As oportunidades e perigos de Elon Musk no cargo de ‘disruptor-chefe’ de Donald Trump


Trump tem um mandato para tal disrupção, grande parte da população em geral está frustrada com a prodigalidade e incompetência do governo

Por The Economist
Atualização:

Em 2017, Elon Musk rotulou Donald Trump como um “vigarista” e “um dos melhores mentirosos do mundo”. Agora ele é conhecido em Mar-a-Lago como Tio Elon e está no círculo íntimo do presidente eleito. Essa semana, eles assistiram juntos ao lançamento de um foguete. A aliança do principal político do mundo com o homem mais rico do mundo cria uma concentração de poder que ambos querem usar com efeito explosivo: cortar a burocracia, detonar ortodoxias liberais e desregulamentar em nome do crescimento.

Trump tem um mandato para tal disrupção. Apesar do poderio econômico dos Estados Unidos, grande parte da população em geral, de Wall Street e do Vale do Silício está frustrada com a prodigalidade e incompetência do governo. Eles têm razão. O Estado precisa de uma reforma. No entanto, a reforma liderada por Musk corre o risco de criar um novo problema para os EUA: o surgimento de uma oligarquia corrupta e inflamável.

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Semanas depois de ajudar Trump a vencer a eleição, Musk chegou ao ápice do poder. O presidente eleito o nomeou para um novo órgão consultivo, chamado Doge, encarregado de cortar gastos. Musk já está em contato com líderes estrangeiros e fazendo lobby para nomeações para o gabinete. Não é a primeira vez que um magnata tem influência extraordinária nos EUA. No século XIX, barões ladrões como John D. Rockefeller dominavam a economia. No início do século XX, quando não havia o Federal Reserve, John Pierpont Morgan agia como um banco central de um homem só.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, conversa com o empresário Elon Musk antes do lançamento do foguete da SpaceX, em Boca Chica, Texas  Foto: Brandon Bell/AP

As empresas de Musk são mais globais do que os grandes monopólios dos séculos XIX e XX, e menores se medidas pelos lucros em relação ao PIB. O Musk corporativo vale o equivalente a apenas 2% do mercado de ações dos Estados Unidos. Suas principais unidades são a Tesla, uma empresa de carros elétricos; a SpaceX, seu negócio de comunicações por satélite e foguetes; X, anteriormente Twitter; e xAI, uma startup de inteligência artificial que foi avaliada em US$ 50 bilhões em uma negociação esta semana. A maioria delas tem participação de mercado abaixo de 30% e enfrenta concorrência real. A Economist avalia que 10% da fortuna pessoal de US$ 360 bilhões de Musk seriam derivados de contratos e brindes do Tio Sam, e 15% do mercado chinês, com o restante dividido entre clientes nacionais e internacionais.

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Musk também é diferente por ser um disruptor. Em vez de explorar monopólios para aumentar os preços ou criar um sistema bancário estável como base para as finanças, a maior parte dos esforços corporativos de Musk usa tecnologia para cortar custos em mercados competitivos. Essa disrupção é central para a ideologia messiânica de Musk, na qual a inovação conquista os desafios intratáveis da humanidade, das mudanças climáticas à colonização de Marte. A realização desses objetivos distantes depende de um gênio para repensar constantemente os processos industriais. Seu desejo por uma ação mais livre ajuda a explicar seu desprezo pelas ortodoxias, incluindo o que ele considera um conformismo woke. Dos burocratas que permitiram que o mercado de lançamentos espaciais do governo americano fosse manipulado por empresas de defesa aos fiscais californianos que regulam as fábricas da Tesla, ele vê o Estado como um impedimento ao crescimento.

Tanto Trump quanto Musk querem trazer disrupção para todo o governo federal. Musk disse que o Doge pode ter como objetivo cortar até US$ 2 trilhões do orçamento federal anual de US$ 7 trilhões e abolir muitas agências. É fácil ridicularizar essas metas como ingênuas — US$ 2 trilhões é mais do que todo o gasto discricionário do governo. Mas, com um déficit orçamentário de 6% do PIB e uma dívida de quase 100%, uma reforma é necessária. A máquina do Pentágono está lutando para se adaptar à era dos drones e da IA. O lobby das empresas incumbentes ajuda a explicar por que as regulamentações federais chegam a 90.000 páginas, perto de um recorde histórico. Mesmo que Musk alcance apenas uma fração de sua liberalização, talvez os EUA tenham muito a ganhar.

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Quais são, no entanto, os perigos? Um é o nepotismo e a corrupção. O presidente eleito é um nacionalista econômico e as indústrias nas quais Musk tem interesse se tornaram estratégicas, graças à rivalidade com a China, à militarização do espaço e às guerras de desinformação transfronteiriças. A proximidade com o poder pode permitir que ele distorça regulamentações e tarifas e prejudique concorrentes em campos que vão de carros e criptomoedas, passando por veículos autônomos e IA. Desde o início de setembro, o valor total dos negócios de Musk aumentou em 50%, para US$ 1,4 trilhão, superando em muito o desempenho do mercado e de seus pares, já que os investidores apostam que seu chefe será capaz de extrair de sua amizade com o presidente uma renda excepcional.

Ao mesmo tempo, Musk pode fracassar, especialmente atuando fora de suas áreas de especialização. Ele demonstrou julgamento errático em relações exteriores, ao microgerenciar o uso do serviço de satélite Starlink na Ucrânia e comparar o status de Taiwan ao do Havaí. Seu amor pelos holofotes e conspirações, e pelo turbilhão das mídias sociais, é preocupante. Com US$ 50 bilhões de sua riqueza pessoal vinculados à China, que hospeda metade da produção da Tesla, ele é um alvo óbvio para manipulações.

Ele também pode fracassar antes mesmo de começar, por causa da inflamabilidade da combinação Trump-Musk. O próximo presidente adora contratar e demitir. O magnata da tecnologia também queima executivos e relacionamentos. A fusão do viés libertário do Vale do Silício e tecno-utopismo com o nacionalismo do movimento Maga do mundo de Trump é inerentemente volátil. Reformar o governo requer paciência e diplomacia, e nenhuma delas é um ponto forte de Musk.

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O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, escuta uma explicação do bilionário Elon Musk durante um evento de lançamento do foguete da SpaceX, em Boca Chica, Texas  Foto: Brandon Bell/AP

Em outro planeta

Se a carreira política de Musk for breve, talvez ela ainda tenha dois efeitos duradouros e perniciosos. Um seria afastar os políticos da reforma do governo. Com a nomeação dele, esse objetivo recebeu mais atenção do que nunca. Mas, se ele montar um programa mal feito que termine em um fracasso espetacular, a ambição de lidar com os gastos será adiada por anos.

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O outro efeito seria normalizar o conluio entre políticos e magnatas. Conforme o Estado se expande para o comércio, a política industrial e a tecnologia, os incentivos para a captura do estado estão crescendo. Ao mesmo tempo, o método de Trump envolve o enfraquecimento de instituições e práticas supostamente como forma de proteção contra conflitos de interesse. Os EUA estão muito longe de se comportar como um mercado emergente. Mas, se os titãs empresariais oligárquicos trabalhassem habitualmente com políticos dominantes, o país sofreria grandes danos. Isso costumava ser impensável; não mais. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Em 2017, Elon Musk rotulou Donald Trump como um “vigarista” e “um dos melhores mentirosos do mundo”. Agora ele é conhecido em Mar-a-Lago como Tio Elon e está no círculo íntimo do presidente eleito. Essa semana, eles assistiram juntos ao lançamento de um foguete. A aliança do principal político do mundo com o homem mais rico do mundo cria uma concentração de poder que ambos querem usar com efeito explosivo: cortar a burocracia, detonar ortodoxias liberais e desregulamentar em nome do crescimento.

Trump tem um mandato para tal disrupção. Apesar do poderio econômico dos Estados Unidos, grande parte da população em geral, de Wall Street e do Vale do Silício está frustrada com a prodigalidade e incompetência do governo. Eles têm razão. O Estado precisa de uma reforma. No entanto, a reforma liderada por Musk corre o risco de criar um novo problema para os EUA: o surgimento de uma oligarquia corrupta e inflamável.

Semanas depois de ajudar Trump a vencer a eleição, Musk chegou ao ápice do poder. O presidente eleito o nomeou para um novo órgão consultivo, chamado Doge, encarregado de cortar gastos. Musk já está em contato com líderes estrangeiros e fazendo lobby para nomeações para o gabinete. Não é a primeira vez que um magnata tem influência extraordinária nos EUA. No século XIX, barões ladrões como John D. Rockefeller dominavam a economia. No início do século XX, quando não havia o Federal Reserve, John Pierpont Morgan agia como um banco central de um homem só.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, conversa com o empresário Elon Musk antes do lançamento do foguete da SpaceX, em Boca Chica, Texas  Foto: Brandon Bell/AP

As empresas de Musk são mais globais do que os grandes monopólios dos séculos XIX e XX, e menores se medidas pelos lucros em relação ao PIB. O Musk corporativo vale o equivalente a apenas 2% do mercado de ações dos Estados Unidos. Suas principais unidades são a Tesla, uma empresa de carros elétricos; a SpaceX, seu negócio de comunicações por satélite e foguetes; X, anteriormente Twitter; e xAI, uma startup de inteligência artificial que foi avaliada em US$ 50 bilhões em uma negociação esta semana. A maioria delas tem participação de mercado abaixo de 30% e enfrenta concorrência real. A Economist avalia que 10% da fortuna pessoal de US$ 360 bilhões de Musk seriam derivados de contratos e brindes do Tio Sam, e 15% do mercado chinês, com o restante dividido entre clientes nacionais e internacionais.

Musk também é diferente por ser um disruptor. Em vez de explorar monopólios para aumentar os preços ou criar um sistema bancário estável como base para as finanças, a maior parte dos esforços corporativos de Musk usa tecnologia para cortar custos em mercados competitivos. Essa disrupção é central para a ideologia messiânica de Musk, na qual a inovação conquista os desafios intratáveis da humanidade, das mudanças climáticas à colonização de Marte. A realização desses objetivos distantes depende de um gênio para repensar constantemente os processos industriais. Seu desejo por uma ação mais livre ajuda a explicar seu desprezo pelas ortodoxias, incluindo o que ele considera um conformismo woke. Dos burocratas que permitiram que o mercado de lançamentos espaciais do governo americano fosse manipulado por empresas de defesa aos fiscais californianos que regulam as fábricas da Tesla, ele vê o Estado como um impedimento ao crescimento.

Tanto Trump quanto Musk querem trazer disrupção para todo o governo federal. Musk disse que o Doge pode ter como objetivo cortar até US$ 2 trilhões do orçamento federal anual de US$ 7 trilhões e abolir muitas agências. É fácil ridicularizar essas metas como ingênuas — US$ 2 trilhões é mais do que todo o gasto discricionário do governo. Mas, com um déficit orçamentário de 6% do PIB e uma dívida de quase 100%, uma reforma é necessária. A máquina do Pentágono está lutando para se adaptar à era dos drones e da IA. O lobby das empresas incumbentes ajuda a explicar por que as regulamentações federais chegam a 90.000 páginas, perto de um recorde histórico. Mesmo que Musk alcance apenas uma fração de sua liberalização, talvez os EUA tenham muito a ganhar.

Quais são, no entanto, os perigos? Um é o nepotismo e a corrupção. O presidente eleito é um nacionalista econômico e as indústrias nas quais Musk tem interesse se tornaram estratégicas, graças à rivalidade com a China, à militarização do espaço e às guerras de desinformação transfronteiriças. A proximidade com o poder pode permitir que ele distorça regulamentações e tarifas e prejudique concorrentes em campos que vão de carros e criptomoedas, passando por veículos autônomos e IA. Desde o início de setembro, o valor total dos negócios de Musk aumentou em 50%, para US$ 1,4 trilhão, superando em muito o desempenho do mercado e de seus pares, já que os investidores apostam que seu chefe será capaz de extrair de sua amizade com o presidente uma renda excepcional.

Ao mesmo tempo, Musk pode fracassar, especialmente atuando fora de suas áreas de especialização. Ele demonstrou julgamento errático em relações exteriores, ao microgerenciar o uso do serviço de satélite Starlink na Ucrânia e comparar o status de Taiwan ao do Havaí. Seu amor pelos holofotes e conspirações, e pelo turbilhão das mídias sociais, é preocupante. Com US$ 50 bilhões de sua riqueza pessoal vinculados à China, que hospeda metade da produção da Tesla, ele é um alvo óbvio para manipulações.

Ele também pode fracassar antes mesmo de começar, por causa da inflamabilidade da combinação Trump-Musk. O próximo presidente adora contratar e demitir. O magnata da tecnologia também queima executivos e relacionamentos. A fusão do viés libertário do Vale do Silício e tecno-utopismo com o nacionalismo do movimento Maga do mundo de Trump é inerentemente volátil. Reformar o governo requer paciência e diplomacia, e nenhuma delas é um ponto forte de Musk.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, escuta uma explicação do bilionário Elon Musk durante um evento de lançamento do foguete da SpaceX, em Boca Chica, Texas  Foto: Brandon Bell/AP

Em outro planeta

Se a carreira política de Musk for breve, talvez ela ainda tenha dois efeitos duradouros e perniciosos. Um seria afastar os políticos da reforma do governo. Com a nomeação dele, esse objetivo recebeu mais atenção do que nunca. Mas, se ele montar um programa mal feito que termine em um fracasso espetacular, a ambição de lidar com os gastos será adiada por anos.

O outro efeito seria normalizar o conluio entre políticos e magnatas. Conforme o Estado se expande para o comércio, a política industrial e a tecnologia, os incentivos para a captura do estado estão crescendo. Ao mesmo tempo, o método de Trump envolve o enfraquecimento de instituições e práticas supostamente como forma de proteção contra conflitos de interesse. Os EUA estão muito longe de se comportar como um mercado emergente. Mas, se os titãs empresariais oligárquicos trabalhassem habitualmente com políticos dominantes, o país sofreria grandes danos. Isso costumava ser impensável; não mais. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Em 2017, Elon Musk rotulou Donald Trump como um “vigarista” e “um dos melhores mentirosos do mundo”. Agora ele é conhecido em Mar-a-Lago como Tio Elon e está no círculo íntimo do presidente eleito. Essa semana, eles assistiram juntos ao lançamento de um foguete. A aliança do principal político do mundo com o homem mais rico do mundo cria uma concentração de poder que ambos querem usar com efeito explosivo: cortar a burocracia, detonar ortodoxias liberais e desregulamentar em nome do crescimento.

Trump tem um mandato para tal disrupção. Apesar do poderio econômico dos Estados Unidos, grande parte da população em geral, de Wall Street e do Vale do Silício está frustrada com a prodigalidade e incompetência do governo. Eles têm razão. O Estado precisa de uma reforma. No entanto, a reforma liderada por Musk corre o risco de criar um novo problema para os EUA: o surgimento de uma oligarquia corrupta e inflamável.

Semanas depois de ajudar Trump a vencer a eleição, Musk chegou ao ápice do poder. O presidente eleito o nomeou para um novo órgão consultivo, chamado Doge, encarregado de cortar gastos. Musk já está em contato com líderes estrangeiros e fazendo lobby para nomeações para o gabinete. Não é a primeira vez que um magnata tem influência extraordinária nos EUA. No século XIX, barões ladrões como John D. Rockefeller dominavam a economia. No início do século XX, quando não havia o Federal Reserve, John Pierpont Morgan agia como um banco central de um homem só.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, conversa com o empresário Elon Musk antes do lançamento do foguete da SpaceX, em Boca Chica, Texas  Foto: Brandon Bell/AP

As empresas de Musk são mais globais do que os grandes monopólios dos séculos XIX e XX, e menores se medidas pelos lucros em relação ao PIB. O Musk corporativo vale o equivalente a apenas 2% do mercado de ações dos Estados Unidos. Suas principais unidades são a Tesla, uma empresa de carros elétricos; a SpaceX, seu negócio de comunicações por satélite e foguetes; X, anteriormente Twitter; e xAI, uma startup de inteligência artificial que foi avaliada em US$ 50 bilhões em uma negociação esta semana. A maioria delas tem participação de mercado abaixo de 30% e enfrenta concorrência real. A Economist avalia que 10% da fortuna pessoal de US$ 360 bilhões de Musk seriam derivados de contratos e brindes do Tio Sam, e 15% do mercado chinês, com o restante dividido entre clientes nacionais e internacionais.

Musk também é diferente por ser um disruptor. Em vez de explorar monopólios para aumentar os preços ou criar um sistema bancário estável como base para as finanças, a maior parte dos esforços corporativos de Musk usa tecnologia para cortar custos em mercados competitivos. Essa disrupção é central para a ideologia messiânica de Musk, na qual a inovação conquista os desafios intratáveis da humanidade, das mudanças climáticas à colonização de Marte. A realização desses objetivos distantes depende de um gênio para repensar constantemente os processos industriais. Seu desejo por uma ação mais livre ajuda a explicar seu desprezo pelas ortodoxias, incluindo o que ele considera um conformismo woke. Dos burocratas que permitiram que o mercado de lançamentos espaciais do governo americano fosse manipulado por empresas de defesa aos fiscais californianos que regulam as fábricas da Tesla, ele vê o Estado como um impedimento ao crescimento.

Tanto Trump quanto Musk querem trazer disrupção para todo o governo federal. Musk disse que o Doge pode ter como objetivo cortar até US$ 2 trilhões do orçamento federal anual de US$ 7 trilhões e abolir muitas agências. É fácil ridicularizar essas metas como ingênuas — US$ 2 trilhões é mais do que todo o gasto discricionário do governo. Mas, com um déficit orçamentário de 6% do PIB e uma dívida de quase 100%, uma reforma é necessária. A máquina do Pentágono está lutando para se adaptar à era dos drones e da IA. O lobby das empresas incumbentes ajuda a explicar por que as regulamentações federais chegam a 90.000 páginas, perto de um recorde histórico. Mesmo que Musk alcance apenas uma fração de sua liberalização, talvez os EUA tenham muito a ganhar.

Quais são, no entanto, os perigos? Um é o nepotismo e a corrupção. O presidente eleito é um nacionalista econômico e as indústrias nas quais Musk tem interesse se tornaram estratégicas, graças à rivalidade com a China, à militarização do espaço e às guerras de desinformação transfronteiriças. A proximidade com o poder pode permitir que ele distorça regulamentações e tarifas e prejudique concorrentes em campos que vão de carros e criptomoedas, passando por veículos autônomos e IA. Desde o início de setembro, o valor total dos negócios de Musk aumentou em 50%, para US$ 1,4 trilhão, superando em muito o desempenho do mercado e de seus pares, já que os investidores apostam que seu chefe será capaz de extrair de sua amizade com o presidente uma renda excepcional.

Ao mesmo tempo, Musk pode fracassar, especialmente atuando fora de suas áreas de especialização. Ele demonstrou julgamento errático em relações exteriores, ao microgerenciar o uso do serviço de satélite Starlink na Ucrânia e comparar o status de Taiwan ao do Havaí. Seu amor pelos holofotes e conspirações, e pelo turbilhão das mídias sociais, é preocupante. Com US$ 50 bilhões de sua riqueza pessoal vinculados à China, que hospeda metade da produção da Tesla, ele é um alvo óbvio para manipulações.

Ele também pode fracassar antes mesmo de começar, por causa da inflamabilidade da combinação Trump-Musk. O próximo presidente adora contratar e demitir. O magnata da tecnologia também queima executivos e relacionamentos. A fusão do viés libertário do Vale do Silício e tecno-utopismo com o nacionalismo do movimento Maga do mundo de Trump é inerentemente volátil. Reformar o governo requer paciência e diplomacia, e nenhuma delas é um ponto forte de Musk.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, escuta uma explicação do bilionário Elon Musk durante um evento de lançamento do foguete da SpaceX, em Boca Chica, Texas  Foto: Brandon Bell/AP

Em outro planeta

Se a carreira política de Musk for breve, talvez ela ainda tenha dois efeitos duradouros e perniciosos. Um seria afastar os políticos da reforma do governo. Com a nomeação dele, esse objetivo recebeu mais atenção do que nunca. Mas, se ele montar um programa mal feito que termine em um fracasso espetacular, a ambição de lidar com os gastos será adiada por anos.

O outro efeito seria normalizar o conluio entre políticos e magnatas. Conforme o Estado se expande para o comércio, a política industrial e a tecnologia, os incentivos para a captura do estado estão crescendo. Ao mesmo tempo, o método de Trump envolve o enfraquecimento de instituições e práticas supostamente como forma de proteção contra conflitos de interesse. Os EUA estão muito longe de se comportar como um mercado emergente. Mas, se os titãs empresariais oligárquicos trabalhassem habitualmente com políticos dominantes, o país sofreria grandes danos. Isso costumava ser impensável; não mais. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Em 2017, Elon Musk rotulou Donald Trump como um “vigarista” e “um dos melhores mentirosos do mundo”. Agora ele é conhecido em Mar-a-Lago como Tio Elon e está no círculo íntimo do presidente eleito. Essa semana, eles assistiram juntos ao lançamento de um foguete. A aliança do principal político do mundo com o homem mais rico do mundo cria uma concentração de poder que ambos querem usar com efeito explosivo: cortar a burocracia, detonar ortodoxias liberais e desregulamentar em nome do crescimento.

Trump tem um mandato para tal disrupção. Apesar do poderio econômico dos Estados Unidos, grande parte da população em geral, de Wall Street e do Vale do Silício está frustrada com a prodigalidade e incompetência do governo. Eles têm razão. O Estado precisa de uma reforma. No entanto, a reforma liderada por Musk corre o risco de criar um novo problema para os EUA: o surgimento de uma oligarquia corrupta e inflamável.

Semanas depois de ajudar Trump a vencer a eleição, Musk chegou ao ápice do poder. O presidente eleito o nomeou para um novo órgão consultivo, chamado Doge, encarregado de cortar gastos. Musk já está em contato com líderes estrangeiros e fazendo lobby para nomeações para o gabinete. Não é a primeira vez que um magnata tem influência extraordinária nos EUA. No século XIX, barões ladrões como John D. Rockefeller dominavam a economia. No início do século XX, quando não havia o Federal Reserve, John Pierpont Morgan agia como um banco central de um homem só.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, conversa com o empresário Elon Musk antes do lançamento do foguete da SpaceX, em Boca Chica, Texas  Foto: Brandon Bell/AP

As empresas de Musk são mais globais do que os grandes monopólios dos séculos XIX e XX, e menores se medidas pelos lucros em relação ao PIB. O Musk corporativo vale o equivalente a apenas 2% do mercado de ações dos Estados Unidos. Suas principais unidades são a Tesla, uma empresa de carros elétricos; a SpaceX, seu negócio de comunicações por satélite e foguetes; X, anteriormente Twitter; e xAI, uma startup de inteligência artificial que foi avaliada em US$ 50 bilhões em uma negociação esta semana. A maioria delas tem participação de mercado abaixo de 30% e enfrenta concorrência real. A Economist avalia que 10% da fortuna pessoal de US$ 360 bilhões de Musk seriam derivados de contratos e brindes do Tio Sam, e 15% do mercado chinês, com o restante dividido entre clientes nacionais e internacionais.

Musk também é diferente por ser um disruptor. Em vez de explorar monopólios para aumentar os preços ou criar um sistema bancário estável como base para as finanças, a maior parte dos esforços corporativos de Musk usa tecnologia para cortar custos em mercados competitivos. Essa disrupção é central para a ideologia messiânica de Musk, na qual a inovação conquista os desafios intratáveis da humanidade, das mudanças climáticas à colonização de Marte. A realização desses objetivos distantes depende de um gênio para repensar constantemente os processos industriais. Seu desejo por uma ação mais livre ajuda a explicar seu desprezo pelas ortodoxias, incluindo o que ele considera um conformismo woke. Dos burocratas que permitiram que o mercado de lançamentos espaciais do governo americano fosse manipulado por empresas de defesa aos fiscais californianos que regulam as fábricas da Tesla, ele vê o Estado como um impedimento ao crescimento.

Tanto Trump quanto Musk querem trazer disrupção para todo o governo federal. Musk disse que o Doge pode ter como objetivo cortar até US$ 2 trilhões do orçamento federal anual de US$ 7 trilhões e abolir muitas agências. É fácil ridicularizar essas metas como ingênuas — US$ 2 trilhões é mais do que todo o gasto discricionário do governo. Mas, com um déficit orçamentário de 6% do PIB e uma dívida de quase 100%, uma reforma é necessária. A máquina do Pentágono está lutando para se adaptar à era dos drones e da IA. O lobby das empresas incumbentes ajuda a explicar por que as regulamentações federais chegam a 90.000 páginas, perto de um recorde histórico. Mesmo que Musk alcance apenas uma fração de sua liberalização, talvez os EUA tenham muito a ganhar.

Quais são, no entanto, os perigos? Um é o nepotismo e a corrupção. O presidente eleito é um nacionalista econômico e as indústrias nas quais Musk tem interesse se tornaram estratégicas, graças à rivalidade com a China, à militarização do espaço e às guerras de desinformação transfronteiriças. A proximidade com o poder pode permitir que ele distorça regulamentações e tarifas e prejudique concorrentes em campos que vão de carros e criptomoedas, passando por veículos autônomos e IA. Desde o início de setembro, o valor total dos negócios de Musk aumentou em 50%, para US$ 1,4 trilhão, superando em muito o desempenho do mercado e de seus pares, já que os investidores apostam que seu chefe será capaz de extrair de sua amizade com o presidente uma renda excepcional.

Ao mesmo tempo, Musk pode fracassar, especialmente atuando fora de suas áreas de especialização. Ele demonstrou julgamento errático em relações exteriores, ao microgerenciar o uso do serviço de satélite Starlink na Ucrânia e comparar o status de Taiwan ao do Havaí. Seu amor pelos holofotes e conspirações, e pelo turbilhão das mídias sociais, é preocupante. Com US$ 50 bilhões de sua riqueza pessoal vinculados à China, que hospeda metade da produção da Tesla, ele é um alvo óbvio para manipulações.

Ele também pode fracassar antes mesmo de começar, por causa da inflamabilidade da combinação Trump-Musk. O próximo presidente adora contratar e demitir. O magnata da tecnologia também queima executivos e relacionamentos. A fusão do viés libertário do Vale do Silício e tecno-utopismo com o nacionalismo do movimento Maga do mundo de Trump é inerentemente volátil. Reformar o governo requer paciência e diplomacia, e nenhuma delas é um ponto forte de Musk.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, escuta uma explicação do bilionário Elon Musk durante um evento de lançamento do foguete da SpaceX, em Boca Chica, Texas  Foto: Brandon Bell/AP

Em outro planeta

Se a carreira política de Musk for breve, talvez ela ainda tenha dois efeitos duradouros e perniciosos. Um seria afastar os políticos da reforma do governo. Com a nomeação dele, esse objetivo recebeu mais atenção do que nunca. Mas, se ele montar um programa mal feito que termine em um fracasso espetacular, a ambição de lidar com os gastos será adiada por anos.

O outro efeito seria normalizar o conluio entre políticos e magnatas. Conforme o Estado se expande para o comércio, a política industrial e a tecnologia, os incentivos para a captura do estado estão crescendo. Ao mesmo tempo, o método de Trump envolve o enfraquecimento de instituições e práticas supostamente como forma de proteção contra conflitos de interesse. Os EUA estão muito longe de se comportar como um mercado emergente. Mas, se os titãs empresariais oligárquicos trabalhassem habitualmente com políticos dominantes, o país sofreria grandes danos. Isso costumava ser impensável; não mais. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Em 2017, Elon Musk rotulou Donald Trump como um “vigarista” e “um dos melhores mentirosos do mundo”. Agora ele é conhecido em Mar-a-Lago como Tio Elon e está no círculo íntimo do presidente eleito. Essa semana, eles assistiram juntos ao lançamento de um foguete. A aliança do principal político do mundo com o homem mais rico do mundo cria uma concentração de poder que ambos querem usar com efeito explosivo: cortar a burocracia, detonar ortodoxias liberais e desregulamentar em nome do crescimento.

Trump tem um mandato para tal disrupção. Apesar do poderio econômico dos Estados Unidos, grande parte da população em geral, de Wall Street e do Vale do Silício está frustrada com a prodigalidade e incompetência do governo. Eles têm razão. O Estado precisa de uma reforma. No entanto, a reforma liderada por Musk corre o risco de criar um novo problema para os EUA: o surgimento de uma oligarquia corrupta e inflamável.

Semanas depois de ajudar Trump a vencer a eleição, Musk chegou ao ápice do poder. O presidente eleito o nomeou para um novo órgão consultivo, chamado Doge, encarregado de cortar gastos. Musk já está em contato com líderes estrangeiros e fazendo lobby para nomeações para o gabinete. Não é a primeira vez que um magnata tem influência extraordinária nos EUA. No século XIX, barões ladrões como John D. Rockefeller dominavam a economia. No início do século XX, quando não havia o Federal Reserve, John Pierpont Morgan agia como um banco central de um homem só.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, conversa com o empresário Elon Musk antes do lançamento do foguete da SpaceX, em Boca Chica, Texas  Foto: Brandon Bell/AP

As empresas de Musk são mais globais do que os grandes monopólios dos séculos XIX e XX, e menores se medidas pelos lucros em relação ao PIB. O Musk corporativo vale o equivalente a apenas 2% do mercado de ações dos Estados Unidos. Suas principais unidades são a Tesla, uma empresa de carros elétricos; a SpaceX, seu negócio de comunicações por satélite e foguetes; X, anteriormente Twitter; e xAI, uma startup de inteligência artificial que foi avaliada em US$ 50 bilhões em uma negociação esta semana. A maioria delas tem participação de mercado abaixo de 30% e enfrenta concorrência real. A Economist avalia que 10% da fortuna pessoal de US$ 360 bilhões de Musk seriam derivados de contratos e brindes do Tio Sam, e 15% do mercado chinês, com o restante dividido entre clientes nacionais e internacionais.

Musk também é diferente por ser um disruptor. Em vez de explorar monopólios para aumentar os preços ou criar um sistema bancário estável como base para as finanças, a maior parte dos esforços corporativos de Musk usa tecnologia para cortar custos em mercados competitivos. Essa disrupção é central para a ideologia messiânica de Musk, na qual a inovação conquista os desafios intratáveis da humanidade, das mudanças climáticas à colonização de Marte. A realização desses objetivos distantes depende de um gênio para repensar constantemente os processos industriais. Seu desejo por uma ação mais livre ajuda a explicar seu desprezo pelas ortodoxias, incluindo o que ele considera um conformismo woke. Dos burocratas que permitiram que o mercado de lançamentos espaciais do governo americano fosse manipulado por empresas de defesa aos fiscais californianos que regulam as fábricas da Tesla, ele vê o Estado como um impedimento ao crescimento.

Tanto Trump quanto Musk querem trazer disrupção para todo o governo federal. Musk disse que o Doge pode ter como objetivo cortar até US$ 2 trilhões do orçamento federal anual de US$ 7 trilhões e abolir muitas agências. É fácil ridicularizar essas metas como ingênuas — US$ 2 trilhões é mais do que todo o gasto discricionário do governo. Mas, com um déficit orçamentário de 6% do PIB e uma dívida de quase 100%, uma reforma é necessária. A máquina do Pentágono está lutando para se adaptar à era dos drones e da IA. O lobby das empresas incumbentes ajuda a explicar por que as regulamentações federais chegam a 90.000 páginas, perto de um recorde histórico. Mesmo que Musk alcance apenas uma fração de sua liberalização, talvez os EUA tenham muito a ganhar.

Quais são, no entanto, os perigos? Um é o nepotismo e a corrupção. O presidente eleito é um nacionalista econômico e as indústrias nas quais Musk tem interesse se tornaram estratégicas, graças à rivalidade com a China, à militarização do espaço e às guerras de desinformação transfronteiriças. A proximidade com o poder pode permitir que ele distorça regulamentações e tarifas e prejudique concorrentes em campos que vão de carros e criptomoedas, passando por veículos autônomos e IA. Desde o início de setembro, o valor total dos negócios de Musk aumentou em 50%, para US$ 1,4 trilhão, superando em muito o desempenho do mercado e de seus pares, já que os investidores apostam que seu chefe será capaz de extrair de sua amizade com o presidente uma renda excepcional.

Ao mesmo tempo, Musk pode fracassar, especialmente atuando fora de suas áreas de especialização. Ele demonstrou julgamento errático em relações exteriores, ao microgerenciar o uso do serviço de satélite Starlink na Ucrânia e comparar o status de Taiwan ao do Havaí. Seu amor pelos holofotes e conspirações, e pelo turbilhão das mídias sociais, é preocupante. Com US$ 50 bilhões de sua riqueza pessoal vinculados à China, que hospeda metade da produção da Tesla, ele é um alvo óbvio para manipulações.

Ele também pode fracassar antes mesmo de começar, por causa da inflamabilidade da combinação Trump-Musk. O próximo presidente adora contratar e demitir. O magnata da tecnologia também queima executivos e relacionamentos. A fusão do viés libertário do Vale do Silício e tecno-utopismo com o nacionalismo do movimento Maga do mundo de Trump é inerentemente volátil. Reformar o governo requer paciência e diplomacia, e nenhuma delas é um ponto forte de Musk.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, escuta uma explicação do bilionário Elon Musk durante um evento de lançamento do foguete da SpaceX, em Boca Chica, Texas  Foto: Brandon Bell/AP

Em outro planeta

Se a carreira política de Musk for breve, talvez ela ainda tenha dois efeitos duradouros e perniciosos. Um seria afastar os políticos da reforma do governo. Com a nomeação dele, esse objetivo recebeu mais atenção do que nunca. Mas, se ele montar um programa mal feito que termine em um fracasso espetacular, a ambição de lidar com os gastos será adiada por anos.

O outro efeito seria normalizar o conluio entre políticos e magnatas. Conforme o Estado se expande para o comércio, a política industrial e a tecnologia, os incentivos para a captura do estado estão crescendo. Ao mesmo tempo, o método de Trump envolve o enfraquecimento de instituições e práticas supostamente como forma de proteção contra conflitos de interesse. Os EUA estão muito longe de se comportar como um mercado emergente. Mas, se os titãs empresariais oligárquicos trabalhassem habitualmente com políticos dominantes, o país sofreria grandes danos. Isso costumava ser impensável; não mais. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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