Seis em cada dez habitantes do planeta depositarão um voto na urna em 2024. Haverá eleições para todos os gostos: nacionais, municipais, regionais, legislativas, democráticas, de fachada e até uma que será decidida no colégio eleitoral. O recorde de eleitores se deve, em parte, à coincidência da realização de votações em países populosos, como a Índia, Indonésia, Bangladesh, Brasil e Estados Unidos, mas, do ponto de vista político, algumas dessas eleições têm o potencial de influir nos rumos das relações internacionais neste ano.
Os Estados Unidos caminham para uma revanche entre Joe Biden e Donald Trump. Na União Europeia, partidos populistas de direita céticos em relação ao futuro do bloco devem ganhar espaço na renovação do Parlamento Europeu. No México, o populista de esquerda Andrés Manuel Lopez Obrador tenta fazer a sucessora e na Índia o nacionalista Narendra Modi caminha para a reeleição em meio a acusações de abuso de poder por parte da oposição.
Países populosos como o Brasil, que escolherá prefeitos e vereadores, e Indonésia e Paquistão, dois dos maiores país muçulmanos do mundo também terão eleições. Nações pequenas, como Uruguai e Islândia, e democracias multirraciais, como a África do Sul, terão, ao fim do ano, um novo comando.
E até países autoritários também organizarão eleições. Rússia, Irã, Venezuela e Belarus são alguns exemplos, apesar de o resultado ser mais do que previsível. A Ucrânia, em guerra, também tem eleições marcadas para este ano.
Por isso, o Estadão preparou um guia com uma série de reportagens especiais sobre as principais eleições deste ano, para explicar o que está em jogo nas urnas. A série começa nesta terça-feira, 9, com uma reportagem sobre as eleições em Taiwan e termina domingo, com uma matéria sobre a votação na Índia.
Veja abaixo um resumo das principais eleições deste ano
Nos Estados Unidos, Trump volta a disputar a presidência após ter questionado o resultado eleitoral de 2020. Ele também ameaçou rivais com retaliação política caso volte à Casa Branca. Segundo pesquisa de opinião recentes feitas entre eleitores republicanos em Iowa, que abre a temporada de primárias na semana que vem com o caucus, uma espécie de convenção com direito a voto entre filiados, as ameaças de Trump contra adversários é bem-vista por 20% de seu eleitorado.
A polarização tem efeito prejudicial para os americanos. “A vivência democrática, o compromisso e a construção de coalizões se tornaram mais difíceis”, observou o think tank britânico Chatham House em um relatório no mês passado. “Os esforços para reduzir a desigualdade de rendimentos falharam até agora e os dados dos Estados-chave para a disputa no colégio eleitoral sugerem que esta situação está pior do que nunca, de acordo com o recente Survey of Consumer Finances do Fed, o Banco Central Americano. É neste contexto que as eleições de 2024 devem ocorrer”.
União Europeia
A política europeia vive um sentimento de crise semelhante. O avanço da extrema direita, alimentado pela angústia do público em relação à migração e à estagnação das economias, pode ver o seu momento culminante nas eleições parlamentares da UE em junho.
“É perfeitamente possível que as várias forças da extrema direita possam emergir como o maior bloco único do Parlamento Europeu”, escreveu John Kampfner na Foreign Policy, uma importante publicação americana sobre política externa. “Isto pode não levar a uma mudança na composição da Comissão Europeia, já que os partidos tradicionais devem ter assentos suficientes para manter os cargos executivos do bloco, mas qualquer avanço populista mudará a dinâmica geral em toda a Europa.”
Seja em coligação ou à frente de um bloco no poder, a extrema direita também parece destinada a chegar ao poder em Portugal, em março, e na Áustria, no final deste ano. Na Alemanha, o motor econômico da Europa, a extrema direita em ascensão poderá obter vitórias sem precedentes num algumas eleições estaduais.
Os conservadores britânicos, em dificuldades, apostam num discurso duro contra a imigração, numa tentativa desesperada de evitar o que parece ser uma derrota eleitoral iminente este ano para o Partido Trabalhista, liderado por Keir Starmer, um político moderado de oposição. A votação ainda não está marcada.
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Bangladesh
Longe do Ocidente, várias democracias estão sob ameaça. As eleições deste fim de semana no Bangladesh vão prolongar o mandato da primeira-ministra Sheikh Hasina, que, segundo os críticos, transformou o país num Estado de facto de partido único.
Índia
Na Índia, os nacionalistas hindus do primeiro-ministro Narendra Modi deverão aprofundar o seu domínio nas eleições de abril e maio. Um novo mandato de cinco anos para Modi afastará ainda mais a república indiana dos conceitos pluralistas que marcaram da sua fundação.
África do Sul
O Congresso Nacional Africano enfrentará o seu teste mais duro, no meio de um desencanto mais alargado dos eleitores e de frustrações com a democracia pós-apartheid do país, e a oposição tem chances de ser competitiva. O apreço pela democracia no país também está em baixa. Numa sondagem recente, cerca de três quartos dos sul-africanos afirmaram estar dispostos a sacrificar a sua democracia se um líder conseguisse criar emprego e reduzir a criminalidade. A eleição, no entanto, ainda não foi marcada.
Outras eleições
As eleições na Indonésia, em fevereiro, e no México, em junho, poderão fazer com que os presidentes de saída do poder prolonguem a sua influência através de sucessores amigáveis, para grande desgosto das elites políticas rivais.
O regime do presidente Nicolás Maduro na Venezuela deve realizar eleições este ano, após negociações com a oposição do país. Não se sabe se elas serão livres ou justas. Na Ucrânia, as eleições presidenciais deverão ocorrer no final de março, mas a situação de emergência imposta pela invasão russa poderá levar o presidente Volodimir Zelenski a adiar a votação.
E o Paquistão, mergulhado numa crise política desde a destituição (e posterior prisão) do primeiro-ministro populista Imran Khan, em 2022, está tentando virar a página com eleições em fevereiro, embora a facção de Khan continue indignada com as alegadas tentativas de empilhar o voto contra eles.
Em Taiwan, onde se realizam eleições este mês, uma vitória do Partido Democrático Progressista, no poder, deverá aumentar a possibilidade de uma escalada militar chinesa sobre o estreito - algo que tem sido sublinhado pelo Kuomintang, na oposição, que é mais amigo de Pequim. Seja qual for o resultado, observou Simon Tisdall, do Guardian, a votação “será uma valiosa demonstração de como a democracia ainda é valorizada - quando um povo determinado tem direito a uma verdadeira escolha no meio de fortes pressões externas”. / COM W.POST
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