Embora incompletos, os arquivos sobre a morte de John F. Kennedy são um tesouro para investigadores, historiadores e aficionados de teorias da conspiração que há meio século buscam pistas para saber o que realmente ocorreu em Dallas naquele dia fatídico de 1963. Eles abrangem conversas entre mafiosos, cubanos e espiões, suspeitas do Kremlin de que o presidente Lyndon Johnson, então vice de Kennedy, estava por trás do assassinato e mostram o temor das autoridades de que a sociedade não aceitasse a versão oficial.
+Novos documentos sobre morte de Kennedy dão detalhes da Guerra Fria
Examinar os arquivos foi um pouco como explorar uma caixa de documentos armazenados aleatoriamente em um porão. Fotos não muito nítidas mostram a vigilância da CIA nos anos 60; um registro de visitantes datado de dezembro de 1963, incluindo um oficial da CIA indo e vindo do rancho de Johnson no Texas; e um informe de que Lee Harvey Oswald obtivera munição de uma milícia de direita.
Alguns dos documentos traduzem parte do drama e do caos instaurado após o assassinato. Entre eles está um memorando enviado por J. Edgar Hoover, diretor do FBI, em 24 de novembro de 1963, logo depois de Jack Ruby atirar e matar Oswald quando era levado da delegacia de polícia para uma prisão local. “Não há nada mais sobre o caso Oswald, exceto que ele está morto”, começa o memorando laconicamente.
A divulgação dos documentos deve-se em grande parte ao cineasta Oliver Stone. Após seu filme JFK, de 1991, ter renovado o interesse pelo tema, o Congresso aprovou uma lei para liberar os arquivos em 25 anos, prazo que acabou na quinta-feira. Desde então, o Arquivo Nacional já liberou 88% dos documentos, 11% com partes editadas. Até quinta-feira, apenas 1% estava retido integralmente.
Dos 2.891 documentos divulgados na quinta-feira, apenas 53 jamais haviam sido revelados. O restante foi publicado com correções. Os documentos têm um amplo alcance. Um deles relata a reação da União Soviética ao assassinato, reportando que algumas pessoas em Moscou achavam que havia sido um “golpe” da extrema direita que colocaria a culpa em Moscou. Um informante, cujo nome não é mencionado, disse a espiões americanos que a KGB tinha provas de que “o presidente Johnson era o responsável”.
Um telegrama do FBI, de abril de 1964, reconstruiu a viagem de ônibus de Oswald para o México, semanas antes do assassinato, incluindo os nomes de pessoas sentadas ao lado dele e até mesmo como ele estava vestido: “uma camisa esporte colorida de manga curta e nenhum paletó”.
No seu memorando, dois dias após a morte do presidente, Hoover se mostra preocupado, porque a morte de Oswald causaria desconfiança nos americanos. “O que me preocupa”, escreveu, “é ter uma explicação que convença o público de que Oswald é o real assassino”. Ele também temia que a descoberta de que Oswald havia contatado a Embaixada de Cuba no México e enviado uma carta à embaixada soviética em Washington poderia “complicar nossas relações exteriores”.
Hoover qualificou o assassinato de Oswald como “indesculpável” diante dos alertas dados à polícia de Dallas e fez alusão ao elo de Ruby com a máfia, o que causaria uma indústria de especulação. “Não temos informação sobre Ruby, embora existam rumores de atividades no submundo de Chicago”, escreveu.
Seu navegador não suporta esse video.
O governo dos Estados Unidos divulgou nesta quinta-feira 2.891 documentos sobre o assassinato do presidente John F. Kennedy no site dos Arquivos Nacionais, mas manteve outros em sigilo por motivos de segurança.
Os documentos não acabarão com as especulações, e poucos acrescentam alguma coisa a mais. Por exemplo, em depoimento prestado em 1975, Richard Helms, ex-diretor da CIA, foi questionado: “Existe alguma informação relacionada ao assassinato que, de algum modo, mostra que Oswald era um agente da CIA, ou um agen...”. O documento acaba aí e a resposta de Helms foi omitida”. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
*SÃO JORNALISTAS