrantes sul americanos pela Argentina é que o país é considerado pela ONU um dos mais receptivos na América do Sul para imigrantes, ocupando o 84º lugar no mundo em porcentagem de estrangeiros em relação ao total da população.

Ciclista trabalha como entregadora em Buenos Aires; qualidade de vida na capital argentina é um dos motivos que atraem imigrantes da região Foto: Andres Martinez Casares/Reuters - 1/12/2018

Para os imigrantes de países do Mercosul e de aliados ao bloco, o processo de residência é menos burocrático, já que não precisam apresentar vínculo de trabalho, estudo ou vínculo familiar direto, como é exigido das pessoas de outras nacionalidades. Para brasileiros, os trâmites são ainda mais facilitados, graças a um acordo bilateral, imigrantes dos dois países conseguem a residência permanente de modo direto, sem a necessidade de receber a residência provisória antes. Todo o processo pode ser feito online.

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