Ato na Argentina lembra vítimas da ditadura, e governo Milei contesta número de desaparecidos


Presidente afirma que número real de desaparecidos não é de 30 mil, mas estaria próximo de 8.700; mais de mil pessoas foram condenadas por crimes contra a humanidade no país

Por Redação

BUENOS AIRES - Dezenas de milhares de argentinos foram às ruas neste domingo, 24, para lembrar as vítimas do golpe militar que deixou milhares de pessoas desaparecidas e executadas há 48 anos, enquanto o governo de Javier Milei divulgou um vídeo contestando o tratamento histórico dado à ditadura.

É a primeira manifestação do Dia da Lembrança desde a posse do presidente, cujo discurso é considerado pelas organizações de direitos humanos como “negacionista” dos fatos ocorridos durante o regime militar na Argentina (1976-1983).

“Isso é defendido agora e sempre”, disse à AFP María Gabriela Chávez, uma professora de 46 anos que foi ao ato com o marido e os filhos de 2 e 10 anos. Apontando para o garotinho, ela acrescentou: “Sua madrinha é uma neta recuperada. Eles têm que crescer com a ideia de que isso não pode acontecer novamente”.

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Na marcha na Praça de Maio, multidão carregava cartazes como '30.000 razões para defender a pátria' Foto: Rodrigo Abd/AP

No centro de Buenos Aires, epicentro da manifestação liderada pelas Mães e Avós da Praça de Maio — que há décadas se dedicam a recuperar as identidades dos filhos e netos dos desaparecidos —, os cartazes diziam: “Memória sim, medo não” e “Tudo fica guardado na memória”.

Ao meio-dia, horário da convocação, o governo divulgou um vídeo de 13 minutos intitulado “Dia da Memória pela Verdade e Justiça”, que começa com uma entrevista com uma vítima de um movimento guerrilheiro de esquerda (ERP) na década de 1970. O narrador, o escritor Juan Bautista Yofre, afirma que a história, da forma como é lembrada, foi concebida em resposta aos interesses econômicos das organizações de direitos humanos e dos governos democráticos que se seguiram à ditadura.

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Durante sua campanha, Milei disse que, na década de 1970, houve 'uma guerra' na qual foram cometidos 'excessos' Foto: Luis Robayo/AFP

Tanto Milei quanto sua vice-presidente, Victoria Villarruel, que é próxima aos militares, questionam o número de desaparecidos acordado pelas organizações de direitos humanos (30 mil) e afirmam que o número real está próximo de 8.700.

“Claramente há uma curiosidade mórbida sobre essa data, porque parece que toda a esquerda perderá a vida se, no dia 24 de março, não conseguir fazer com que sua mensagem seja ouvida, que tem sido ininterrupta por 40 anos”, disse Villarruel em uma entrevista transmitida na quinta-feira pelo canal TN.

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O ex-guerrilheiro Luis Labraña, sequestrado pelo governo militar, diz no vídeo do governo que o número de pessoas que desapareceram durante a ditadura era uma mentira para obter fundos: “Trinta mil era falso, eu mesmo coloquei o número lá”, diz ele.

Durante sua campanha presidencial, Milei havia dito que, na década de 1970, houve “uma guerra” na qual foram cometidos “excessos”, argumento que, para muitos, relativiza a existência de um plano sistemático de eliminação de opositores comprovado em centenas de julgamentos, nos quais mais de mil militares foram condenados por crimes contra a humanidade.

Na marcha na Praça de Maio, a multidão carregava cartazes como “30.000 razões para defender a pátria” e “30.000 de verdade”. “É necessário, nesse contexto, com toda a violência que está sendo exercida pelo atual governo, que as pessoas acompanhem essas mães e avós que lutaram em seu tempo. Hoje, mais do que nunca, precisamos lembrar e sair às ruas”, disse Mariana Gianni, comunicadora de 31 anos, durante a marcha.

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Em um evento sem precedentes, este ano os principais sindicatos do país aderiram à convocação, em um contexto de grave crise econômica, com 276% de inflação anual e mais da metade dos 46 milhões de argentinos abaixo da linha da pobreza.

A mobilização ocorre dias depois que a Hijos, uma organização formada por filhos de sequestrados e desaparecidos, denunciou o ataque brutal a um de seus membros por dois indivíduos que se identificaram com o slogan de Javier Milei: “Viva libertad, carajo”.

O porta-voz da presidência, Manuel Adorni, disse na sexta-feira que o governo esperava “que a Justiça avançasse e que os responsáveis de fato pagassem por seus atos”.

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Na mesma semana, Teresa Laborde Calvo, filha da testemunha no julgamento dos membros das juntas militares, denunciou repetidas ameaças; a editora Marea, especializada em direitos humanos, recebeu uma onda de “ataques de ódio nas redes sociais”, e a chefe das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, disse em uma entrevista de rádio que seu telefone estava grampeado. Quarenta e oito anos após o golpe, 1.173 pessoas foram condenadas por crimes contra a humanidade em 316 sentenças proferidas em todo o país./AFP

BUENOS AIRES - Dezenas de milhares de argentinos foram às ruas neste domingo, 24, para lembrar as vítimas do golpe militar que deixou milhares de pessoas desaparecidas e executadas há 48 anos, enquanto o governo de Javier Milei divulgou um vídeo contestando o tratamento histórico dado à ditadura.

É a primeira manifestação do Dia da Lembrança desde a posse do presidente, cujo discurso é considerado pelas organizações de direitos humanos como “negacionista” dos fatos ocorridos durante o regime militar na Argentina (1976-1983).

“Isso é defendido agora e sempre”, disse à AFP María Gabriela Chávez, uma professora de 46 anos que foi ao ato com o marido e os filhos de 2 e 10 anos. Apontando para o garotinho, ela acrescentou: “Sua madrinha é uma neta recuperada. Eles têm que crescer com a ideia de que isso não pode acontecer novamente”.

Na marcha na Praça de Maio, multidão carregava cartazes como '30.000 razões para defender a pátria' Foto: Rodrigo Abd/AP

No centro de Buenos Aires, epicentro da manifestação liderada pelas Mães e Avós da Praça de Maio — que há décadas se dedicam a recuperar as identidades dos filhos e netos dos desaparecidos —, os cartazes diziam: “Memória sim, medo não” e “Tudo fica guardado na memória”.

Ao meio-dia, horário da convocação, o governo divulgou um vídeo de 13 minutos intitulado “Dia da Memória pela Verdade e Justiça”, que começa com uma entrevista com uma vítima de um movimento guerrilheiro de esquerda (ERP) na década de 1970. O narrador, o escritor Juan Bautista Yofre, afirma que a história, da forma como é lembrada, foi concebida em resposta aos interesses econômicos das organizações de direitos humanos e dos governos democráticos que se seguiram à ditadura.

Durante sua campanha, Milei disse que, na década de 1970, houve 'uma guerra' na qual foram cometidos 'excessos' Foto: Luis Robayo/AFP

Tanto Milei quanto sua vice-presidente, Victoria Villarruel, que é próxima aos militares, questionam o número de desaparecidos acordado pelas organizações de direitos humanos (30 mil) e afirmam que o número real está próximo de 8.700.

“Claramente há uma curiosidade mórbida sobre essa data, porque parece que toda a esquerda perderá a vida se, no dia 24 de março, não conseguir fazer com que sua mensagem seja ouvida, que tem sido ininterrupta por 40 anos”, disse Villarruel em uma entrevista transmitida na quinta-feira pelo canal TN.

O ex-guerrilheiro Luis Labraña, sequestrado pelo governo militar, diz no vídeo do governo que o número de pessoas que desapareceram durante a ditadura era uma mentira para obter fundos: “Trinta mil era falso, eu mesmo coloquei o número lá”, diz ele.

Durante sua campanha presidencial, Milei havia dito que, na década de 1970, houve “uma guerra” na qual foram cometidos “excessos”, argumento que, para muitos, relativiza a existência de um plano sistemático de eliminação de opositores comprovado em centenas de julgamentos, nos quais mais de mil militares foram condenados por crimes contra a humanidade.

Na marcha na Praça de Maio, a multidão carregava cartazes como “30.000 razões para defender a pátria” e “30.000 de verdade”. “É necessário, nesse contexto, com toda a violência que está sendo exercida pelo atual governo, que as pessoas acompanhem essas mães e avós que lutaram em seu tempo. Hoje, mais do que nunca, precisamos lembrar e sair às ruas”, disse Mariana Gianni, comunicadora de 31 anos, durante a marcha.

Em um evento sem precedentes, este ano os principais sindicatos do país aderiram à convocação, em um contexto de grave crise econômica, com 276% de inflação anual e mais da metade dos 46 milhões de argentinos abaixo da linha da pobreza.

A mobilização ocorre dias depois que a Hijos, uma organização formada por filhos de sequestrados e desaparecidos, denunciou o ataque brutal a um de seus membros por dois indivíduos que se identificaram com o slogan de Javier Milei: “Viva libertad, carajo”.

O porta-voz da presidência, Manuel Adorni, disse na sexta-feira que o governo esperava “que a Justiça avançasse e que os responsáveis de fato pagassem por seus atos”.

Na mesma semana, Teresa Laborde Calvo, filha da testemunha no julgamento dos membros das juntas militares, denunciou repetidas ameaças; a editora Marea, especializada em direitos humanos, recebeu uma onda de “ataques de ódio nas redes sociais”, e a chefe das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, disse em uma entrevista de rádio que seu telefone estava grampeado. Quarenta e oito anos após o golpe, 1.173 pessoas foram condenadas por crimes contra a humanidade em 316 sentenças proferidas em todo o país./AFP

BUENOS AIRES - Dezenas de milhares de argentinos foram às ruas neste domingo, 24, para lembrar as vítimas do golpe militar que deixou milhares de pessoas desaparecidas e executadas há 48 anos, enquanto o governo de Javier Milei divulgou um vídeo contestando o tratamento histórico dado à ditadura.

É a primeira manifestação do Dia da Lembrança desde a posse do presidente, cujo discurso é considerado pelas organizações de direitos humanos como “negacionista” dos fatos ocorridos durante o regime militar na Argentina (1976-1983).

“Isso é defendido agora e sempre”, disse à AFP María Gabriela Chávez, uma professora de 46 anos que foi ao ato com o marido e os filhos de 2 e 10 anos. Apontando para o garotinho, ela acrescentou: “Sua madrinha é uma neta recuperada. Eles têm que crescer com a ideia de que isso não pode acontecer novamente”.

Na marcha na Praça de Maio, multidão carregava cartazes como '30.000 razões para defender a pátria' Foto: Rodrigo Abd/AP

No centro de Buenos Aires, epicentro da manifestação liderada pelas Mães e Avós da Praça de Maio — que há décadas se dedicam a recuperar as identidades dos filhos e netos dos desaparecidos —, os cartazes diziam: “Memória sim, medo não” e “Tudo fica guardado na memória”.

Ao meio-dia, horário da convocação, o governo divulgou um vídeo de 13 minutos intitulado “Dia da Memória pela Verdade e Justiça”, que começa com uma entrevista com uma vítima de um movimento guerrilheiro de esquerda (ERP) na década de 1970. O narrador, o escritor Juan Bautista Yofre, afirma que a história, da forma como é lembrada, foi concebida em resposta aos interesses econômicos das organizações de direitos humanos e dos governos democráticos que se seguiram à ditadura.

Durante sua campanha, Milei disse que, na década de 1970, houve 'uma guerra' na qual foram cometidos 'excessos' Foto: Luis Robayo/AFP

Tanto Milei quanto sua vice-presidente, Victoria Villarruel, que é próxima aos militares, questionam o número de desaparecidos acordado pelas organizações de direitos humanos (30 mil) e afirmam que o número real está próximo de 8.700.

“Claramente há uma curiosidade mórbida sobre essa data, porque parece que toda a esquerda perderá a vida se, no dia 24 de março, não conseguir fazer com que sua mensagem seja ouvida, que tem sido ininterrupta por 40 anos”, disse Villarruel em uma entrevista transmitida na quinta-feira pelo canal TN.

O ex-guerrilheiro Luis Labraña, sequestrado pelo governo militar, diz no vídeo do governo que o número de pessoas que desapareceram durante a ditadura era uma mentira para obter fundos: “Trinta mil era falso, eu mesmo coloquei o número lá”, diz ele.

Durante sua campanha presidencial, Milei havia dito que, na década de 1970, houve “uma guerra” na qual foram cometidos “excessos”, argumento que, para muitos, relativiza a existência de um plano sistemático de eliminação de opositores comprovado em centenas de julgamentos, nos quais mais de mil militares foram condenados por crimes contra a humanidade.

Na marcha na Praça de Maio, a multidão carregava cartazes como “30.000 razões para defender a pátria” e “30.000 de verdade”. “É necessário, nesse contexto, com toda a violência que está sendo exercida pelo atual governo, que as pessoas acompanhem essas mães e avós que lutaram em seu tempo. Hoje, mais do que nunca, precisamos lembrar e sair às ruas”, disse Mariana Gianni, comunicadora de 31 anos, durante a marcha.

Em um evento sem precedentes, este ano os principais sindicatos do país aderiram à convocação, em um contexto de grave crise econômica, com 276% de inflação anual e mais da metade dos 46 milhões de argentinos abaixo da linha da pobreza.

A mobilização ocorre dias depois que a Hijos, uma organização formada por filhos de sequestrados e desaparecidos, denunciou o ataque brutal a um de seus membros por dois indivíduos que se identificaram com o slogan de Javier Milei: “Viva libertad, carajo”.

O porta-voz da presidência, Manuel Adorni, disse na sexta-feira que o governo esperava “que a Justiça avançasse e que os responsáveis de fato pagassem por seus atos”.

Na mesma semana, Teresa Laborde Calvo, filha da testemunha no julgamento dos membros das juntas militares, denunciou repetidas ameaças; a editora Marea, especializada em direitos humanos, recebeu uma onda de “ataques de ódio nas redes sociais”, e a chefe das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, disse em uma entrevista de rádio que seu telefone estava grampeado. Quarenta e oito anos após o golpe, 1.173 pessoas foram condenadas por crimes contra a humanidade em 316 sentenças proferidas em todo o país./AFP

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