Artigo: A guerra contra as manifestações nos EUA


As agências federais estão sendo usadas para reprimir protestos, no que parece ser uma jogada eleitoral de Trump

Por Jamelle Bouie

Algo perigoso está tomando forma no Departamento de Segurança Interna (DHS) dos Estados Unidos. Tivemos um primeiro vislumbre na semana passada em Portland, quando agentes federais não identificados, vestidos com camuflagem e equipamentos táticos, espancaram, lançaram gás lacrimogêneo e jogaram jovens manifestantes em carros não identificados, para serem presos e interrogados.

Aparentemente, usando agentes da Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP), Imigração e Fiscalização Aduaneira (ICE), Administração de Segurança em Transportes (TSA) e Guarda Costeira, as “equipes de ação rápida” são encarregadas de proteger prédios federais contra pichações e vandalismo, em conjunto com o Serviço de Proteção Federal (FPS), que normalmente faz o trabalho. 

Mulheres participam deum protesto contra a desigualdade racial em Portland, Oregon, EUA. Foto: Caitlin Ochs / Reuters 
continua após a publicidade

Na prática, eles estão sendo usados para reprimir protestos, no que parece ser uma jogada eleitoral de Trump para criar imagens de desordem e caos. “Este teatro político do presidente não tem nada a ver com segurança pública”, disse Kate Brown, governadora democrata de Oregon. “Trump está procurando um confronto em Oregon, na esperança de ganhar pontos políticos em Ohio ou Iowa.”

O coordenador de toda essa ação, o secretário do DHS, Chad Wolf, classifica os manifestantes de “anarquistas e extremistas violentos”, para justificar a repressão. “Portland está sitiada há 47 dias por uma multidão violenta, enquanto os políticos locais rejeitam restaurar a ordem”, disse Wolf. “Esse cerco pode terminar se as autoridades locais tomarem as medidas apropriadas, em vez de se recusarem a fazer cumprir a lei.” Wolf afirmou que sua agência pode agir com ou sem autorização. “Não preciso de convite do Estado, de prefeitos ou governadores para fazer nosso trabalho”, disse. “Vamos fazer isso, quer eles queiram ou não.”

O uso da força militar contra manifestantes é controvertido. A força de segurança interna do presidente foi criada usando brechas e interpretações da lei. Agências como ICE e CBP podem ser usadas para reprimir um protesto em Portland porque o DHS pode complementar a ação de uma agência com pessoal de outra. 

continua após a publicidade

Mas há elementos que tornam preocupante o surgimento de uma força de segurança interna. Como candidato, Trump se aproximou dos líderes da polícia de fronteira e da ICE. Em troca, recebeu apoio político. Sob sua liderança, essas agências mostraram-se simpáticas à abordagem draconiana do governo, com ações agressivas contra imigrantes e requerentes de asilo.

Uma força policial secreta nacional seria um pesadelo para a geração fundadora dos EUA, federalistas e antifederalistas. É algo que os americanos temem – e por boas razões. É um poder que não pode e não deve existir em uma democracia, para que não destrua todo o projeto. Felizmente, os democratas reconhecem isso. “Vivemos em uma democracia, não em uma república das bananas”, disse a presidente da Câmara, Nancy Pelosi. Mas retórica não é suficiente. É preciso ação. 

Além de investigar, os democratas deveriam condicionar a aprovação do projeto de lei de segurança interna à interrupção das operações em Portland e em outras cidades. Caso Trump não seja reeleito, a maneira de impedir a repetição do abuso talvez seja desmantelar a instituição por trás dele. 

continua após a publicidade

Assim como as comunidades locais não precisam de policiais militarizados, o governo federal não precisa de uma sopa de letrinhas de agências militarizadas que carregam a cultura do preconceito e da brutalidade. Se e quando fecharmos a era Trump, talvez devêssemos aproveitar a oportunidade para acabar também com o DHS.

*É COLUNISTA

Algo perigoso está tomando forma no Departamento de Segurança Interna (DHS) dos Estados Unidos. Tivemos um primeiro vislumbre na semana passada em Portland, quando agentes federais não identificados, vestidos com camuflagem e equipamentos táticos, espancaram, lançaram gás lacrimogêneo e jogaram jovens manifestantes em carros não identificados, para serem presos e interrogados.

Aparentemente, usando agentes da Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP), Imigração e Fiscalização Aduaneira (ICE), Administração de Segurança em Transportes (TSA) e Guarda Costeira, as “equipes de ação rápida” são encarregadas de proteger prédios federais contra pichações e vandalismo, em conjunto com o Serviço de Proteção Federal (FPS), que normalmente faz o trabalho. 

Mulheres participam deum protesto contra a desigualdade racial em Portland, Oregon, EUA. Foto: Caitlin Ochs / Reuters 

Na prática, eles estão sendo usados para reprimir protestos, no que parece ser uma jogada eleitoral de Trump para criar imagens de desordem e caos. “Este teatro político do presidente não tem nada a ver com segurança pública”, disse Kate Brown, governadora democrata de Oregon. “Trump está procurando um confronto em Oregon, na esperança de ganhar pontos políticos em Ohio ou Iowa.”

O coordenador de toda essa ação, o secretário do DHS, Chad Wolf, classifica os manifestantes de “anarquistas e extremistas violentos”, para justificar a repressão. “Portland está sitiada há 47 dias por uma multidão violenta, enquanto os políticos locais rejeitam restaurar a ordem”, disse Wolf. “Esse cerco pode terminar se as autoridades locais tomarem as medidas apropriadas, em vez de se recusarem a fazer cumprir a lei.” Wolf afirmou que sua agência pode agir com ou sem autorização. “Não preciso de convite do Estado, de prefeitos ou governadores para fazer nosso trabalho”, disse. “Vamos fazer isso, quer eles queiram ou não.”

O uso da força militar contra manifestantes é controvertido. A força de segurança interna do presidente foi criada usando brechas e interpretações da lei. Agências como ICE e CBP podem ser usadas para reprimir um protesto em Portland porque o DHS pode complementar a ação de uma agência com pessoal de outra. 

Mas há elementos que tornam preocupante o surgimento de uma força de segurança interna. Como candidato, Trump se aproximou dos líderes da polícia de fronteira e da ICE. Em troca, recebeu apoio político. Sob sua liderança, essas agências mostraram-se simpáticas à abordagem draconiana do governo, com ações agressivas contra imigrantes e requerentes de asilo.

Uma força policial secreta nacional seria um pesadelo para a geração fundadora dos EUA, federalistas e antifederalistas. É algo que os americanos temem – e por boas razões. É um poder que não pode e não deve existir em uma democracia, para que não destrua todo o projeto. Felizmente, os democratas reconhecem isso. “Vivemos em uma democracia, não em uma república das bananas”, disse a presidente da Câmara, Nancy Pelosi. Mas retórica não é suficiente. É preciso ação. 

Além de investigar, os democratas deveriam condicionar a aprovação do projeto de lei de segurança interna à interrupção das operações em Portland e em outras cidades. Caso Trump não seja reeleito, a maneira de impedir a repetição do abuso talvez seja desmantelar a instituição por trás dele. 

Assim como as comunidades locais não precisam de policiais militarizados, o governo federal não precisa de uma sopa de letrinhas de agências militarizadas que carregam a cultura do preconceito e da brutalidade. Se e quando fecharmos a era Trump, talvez devêssemos aproveitar a oportunidade para acabar também com o DHS.

*É COLUNISTA

Algo perigoso está tomando forma no Departamento de Segurança Interna (DHS) dos Estados Unidos. Tivemos um primeiro vislumbre na semana passada em Portland, quando agentes federais não identificados, vestidos com camuflagem e equipamentos táticos, espancaram, lançaram gás lacrimogêneo e jogaram jovens manifestantes em carros não identificados, para serem presos e interrogados.

Aparentemente, usando agentes da Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP), Imigração e Fiscalização Aduaneira (ICE), Administração de Segurança em Transportes (TSA) e Guarda Costeira, as “equipes de ação rápida” são encarregadas de proteger prédios federais contra pichações e vandalismo, em conjunto com o Serviço de Proteção Federal (FPS), que normalmente faz o trabalho. 

Mulheres participam deum protesto contra a desigualdade racial em Portland, Oregon, EUA. Foto: Caitlin Ochs / Reuters 

Na prática, eles estão sendo usados para reprimir protestos, no que parece ser uma jogada eleitoral de Trump para criar imagens de desordem e caos. “Este teatro político do presidente não tem nada a ver com segurança pública”, disse Kate Brown, governadora democrata de Oregon. “Trump está procurando um confronto em Oregon, na esperança de ganhar pontos políticos em Ohio ou Iowa.”

O coordenador de toda essa ação, o secretário do DHS, Chad Wolf, classifica os manifestantes de “anarquistas e extremistas violentos”, para justificar a repressão. “Portland está sitiada há 47 dias por uma multidão violenta, enquanto os políticos locais rejeitam restaurar a ordem”, disse Wolf. “Esse cerco pode terminar se as autoridades locais tomarem as medidas apropriadas, em vez de se recusarem a fazer cumprir a lei.” Wolf afirmou que sua agência pode agir com ou sem autorização. “Não preciso de convite do Estado, de prefeitos ou governadores para fazer nosso trabalho”, disse. “Vamos fazer isso, quer eles queiram ou não.”

O uso da força militar contra manifestantes é controvertido. A força de segurança interna do presidente foi criada usando brechas e interpretações da lei. Agências como ICE e CBP podem ser usadas para reprimir um protesto em Portland porque o DHS pode complementar a ação de uma agência com pessoal de outra. 

Mas há elementos que tornam preocupante o surgimento de uma força de segurança interna. Como candidato, Trump se aproximou dos líderes da polícia de fronteira e da ICE. Em troca, recebeu apoio político. Sob sua liderança, essas agências mostraram-se simpáticas à abordagem draconiana do governo, com ações agressivas contra imigrantes e requerentes de asilo.

Uma força policial secreta nacional seria um pesadelo para a geração fundadora dos EUA, federalistas e antifederalistas. É algo que os americanos temem – e por boas razões. É um poder que não pode e não deve existir em uma democracia, para que não destrua todo o projeto. Felizmente, os democratas reconhecem isso. “Vivemos em uma democracia, não em uma república das bananas”, disse a presidente da Câmara, Nancy Pelosi. Mas retórica não é suficiente. É preciso ação. 

Além de investigar, os democratas deveriam condicionar a aprovação do projeto de lei de segurança interna à interrupção das operações em Portland e em outras cidades. Caso Trump não seja reeleito, a maneira de impedir a repetição do abuso talvez seja desmantelar a instituição por trás dele. 

Assim como as comunidades locais não precisam de policiais militarizados, o governo federal não precisa de uma sopa de letrinhas de agências militarizadas que carregam a cultura do preconceito e da brutalidade. Se e quando fecharmos a era Trump, talvez devêssemos aproveitar a oportunidade para acabar também com o DHS.

*É COLUNISTA

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.