Opinião|As eleições dos EUA e a incerteza dos seus impactos para o Brasil (e o mundo)


A percepção crescente é de que Trump está mais próximo de ser eleito para um segundo mandato, e o mundo começa a se preparar para este cenário

Por Daniel Buarque

O atentado contra o ex-presidente Donald Trump e a confirmação do seu nome como candidato republicano à Presidência dos EUA colocaram a eleição norte-americana deste ano no centro das atenções globais nos últimos dias. No resto do mundo, como no Brasil, começam a haver discussões sobre os possíveis impactos da decisão do eleitorado americano para a política internacional.

A percepção crescente é de que Trump está mais próximo de ser eleito para um segundo mandato, e o mundo começa a se preparar para este cenário, marcado especialmente pela incerteza. Isso vale especialmente para regiões mais “periféricas” das relações internacionais, como a América Latina e o Brasil.

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O think tank americano Council on Foreign Relations tem acompanhado de perto a movimentação política americana e avaliado seus impactos nas relações do país com o mundo. Em duas páginas, discute em detalhes as posições de Joe Biden e de Trump para a política externa americana. A América Latina e o Brasil mal aparecem em uma lista de prioridades que inclui inteligência artificial, tecnologia da informação, a China, aquecimento global, a Otan, saúde, imigração, Oriente Médio, guerra na Ucrânia e comércio exterior.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump gesticula durante a convenção republicana em Milwaukee, Estados Unidos  Foto: Paul Sancya/AP

Os impactos da eleição americana para a América Latina são o tema central da edição mais recente da revista Americas Quarterly (AQ). A publicação reconhece que a falta de atenção dos EUA a seus vizinhos é uma tradição histórica e incômoda, mas ressalta que muitos dos temas centrais das eleições deste ano (imigração, drogas e investimentos) estão fundamentalmente ligados à região. Mais do que isso, aponta que 15% dos eleitores são latinos, que podem definir o próximo governante.

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A sensação de incerteza sobre o que a eleição poderia representar para o Brasil, entretanto, só é reforçada ao ler os artigos reunidos pela AQ. O país até é mencionado no texto principal, ressaltando a importância da defesa que Biden fez da democracia durante as eleições de 2022 e o rápido reconhecimento da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas o maior país da América Latina não é foco de maior destaque além desse ponto.

Ricardo Zuñiga e Nicholas Zimmerman, que atuaram na política externa democrata, escrevem sobre essa questão da democracia em seu texto sobre como seria o segundo mandato de Biden. Eles também mencionam investimentos americanos em projetos no país, mas o foco central é apontar os riscos de uma vitória de Trump para a região.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se encontra com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em Nova York, Estados Unidos  Foto: Doug Mills/NYT
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Mauricio Claver-Carone, ex-assessor do republicano, por sua vez, escreve sobre as perspectivas de que Trump trabalharia pela segurança nacional dos EUA e crescimento econômico mútuo com a região. O Brasil aparece apenas de passagem, em um momento, para alegar que os EUA deveriam priorizar países menores em seus investimentos.

A imprevisibilidade foi exatamente a justificativa dada pelo presidente Lula ao declarar que torcia pela reeleição de Biden. Essa preocupação faz com que integrantes do governo já se preparem para uma realidade em que o republicano volte ao poder – o mesmo acontece também em outros países na Europa, com muitos temendo uma “tempestade”.

Enquanto foi presidente, a relação de Trump com o Brasil foi fortemente marcada pela proximidade ideológica de Jair Bolsonaro com ele. No cenário atual, é preocupante pensar na forma como um novo governo do republicano lidaria com as acusações falsas de políticos da extrema-direita brasileira sobre uma “ditadura de esquerda” no Brasil.

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Trump foi duro com governos que eram apontados como sendo governos autoritários de esquerda na região, e chegou a reconhecer Juan Guaidó como presidente da Venezuela, apesar de o governo continuar nas mãos de Nicolás Maduro. Em relação ao Brasil, é impossível e até assustador prever como ele se comportaria no caso de uma eventual prisão de Bolsonaro, por mais provas que possa haver contra ele e por mais que os processos jurídicos sejam seguidos à risca. Indo mais longe, é incerto o comportamento dos EUA sob Trump nas eleições brasileiras de 2026, quando pode haver novas ameaças golpistas.

Outra preocupação brasileira é que uma vitória de Trump poderia ampliar a polarização global, especialmente entre EUA e China, o que colocaria em risco a estratégia brasileira de ficar em cima do muro, evitando se alinhar a qualquer uma das grandes potências internacionais. Trump pressionou o Brasil para não aceitar a presença de empresas chinesas, por exemplo, e isso pode voltar a colocar pressão sobre o país.

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Ainda mais palpável é o receio sobre um possível impacto de uma vitória de Trump para a governança global. Uma das prioridades da política externa brasileira é ter voz ativa nas grandes questões globais por meio de instituições multilaterais. Mas Trump trabalhou para enfraquecer a importância dessas organizações, como a ONU e a Otan. Isso pode criar um ambiente global mais anárquico, com uma situação em que países sem poder bruto não têm espaço, tornando o Brasil um país sem relevância da política global.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump faz gesto a seus apoiadores após sobreviver a uma tentativa de assassinato  Foto: Gene J. Puskar/AP

Os EUA são a nação mais poderosa do mundo, e a preocupação com as eleições americanas não é uma exclusividade do Brasil, é claro –países em conflito e que dependem mais ativamente de apoio financeiro e militar, como Ucrânia e Israel (bem como a Palestina) têm ainda mais a perder.

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Há um receio global ainda maior desde os disparos que feriram Donald Trump. Há quem fale em polarização mais acirrada no país, e até mesmo em risco de guerra civil.

Ainda faltam quatro meses até a decisão sobre o próximo governo americano. Independente de preferências políticas e ideológicas, a esperança é que até lá possa haver uma perspectiva mais clara sobre os rumos que o país vai tomar a partir do próximo ano. E aí o Brasil e o resto do mundo podem de fato se preparar para o que pode vir a mudar a partir de então.

O atentado contra o ex-presidente Donald Trump e a confirmação do seu nome como candidato republicano à Presidência dos EUA colocaram a eleição norte-americana deste ano no centro das atenções globais nos últimos dias. No resto do mundo, como no Brasil, começam a haver discussões sobre os possíveis impactos da decisão do eleitorado americano para a política internacional.

A percepção crescente é de que Trump está mais próximo de ser eleito para um segundo mandato, e o mundo começa a se preparar para este cenário, marcado especialmente pela incerteza. Isso vale especialmente para regiões mais “periféricas” das relações internacionais, como a América Latina e o Brasil.

O think tank americano Council on Foreign Relations tem acompanhado de perto a movimentação política americana e avaliado seus impactos nas relações do país com o mundo. Em duas páginas, discute em detalhes as posições de Joe Biden e de Trump para a política externa americana. A América Latina e o Brasil mal aparecem em uma lista de prioridades que inclui inteligência artificial, tecnologia da informação, a China, aquecimento global, a Otan, saúde, imigração, Oriente Médio, guerra na Ucrânia e comércio exterior.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump gesticula durante a convenção republicana em Milwaukee, Estados Unidos  Foto: Paul Sancya/AP

Os impactos da eleição americana para a América Latina são o tema central da edição mais recente da revista Americas Quarterly (AQ). A publicação reconhece que a falta de atenção dos EUA a seus vizinhos é uma tradição histórica e incômoda, mas ressalta que muitos dos temas centrais das eleições deste ano (imigração, drogas e investimentos) estão fundamentalmente ligados à região. Mais do que isso, aponta que 15% dos eleitores são latinos, que podem definir o próximo governante.

A sensação de incerteza sobre o que a eleição poderia representar para o Brasil, entretanto, só é reforçada ao ler os artigos reunidos pela AQ. O país até é mencionado no texto principal, ressaltando a importância da defesa que Biden fez da democracia durante as eleições de 2022 e o rápido reconhecimento da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas o maior país da América Latina não é foco de maior destaque além desse ponto.

Ricardo Zuñiga e Nicholas Zimmerman, que atuaram na política externa democrata, escrevem sobre essa questão da democracia em seu texto sobre como seria o segundo mandato de Biden. Eles também mencionam investimentos americanos em projetos no país, mas o foco central é apontar os riscos de uma vitória de Trump para a região.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se encontra com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em Nova York, Estados Unidos  Foto: Doug Mills/NYT

Mauricio Claver-Carone, ex-assessor do republicano, por sua vez, escreve sobre as perspectivas de que Trump trabalharia pela segurança nacional dos EUA e crescimento econômico mútuo com a região. O Brasil aparece apenas de passagem, em um momento, para alegar que os EUA deveriam priorizar países menores em seus investimentos.

A imprevisibilidade foi exatamente a justificativa dada pelo presidente Lula ao declarar que torcia pela reeleição de Biden. Essa preocupação faz com que integrantes do governo já se preparem para uma realidade em que o republicano volte ao poder – o mesmo acontece também em outros países na Europa, com muitos temendo uma “tempestade”.

Enquanto foi presidente, a relação de Trump com o Brasil foi fortemente marcada pela proximidade ideológica de Jair Bolsonaro com ele. No cenário atual, é preocupante pensar na forma como um novo governo do republicano lidaria com as acusações falsas de políticos da extrema-direita brasileira sobre uma “ditadura de esquerda” no Brasil.

Trump foi duro com governos que eram apontados como sendo governos autoritários de esquerda na região, e chegou a reconhecer Juan Guaidó como presidente da Venezuela, apesar de o governo continuar nas mãos de Nicolás Maduro. Em relação ao Brasil, é impossível e até assustador prever como ele se comportaria no caso de uma eventual prisão de Bolsonaro, por mais provas que possa haver contra ele e por mais que os processos jurídicos sejam seguidos à risca. Indo mais longe, é incerto o comportamento dos EUA sob Trump nas eleições brasileiras de 2026, quando pode haver novas ameaças golpistas.

Outra preocupação brasileira é que uma vitória de Trump poderia ampliar a polarização global, especialmente entre EUA e China, o que colocaria em risco a estratégia brasileira de ficar em cima do muro, evitando se alinhar a qualquer uma das grandes potências internacionais. Trump pressionou o Brasil para não aceitar a presença de empresas chinesas, por exemplo, e isso pode voltar a colocar pressão sobre o país.

Ainda mais palpável é o receio sobre um possível impacto de uma vitória de Trump para a governança global. Uma das prioridades da política externa brasileira é ter voz ativa nas grandes questões globais por meio de instituições multilaterais. Mas Trump trabalhou para enfraquecer a importância dessas organizações, como a ONU e a Otan. Isso pode criar um ambiente global mais anárquico, com uma situação em que países sem poder bruto não têm espaço, tornando o Brasil um país sem relevância da política global.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump faz gesto a seus apoiadores após sobreviver a uma tentativa de assassinato  Foto: Gene J. Puskar/AP

Os EUA são a nação mais poderosa do mundo, e a preocupação com as eleições americanas não é uma exclusividade do Brasil, é claro –países em conflito e que dependem mais ativamente de apoio financeiro e militar, como Ucrânia e Israel (bem como a Palestina) têm ainda mais a perder.

Há um receio global ainda maior desde os disparos que feriram Donald Trump. Há quem fale em polarização mais acirrada no país, e até mesmo em risco de guerra civil.

Ainda faltam quatro meses até a decisão sobre o próximo governo americano. Independente de preferências políticas e ideológicas, a esperança é que até lá possa haver uma perspectiva mais clara sobre os rumos que o país vai tomar a partir do próximo ano. E aí o Brasil e o resto do mundo podem de fato se preparar para o que pode vir a mudar a partir de então.

O atentado contra o ex-presidente Donald Trump e a confirmação do seu nome como candidato republicano à Presidência dos EUA colocaram a eleição norte-americana deste ano no centro das atenções globais nos últimos dias. No resto do mundo, como no Brasil, começam a haver discussões sobre os possíveis impactos da decisão do eleitorado americano para a política internacional.

A percepção crescente é de que Trump está mais próximo de ser eleito para um segundo mandato, e o mundo começa a se preparar para este cenário, marcado especialmente pela incerteza. Isso vale especialmente para regiões mais “periféricas” das relações internacionais, como a América Latina e o Brasil.

O think tank americano Council on Foreign Relations tem acompanhado de perto a movimentação política americana e avaliado seus impactos nas relações do país com o mundo. Em duas páginas, discute em detalhes as posições de Joe Biden e de Trump para a política externa americana. A América Latina e o Brasil mal aparecem em uma lista de prioridades que inclui inteligência artificial, tecnologia da informação, a China, aquecimento global, a Otan, saúde, imigração, Oriente Médio, guerra na Ucrânia e comércio exterior.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump gesticula durante a convenção republicana em Milwaukee, Estados Unidos  Foto: Paul Sancya/AP

Os impactos da eleição americana para a América Latina são o tema central da edição mais recente da revista Americas Quarterly (AQ). A publicação reconhece que a falta de atenção dos EUA a seus vizinhos é uma tradição histórica e incômoda, mas ressalta que muitos dos temas centrais das eleições deste ano (imigração, drogas e investimentos) estão fundamentalmente ligados à região. Mais do que isso, aponta que 15% dos eleitores são latinos, que podem definir o próximo governante.

A sensação de incerteza sobre o que a eleição poderia representar para o Brasil, entretanto, só é reforçada ao ler os artigos reunidos pela AQ. O país até é mencionado no texto principal, ressaltando a importância da defesa que Biden fez da democracia durante as eleições de 2022 e o rápido reconhecimento da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas o maior país da América Latina não é foco de maior destaque além desse ponto.

Ricardo Zuñiga e Nicholas Zimmerman, que atuaram na política externa democrata, escrevem sobre essa questão da democracia em seu texto sobre como seria o segundo mandato de Biden. Eles também mencionam investimentos americanos em projetos no país, mas o foco central é apontar os riscos de uma vitória de Trump para a região.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se encontra com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em Nova York, Estados Unidos  Foto: Doug Mills/NYT

Mauricio Claver-Carone, ex-assessor do republicano, por sua vez, escreve sobre as perspectivas de que Trump trabalharia pela segurança nacional dos EUA e crescimento econômico mútuo com a região. O Brasil aparece apenas de passagem, em um momento, para alegar que os EUA deveriam priorizar países menores em seus investimentos.

A imprevisibilidade foi exatamente a justificativa dada pelo presidente Lula ao declarar que torcia pela reeleição de Biden. Essa preocupação faz com que integrantes do governo já se preparem para uma realidade em que o republicano volte ao poder – o mesmo acontece também em outros países na Europa, com muitos temendo uma “tempestade”.

Enquanto foi presidente, a relação de Trump com o Brasil foi fortemente marcada pela proximidade ideológica de Jair Bolsonaro com ele. No cenário atual, é preocupante pensar na forma como um novo governo do republicano lidaria com as acusações falsas de políticos da extrema-direita brasileira sobre uma “ditadura de esquerda” no Brasil.

Trump foi duro com governos que eram apontados como sendo governos autoritários de esquerda na região, e chegou a reconhecer Juan Guaidó como presidente da Venezuela, apesar de o governo continuar nas mãos de Nicolás Maduro. Em relação ao Brasil, é impossível e até assustador prever como ele se comportaria no caso de uma eventual prisão de Bolsonaro, por mais provas que possa haver contra ele e por mais que os processos jurídicos sejam seguidos à risca. Indo mais longe, é incerto o comportamento dos EUA sob Trump nas eleições brasileiras de 2026, quando pode haver novas ameaças golpistas.

Outra preocupação brasileira é que uma vitória de Trump poderia ampliar a polarização global, especialmente entre EUA e China, o que colocaria em risco a estratégia brasileira de ficar em cima do muro, evitando se alinhar a qualquer uma das grandes potências internacionais. Trump pressionou o Brasil para não aceitar a presença de empresas chinesas, por exemplo, e isso pode voltar a colocar pressão sobre o país.

Ainda mais palpável é o receio sobre um possível impacto de uma vitória de Trump para a governança global. Uma das prioridades da política externa brasileira é ter voz ativa nas grandes questões globais por meio de instituições multilaterais. Mas Trump trabalhou para enfraquecer a importância dessas organizações, como a ONU e a Otan. Isso pode criar um ambiente global mais anárquico, com uma situação em que países sem poder bruto não têm espaço, tornando o Brasil um país sem relevância da política global.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump faz gesto a seus apoiadores após sobreviver a uma tentativa de assassinato  Foto: Gene J. Puskar/AP

Os EUA são a nação mais poderosa do mundo, e a preocupação com as eleições americanas não é uma exclusividade do Brasil, é claro –países em conflito e que dependem mais ativamente de apoio financeiro e militar, como Ucrânia e Israel (bem como a Palestina) têm ainda mais a perder.

Há um receio global ainda maior desde os disparos que feriram Donald Trump. Há quem fale em polarização mais acirrada no país, e até mesmo em risco de guerra civil.

Ainda faltam quatro meses até a decisão sobre o próximo governo americano. Independente de preferências políticas e ideológicas, a esperança é que até lá possa haver uma perspectiva mais clara sobre os rumos que o país vai tomar a partir do próximo ano. E aí o Brasil e o resto do mundo podem de fato se preparar para o que pode vir a mudar a partir de então.

O atentado contra o ex-presidente Donald Trump e a confirmação do seu nome como candidato republicano à Presidência dos EUA colocaram a eleição norte-americana deste ano no centro das atenções globais nos últimos dias. No resto do mundo, como no Brasil, começam a haver discussões sobre os possíveis impactos da decisão do eleitorado americano para a política internacional.

A percepção crescente é de que Trump está mais próximo de ser eleito para um segundo mandato, e o mundo começa a se preparar para este cenário, marcado especialmente pela incerteza. Isso vale especialmente para regiões mais “periféricas” das relações internacionais, como a América Latina e o Brasil.

O think tank americano Council on Foreign Relations tem acompanhado de perto a movimentação política americana e avaliado seus impactos nas relações do país com o mundo. Em duas páginas, discute em detalhes as posições de Joe Biden e de Trump para a política externa americana. A América Latina e o Brasil mal aparecem em uma lista de prioridades que inclui inteligência artificial, tecnologia da informação, a China, aquecimento global, a Otan, saúde, imigração, Oriente Médio, guerra na Ucrânia e comércio exterior.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump gesticula durante a convenção republicana em Milwaukee, Estados Unidos  Foto: Paul Sancya/AP

Os impactos da eleição americana para a América Latina são o tema central da edição mais recente da revista Americas Quarterly (AQ). A publicação reconhece que a falta de atenção dos EUA a seus vizinhos é uma tradição histórica e incômoda, mas ressalta que muitos dos temas centrais das eleições deste ano (imigração, drogas e investimentos) estão fundamentalmente ligados à região. Mais do que isso, aponta que 15% dos eleitores são latinos, que podem definir o próximo governante.

A sensação de incerteza sobre o que a eleição poderia representar para o Brasil, entretanto, só é reforçada ao ler os artigos reunidos pela AQ. O país até é mencionado no texto principal, ressaltando a importância da defesa que Biden fez da democracia durante as eleições de 2022 e o rápido reconhecimento da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas o maior país da América Latina não é foco de maior destaque além desse ponto.

Ricardo Zuñiga e Nicholas Zimmerman, que atuaram na política externa democrata, escrevem sobre essa questão da democracia em seu texto sobre como seria o segundo mandato de Biden. Eles também mencionam investimentos americanos em projetos no país, mas o foco central é apontar os riscos de uma vitória de Trump para a região.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se encontra com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em Nova York, Estados Unidos  Foto: Doug Mills/NYT

Mauricio Claver-Carone, ex-assessor do republicano, por sua vez, escreve sobre as perspectivas de que Trump trabalharia pela segurança nacional dos EUA e crescimento econômico mútuo com a região. O Brasil aparece apenas de passagem, em um momento, para alegar que os EUA deveriam priorizar países menores em seus investimentos.

A imprevisibilidade foi exatamente a justificativa dada pelo presidente Lula ao declarar que torcia pela reeleição de Biden. Essa preocupação faz com que integrantes do governo já se preparem para uma realidade em que o republicano volte ao poder – o mesmo acontece também em outros países na Europa, com muitos temendo uma “tempestade”.

Enquanto foi presidente, a relação de Trump com o Brasil foi fortemente marcada pela proximidade ideológica de Jair Bolsonaro com ele. No cenário atual, é preocupante pensar na forma como um novo governo do republicano lidaria com as acusações falsas de políticos da extrema-direita brasileira sobre uma “ditadura de esquerda” no Brasil.

Trump foi duro com governos que eram apontados como sendo governos autoritários de esquerda na região, e chegou a reconhecer Juan Guaidó como presidente da Venezuela, apesar de o governo continuar nas mãos de Nicolás Maduro. Em relação ao Brasil, é impossível e até assustador prever como ele se comportaria no caso de uma eventual prisão de Bolsonaro, por mais provas que possa haver contra ele e por mais que os processos jurídicos sejam seguidos à risca. Indo mais longe, é incerto o comportamento dos EUA sob Trump nas eleições brasileiras de 2026, quando pode haver novas ameaças golpistas.

Outra preocupação brasileira é que uma vitória de Trump poderia ampliar a polarização global, especialmente entre EUA e China, o que colocaria em risco a estratégia brasileira de ficar em cima do muro, evitando se alinhar a qualquer uma das grandes potências internacionais. Trump pressionou o Brasil para não aceitar a presença de empresas chinesas, por exemplo, e isso pode voltar a colocar pressão sobre o país.

Ainda mais palpável é o receio sobre um possível impacto de uma vitória de Trump para a governança global. Uma das prioridades da política externa brasileira é ter voz ativa nas grandes questões globais por meio de instituições multilaterais. Mas Trump trabalhou para enfraquecer a importância dessas organizações, como a ONU e a Otan. Isso pode criar um ambiente global mais anárquico, com uma situação em que países sem poder bruto não têm espaço, tornando o Brasil um país sem relevância da política global.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump faz gesto a seus apoiadores após sobreviver a uma tentativa de assassinato  Foto: Gene J. Puskar/AP

Os EUA são a nação mais poderosa do mundo, e a preocupação com as eleições americanas não é uma exclusividade do Brasil, é claro –países em conflito e que dependem mais ativamente de apoio financeiro e militar, como Ucrânia e Israel (bem como a Palestina) têm ainda mais a perder.

Há um receio global ainda maior desde os disparos que feriram Donald Trump. Há quem fale em polarização mais acirrada no país, e até mesmo em risco de guerra civil.

Ainda faltam quatro meses até a decisão sobre o próximo governo americano. Independente de preferências políticas e ideológicas, a esperança é que até lá possa haver uma perspectiva mais clara sobre os rumos que o país vai tomar a partir do próximo ano. E aí o Brasil e o resto do mundo podem de fato se preparar para o que pode vir a mudar a partir de então.

O atentado contra o ex-presidente Donald Trump e a confirmação do seu nome como candidato republicano à Presidência dos EUA colocaram a eleição norte-americana deste ano no centro das atenções globais nos últimos dias. No resto do mundo, como no Brasil, começam a haver discussões sobre os possíveis impactos da decisão do eleitorado americano para a política internacional.

A percepção crescente é de que Trump está mais próximo de ser eleito para um segundo mandato, e o mundo começa a se preparar para este cenário, marcado especialmente pela incerteza. Isso vale especialmente para regiões mais “periféricas” das relações internacionais, como a América Latina e o Brasil.

O think tank americano Council on Foreign Relations tem acompanhado de perto a movimentação política americana e avaliado seus impactos nas relações do país com o mundo. Em duas páginas, discute em detalhes as posições de Joe Biden e de Trump para a política externa americana. A América Latina e o Brasil mal aparecem em uma lista de prioridades que inclui inteligência artificial, tecnologia da informação, a China, aquecimento global, a Otan, saúde, imigração, Oriente Médio, guerra na Ucrânia e comércio exterior.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump gesticula durante a convenção republicana em Milwaukee, Estados Unidos  Foto: Paul Sancya/AP

Os impactos da eleição americana para a América Latina são o tema central da edição mais recente da revista Americas Quarterly (AQ). A publicação reconhece que a falta de atenção dos EUA a seus vizinhos é uma tradição histórica e incômoda, mas ressalta que muitos dos temas centrais das eleições deste ano (imigração, drogas e investimentos) estão fundamentalmente ligados à região. Mais do que isso, aponta que 15% dos eleitores são latinos, que podem definir o próximo governante.

A sensação de incerteza sobre o que a eleição poderia representar para o Brasil, entretanto, só é reforçada ao ler os artigos reunidos pela AQ. O país até é mencionado no texto principal, ressaltando a importância da defesa que Biden fez da democracia durante as eleições de 2022 e o rápido reconhecimento da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas o maior país da América Latina não é foco de maior destaque além desse ponto.

Ricardo Zuñiga e Nicholas Zimmerman, que atuaram na política externa democrata, escrevem sobre essa questão da democracia em seu texto sobre como seria o segundo mandato de Biden. Eles também mencionam investimentos americanos em projetos no país, mas o foco central é apontar os riscos de uma vitória de Trump para a região.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se encontra com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em Nova York, Estados Unidos  Foto: Doug Mills/NYT

Mauricio Claver-Carone, ex-assessor do republicano, por sua vez, escreve sobre as perspectivas de que Trump trabalharia pela segurança nacional dos EUA e crescimento econômico mútuo com a região. O Brasil aparece apenas de passagem, em um momento, para alegar que os EUA deveriam priorizar países menores em seus investimentos.

A imprevisibilidade foi exatamente a justificativa dada pelo presidente Lula ao declarar que torcia pela reeleição de Biden. Essa preocupação faz com que integrantes do governo já se preparem para uma realidade em que o republicano volte ao poder – o mesmo acontece também em outros países na Europa, com muitos temendo uma “tempestade”.

Enquanto foi presidente, a relação de Trump com o Brasil foi fortemente marcada pela proximidade ideológica de Jair Bolsonaro com ele. No cenário atual, é preocupante pensar na forma como um novo governo do republicano lidaria com as acusações falsas de políticos da extrema-direita brasileira sobre uma “ditadura de esquerda” no Brasil.

Trump foi duro com governos que eram apontados como sendo governos autoritários de esquerda na região, e chegou a reconhecer Juan Guaidó como presidente da Venezuela, apesar de o governo continuar nas mãos de Nicolás Maduro. Em relação ao Brasil, é impossível e até assustador prever como ele se comportaria no caso de uma eventual prisão de Bolsonaro, por mais provas que possa haver contra ele e por mais que os processos jurídicos sejam seguidos à risca. Indo mais longe, é incerto o comportamento dos EUA sob Trump nas eleições brasileiras de 2026, quando pode haver novas ameaças golpistas.

Outra preocupação brasileira é que uma vitória de Trump poderia ampliar a polarização global, especialmente entre EUA e China, o que colocaria em risco a estratégia brasileira de ficar em cima do muro, evitando se alinhar a qualquer uma das grandes potências internacionais. Trump pressionou o Brasil para não aceitar a presença de empresas chinesas, por exemplo, e isso pode voltar a colocar pressão sobre o país.

Ainda mais palpável é o receio sobre um possível impacto de uma vitória de Trump para a governança global. Uma das prioridades da política externa brasileira é ter voz ativa nas grandes questões globais por meio de instituições multilaterais. Mas Trump trabalhou para enfraquecer a importância dessas organizações, como a ONU e a Otan. Isso pode criar um ambiente global mais anárquico, com uma situação em que países sem poder bruto não têm espaço, tornando o Brasil um país sem relevância da política global.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump faz gesto a seus apoiadores após sobreviver a uma tentativa de assassinato  Foto: Gene J. Puskar/AP

Os EUA são a nação mais poderosa do mundo, e a preocupação com as eleições americanas não é uma exclusividade do Brasil, é claro –países em conflito e que dependem mais ativamente de apoio financeiro e militar, como Ucrânia e Israel (bem como a Palestina) têm ainda mais a perder.

Há um receio global ainda maior desde os disparos que feriram Donald Trump. Há quem fale em polarização mais acirrada no país, e até mesmo em risco de guerra civil.

Ainda faltam quatro meses até a decisão sobre o próximo governo americano. Independente de preferências políticas e ideológicas, a esperança é que até lá possa haver uma perspectiva mais clara sobre os rumos que o país vai tomar a partir do próximo ano. E aí o Brasil e o resto do mundo podem de fato se preparar para o que pode vir a mudar a partir de então.

Opinião por Daniel Buarque

*Editor-executivo do portal Interesse Nacional. Jornalista e doutor em Relações Internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. Mestre pelo KCL e autor dos livros Brazil’s international status and recognition as an emerging power: inconsistencies and complexities (Palgrave Macmillan), Brazil, um país do presente (Alameda Editorial), O Brazil é um país sério? (Pioneira) e O Brasil voltou? (Pioneira)

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